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Grafico 15 Principais agravantes dos problemas ambientais nas áreas de várzea do território do

6 DINÂMICA PRODUTIVA ADAPTATIVA E MANEJO SUSTENTÁVEL DO ECOSSISTEMA DE VÁRZEA DO TERRITÓRIO BAIXO TOCANTINS

6.2 Dinâmica produtiva e manejo dos recurosos naturais em área de várzea

O processo de desenvolvimento das áreas de várzea do território do Baixo Tocantins tem se dado à custa do uso indiscriminado dos seus ecossistemas naturais. Todavia, o ecossistema de várzea vem vivenciando um novo paradigma agroextrativista, baseado em uma abordagem inovadora e criativa que considere não só a produção diversificada, mas, também a preservação dos recursos naturais, a partir de conhecimentos tradicionais e de práticas agrícolas de caráter mais sustentáveis.

A dinâmica produtiva e o manejo ecológico dos recursos naturais são amplamente desenvolvidos pelos caboclos-ribeirinhos do Baixo Tocantins no ecossistema, assim como nos agroecossistemas de várzea. Essas práticas são contempladas e complementadas nos diferentes espaços ecológicos da várzea, baseadas no uso sazonal dos recursos naturais; elas geram estratégias produtivas, modificando e integrando diferentes ecossistemas, através de um estilo de vida adaptado à dinâmica da natureza.

As múltiplas práticas agrícolas realizadas na região envolvem o uso de diversos recursos naturais dentro nos agroecossistemas, que incluem tanto as áreas agrícolas, quanto as áreas no seu entorno, por exemplo, as florestas em várias etapas de sucessão; e os corpos d´água, que participam da troca de elementos da biodiversidade e de nutrientes.

O agroecossistema de várzea no território do Baixo Tocantins é formado por uma diversidade de sistemas de produção desenvolvido a partir de um conjunto de atividades produtivas, visando à produção de alimentos para autoconsumo e a comercialização.

De modo geral, as populações caboclo-ribeirinhas da Amazônia desenvolvem múltiplas atividades econômicas que são voltadas para a subsistência, sendo as mais comuns a agricultura, a caça, a pesca e a coleta de frutos. Há ainda importantes atividades extrativas, focadas principalmente na exploração do açaí (Euterpe oleracea), do óleo da copaíba (Copaifera multijuga), andiroba (Carapa guianensis Aubl) e de diversos tipos de madeiras (MURRIETA et al., 2008, p. 127)

Os sistemas de produção são executados por meio de cultivo e manejo do açaí, desenvolvido em 97% dos agroecosssistemas pesquisados, seguida da atividade de pesca com

77%; criação de animais, com 74%; Sistemas Agroflorestais, com 51%; extrativismo vegetal (coleta de frutos, semente e madeira), com 42%; extrativismo animal (caça), com 30%; e, por fim, agricultura com cultivos agrícolas, com 24% — (Gráfico 19). Essas atividades são estratégicas para a permanência e sobrevivência dos caboclos-ribeirinhos nos agroecossistemas de várzea do Baixo Tocantins.

Gráfico 19 - Principais sistemas produtivos desenvolvidas no agroecossistema de várzea no Território do

Baixo Tocantins

Fonte: Pesquisa de campo, 2013/2014.

O calendário de manejo e uso dos recursos naturais (Quadro 2) mostra uma distribuição na manipulação dos sistemas produtivos, por meio das atividades ao longo dos meses do ano, tanto na safra, quanto na entressafra, pois, através da ocupação de diferentes ambientes produtivos no ecossistema de várzea, pode-se garantir produção contínua durante o ano inteiro. Isto significa que, quando uma atividade econômica entra no período de defeso ou na entressafra, outra atividade produtiva adquire importância.

O calendário de manejo e uso dos recursos naturais do ecossistema de várzea do território do Baixo Tocantins distribui-se ao longo do ano. O período da safra de açaí, nas comunidades ribeirinhas pesquisadas, ocorre de agosto ao dezembro, chegando até meados de janeiro. Porém, com a introdução dos métodos e técnicas de manejo nos sistemas de produção na região, os caboclos-ribeirinhos estão colhendo açaí, em poucas quantidades, no período de entressafra, nos meses de janeiro a julho (Quadro 2).

O uso dos produtos dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) se dá em tempos distintos, de acordo com a safra das espécies frutíferas de cupuaçu (dezembro a fevereiro) e do cacau, com

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Cultivo e

manejo de Açaí Pesca Criação de animais SAFs vegetal - frutas, Extrativismo sementes e

madeira

Extrativismo

animal - caça cultivo agrícola Agricultura -

97% 77% 74% 51% 42% 30% 24%

duas safras ao logo do ano (dezembro/janeiro e maio/junho). A agricultura e a criação de pequenos e médios animais são realizadas ao longo do ano, assim como o cultivo das olerícolas, principalmente, para autoconsumo das famílias ribeirinhas. A criação de peixe em aquicultura é planejado para os meses de março a maio, a fim de atender à demanda da Semana Santa.

Quadro 2 - Calendário de manejo e uso dos recursos naturais no ecossistema de várzea do

território do Baixo Tocantins

Sistema de Produção

Meses do ano de uso dos recursos naturais

Ja neiro F ev er eiro M arç o

Abril Maio Jun

ho Julh o Ag os to Set embro O utubro No vembro Dez embro

Produção e manejo do açaí Safra Entressafra Safra

SAFs – cupuaçu Safra Entressafra Safra

SAFs – cacau Safra Entressafra Safra Entressafra Safra

Agricultura (cultivos agrícola) Cultivam e manejam o ano todo

Criação de pequenos animais Criam e manejam o ano todo

Criação de peixe (tambaqui) Entressafra Safra Entressafra

Extrativismo vegetal – coleta de frutos (buriti)

Safra de

Buriti Entresafra

Safra Buriti

Extrativismo vegetal – coleta de sementes (andiroba, ucuúba e murumuru) Safra Andiroba Safra Murumuru Safra Ucuúba Safra Andiroba

Extrativismo vegetal – extração

de madeiras Extração o ano todo

Extrativismo animal – caça Caçam o ano todo

Pesca – camarão Defeso Safra Defeso

Pesca – peixe Defeso Safra Defeso

Fonte: Pesquisa de campo, 2013/2014.

O extrativismo vegetal ocorre principalmente com a coleta de frutos de buriti, no período de dezembro a abril. A coleta de sementes de andiroba (dezembro a fevereiro), ucuúba (junho a julho) e murumuru (março a abril) ocorre em períodos distintos do ano. Já a extração de madeira e a caça de animais ocorrem ao longo dos 12 meses do ano, de acordo com as necessidades dos caboclos-ribeirinhos.

A pesca artesanal de peixe e camarão é uma das principais atividades que são realizadas ao longo dos 12 meses do ano. A captura de camarão vai de março a novembro, sendo que o pico da safra de camarão vai de abril até junho. O período da safra do peixe

ocorre de março a novembro, e o período de defeso do camarão ocontece de dezembro a fevereiro.

As áreas de várzeas do território do Baixo Tocantins, da Amazônia Paraense, representam agroecossistemas produtivos, caracterizados por uma sazonalidade de trabalho e de atividades produtivas diversas, adotando estratégias de adaptação de uso dos recursos naturais em relação às mudanças diárias do ambiente, desenvolvendo tecnologias de uso múltiplo dos recursos naturais, planejando ou programando as atividades produtivas de acordo com as condições naturais do ecossistema de várzea.

A produção e manejo do açaí é a atividade produtiva predominante que gera maior renda para as famílias caboclo-ribeirinhas. O açaí também é a atividade econômica com a qual a maior parte das famílias (97%) dos entrevistados gasta maior parte de seu tempo. As demais atividades, tais como, pesca artesanal, criação de animais, SAFs, extrativismo e a caça revelam-se importantes atividades de complementação alimentar.

Na várzea, a intensificação do trabalho no âmbito interno da unidade de produção familiar visa à otimização da exploração dos recursos, durante o longo do ano. Essa planificação significa a organização sistemática das práticas de manejo agrícola e extrativo de maneira a permitir: (a) a exploração simultaneamente os diferentes ambientes produtivos aquáticos e terrestres e, (b) o ajuste destas práticas às limitações de tempo e da paisagem impostas pelo regime fluvial (PEREIRA, 2007, p. 19).

As atividades produtivas garantem a manutenção dos agroecossistemas de várzea, e a adoção de tais práticas produtivas e de uso múltiplo dos recursos naturais no território do Baixo Tocantins, são de grande relevância para a sustentabilidade do ecossistema de várzea e permanência dos caboclos-ribeirinhos neste território, permitindo produção de alimentos para o autoconsumo, proporcionando maior estabilidade no uso dos recursos naturais ao longo do tempo (NODA et al., 2002; FRAXE, 2007; REIS; ALMEIDA, 2012).

Essas práticas produtivas incorporam uma racionalidade no uso dos recursos naturais, que se refletem tanto nas formações ideológicas, como nos instrumentos tecnológicos de cada processo de produção. Deste modo, as práticas de cada unidade produtiva são fundadas na simbolização de seu ambiente, nas suas crenças religiosas e no significado social dos recursos, que geraram diversas formas de percepção e apropriação, regras de acesso, práticas de manejo dos ecossistemas e padrões culturais de uso e consumo dos recursos (LEFF, 2009).

A manutenção da produtividade dos agroecossistemas a longo prazo requer a produção sustentável de alimentos, por meio de práticas agrícolas, podendo ser observadas nas

diversidades de estratégias de produção e uso da terra no Baixo Tocantins: produção e manejo de açaí, sistemas agroflorestais, pesca, agricultura, extrativismo e criação de animais.

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