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4 BAIXO TOCANTINS: TERRITÓRIO RIBEIRINHO EM MOVIMENTO

4.4 Dinâmica socioprodutiva do território do Baixo Tocantins

O território do Baixo Tocantins, ao longo de quatro décadas, caracterizou-se por uma estrutura econômica agrária, com o predomínio da produção agroextrativista. A estrutura agrária do Baixo Tocantins, até a década de 1980, baseava-se na grande propriedade da terra, no monopólio da propriedade da terra pelos latifundiários donos de engenhos e canaviais.

No interior dessa estrutura econômica e social começou a se processar uma nova economia agrária territorial. Esse desenvolvimento pode ser verificado no incremento das forças produtivas e na expansão da base material da sociedade, de novas relações sociais de produção, mais organizadas. A ocupação extralegal da terra foi o precedente histórico que tornou possível a criação de unidades agrícolas menores, cultivadas pelos camponeses e seus familiares.

O interesse em impulsionar a economia, em especial, o setor da agricultura, com técnicas consideradas modernas, perante os métodos usuais da agricultura foram apoiados com aparato dos movimentos dos trabalhadores rurais e de políticas que incentivaram a adoção de implementos agrícolas. O crédito amplamente liberado favoreceu aos agricultores a se apropriarem de tais instrumentos, possibilitando um avanço significativo em termos de produção. Esse processo, conhecido como modernização da agricultura, condicionou a melhoria dos meios de produção, induzido pela intervenção do governo na produção de produtos de apelo do mercado.

No primeiro momento, a condição de desenvolvimento baseado em atividades econômicas deixa à mercê do crecimento as famílias caboclo-ribeirinhas que dispõem de poucos fatores de produção (terra, mão de obra e capital), quase exclusivamente para o

autoconsumo. Muitas delas, por não acompanharem a modernização, seja por não dispor de condições técnicas e de capital financeiro, evolução propícia ou pela limitação dos fatores de produção, não movimentou, de forma satisfatória, a economia como era de interesse do Estado, até a década de 1980.

No segundo momento, ou seja, nos anos de 1990, a trajetória da economia da região do Baixo Tocantins, caracterizava-se pela dinâmica de ocupação dos caboclos-ribeirinhos em atividades agrícolas e extrativistas, baseadas na agricultura familiar, com predomínio do extrativismo vegetal, agricultura familiar e pesca artesanal. A economia agroextrativista apresentava fortes oscilações de produtividade e rendimentos entre o período de safra e entressafra/defeso da pesca e entressafra do açaí; na safra a população caboclo-ribeirinha tem maior rendimento e, no período do defeso do pescado e entressafra do açaí, ocorre uma queda vertiginosa da renda.

Diante deste contexto, fica evidente que a economia do território do Baixo Tocantins é predominantemente agrária e sazonal. A atividade econômica está fortemente assentada no setor primário, com predomínio da agricultura e do extrativismo (principalmente com plantios de mandioca, pimenta do reino, açaí, cacau, maracujá, etc), extrativismo do açaí, da pesca e da exploração madeireira (Tabela 3). A indústria tem expressão menor, embora com destaque, principalmente, no processamento de minérios, enquanto o comércio e os serviços estão concentrados nas principais cidades-polos: Abaetetuba e Cametá.

Município % dos ocupados no setor agropecuário - 18 anos ou mais (2010) % dos ocupados no setor extrativo mineral - 18 anos ou mais (2010) % dos ocupados na indústria de transformação - 18 anos ou mais (2010) % dos ocupados no SIUP - 18 anos ou mais (2010) % dos ocupados no setor de construção - 18 anos ou mais (2010) % dos ocupados no setor comércio - 18 anos ou mais (2010) % dos ocupados no setor serviços - 18 anos ou mais (2010) Abaetetuba (PA) 31,8 0,5 9,1 0,4 8,2 16,3 31,1 Acará (PA) 52,2 0,0 10,1 0,2 2,7 11,0 20,1 Baião (PA) 59,8 0,0 3,3 0,2 3,3 7,2 22,7 Barcarena (PA) 15,6 1,7 12,1 1,1 11,7 15,0 35,2 Cametá (PA) 54,5 0,1 4,1 0,6 5,0 10,6 22,5 Igarapé-Miri (PA) 42,6 0,0 8,7 0,4 3,9 14,7 25,5 Limoeiro do Ajuru (PA) 69,9 0,0 2,7 0,1 2,7 3,1 16,6 Mocajuba (PA) 49,3 0,1 6,2 2,1 5,0 11,7 23,8 Moju (PA) 53,2 0,2 8,1 0,1 3,5 12,3 19,6

Oeiras do Pará (PA) 50,6 0,0 10,8 0,0 3,4 8,5 19,3

Tailândia (PA) 25,2 0,3 13,8 0,4 6,0 20,3 28,8

A atividade agrícola é praticada em pequenas e médias propriedades, com reduzido uso de equipamentos e tecnologia agrícolas, obtendo-se uma baixíssima produtividade. Os principais produtos agrícolas produzidos pelos camponeses são: pimenta-do-reino, açaí (e palmito), lavoura branca (arroz, milho, feijão, mandioca), farinhas, hortaliças, cacau (nativo), laranja, banana, essências florestais e seringa. Tem-se também a produção de hortigranjeiros (couve, coentro, alface, cheiro verde, maxixe) e apicultura (mel). Outras atividades econômicas são desempenhadas no território, como extrativismo de madeira em tora e lenha, andiroba e copaíba; pesca artesanal: peixe e camarão; e criação de suínos e aves.

A atividade agrícola (agroextratvisivta) possui uma forte tradição em todo o território, respondendo pela ocupação da maior parte de sua População Economicamente Ativa (PEA), seguida pela de setor de serviços e comércio. O setor industrial de transformação se destaca nas cidades-polos agrominerais: Tailândia, Barcarena, Acará e Oeiras do Pará.

Nas áreas de várzea, englobando as cidades localizadas no estuário amazônico (Abaetetuba, Igarapé-Miri, Cametá) predominam o agroextrativismo, a pesca e a agricultura de subsistência, mas já se observa uma forte penetração da agricultura comercial, com a internacionalização do açaí.

No Baixo Tocantins, localizam-se áreas de expansão da “fronteira” agrícola, estimulada pelas políticas públicas do governo federal e pelas empresas agrominerais (Biovale, Agropalma, Anbras-Alunorte) presentes na região, demandando ações conservacionistas, envolvendo as áreas de fronteira entre terra firme e área de várzea. Trata- -se de uma vasta área, coberta predominantemente por vegetação nativa, mas com crescente presença de atividades agroextrativista.

Outra atividade que ocupa expressivo contingente da PEA do território, particularmente na Calha do Baixo Tocantins e no Rio Pará, mas que apresenta um valor reduzido, é a pesca de peixe e camarão, praticada predominantemente de forma artesanal, tendo sua produção voltada, principalmente, para a subsistência e o suprimento dos mercados locais, constituindo uma das principais fontes de alimentação para os caboclos-ribeirinhos residentes nas áreas de várzea.

No entanto, em função do declínio na produtividade pesqueira no território, várias comunidades passaram a implementar sistemas de preservação dos recursos naturais (manejo e acordo de pesca), para reduzir ou controlar a pressão sobre os recursos pesqueiros e defender suas áreas de invasores.

A extração de produtos florestais não madeireiros tem apresentado, nos últimos anos, grande importância social, econômica e ambiental para as populações ribeirinhas locais. Os

produtos florestais não-madeireiros, como sementes, passam ao largo das estatísticas oficiais, devido à grande informalidade do setor, com um expressivo contingente de pessoas ocupadas, principalmente nas áreas de várzea.

Outros produtos florestais também são utilizados localmente, como materiais de construção e instrumentos de coleta de semente e pesca (paneiro, rasas, matapi, entre outros), como no caso das palmeiras, resultando na grande variedade de artesanatos e peças de arte produzidas pelos caboclos-ribeirinhos.

Nesse contexto, observa-se que a pesca e a extração de produtos florestais não madeireiros vêm assumindo papel importante ao longo de vários séculos, pois se apresentam como fonte de renda para os caboclos-ribeirinhos, possuindo potencial econômico para frear o desmatamento das florestas. Atualmente, a pesca e os recursos florestais não madeireiros consistem na principal fonte de renda e de alimentação para milhares de famílias que vivem da extração florestal, constituindo oportunidade real para o incremento da renda familiar dos caboclos-ribeirinhos, seja por meio de sua exploração em manejo ou em cultivos domesticados; e vêm dando uma nova dinâmica socioprodutiva, além de gerar renda monetária e não monetária (autoconsumo), fortalecendo a relação da população com os recursos naturais existentes.

O território vem se desenvolvendo centrado na potencialidade agroextrativista, particularmente a fruticultura (açaí) e a pesca que constituem as principais atividades em área de várzea que vem alavancando a economia local (REIS, 2008), sob bases de uma economia invisível, mas que apresenta geração de riquezas materiais e imateriais regidas por uma lógica própria capiltalista e não capitalista.

5 VÁRZEA: TERRITÓRIO DE VIDA DOS CABOCLOS-RIBEIRINHOS

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