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CAPÍTULO IV – SOBRE CONDICIONAMENTOS SINCRÔNICOS E

4.1.2 Paralelismo formal

O paralelismo formal, no nível clausal, foi o segundo grupo de fatores selecionado na amostra do PB. Já para o PE esse grupo de fatores não foi selecionado, em nenhuma de nossas rodadas (rodada 1 e rodada 2).

Na amostra do PE, não foram encontrados dados para todos os fatores controlados, assim vamos comparar os resultados para os fatores que apresentaram dados nas duas variedades.

Os resultados, tanto para o PB, quanto para o PE, mostram que, quando há presença da forma de plural explícita no último elemento, com sujeito preenchido ou nulo, há maior marcação de plural nos verbos, diferentemente de quando há presença da forma zero de plural no último elemento, como mostram os resultados da tabela a seguir.

Paralelismo Formal PB

Apl/Total = %

PE Apl/Total = %

Presença da forma de plural explícita no

último elemento 418/483 = 86% 398/454 = 87%

Presença de numeral no último elemento 20/33 = 60% _____

Presença da forma zero de plural no último elemento

52/100 = 52% 4/5 = 80%

Sujeito nulo com anafórico com presença da forma de plural

explícita

128/148 = 87% 340/348 = 97%

Sujeito nulo com anafórico com presença de numeral terminado

em /s/ no último elemento

4/5 = 80% _____

Sujeito nulo com anafórico com presença da forma de zero plural

17/25 = 68% _____

Total 640/794 = 80% 742/807 = 91%

Tabela 4.4: Freqüência de CV no PB e no PE, segundo a variável paralelismo formal

Os resultados indicam que há diferenças nas duas amostras em termos percentuais. Embora a hierarquia entre os fatores permaneça a mesma, há uma diferença maior no PB para os fatores presença da forma zero de plural no último elemento e presença da forma de plural explícita no último elemento (com sujeito preenchido e nulo). No PB, a diferença é de 86% e 87% para 52%; e no PE, de 87% e 97% para 80%. O que parece explicar é o fato de não haver praticamente variação na concordância nominal no PE, não existindo, assim, chances de uma menor marcação da concordância nos verbos com presença da forma zero de plural no último elemento.

Outra diferença, em termos percentuais, observada é o fato de no PE o sujeito nulo com anafórico com presença da forma de plural explícita apresentar índice de marcação bem maior (97%) do que o índice apresentado no PB (87%), em comparação com o fator presença da forma de plural explícita no último elemento com sujeito preenchido (87% no PE, 86% no PB). Aqui parece que o que está influenciando a marcação é o sujeito nulo que apresenta comportamento diferente nas duas variedades do português. Enquanto o PE apresenta maiores índices de sujeito nulo, o PB prefere os sujeitos preenchidos (cf. DUARTE 1995, 1997, 2004).

4.1.3 Posição do sujeito em relação ao verbo

Para o PB, a posição do sujeito em relação ao verbo foi o terceiro grupo de fatores selecionado e, para o PE, o segundo na rodada 1 e na rodada 2 foi o primeiro a ser selecionado106. Embora a ordem de seleção desta variável tenha sido diferente para as duas amostras analisadas, podemos observar que, a freqüência e a probabilidade de marcação da concordância apresentaram a mesma hierarquia com o sujeito anteposto preservando as marcas de plural nos verbos, ao contrário do sujeito posposto, como os resultados da tabela a seguir evidenciam.

Posição do sujeito PB Apl/Total = % PR PE Apl/Total = % PR SN anteposto 464/546 = 84% .57 354/381 = 92% .56 SN posposto 23/67 = 34% .08 43/72 = 59% .18 Total 487/613107 = 79% 397/453 = 87%

Tabela 4.5: Freqüência e probabilidade de CV no PB e no PE, segundo a variável posição do sujeito em relação ao verbo

4.1.4 Traço humano no sujeito

O grupo de fatores traço humano no sujeito foi selecionado como estatisticamente relevante em primeiro e quarto lugar na amostra do PE (rodadas 1 e 2108) e em quinto lugar na amostra do PB. Nas duas amostras, a hierarquia, tanto em termos percentuais, quanto em termos de probabilidade, foi a mesma, com o SN com

106

Na rodada 2, os resultados mantêm a mesma curva dos resultados da rodada 1, com o SN [+ anteposto] preservando as marcas de concordância verbal.

107

Vale observar que para esse grupo de fatores, temos um total diferente de dados, pois os dados de sujeito nulo não puderam ser considerados.

108

Na rodada 2, os resultados mantêm a mesma curva dos resultados da rodada 1, com o SN [+ humano] preservando as marcas de concordância verbal.

traço [+ humano] tendendo a preservar as marcas de plural nos verbos, diferentemente do SN com traço [- humano], como podemos observar nos resultados da tabela a seguir.

Traço humano no sujeito PB Apl/Total = % PR PE Apl/Total = % PR SN [+humano] 588/701 = 83% .56 632/653 = 96% .61 SN [-humano] 52/93 = 55% .12 110/154 = 71% .11 Total 640/794 = 80% 742/807 = 91%

Tabela 4.6: Freqüência e probabilidade de CV no PB e no PE, segundo a variável traço humano no sujeito

4.1.5 Tipo de verbo

O grupo de fatores tipo de verbo foi o terceiro a ser selecionado na amostra do PE (rodada 1) e na amostra do PB não foi selecionado nas rodadas gerais, apenas nas rodadas em que excluímos os grupos de fatores posição do sujeito em relação ao verbo e traço humano no sujeito, quando foi selecionado em quinto lugar. O mesmo aconteceu com a amostra do PE na rodada 2, quando o tipo de verbo foi selecionado em segundo lugar quando excluímos os grupos posição do sujeito em relação ao verbo e traço humano no sujeito109.

Para os resultados do PE, o verbo cópula foi o que se mostrou o menos favorecedor da marcação de plural nos verbos, seguido dos inacusativos prototípicos. Já para os resultados do PB, foi o verbo inacusativo o que se mostrou menos favorecedor da marcação da concordância verbal, tanto os inacusativos não-prototípicos, quanto os prototípicos. Podemos observar os resultados na tabela a seguir.

109

Nessas rodadas, em que excluímos os verbos copulativos e os grupos de fatores posição do sujeito em relação ao verbo e traço humano no sujeito, os seguintes grupos de fatores são selecionados pelo Goldvarb, obedecendo a respectiva ordem de relevância: paralelismo formal, tipo de verbo, diazonalidade e saliência fônica.

Tipo de verbo PB

Apl/Total = %

PE

Apl/Total = % Verbo transitivo 303/363 = 83% .62 319/325 = 98% .60 Verbo intransitivo prototípico 70/85 = 82% .58 57/58 = 98% .63 Verbo intransitivo não-prototípico 17/21 = 80% .74 12/13 = 92% .20 Verbo cópula 80/96 = 83% .38 159/199 = 79% .28 Verbo inacusativo prototípico 21/27 = 77% .27 41/45 = 91% .54 Verbo inacusativo não-prototípico 149/202 = 73% .30 154/167 = 92% .41

Total 640/794 = 80% 742/807 = 91%

Tabela 4.7: Freqüência e probabilidade de CV no PB e no PE, segundo a variável tipo de verbo

Na tabela a seguir, podemos observar os resultados para o grupo tipo de verbo na rodada 2. Verificamos, através dos resultados, que sem os verbos copulativos e com os verbos inacusativos prototípicos e não-prototípicos amalgamados e com verbos intransitivos prototípicos e não prototípicos também amalgamados, os resultados da amostra do PB e do PE se assemelham.

Temos, de um lado, os verbos transitivos (e intransitivos) como favorecedores da marcação da concordância verbal e, de outro lado, os verbos inacusativos como ambientes menos favorecedores dessa marcação.

Tipo de verbo PB Apl/Total = % PE Apl/Total = % Verbo transitivo 302/362 = 83% .61 319/324 = 98% .63 Verbo intransitivo 87/106 = 82% .61 69/71 = 97% .50 Verbo inacusativo 170/229 = 74% .27 195/212 = 91% .30 Total 559/697=80% 583/607=96%

Tabela 4.8: Freqüência e probabilidade de CV no PB e no PE, segundo a variável tipo de verbo na rodada sem verbos copulativos para ambas as amostras

Pudemos observar, através dos resultados dos grupos de fatores posição do sujeito em relação ao verbo, traço humano no sujeito e tipo de verbo, semelhanças existentes entre as duas variedades do português aqui investigadas.

A seguir, trazemos alguns exemplos da nossa amostra, com sujeito [- humano] posposto a verbos inacusativos, ambientes que, de fato, se mostram desfavorecedores da não concordância, tanto no PB, quanto no PE.

(9) Sempre existe aquelas conversas, né? (PBRIMJS13) (10) Então às vezes aqui acontece alguns casos (PBRIMJS13)

(11) Aí começou os horário de cinco e meia (PBCLFVS07) (12) Já existe trilhas ecológicas (PECAFJS15)

(13) Depois surgiu as carroças, os burros (PESIMJS13) (14) Dia dois, eu acho, já começa as aulas (PECAFJF11)

Podemos observar nos exemplos de (9) a (14) que há verbos menos salientes sem concordância como existe, acontece e começa e há verbos mais salientes sem concordância como começou e surgiu. Diante desses dados, resolvemos fazer um cruzamento entre as variáveis saliência fônica e posição do sujeito em relação ao verbo, para que pudéssemos verificar a força dessas variáveis.

Nível 1: Oposição não- acentuada PB SN anteposto PB SN posposto PE SN anteposto PE SN posposto a. não envolve mudança

na qualidade da vogal na forma plural 11/20=55% 1/9=11% 34/35=97% 2/5=40% b. envolve mudança na qualidade da vogal na forma plural 201/221=91% 7/30=23% 108/114=95% 12/24=50% c. envolve acréscimo de segmentos na forma plural 37/39=95% _____ 33/36=92% _____ Nível 2: Oposição acentuada

Apl/Total=% Apl/Total=% Apl/Total=% Apl/Total=%

a. envolve apenas

mudança na qualidade da vogal na forma plural

60/68=88% 0/5=0% 33/35=94% 1/5=20% b. envolve acréscimo de segmentos sem mudanças vocálicas na forma plural 41/43=95% 5/6=83% 64/66=97% 16/19=84% c. envolve acréscimos de segmentos e mudanças diversas na forma plural

114/120=95% 10/17=59% 82/95=86% 12/19=63%

Total 464/546=85% 23/67=34% 354/381=93% 43/72=60%

Tabela 4.9: Freqüência de CV no PB e no PE, segundo o cruzamento entre as variáveis posição do sujeito em relação ao verbo e saliência fônica com verbos copulativos110

Os resultados da tabela 4.9 evidenciam que tanto a variável saliência fônica, quanto a variável posição do sujeito em relação ao verbo se mostram relevantes no condicionamento da concordância verbal. Observamos que, por um lado, em todas as

110

Fizemos o cruzamento entre as variáveis excluindo os verbos copulativos; como os resultados se mostraram bastante semelhantes, apresentamos a tabela apenas em anexo (tabela 4.9’).

categorias com sujeitos pospostos há menos marcação da concordância, comparadas às categorias com sujeitos antepostos. Por outro lado, a concordância vai diminuindo à medida que a saliência vai aumentando; a diferença, em termos percentuais, nos itens menos salientes, nível 1, categorias (a) e (b), fica entre 44% e 68% para o PB e 57% e 45% para o PE. Já a diferença para os itens mais salientes, nível 2, categorias (e) e (f) fica entre 12% e 36% para o PB e 13% e 23% para o PE.

Não há dúvidas de que há variação na concordância verbal de terceira pessoa do plural quando o sujeito, argumento interno de um verbo inacusativo, marcado com traço [- humano], estiver posposto. Essa variação encontra-se nas duas variedades do português (PB e PE).

4.1.6 Idade/escolaridade

O grupo de fatores idade/escolaridade foi o quarto a ser selecionado, tanto na amostra do PB, quanto na do PE. Os resultados mostram caminhos diferentes para as duas amostras. No PB, tanto no nível superior, quanto no nível fundamental, os mais jovens tendem a preservar mais as marcas de CV do que os mais velhos. Já no PE, no ensino superior, os mais jovens preservam mais a CV do que os mais velhos, mas no ensino fundamental os informantes mais velhos preservam mais as marcas de CV do que os mais jovens.

Idade/escolaridade PB Apl/Total = % PR PE Apl/Total = % PR Jovem/ensino superior 225/252 = 89% .74 204/216 = 94% .61 Velho/ensino superior 172/195 = 88% .52 158/170 = 92% .59 Jovem/ensino fundamental 115/158 = 72% .32 171/191 = 89% .30 Velho/ensino fundamental 128/189 = 67% .28 209/230 = 90% .49 Total 640/794 = 80% 742/807 = 91%

Tabela 4.10: Freqüência e probabilidade de CV no PB e no PE, segundo a variável idade/escolaridade

Fizemos um cruzamento entre os grupos de fatores idade/escolaridade e diazonalidade, a fim de verificar se a hipótese (iii) seria confirmada:

(iii) No que se refere ao recorte sincrônico do PB e do PE, nossa hipótese em relação às duas faixas etárias controladas, jovens e velhos, relaciona-se à diazonalidade. Esperamos que os jovens da zona não urbana preservem mais as marcas de concordância verbal do que os velhos desta mesma zona. Já no que se refere à zona

urbana, acreditamos que os mais velhos preservem mais a concordância verbal (cf. LUCCHESI, 2006).

No PB, os resultados confirmam a hipótese apenas com os falantes da zona não urbana com escolaridade fundamental, em que os jovens preservam mais a concordância (65%) do que os mais velhos (59%). Já no PE, a hipótese é confirmada apenas com os falantes da zona não urbana com escolaridade superior, em que os jovens também preservam mais a concordância (91%) do que os mais velhos (90%).

Idade/escolaridade PB Zona não urbana PB Zona urbana PE Zona não urbana PE Zona urbana Jovem/ensino superior 150/175 86% 75/77 97% 86/94 91% 118/122 97% Velho/ensino superior 90/103 87% 82/92 89% 79/88 90% 79/82 96% Jovem/ensino fundamental 46/71 65% 69/87 79% 99/112 88% 72/79 91% Velho/ensino fundamental 48/82 59% 80/107 75% 105/114 92% 104/116 90% Total 334/431 77% 306/363 84% 369/408 90% 373/399 93%

Tabela 4.11: Freqüência de CV no PB e no PE, segundo o cruzamento entre as variáveis idade/escolaridade e diazonalidade

4.1.7 Diatopia

A análise estatística selecionou a diatopia como o sexto e último grupo de fatores relevante para o PB; já para o PE, o grupo de fatores não foi selecionado.

Como evidenciamos ao longo deste trabalho, buscamos, na seleção das localidades do PB e do PE, constituir amostras o mais comparáveis possível. Desta forma, temos para as duas variedades do português duas localidades da zona urbana, Região Central e Ingleses para o PB e Região Central e Belém para o PE, e duas localidades da zona não urbana, Ribeirão da Ilha e Costa da Lagoa para o PB e Sintra e Cascais para o PE.

Na tabela a seguir, podemos observar os resultados para as duas amostras.

Diatopia Apl/Total Diatopia Apl/Total Ribeirão da Ilha 155/188 82% Sintra 164/180 91%

Costa da Lagoa 179/243 73% Cascais 205/228 89%

Ingleses 134/172 77% Belém 174/189 92%

Região Central 172/191 90% Região Central 199/210 94%

Total 640/794 80% Total 742/807 91%

Verificamos que, tanto para o PB, quanto para o PE, a Região Central apresenta o maior percentual de marcação da concordância nos verbos, 90% e 94%, respectivamente. Em relação à outra localidade da zona urbana, para o PE os resultados mostram que temos a segunda maior freqüência de uso da concordância (Belém com 92% de freqüência); já para o PB, tal localidade teve a terceira maior freqüência (Ingleses com 77% de freqüência).

No que se refere às localidades da zona não urbana, no PE temos as menores freqüências de uso, 91% para Sintra e 89% para Cascais. Já para o PB temos a segunda maior freqüência de uso para uma das localidades, Ribeirão da Ilha com 82%, e a menor freqüência de uso para a localidade da Costa da Lagoa, 73%.

Embora o grupo de fatores diatopia não tenha sido selecionado para a amostra do PE, os resultados confirmaram nossas expectativas, já que as localidades da zona urbana preservaram mais as marcas de concordância verbal em relação às localidades da zona não urbana. Por outro lado, para a amostra do PB, mesmo a diatopia tendo sido selecionada, os resultados confirmaram parcialmente nossas expectativas, já que uma das localidades da zona urbana, Ingleses, apresentou freqüência de uso menor do que uma das localidades da zona não urbana, Ribeirão da Ilha.

O que parece justificar os resultados para o PB são as características da localidade Ingleses, que foi considerada zona urbana em função da alta densidade demográfica e do intenso comércio e turismo na região; no entanto, a população nativa de modo geral, ainda, caracteriza-se como a de tempos atrás em que a comunidade se mostrava bastante isolada e com costumes menos urbanos.