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Análise qualitativa e quantitativa do modo de vida e das práticas produtivas na várzea do Baixo Tocantins

DIVERSIDADE PRODUTIVA E USO MÚLTIPLO DOS RECURSOS NATURAIS COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO

3 METODOLOGIA APLICADA AO DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE DOS RECURSOS NATURAIS EM ÁREAS DE VÁRZEA

3.2 Análise qualitativa e quantitativa do modo de vida e das práticas produtivas na várzea do Baixo Tocantins

A análise sobre o desenvolvimento sustentável aplicado às práticas das populações ribeirinhas, das áreas de várzea do território do Baixo Tocantins, além de se pautar na interdisciplinaridade e na crítica da racionalidade instrumental, utilizou procedimentos de base qualitativa e quantitativa. Esses métodos consideram a relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade, podendo ser traduzidos em dados qualitativos e números.

Nesta tese, a pesquisa qualitativa se complementa ao esquema quantitativo possibilitando correlacionar a realidade em unidades favoráveis à comprovação, estudando-as em determinados momentos de maneira isolada e descontextualizada, para enseguida buscar a unidade a partir de um esforço de sistematização dos dados, tanto qualitativo quanto quantitativo por meio de um movimento de articulação entre homem e natureza, sociedade ribeirinha e meio natural.

A pesquisa qualitativa, portanto, favoreceu uma visão dos fenômenos sociais levando em conta os componentes de situações em suas interações e influências recíprocas. Nesse âmbito da pesquisa, os sujeitos envolvidos estão inseridos em um contexto social, cultural, econômico e político que, presumidamente, exerceram influências sobre os dados coletados (LUDKE; ANDRÉ, 1986).

A análise do tipo qualitativo permitiu, assim, extrair informações com a finalidade de mostrar a realidade vivida e percebida nas relações socioambientais dos sujeitos da pesquisa, de cada comunidade pesquisada. Também favoreceu a compreensão de procedimentos de base quantitativa, uma vez que ao se deparar com dados, como é o caso do uso dos recursos naturais foi necessário traduzi-los em números e informações para classificá-los e analisá-los, com base nos recursos e técnicas estatísticas como percentagem, média, moda, mediana, entre outros (GIL, 1991).

Ao nível da pesquisa qualitativa e quantitativa, os métodos e técnicas de pesquisa foram estruturados em uma organização procedimental acompanhadas de levantamentos bibliográficos, análise documental, observação livre e participante, entrevista, questionário e análise de conteúdo, utilizados para a coleta de dados, por meio da aplicação de instrumentos elaborados e técnicas selecionadas para interpretação dos dados e informações levantadas no decorrer da pesquisa.

Segundo Marconi e Lakatos (2010), o emprego de diferentes métodos e técnicas na construção da tese, podem favorecer a formulação da hipótese de que é possível a aplicação do conceito de desenvolvimento sustentável, com base nos modus vivendi e modus operandi das populações ribeirinhas, mas também avançar na compreensão das dimensões sociais e naturais, na estruturação de uma unidade sintetizadora dessas dimensões enquanto conhecimento multidiverso, produzido nas passarelas de conexões entre o mundo natural e o mundo social. Para desenvolver esses movimentos de reflexão e abstração seguiu-se um cronograma de atividades com passos e fases estruturadas a partir do detalhamento nos itens abaixo.

3.2.1 Pesquisa bibliográfica e documental

A pesquisa bibliográfica favoreceu a construção de um conjunto de questões acerca do debate imanente às temáticas teóricas que subsidiaram a compreensão da crise da ciência moderna como chave de abertura para o debate e observação de experiência sobre o desenvolvimento sustentável. Neste sentido, a abordagem da interdisciplinaridade serviu de suporte necessário à criação dos nexos existentes entre sociedade e natureza. Portanto, visava- se a consolidar o referencial teórico capaz de dar sustentação à compreensão dos dados e informações dispersas, enquanto documentos amorfos em arquivos das instituições selecionadas como importantes na obtenção de elementos para a explicação do objeto da tese. Assim, selecionou-se uma literatura sobre a crítica da ciência moderna e, em consequência, as possibilidades de aplicação do conceito de desenvolvimento sustentável, ou seja, a construção do referencial que favoreceu o estabelecimento de conexões e mediações entre o homem e o uso dos recursos naturais. Foi necessário, ainda, realizar um estudo sobre o contexto histórico de ocupação e desenvolvimento do território do Baixo Tocantins, tendo em vista entender a trajetória das populações ribeirinhas, suas práticas socioprodutivas, políticas e culturais, em áreas de várzea.

De acordo com o planejamento traçado, buscou-se, de modo aprofundado, conhecer as problemáticas em interação para estabelecer as categorias teórico-metodológicas que possibilitassem uma reflexão sobre a realidade concreta da várzea e dos caboclos-ribeirinhos. Desta forma, com o apoio das categorias teórico-metodológicas, partiu-se para a pesquisa documental caracterizada por fontes secundárias, localizadas em arquivos públicos, arquivos particulares, fontes estatísticas, entre outros, bem como publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, dissertações, teses, material cartográfico etc., tendo como finalidade colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito e dito sobre o assunto pesquisado.

As fontes de dados secundários encontraram-se nas seguintes instituições: universidades, em especial a Universidade Federal do Pará e Universidade Federal Rural da Amazônia, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrário (INCRA), Núcleos de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA/ProVárzea), Prefeituras de Abaetetuba e Igarapé-Miri por meio de suas Secretarias Municipais de Agricultura, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Abaetetuba e Igarapé-Miri e dos

empreendimentos coletivos, como associação e cooperativas do território do Baixo Tocantins, entre outras, as quais contribuíram com informações para a compreensão da realidade pesquisada.

Essas instituições, portanto, tornaram-se importantes devido às localidades e comunidades ribeirinhas, focos dos recursos econômicos, humanos, institucionais, ambientais e culturais, constituindo potencial de desenvolvimento. Neste sentido, tanto as universidades quanto o IBAMA/ProVárzea têm dados importantes sobre a utilização, ocupação e produção das áreas de várzea da Amazônia ribeirinha, os quais foram necessários para o trajeto metodológico, por lhes dar um enfoque especial.

Foram, ainda, levantadas informações gerais sobre as características da população e dos domicílios, buscando analisar seu crescimento demográfico e sua distribuição, bem como, dos responsáveis pelos domicílios estratificados por sexo, idade e educação, e sobre a qualidade de vida da população, analisando suas condições habitacionais, trabalho e rendimento, estrutura produtiva, usos da terra e produção, atividade econômica, mão de obra e renda familiar.

3.2.2 Trabalho de campo nas áreas de várzea do território do Baixo Tocantins

A pesquisa de campo envolveu técnicas de observação participante, realização de entrevista, aplicação de questionário, entrevista e aplicação de questionários semiestruturados, com questões abertas e fechadas, direcionadas aos caboclos-ribeirinhos e as estruturas produtivas familiares, tendo em vista captar as percepções do cotidiano e dos processos produtivos, que muitas das vezes não são expressados em documentos.

Desta forma, visou-se a constituir uma dimensão, na construção da tese, na medida em que se tratou de levantar dados da realidade efetiva das populações ribeirinhas nas várzeas de Abaetetuba e Igarapé-Miri, proporcionando uma base de dados empíricos interpretados à luz da fundamentação teórica, como pensado no item anterior. Para isto, coube um estudo de caso em algumas comunidades ribeirinhas, visando a compor os elementos necessários à demonstração teórico-empírica sobre as relações existentes entre a sociedade e a natureza.

Assim, foi realizada uma ampla pesquisa de campo, com o uso de técnicas de coleta de dados, a fim de atingir os objetivos da tese. O trabalho de campo nas ilhas/comunidades ribeirinhas dos municípios de Abaetetuba e Igarapé-Miri (Ver Tabela 1), objetivou conhecer seu modo de vida e suas relações com natureza. Neste momento, foram aplicados 298 questionários, sendo 149 no município de Abaetetuba, em 36 comunidade localizadas em 6

ilhas e 149 em Igarapé-Miri, em 41 comunidades ribeirinhas localizadas em 12 ilhas, no período de 01º de junho de 2013 a 30 de agosto de 2014.

Tabela 1 - Distribuição das entrevistas por ilhas e comunidades dos municípios de Igarapé-Miri e

Abaetetuba MUNICÍPIO DE IGARAPÉ-MIRI Ilha Comunidade Ilha Jarimbú Alto Murutipucu Maiuatá N. Sra. da Conceição São João Batista N. Sra. De Nazaré Anapuzinho Baixo Meruú Jarimbú

Sitio São Francisco Itamibuca de cima Sagrado Coração de Jesus

Ilha Mutirão Multirão Santo Antônio Coração de Jesus Rio Japuretê Salento Nazaré

São João Batista

Ilha Buçú Imaculada Conceição

Ilha Panacacuera Nazaré São José Santa Maria São José Ilha Mamangual Assembléia de Deus Mamangal N. Sra. de Aparecida Praião de São João Rio Mamangal Grande N.Senhora da Conceição Assembléia de Deus Mamangal

N. Sra. de Aparecida Rio Mamangal Grande

Ilha Caji

Vila Boa Esperança Rio Caji Nazaré Rio caji Icaruçaua Icaruçaua Igarapezinho 6 41

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013/2014.

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