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PERÍODO

6.5 Criação e manejo de pequenos e médios animais em área de várzea

A criação de pequenos animais em área de várzea é uma prática importante, como fonte de alimentos, cumprindo um papel estratégico no enriquecimento da dieta alimentícia das populações caboclo-ribeirinhas, além de contribuir para a redução da pressão sobre o uso dos recursos naturais, principalmente a caça e a pesca (ADAMS et al., 2005; MURRIETA, 1998, 2001, 2008).

Nos agroecossistemas de várzea do Baixo Tocantins, 74% dos caboclos-ribeirinhos possuem criações de animais de pequeno (aves) e médio (suínos) porte, criados de forma intensiva e extensiva durante o ano inteiro, em pequena escala, como importante atividade geradora de proteína animal, consumida periodicamente o ano todo. Os principais tipos de animais criados são de pequeno e médio porte, com destque para galinha caipira (Gallus

gallus domesticus), suíno (Sus domesticus), pato (Anas Platyrhynchos), abelhas com ferrão (Apis mellifera), abelhas sem ferrão (Melipona scutellaris) e peixe de espécie tambaqui

(Colossoma macropomum) (Tabela 6).

Tabela 6 - Principais tipos de animais de pequeno e médio porte criados pelos caboclos-ribeirinhos

nos agroecossistemas de várzea

Espécies Nome Científico

Freqüência nas propriedades

Formas de uso

Consumo Venda Finalidade

Galinha

Caipira Gallus gallus domesticus Muito Sim Não Alimentação Familiar

Suíno Sus domesticus Mediano Sim Sim Alimentação Familiar

e Venda

Pato Anas Platyrhynchos Muito Sim Não Alimentação Familiar

Abelhas com

Ferrão Apis mellifera Pouco Sim Sim Alimentação Familiar e Venda Abelhas sem

Ferrão Melipona scutellaris Pouco Sim Sim Alimentação Familiar e Venda Peixes

(Tambaqui)

Colossoma

macropomum Muito Sim Sim

Alimentação Familiar e Venda Fonte: Pesquisa de Campo, 2013/2014.

O manejo das galinhas, patos e suínos ocorre de forma semiextensiva com maior frequência em espaços físicos denominados de galinheiro e chiqueiro, situados ao lado ou nos fundos dos domicílios. As instalações utilizadas para criação dos animais, principalmente as galinhas e os porcos, são suspensas devido às enchentes e cercadas para não causarem prejuízos aos cultivos agrícolas (Fotografia 7).

Fotografia 7 - Tipos de criação de animais nos agroecossistemas de várzea em área de várzea do

território do Baixo Tocantins

(a) Criação integrada de galinha e pato (b) Criação de porco

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013/2014.

Os produtos utilizados para alimentação diária dos animais são oriundos, principalmente, da própria comunidade e do comércio local, sendo que 51% da alimentação dos peixes são restos de comida doméstica; 29%, ração industrial; e 20% são alimentados com milho que são comprados nas sedes dos municípios do território e nos comércios localizados nas comunidades ribeirinhas (Gráfico 23).

Gráfico 23 - Produtos utilizados na alimentação dos animais no território do Baixo

Tocantins

Fonte: Dados de pesquisa de campo, 2013/2014. 51%

29% 20%

Resto de Comida Domestica Ração Industrial

Além da ração, restos de comida humana e milho (in natura), as aves, suínos e peixes são alimentados por uma diversidade de produlos gerados nos demais sistemas de produção vindo do agroecossistema de várzea: açaí, folhas de hortaliças, buriti, farelo de milho, capim, casca de mandioca, bagaço de açaí e frutas que caem das árvores no quintal.

A produção obtida da criação de animais é destinada exclusivamente para subsistência das famílias caboclo-ribeirinhas. No entanto, e excendente dos animais e seus subprodutos são comercializados nas próprias comunidades, em ocasiões especiais, como nas festividades religiosas promovidas nas comunidades. A criação desses animais constitui complemento importante para a economia ribeirinha, uma vez que é utilizada, tanto para o consumo próprio, quanto para a comercialização, garantindo, em boa parte, a segurança alimentar e nutricional nas áreas de várzea do Baixo Tocantins.

Além da criação de galinha, porcos e suinos, os caboclos-ribeirinhos estão se dedicando com mais frequência nos últimos anos também à criação de peixe em cativeiro, a fim de suprir de alimento à população e como alternativa para a escassez de peixe. Segundo os entrevistados, a ampliação da utilização de poços de criação nas áreas de várzea se deu muito pela redução da produção dos estoques de peixe no rio Tocantins, resultante da construção da usina hidrelétrica de Tucuruí.

Neste sentido, os caboclos-ribeirinhos do baixo Tocantins tiveram que adaptar-se a nova realidade socioambiental, que foi alterada em função do barramento do rio, modificando assim, suas estratégias de uso de recursos pesqueiros, como a implantação de sistemas de criação em cativeiro de peixe (Fotografia 8).

Fotografia 8 - Sistema de criação de peixe em piscicultura nos agroecossistemas de várzea do

território do Baixo Tocantins

(a) Tanque de criação de peixe me área de várzea (d) Tambaqui (Colossoma macropomum)

O sistema de manejo adotado é semi-intensivo de cultivo, com a utilização de viveiros escavados chamados de “poços”, sem que haja uma padronização no formato desses viveiros, dificultando o manejo, a despesca e a limpeza dos tanques de piscicultura.

Em torno de 25% dos cabolcos-ribeirinhos pesquisados têm viveiros em suas áreas. As propriedades familiares apresentam, em média, dois viveiros de área média por viveiro 230m², que são construídos próximos às residências na época da seca (verão) manualmente por meio de mão de obra contratada da própria região, que cobram em média um valor de R$20,00 (vinte reais) por m³ de viveiro escavado, próximo ao corpo de água às margens dos rios, pela facilidade da captação de água, redução de custo e pela facilidade de vigilância para evitar furto.

As principais espécies de peixe cultivado é o tambaqui (Colossoma macropomum) e o seu híbrido tambacu, que é resultado do cruzamento do Colossoma macropomum fêmea com o Piaractus mesopotamicus macho. Essas espécies são escolhidas por serem espécies da região e natural de áreas de várzea, rústicas e resistentes ao manejo.

Os caboclos-ribeirinhos que praticam esta atividade enfrentam dificuldades no processo logístico de compra de alevinos, insumos e comercialização da produção. Devido à localização das propriedades às margens dos rios, os alevinos são deslocados por meio de embarcações, geralmente de pequeno porte. Esse meio de transporte é inapropriado para o deslocamento dos peixes, pois ocasiona estresse, devido ao barulho do motor e à exposição ao sol, podendo acarretar a mortalidade dos animais.

A piscicultura no Baixo Tocantins é caracterizada pelo grande número de caboclos- -ribeirinhos, com pouca utilização de técnicas apropriadas para a criação, utilizando-se apenas dos conhecimentos adquiridos. Com o uso de ração inadequada e sem o controle correto da água, a produtividade dos viveiros cai, e a qualidade do produto fica comprometida (TENÓRIO et al., 2014).

A finalidade da produção de peixe é a alimentação das famílias e o excedente comercializado nas comunidades ribeirinhas ou em ocasiões especiais, em festividades locais e no período da semana santa, funcionando como complementação econômica e alimentar para as famílias ribeirinhas (FRAXE et al., 2007; CASTRO et al., 2009).

A criação de peixe em cativeiro tem uma importância significtiva na dieta local, assegurando itens proteicos durante a escassez de açaí, pescado, camarão, ou para comercialização do excedente, funcionando como uma forma de poupança para ser usada no período de entressafra dos sistemas de produção. Segundo Witkoski (2010) essa atividade

ocupa um papel estratégico dos caboblos-ribeirinhos para a produção e reprodução de suas condições materiais de vida.

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