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Na Tabela 6.15, a seguir, apresentamos um recorte da tabela de unitarização e categorização do corpus 3B, turmas LQ2017 e LQ2018.

TABELA 6.15 – Recorte da tabela de unitarização das turmas LQ2017 e LQ2018, apresentando a unidade de sentido e a categoria em que ela foi enquadrada.

Unidade de Sentido Categoria

Perde-se um pouco a motivação por você ver a mesma coisa

do Ensino-Médio. Competência

O primeiro semestre foi só adaptação. Competência No livro encontramos palavras complicadas, só para ficar

difícil de entender. Competência

Esse semestre o Prof. P498 começou a trabalhar com a

gente montando o próprio roteiro. Método Investigativo A gente monta o próprio roteiro e sabe o que está fazendo. Método Investigativo Quando o prof. pediu um roteiro de padronização,

conseguimos compreender a padronização. Método Investigativo Tive problemas pessoais no início do curso, mas alguns

professores falaram para eu não desistir. Relacionamento Para isso que serve o procedimento pronto, para introduzir

algumas técnicas. Método Tradicional

O procedimento pronto serve para te nortear inicialmente em

algum processo. Método Tradicional

Depois você pode propor alterações, desde que você

conheça. Método Tradicional

Tenho professores bons ao meu lado. Relacionamento

Eu quero fazer pós-graduação. Autonomia

Eu sou o primeiro da geração da família que está fazendo

graduação. Autonomia

A educação muda a pessoa e eu quero mudar minha família

também. Autonomia

Juntando os conhecimentos prévios de cada um, com o

trabalho coletivo, foi o que mais contribuiu. Relacionamento Fonte: AUTOR

6.2.14 – Metatexto 3B

A maioria dos alunos indicou que geralmente eles utilizavam roteiros prontos, mas na metade do Curso de Licenciatura houve a introdução do projeto de inovação, quando eles deixaram de receber o roteiro pronto do professor, procurando eles mesmos por um, em livros ou na internet. Alguns professores achavam que estavam orientando os alunos a elaborar o próprio roteiro, mas na verdade eles estavam utilizando um roteiro pronto de uma fonte que não era a tradicional, o professor.

A maioria dos alunos também indicou que o roteiro pronto não estimula o pensamento, pois o procedimento é realizado de forma mecânica, ou seja, o roteiro deve ser apenas seguido. Além disso, os alunos também indicaram que em muitos roteiros prontos eles não entendiam o que estavam fazendo, e citaram práticas de titulação como exemplo disso. Há indícios nessas afirmações de que a interpretação do roteiro como algo que deve ser executado de forma mecânica prejudica a aprendizagem dos conteúdos trabalhados na aula prática, estando isso de acordo com a BPNT (RYAN e DECI, 2017).

Um aluno indicou que mesmo com roteiro pronto o procedimento deve ser estudado e, caso não seja compreendido, o professor está lá para auxiliar nessa compreensão. Podemos concluir que o problema não é a utilização de roteiros prontos, e sim como os alunos o interpretam, e às vezes como o professor orienta sobre o procedimento. Os alunos não devem aceitar o roteiro como algo apenas para ser seguido no automático; eles precisam interpretar e compreender os motivos por trás de cada etapa e, somente com a sua compreensão poderá ocorrer o desenvolvimento das competências abordadas no procedimento

Outro aluno também indicou que os roteiros prontos podem ser aplicados para introduzir a prática de alguma técnica ou servir de norteador para algum processo. Podemos relacionar essa afirmação com o desenvolvimento de conhecimentos procedimentais, como a utilização de um bureta ou a calibração de algum equipamento que, embora tenha um conhecimento conceitual por trás do procedimento, exige um treinamento para que os alunos adquiram competência na rotina necessária.

Um aluno também indicou que às vezes só compreendia o conceito trabalhado no experimento quando estudava para elaborar o relatório, e algumas

vezes apresentava no relatório o que desenvolveu no estudo teórico, não utilizando os dados obtidos na aula prática. Assim, a prática de laboratório aparentava ter apenas ocupado o tempo, servindo de pretexto para estudar posteriormente a teoria na elaboração do relatório. Um aluno afirmou que o despreparo do professor também atrapalhou, porque às vezes perdiam-se quatro aulas em um procedimento de diversas etapas que não dava certo. Além disso, ele não se preocupava em compreender o motivo do erro, e por vezes tentava novamente o mesmo procedimento, sem sucesso. Dessa forma, o professor não forneceu estrutura ao desenvolvimento de competências, podendo reduzir o relacionamento entre aluno e professor. Isso também pode indicar que o professor obteve o procedimento pronto de outra fonte, como um livro, ou até mesmo a internet e, ao apresentar o procedimento, nota-se que o ele não deve ter compreendido todas as etapas apresentadas no procedimento. Aqui temos novamente a importância do professor ao fornecer estrutura ao desenvolvimento de competências, e isso está de acordo com a CET (RYAN e DECI, 2017).

Dois alunos citaram que alguns professores utilizaram uma metodologia semelhante ao MI, e em alguns casos ajudou bastante o entendimento do conteúdo. Um aluno citou que nunca compreendeu os fundamentos da titulação, mesmo quando ele cursava o Curso Técnico em Química em outra instituição. No entanto, em uma investigação ele conseguiu compreender o processo, e até deu detalhes na entrevista onde deixou claro seu entendimento sobre o conteúdo, ou seja, o MI auxiliou o desenvolvimento de competências. De forma semelhante, diversos alunos afirmaram que o MI os auxiliou no processo de entendimento do conteúdo, ou seja, no desenvolvimento de competências; isso está relacionado à exigência de pensar durante a elaboração do procedimento, e até em pensar para resolver algum imprevisto no laboratório, como um vazamento de um gás produzido em um experimento de cinética, conforme ocorrido em uma das aplicações do MI. Pensar durante a elaboração ou execução do processo ajudou na compreensão do conteúdo abordado; talvez, ao ter que pensar para elaborar e executar o procedimento, o aluno não realize a prática de laboratório de forma mecânica e, de acordo com a BPNT, o comportamento mecânico deve ser evitado (RYAN e DECI, 2017).

Um aluno enfatizou a importância do professor no suporte ao desenvolvimento de competências pois, na aplicação do MI, houve esclarecimento

sobre a atividade e seus fundamentos. Ademais, durante a aplicação eles tiveram acesso a informações que facilitaram a resolução do problema, onde o aluno deixou claro que não receberam a resposta pronta e os professores se negavam a fornecer a solução ao problema proposto. Isso pode ser um indício de que o suporte ao desenvolvimento de competência aumenta a motivação intrínseca, e isso está de acordo com a CET (RYAN e DECI, 2017).

Um aluno resumiu as atividades em laboratório em três tipos: em sua classificação, o tipo 1 são os roteiro prontos; o tipo 2 ocorre quando o aluno tem a liberdade de procurar um procedimento, em livros ou internet; e o tipo 3, onde o aluno deve produzir, a partir de seus próprios conhecimentos, o procedimento para resolver o problema no laboratório. Esse tipo 3, na classificação do aluno, foi o próprio MI aplicado nesta pesquisa. Segundo esse aluno, o MI é o mais complicado pois exige pensamento e maior esforço em sua realização, porém é o mais indicado, porque é possível aprender mais sobre o conteúdo abordado. Novamente, há indícios de que o MI não é interpretado como um procedimento que deve ser realizado de forma mecânica, e isso está de acordo com a BPNT (RYAN e DECI, 2017).

Dois alunos afirmaram que a autonomia permitiu uma sensação de responsabilidade sobre a própria aprendizagem, e isso aumentou a motivação ao estudo. Quando os alunos sentem que estão no controle dos seus atos de aprendizagem, eles podem apresentar motivação intrínseca, e por isso podem apresentar maior persistência e qualidade em suas ações, estando isso de acordo com a CET (RYAN e DECI, 2017).

Um aluno afirmou que cada um tem uma forma de se organizar no estudo e, com o suporte à autonomia, você é capaz de se organizar da forma que permite uma maior aprendizagem. Ainda segundo esse aluno: ―um jeito mais prático e que eu entendesse melhor‖. De acordo com os alunos, a escolha do curso ou daquele que fará após a graduação, também parece estar ligada à sua motivação no Curso de Licenciatura; o aluno percebe que está lá por escolha própria ou que as competências aprendidas durante a graduação serão úteis na próxima etapa, seja ela uma especialização ou uma pós-graduação stricto sensu.

Dois alunos indicaram que o trabalho em grupo ajudou muito na resolução do problema. Ao resolver o problema proposta no MI, os alunos desenvolveram competências, e esse suporte a essa necessidade psicológica

básica foi possível graças ao trabalho em grupo, o que também deu suporte à necessidade de pertencimento. Isso pode ser um indício de que o MI dá suporte à necessidade psicológica básica de competência, e pode dar suporte à necessidade de relacionamento entre os alunos. Um aluno também indicou que há bons professores ao seu lado, o que também indica um relacionamento entre aluno e professor.

Dois alunos indicaram que cada aluno aprende de forma e velocidade diferentes, de acordo com suas preferências. Outro afirmou que diferentes alunos exigem diferentes métodos de ensino, e por isso as aulas devem utilizar diferentes metodologias assim como no laboratório, onde se pode fazer uma abordagem tradicional ou através do MI. Aqui fica clara a importância da discussão do método de ensino com a turma, onde esse corpus são alunos do final do Curso de Licenciatura, sendo natural que eles queiram utilizar mais sua autonomia nas aulas, uma vez que a característica desse Curso de Licenciatura é dar suporte à necessidade psicológica básica de autonomia, após a implementação do projeto de inovação. Eles desejam discutir com o professor como as aulas serão norteadas.

Dois alunos indicaram que os conhecimentos prévios foram importantes na resolução do problema durante a aplicação do MI; isso concorda com nossa proposta de que os alunos só conseguem resolver o problema se eles possuírem as competências necessárias para isso. Assim, é importante a avaliação diagnóstica, segundo as orientações de LUCKESI (2013). É necessária a discussão de um ou mais conteúdos caso os resultados da avaliação diagnóstica indiquem essa necessidade. Se os alunos não tiverem todas as peças, eles não poderão resolver o quebra-cabeça. Ao verificar se os alunos têm essas peças, ou quando o professor ajuda na obtenção dessas peças, ele estará dando suporte à necessidade psicológica básica de competência, e os alunos poderão desenvolver a motivação intrínseca para as atividades propostas. Isso está de acordo com a CET (RYAN e DECI, 2017).

Um aluno enfatizou que nas aulas o despreparo do professor foi o que mais atrapalhou, e deixou claro que não há problema na prática dar errado, mas não pode acontecer sempre. O professor deve fornecer estrutura para que os alunos desenvolvam suas competências, e a falta dela pode dificultar o desenvolvimento das competências. Isso também está de acordo com a CET (RYAN e DECI, 2017).

Dois alunos deixaram claro que desenvolveram uma sensação de pertencimento com os professores do curso devido à dedicação, paciência e conhecimento apresentados por estes. Podemos entender que, quando os professores se dedicam ao desenvolvimento de competências nos alunos, esses podem desenvolver o relacionamento com o professor, e isso está de acordo com a BPNT (DECI e RYAN, 2014; RYAN e DECI, 2017). Esse relacionamento entre aluno e professor poderá repercutir no desenvolvimento de novas competências no futuro, de acordo com a RMT (RYAN e DECI, 2017). Ao criar esse vínculo, o aluno poderá aceitar se dedicar às atividades propostas pelo professor de forma autônoma, o que deixa evidente a interdependência das necessidades psicológicas básicas, onde isso está de acordo com BPNT (RYAN e DECI, 2017). De forma semelhante, se os alunos perceberem que o professor não se esforça para fornecer estrutura ao desenvolvimento das competências, o relacionamento não se estabelece e os alunos podem não aceitar as atividades propostas por ele de forma autônoma, dificultando a persistência e dedicação à atividade, e dessa forma não haverá um desenvolvimento eficiente de novas competências.