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Dentre as análises que poderíamos realizar no texto obtido pela transcrição das entrevistas, três nos chamaram a atenção: Análise de Conteúdo (AC), Análise de Discurso (AD) e a Análise Textual Discursiva (ATD). A AC tem

como objetivo sintetizar o que está explícito no texto e, analisar o que foi dito. A AD tem como objetivo sintetizar o que está implícito no texto e, dessa forma, analisa a causa do que foi dito. Por fim, a AC é muitas vezes mais objetiva que a AD, pois está imersa na subjetividade do analista e não podemos julgar qual delas é a melhor, uma vez que ambas tem o objetivo de compreender o corpus onde a análise está sendo aplicada, mas por caminhos diferentes. Já a ATD encontra-se no meio desses dois caminhos, porque embora nessa análise também haja uma preocupação com a objetividade e a mensagem explícita do corpus, ela também deixa margem para a interpretação por parte do analista, seja para compreender conhecimentos emergentes, ou para interpretar o conhecimento por intermédio de uma teoria que serve como norteadora. (MORAES E GALIAZZI, 2016).

Ainda sobre o posicionamento da ATD entre AC e AD, MORAES E GALIAZZI (2006) também escrevem:

A análise textual discursiva é uma abordagem de análise de dados que transita entre duas formas consagradas de análise na pesquisa qualitativa que são a análise de conteúdo e a análise de discurso. Existem inúmeras abordagens entre estes dois pólos, que se apóiam de um lado na interpretação do significado atribuído pelo autor e de outro nas condições de produção de um determinado texto. Ainda que o termo análise textual, segundo TITSCHER et al., possa relacionar-se a uma diversidade de abordagens de análise, incluindo-se nisto a análise de conteúdo e as análises de discurso (MORAES E GALIAZZI, 2006, p. 118).

Já estabelecida a ATD entre AC e AD, devemos agora discorrer sobre as etapas metodológicas que formam a própria ATD. MORAES (2003) escreve sobre os três elementos principais da ATD:

1. Desmontagem dos textos: também denominado de processo de unitarização, implica examinar os materiais em seus detalhes, fragmentando-os no sentido de atingir unidades constituintes, enunciados referentes aos fenômenos estudados. 2. Estabelecimento de relações: processo denominado de categorização, implicando construir relações entre as unidades de base, combinando-as e classificando-as no sentido de compreender como esses elementos unitários podem ser reunidos na formação de conjuntos mais complexos, as categorias. 3. Captando o novo emergente: a intensa impregnação nos materiais da análise desencadeada pelos dois estágios anteriores possibilita a emergência de uma

compreensão renovada do todo. O investimento na comunicação dessa nova compreensão, assim como de sua crítica e validação, constituem o último elemento do ciclo de análise proposto. O metatexto resultante desse processo representa um esforço em explicitar a compreensão que se apresenta como produto de uma nova combinação dos elementos construídos ao longo dos passos anteriores (MORAES, 2003, p. 191).

Assim, a metodologia proposta para a ATD é: (i) Unitarização, etapa onde o corpus da pesquisa, no nosso caso a transcrição das entrevistas, passa por um processo de fragmentação para obter as unidades de sentido; (ii) Categorização, etapa onde as unidades de sentido são classificadas e agrupadas conforme essa classificação; e (iii) produção do Metatexto, a síntese das ideias e conceitos compreendidos do conjunto de vozes que formam o corpus da pesquisa. (MORAES, 2003).

Acreditamos que toda a pesquisa deva ser descritiva no sentido de apresentar a totalidade das etapas seguidas, não se preocupando apenas com os resultados. Assim, outros pesquisadores poderão ir mais longe porque podem compreender a metodologia utilizada de forma completa. PAULA et al. (2018) corroboram com essa afirmação quando escrevem:

Para BOGDAN e BIKLEN, a pesquisa qualitativa apresenta pelo menos cinco características, das quais, em três destas, assume-se um caráter de pesquisa descritiva, onde existe uma preocupação dos pesquisadores com o processo e não só com as conclusões obtidas, sendo a presença dos significados uma preocupação essencial. Por isso, o detalhamento dos procedimentos, em alguns casos e para determinados pesquisadores, é compreendido como uma atitude necessária (PAULA et al., 2018, p. 543).

Após a unitarização é necessário classificar e separar as unidades de sentido em categorias e nessa etapa, denominada categorização, podemos escolher dois caminhos distintos: (i) método dedutivo e (ii) método indutivo. (SOUZA E GALIAZZI, 2017).

O método dedutivo é aquele em que as teorias assumidas pelo pesquisador para interpretar o fenômeno são estabelecidas antes mesmo da etapa inicial de análise: (...) Neste caso, temos o estabelecimento de categorias de análise assumidas previamente ao estudo do fenômeno cujo trabalho do pesquisador é o de atribuir em qual dessas categorias a priori, (MORAES,

1999) fundamentadas em teorias com as quais já lida ou lidou, cada unidade de significado ―se encaixa‖ (SOUZA E GALIAZZI, 2017, p. 521).

No método dedutivo de categorização, também conhecido como a

priori por alguns autores, ocorre a criação das categorias antes mesmo da análise

do corpus e, nesse caso,o analista está norteado por uma teoria. Então, cabe ao analista criar essas categorias com base em uma teoria, e colocar as unidades de sentido dentro de cada categoria. De outro modo, utilizando a metáfora utilizada por BARDIN (2016) sobre a AC: colocando cada unidade de sentido dentro de uma caixinha, onde cada uma representa uma categoria.

Em outro modo de produzir a análise está a possibilidade de categorizar pelo método indutivo, que é aquele no qual o pesquisador reúne informações textuais – unidades de significado – baseado em semelhanças empíricas entre estas que o leva à generalização e ao estabelecimento de uma categoria. (...) Diferentemente do método dedutivo, o método indutivo lida com despretensão teórica prévia. A elaboração de categorias com o método indutivo reivindica que o pesquisador busque teorias com as quais talvez nem tenha trabalhado para fundamentar as suas categorias. Ou seja, exercício empírico é que induz o delineamento teórico categorial (SOUZA E GALIAZZI, 2017, p. 521).

Assim, no método indutivo, o analista utiliza as categorias que emergem do próprio corpus, sendo chamado de emergente por alguns autores.

Após a unitarização e a categorização, tanto pelo método dedutivo quanto pelo método indutivo, cabe ao analista compreender o conhecimento que emerge das várias vozes presente no corpus. Esse conhecimento deve ser expresso na forma textual. O metatexto, e sobre ele, PEDRUZZI et al. .(2015) escrevem:

O metatexto necessita ainda ser constantemente aperfeiçoado e reorganizado, pois, por ser um processo de escrita, exige uma permanente reconsideração em relação à sua estrutura e seus argumentos. Ou seja, assim como no processo de investigação do fenômeno seguimos o caminho com o intuito de complexificar nossos achados e nossas descobertas, da mesma forma procedemos na elaboração do metatexto (PEDRUZZI et al. 2015, p. 593).

Com o metatexo, o analista pode enfim obter suas conclusões, confirmando ou refutando alguma hipótese, ou até mesmo desenvolvendo uma nova teoria.