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CAPÍTULO III – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1 Análise e discussão dos resultados sincrônicos do PB

3.1.1 Variáveis lingüísticas

3.1.1.1 Saliência Fônica

O grupo de fatores saliência fônica foi o que se mostrou mais relevante na análise probabilística realizada, sendo o primeiro a ser selecionado pelo Programa Goldvarb.

Nossos resultados vêm corroborar os resultados de outros estudos que haviam controlado esse grupo de fatores no PB (LEMLE e NARO, 1977; RODRIGUES, 1987; SCHERRE e NARO, 1997; MONGUILHOTT, 2001; SILVA, 2003; PEREIRA, 2004; CARDOSO, 2005) com a oposição acentuada favorecendo a presença de marcas explícitas de plural nos verbos, contrário à oposição não-acentuada, com maiores probabilidades de marcas zero de concordância, como podemos observar na tabela 3.1 a seguir.

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Considerando todas as variáveis controladas, o Programa Goldvarb (2001) estabeleceu a seguinte ordem de relevância: saliência fônica, paralelismo formal, posição do sujeito em relação ao verbo, idade/escolaridade, traço humano do sujeito e diatopia. A variável social idade/escolaridade e a variável geográfica diatopia que foram selecionadas serão discutidas posteriormente.

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Fizemos rodadas separadas com informantes da zona não urbana e informantes da zona urbana para confirmar os resultados que discutimos ao longo desta seção que consideraram todos os informantes do PB. Na rodada só com informantes da zona não urbana, o Programa Goldvarb (2001) selecionou os seguintes grupos de fatores, por ordem de relevância: saliência fônica, posição do sujeito em relação ao verbo, idade/escolaridade, traço humano no sujeito, tipo de sujeito e diatopia. Já na rodada com informantes da zona urbana, os seguintes grupos de fatores foram selecionados, por ordem de relevância: saliência fônica, posição do sujeito em relação ao verbo, idade/escolaridade, diatopia, traço humano no sujeito e paralelismo formal.

Nível 1: Oposição não-acentuada Apl/Total86 % PR87

a. não envolve mudança na qualidade da vogal na forma plural

19/89 21% .04

b. envolve mudança na qualidade da vogal

na forma plural 274/324 84% .50

c. envolve acréscimo de segmentos na forma plural

48/51 94% .74

Nível 2: Oposição acentuada Apl/Total % PR

a. envolve apenas mudança na qualidade da vogal na forma plural

73/87 83% .48

b. envolve acréscimo de segmentos sem mudanças vocálicas na forma plural

64/68 94% .74

c. envolve acréscimos de segmentos e

mudanças diversas na forma plural 162/175 92% .69

Total 640/794 80%

Tabela 3.1: Freqüência e probabilidade de CV no PB, segundo a variável saliência fônica

Verificamos, a partir dos resultados apontados na tabela 3.1, que os fatores pertencentes ao nível 1, oposição não-acentuada apresentaram uma escala hierárquica crescente de acordo com o aumento do grau de saliência perceptível. Na categoria a temos 21% de marcação da CV e .04 de peso relativo, na categoria b 84% e .50 e na c 94% e .74 de peso relativo.

No nível 2, a hierarquia não obedeceu a mesma ordem do nível 1, tendo uma pequena alteração entre as categorias b e c. A categoria a apresentou 83% de marcação da CV e .48 de peso relativo, a categoria b 94% e .74 e a c 92% de marcação e .69 de peso relativo.

É inegável que o nível 2, nos resultados gerais, apresenta maior probabilidade de aplicação da regra de concordância verbal em relação ao nível 1, como a tabela 3.2 a seguir confirma, feita a partir de uma rodada em que os fatores do nível 1 estão amalgamados, assim como os fatores do nível 2.

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A aplicação da regra refere-se às marcas explícitas de concordância no verbo, pois estas marcas sobressaíram-se em relação às marcas zero. Dos 794 dados coletados do PB, 640 apresentaram marcas explícitas de concordância. Os 640 dados com concordância correspondem a 80,6% do total, como evidenciamos no gráfico 3.1; no entanto, em todas as tabelas aparece 80% de aplicação da CV no total dos dados, pois foi esse o percentual fornecido pelo Programa Goldvarb que parece não aplicar a regra de arredondamento decimal.

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Tabela 3.2: Freqüência e probabilidade de CV no PB, segundo a variável saliência fônica com amálgama dos fatores do nível 1 e nível 2

No entanto, valem algumas observações. A categoria c do nível 1 apresentou freqüência e peso relativo maior do que as categorias a e c do nível 2, ficando idêntica à categoria b do nível 2, o que parece indicar que as formas encontradas naquele nível sejam mais perceptíveis do que Naro (1981) estabelece.

Aplicamos inclusive um pequeno teste de avaliação entre 13 colegas do curso de pós-graduação em Lingüística da Universidade Federal de Santa Catarina, em anexo (quadro 3.1), durante a disciplina de Sociolingüística (2008/2), com o objetivo de avaliarmos o nível de saliência entre pares do nível 1c e do nível 2a. De acordo com o teste, dos cinco pares de frases avaliados, pertencentes ao nível 1c e 2a, 63% dos colegas julgaram mais salientes as frases do nível 1c e 32% julgaram como mais salientes as frases do nível 2a. Embora seja um teste feito com poucas pessoas, com poucos pares de frases também, talvez aponte para um questionamento da escala da saliência utilizada que possivelmente possa variar de acordo com a comunidade de fala investigada.

Outro resultado que gostaríamos de salientar é a inversão ocorrida entre a categoria b e a categoria c do nível 2, apontada anteriormente. Estudos realizados com falantes da zona rural, Rodrigues (1987) e Pereira (2004), apresentam resultados que evidenciam que a categoria c do nível 2 considerada com pares como é/são mostram menos concordância do que categorias anteriores, assim como ocorreu com nossos resultados, mesmo que em proporção menor, no caso do nosso estudo. Podemos observar esses resultados na tabela 3.3 a seguir.

Saliência Fônica Apl/Total % PR

Nível 1: Oposição não-acentuada 341/464 73% .35

Nível 2: Oposição acentuada 299/330 90% .70

Saliência Fônica

Nossos resultados Rodrigues88 (1987)

Pereira (2004) Cardoso (2005) A/T=% PR A/T=% PR A/T=% PR A/T=% PR Nível 1a 19/89=21% .04 637/679=94% .93 32/290=11% .24 5/32=15% .08 Nível 1b 274/324=84% .50 70/86=81% .77 2/15=13% .30 63/193=32% .22 Nível 1c 49/51=94% .74 91/182=50% .35 14/43=33% .79 15/39=38% .23 Nível 2a 73/87=83% .48 107/254=42% .34 58/116=50% .89 37/51=72% .76 Nível 2b 64/68=94% .74 22/72=31% .26 18/35=51% .87 14/22=63% .77 Nível 2c 162/175=92% .69 31/83=37% .20 1/21=5% .16 130/170=76%.83 TOTAL 640/794=80% 958/1356=71% 125/520=24% 264/507= 52%

Tabela 3.3: Resultados de diferentes estudos sobre a CV de terceira pessoa do plural no PB em comparação com nossos resultados do PB, segundo a variável saliência fônica

Nossos resultados referentes à zona não urbana, como mostra o gráfico 3.289, a seguir, evidenciam que a inversão que há entre o nível 2b e 2c é justamente na zona não urbana (91% e 89%), já que na zona urbana o nível 2 apresenta o mesmo percentual de marcação da CV nos níveis b e c (97%).

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Nível 1a Nível 1b Nível 1c Nível 2a Nível 2b Nível 2c Saliência P e rc e n tu a l

Zona não-urbana Zona urbana

Gráfico 3.2: Freqüência de CV no PB, segundo o cruzamento entre as variáveis saliência fônica e diazonalidade

Voltando à tabela 3.3, podemos observar, ainda, que os resultados de Cardoso (2005) mostram uma inversão em termos percentuais, também no nível 2, mas entre as categorias b e c. O que queremos evidenciar com estes resultados é que nem sempre a

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Rodrigues (1987) e Pereira (2004) categorizaram seus dados seguindo uma escala de saliência um pouco diferente da sugerida por Naro (1981) e seguida pelos outros estudos citados nesta tabela. O primeiro nível de saliência refere-se a pares como come/comem, fala/falam, o segundo aos pares faz/fazem, o terceiro a dá/dão, o quarto a falou/falaram, o quinto a veio/vieram, fez/fizeram e o último a é/são. Vale ressaltar ainda que, no estudo de Rodrigues (1987) as freqüências e probabilidades referem-se a não-aplicação da regra de concordância verbal, diferentemente de todos os outros estudos considerados na tabela.

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Os gráficos de 3.2 a 3.18 e 3.20 a 3.34 que constam desse capítulo apresentam tabelas correspondentes em anexo, para que se possam observar a aplicação/total dos dados a que se referem suas freqüências.

escala hierárquica pretendida e alcançada por Naro (1981) ocorre em todas as amostras de fala.

Fizemos também um cruzamento entre a variável saliência fônica e a escolaridade, para verificarmos se havia influência dos anos de escolarização dos falantes na nitidez da escala da saliência, como comprovado em Scherre e Naro (1997).

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Nível 1a Nível 1b Nível 1c Nível 2a Nível 2b Nível 2c Saliência P e rc e n tu a l

Ensino fundamental Ensino superior

Gráfico 3.3: Freqüência de CV no PB, segundo o cruzamento entre as variáveis saliência fônica e escolaridade

De fato, o gráfico 3.3 comprova que a escala da saliência é mais nítida nos dados dos falantes com menos anos de escolarização, no caso do nosso estudo, informantes com ensino fundamental. Esses resultados corroboram os resultados de Scherre e Naro (1997), que controlaram falantes com escolaridade correspondente a 1 a 4 anos, 5 a 8 anos e 9 a 11 anos, evidenciando que para os falantes de 1 a 4 anos a escala é mais nítida, assim como no estudo de Naro (1981), que apresenta uma escala bastante nítida para falantes analfabetos. Observamos a tabela 3.4 a seguir, que expõe os resultados do nosso estudo em comparação aos dos autores.

Saliência Fônica Nossos resultados Nossos resultados Resultados de Scherre e Naro (1997) Resultados de Scherre e Naro (1997) Resultados de Naro (1981) Ensino Fundamental Ensino Superior 1-4 anos de escolaridade 9-11 anos de escolaridade Analfabetos Nível 1a 1/43=2% 18/46=39% 58/192=30% 67/129=52% 110/755=15% Nível 1b 101/142=71% 173/182=95% 393/725=54% 300/389=77% 763/2540=30% Nível 1c 20/23=87% 28/28=100% 64/110=58% 55/67=82% 99/273=36% Nível 2a 29/37=76% 45/50=90% 161/227=71% 188/201=94% 604/927=65% Nível 2b 23/27=85% 41/41=100% 63/81=78% 41/47=87% 266/365=73% Nível 2c 70/75=93% 92/100=92% 386/452=85% 235/260=90% 1160/1450=80% TOTAL 243/347=70% 397/447=89% 1125/1787=63% 886/1093=81% 3002/6310=48%

Tabela 3.4: Comparação entre os resultados deste estudo com dados do PB, os de Scherre e Naro (1997) e Naro (1981), para a freqüência de CV no cruzamento entre as variáveis saliência fônica e escolaridade

Nossos resultados para a variável saliência fônica parecem confirmar a hipótese difusionista, discutida na subseção 2.6.2.1 do capítulo II, já que houve uma queda mais acentuada nos contextos menos salientes e só depois os contextos mais salientes foram sendo atingidos, o que parece indicar uma mudança lexicalmente gradual, em que os itens menos salientes (nível 1) vão sendo atingidos primeiro, seguidos dos itens mais salientes (nível 2).

3.1.1.2 Paralelismo Formal

O paralelismo formal, no nível clausal, mostrou-se bastante significativo na análise do Programa Goldvarb, sendo o segundo grupo selecionado. Os resultados confirmam parcialmente nossas hipóteses. Como podemos observar na tabela 3.5, a marcação da concordância foi maior para os fatores presença da forma de plural explícita no último elemento (86% de freqüência e .60 de peso relativo) e sujeito nulo com anafórico com presença da forma de plural explícita (87% de freqüência e .66 de peso relativo).

Tais resultados confirmam resultados de outros estudos com diferentes amostras do PB (SCHERRE e NARO, 1993; MONGUILHOTT, 2001; SILVA, 2003; PEREIRA, 2004; CARDOSO, 2005).

Paralelismo Formal Apl/Total % PR

Presença da forma de plural explícita no último elemento

418/483 86% .60

Presença de numeral no último elemento 20/33 60% .13

Presença da forma zero de plural no último elemento

52/100 52% .10

Sujeito nulo com anafórico com presença da forma de plural

explícita

128/148 87% .66

Sujeito nulo com anafórico com presença de numeral terminado

em /s/ no último elemento

4/5 80% .58

Sujeito nulo com anafórico com presença da forma de zero plural

17/25 68% .29

Total 640/794 80%

Tabela 3.5: Freqüência e probabilidade de CV no PB, segundo a variável paralelismo formal

Nossas expectativas também se confirmaram em relação aos fatores presença da forma zero de plural no último elemento e sujeito nulo com anafórico com presença da forma de zero plural, já que ambos os fatores tenderam à menor marcação da CV, com resultados de 52% de freqüência e .10 de peso relativo e 68% de freqüência e .29 de peso relativo, respectivamente.

Quanto aos fatores presença de numeral terminado em /s/ e não terminado em /s/ no último elemento, os resultados foram amalgamados em função de seus índices de freqüência, bem como de seu comportamento, mostrarem-se uniformes quando da presença de outros fatores90. Para esse grupo de fatores, nossas expectativas não se confirmaram, pois esperávamos maior marcação da CV. Nossos resultados apontam para uma marcação próxima da marcação do fator presença da forma zero de plural no último elemento, com 60% de freqüência e .13 de peso relativo.

Já em relação ao sujeito nulo com anafórico com presença de numeral terminado em /s/ no último elemento, nossa hipótese se confirmou, já que os resultados apontam esse fator como favorecedor da marcação da CV com 80% de freqüência e .58 de peso relativo. Para o fator sujeito nulo com presença de numeral não terminado em /s/, não obtivemos dados.

Embora os resultados em relação ao fator presença de numeral no último elemento não tenham confirmado nossa hipótese, os resultados gerais obtidos para esta amostra do PB vêm confirmar o princípio do paralelismo de “formas gramaticais

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Na rodada sem amálgama dos fatores, obtivemos os seguintes resultados: presença de numeral terminado em /s/ no último elemento – 18/28 = 64% e .14 de peso relativo; presença de numeral não terminado em /s/ no último elemento – 2/5 = 40% e .06 de peso relativo.

particulares ocorrerem juntas” (SCHERRE, 1998, p.42). Acreditamos que esta repetição apresenta caráter mecânico; como Scherre (op. cit., p.49) aponta, diversos estudos variacionistas que controlaram o paralelismo (WEINER e LABOV, 1981; BRAGA, 1986; SCHIFFRIN, 1981; TANNEN, 1998) “concluíram que pode haver a repetição meramente mecânica”.

Os resultados gerais confirmam a hipótese neogramática, discutida na subseção 2.5.1.1 do capítulo II, que prevê um princípio mecânico agindo sobre esse grupo de fatores fazendo com que a queda nas marcas de plural nos elementos anteriores influencie na queda da marcação de plural nos verbos. Observa-se queda regular das marcas de plural em todos os verbos que vêm precedidos de um zero fonético anterior, e, ao contrário, manutenção regular do plural para os verbos que vêm precedidos de marcas de plural.

No gráfico 3.4, a seguir, observam-se os resultados percentuais do cruzamento entre o grupo de fatores paralelismo formal e diazonalidade. Os resultados apontam para menor freqüência de CV em todos os fatores analisados na zona não urbana.

40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Presença da forma de plural explícita no último elemento Presença de numeral no último elemento Presença da forma zero de plural no último elemento Sujeito nulo com anafórico com presença da forma de plural explícita Sujeito nulo com anafórico com presença de numeral terminado em /s/ no último elemento Sujeito nulo com anafórico com presença da forma de zero plural Paralelismo Formal P e rc e n tu a l

Zona não-urbana Zona urbana

Gráfico 3.4: Freqüência de CV no PB, segundo o cruzamento entre as variáveis paralelismo formal e diazonalidade

3.1.1.3 Posição do sujeito em relação ao verbo

A posição do sujeito em relação ao verbo foi o terceiro grupo de fatores selecionado pelo Goldvarb. Podemos observar, através da tabela 3.6, que a probabilidade de aplicação da regra de concordância foi maior quando o sujeito estava anteposto ao verbo, com 84% de freqüência e .57 de peso relativo, distanciando-se significativamente da posposição do sujeito, com 34% de freqüência e .08 de peso

relativo, confirmando, dessa forma, nossa hipótese e corroborando resultados de alguns estudos do PB (LEMLE e NARO, 1977; PONTES, 1986; RODRIGUES, 1987; BERLINCK, 1988; SCHERRE e NARO, 1997; MONGUILHOTT, 2001; SILVA, 2003; CARDOSO, 2005).

Posição Apl/Total % PR

SN anteposto 464/546 84% .57

SN posposto 23/67 34% .08

Total 487/61391 79%

Tabela 3.6: Freqüência e probabilidade de CV no PB, segundo a variável posição do sujeito em relação ao verbo

Nossos resultados indicam, conforme apontam alguns estudos, que o sujeito quando posposto ao verbo passa a ser encarado como objeto pelo falante que não aplica a regra de concordância, já que não o considera sujeito da sentença.

Para confirmar os resultados apontados em Lemle e Naro (1977) e Scherre e Naro (1997) de que a não marcação da concordância verbal com sujeito posposto independe da escolaridade dos informantes, fizemos um cruzamento entre as variáveis posição e escolaridade e podemos observar os resultados percentuais no gráfico 3.5, a seguir. 0% 20% 40% 60% 80% 100% Ensino fundamental Ensino superior Escolaridade P e rc e n tu a l SN anteposto SN posposto

Gráfico 3.5: Freqüência de CV no PB, segundo o cruzamento entre as variáveis posição do sujeito em relação ao verbo e idade/escolaridade

Nossos resultados indicam que a freqüência de marcação da CV cai consideravelmente quando o sujeito está posposto ao verbo, independentemente da escolaridade do informante. Para os informantes com ensino fundamental, temos um percentual de 50% de queda e para os informantes com ensino superior um percentual

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Vale observar que, para esse grupo de fatores, temos um total de 613 dados, pois os dados de sujeito nulo não puderam ser considerados.

de 47% de queda da marcação da concordância com sujeito posposto em relação ao sujeito anteposto.

Na relação entre posição do sujeito e diazonalidade, observamos, no gráfico 3.6, que na zona não urbana a freqüência de não CV é maior tanto para o fator SN anteposto, quanto para o fator SN posposto; no entanto, se verificarmos a diferença nas taxas de freqüência, notamos que para o fator SN posposto essa diferença é mais acentuada, 8% menos CV na zona não urbana, enquanto no fator SN anteposto a diferença é menor, 5% menos CV na zona não urbana.

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Zona não-urbana Zona urbana

Diazonalidade P e rc e n tu a l SN anteposto SN posposto

Gráfico 3.6: Freqüência de CV no PB, segundo o cruzamento entre as variáveis posição do sujeito em relação ao verbo e diazonalidade

3.1.1.4 Traço humano no sujeito

O grupo de fatores traço humano no sujeito foi selecionado como estatisticamente relevante em quinto lugar.

Confirmando nossa hipótese e também resultados de pesquisas com amostras do PB (SCHERRE e NARO, 1998; MONGUILHOTT, 2001; SILVA, 2003; PEREIRA, 2004; CARDOSO, 2005), quando a sentença possuía um SN [+humano] a probabilidade à concordância verbal foi maior (83% de freqüência e .56 de peso relativo) do que em sentenças com SNs [-humanos] (55% de freqüência e .12 de peso relativo), como mostram os resultados na tabela 3.7.

Traço humano no sujeito Apl/Total % PR

SN [+humano] 588/701 83% .56

SN [-humano] 52/93 55% .12

Total 640/794 80%

Para verificarmos a correlação entre o grupo de fatores traço humano no sujeito e posição do sujeito em relação ao verbo, grupo de fatores discutido anteriormente, observemos os resultados no gráfico 3.7.

0% 20% 40% 60% 80% 100% SN anteposto SN posposto

Posição do sujeito em relação ao verbo

P e rc e n tu a l SN [+humano] SN [-humano]

Gráfico 3.7: Freqüência de CV no PB, segundo o cruzamento entre as variáveis traço humano no sujeito e posição do sujeito em relação ao verbo

Podemos verificar que, de um lado, o SN posposto [- humano] é o ambiente que se mostra menos favorecedor de marcas de CV, com 29% de freqüência, de outro lado, o SN anteposto [+ humano] é o ambiente em que temos a maior freqüência de CV com 87% de marcação.

No gráfico 3.8, a seguir, verificamos que a freqüência de CV para o fator SN [- humano] apresenta queda considerável na fala dos informantes da zona não-urbana comparando-se à fala dos informantes da zona urbana (74% para a zona urbana e 44% para a zona não urbana), diferentemente do fator SN [+ humano] em que a queda é bem menor (86% para a zona urbana e 82% para a zona não urbana).

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Zona não-urbana Zona urbana

Diazonalidade P e rc e n tu a l SN [+humano] SN [-humano]

Gráfico 3.8: Freqüência de CV no PB, segundo o cruzamento entre as variáveis traço humano no sujeito e diazonalidade

3.1.1.5 Tipo de verbo

Esse grupo de fatores não foi selecionado como estatisticamente relevante, nas rodadas gerais. No entanto, como acreditávamos que poderia haver sobreposição entre os grupos de fatores posição do sujeito em relação ao verbo, traço humano no sujeito e tipo de verbo, dada a relação existente entre eles, fizemos uma rodada sem esses outros grupos de fatores. Nessa rodada, o tipo de verbo foi selecionado em quinto lugar92 e é a partir desses resultados que apresentaremos os resultados gerais para este grupo de fatores.

Na tabela 3.8, a seguir, podemos observar os resultados para o tipo de verbo. Confirmando nossas expectativas, o verbo inacusativo foi o ambiente que se mostrou menos favorecedor da marcação da concordância verbal, com 73% e 77% de freqüência e .30 e .27 de peso relativo, considerando-se os inacusativos não-prototípicos e prototípicos, diferentemente dos demais tipos de verbos que se mostraram favorecedores da marcação da CV.

Nossos resultados confirmam resultados de outros estudos do PB que controlaram o grupo de fatores tipo de verbo levando em consideração os inacusativos (MONGUILHOTT, 2001; SILVA, 2003; CARDOSO, 2005; SCHERRE, NARO e CARDOSO, 2007). Embora em algumas pesquisas o grupo de fatores não seja considerado estatisticamente relevante, os percentuais sempre apontam para certa tendência à não marcação da concordância nos inacusativos.

Tipo de verbo Apl/Total % PR

Verbo transitivo 303/363 83% .62

Verbo intransitivo prototípico 70/85 82% .58

Verbo intransitivo não-prototípico 17/21 80% .74

Verbo cópula 80/96 83% .38

Verbo inacusativo prototípico 21/27 77% .27

Verbo inacusativo não-prototípico 149/202 73% .30

Total 640/794 80%

Tabela 3.8: Freqüência e probabilidade de CV no PB, segundo a variável tipo de verbo

Nos gráficos a seguir, evidenciamos a forte relação que há entre os verbos inacusativos, a posposição do sujeito e o traço [- humano] do sujeito. No gráfico 3.9, a seguir, nota-se que todos os verbos com sujeito posposto apresentam freqüências muito

92

Os outros grupos de fatores selecionados nesta rodada, de acordo com a ordem de relevância estabelecida pelo Programa Goldvarb (2001): saliência fônica, paralelismo formal, idade/escolaridade, diatopia, tipo de verbo e tipo de sujeito.

menores comparadas às freqüências de sujeito anteposto, indicando o desfavorecimento da marcação da CV. 0% 20% 40% 60% 80% 100% Verbo trans itivo Verbo intrans itivo prototípico Verbo intransitivo não- prototípico Verbo cópula Verbo inacusativo prototípico Verbo inacus ativo não- prototípico Tipo de verbo P e rc e n tu a l SN anteposto SN posposto

Gráfico 3.9: Freqüência de CV no PB, segundo o cruzamento entre as variáveis tipo de verbo e posição do sujeito em relação ao verbo

No gráfico 3.10, os resultados revelam também que é no verbo inacusativo não- prototípico com sujeito com traço [- humano] que se encontra a menor freqüência de concordância verbal. 0% 20% 40% 60% 80% 100% Verbo trans itivo Verbo intransitivo prototípico Verbo intransitivo não- prototípico Verbo cópula Verbo inacusativo prototípico Verbo