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A Relationships Motivation Theory (RMT) traduzida por nós como Teoria da Motivação dos Relacionamentos tem como foco abordar a importância do relacionamento em relação às demais necessidades psicológicas e suas consequências.

O sentimento de relacionamento gera no indivíduo um sentimento de que ele pertence a um grupo e que os indivíduos desse grupo se ajudam mutuamente. Por essa razão, a necessidade psicológica básica de relacionamento também é conhecida por pertencimento por alguns autores, e ela permite ao indivíduo experimentar uma sensação de segurança. Essa segurança que é importante desde a infância pois, se o indivíduo se sente seguro em seu meio

familiar, ele poderá se aventurar no ambiente que o cerca e satisfazer suas necessidades psicológicas de autonomia e competência.

A RMT ainda postula que dar apoio de autonomia aos outros também satisfaz as necessidades básicas do doador, aumentando o bem-estar do doador além do aprimoramento resultante do recebimento de suporte. Assim, a mutualidade do apoio à autonomia facilita especialmente a satisfação de necessidades psicológicas básicas em ambos os parceiros e uma dinâmica de relacionamento mais positiva ao longo do tempo. Finalmente, a pesquisa da SDT mostra que, quando as necessidades de relacionamento e autonomia se voltam umas contra as outras, como nos casos de consideração condicional, resultam relações de qualidade e resultados de bem-estar mais pobre, com efeitos nocivos que geralmente se generalizam para outros relacionamentos (RYAN e DECI, 2017, p. 293, tradução nossa).

Dessa forma, compreendemos que dar suporte às necessidades psicológicas básicas aumenta o bem-estar tanto de quem recebe o suporte como de quem dá esse suporte. Além disso, quando ocorrem casos de consideração condicional, ocorre uma redução da qualidade do relacionamento e uma redução do bem-estar.

Usaremos um exemplo simples para explicar a consideração condicional citada anteriormente. Imagine que uma pessoa tenha um copo preferido para tomar suco, feito de plástico bem colorido, e que o cônjuge não gosta desse copo por um motivo qualquer. Então, o segundo fala: ―eu te amo, mas você tem que parar de tomar suco no copo de plástico colorido e começar a tomar neste outro copo de plástico‖. É um exemplo fraco, nós sabemos, mas estamos preocupados mais em explicar o conceito de consideração condicional do que em fornecer um exemplo mais real. Nesse exemplo, um indivíduo tem que fazer uma escolha: ou ele ―recebe‖ o amor, dando suporte à necessidade de relacionamento, ou escolhe a autonomia, pois ele prefere ―seu‖ copo de plástico colorido. Assim, ele deve escolher dar suporte a uma necessidade em detrimento de outra. Não importa a escolha, uma vez que as três necessidades psicológicas são importantes, sendo que qualquer necessidade frustrada irá prejudicar o bem-estar, seja pela perda de autonomia, pois o indivíduo se sentirá controlado principalmente porque aparentemente não há valor em trocar o copo para beber o suco, ou pela redução do relacionamento, porque se ele não trocar de copo perderá a consideração do cônjuge. Esse exemplo é

específico para um relacionamento íntimo, mas a consideração condicional pode ser observada em qualquer outro relacionamento: entre amigos, um relacionamento parental ou em até outro relacionamento familiar.

O relacionamento condicional é realizado por indivíduos controladores e isso frustra as necessidades psicológicas do outro, consequentemente reduzindo o bem-estar. (RYAN e DECI, 2017).

Ainda temos outras observações sobre a necessidade de relacionamento que iremos pontuar, e depois explicar: (i) Relacionamentos incondicionais e autênticos são os mais satisfatórios. (ii) Relacionamentos de amizades e/ou parcerias românticas são eletivas. (iii) Dar suporte à autonomia gera mais bem-estar do que receber este suporte. (iv) Uma pessoa poderá se envolver em uma atividade volitiva simplesmente porque é importante para o outro com quem se relaciona.

Vimos que a consideração condicional frustra a satisfação das necessidades psicológicas, e o oposto a isso é o relacionamento autêntico e incondicional. Um exemplo é o amor sem condição alguma; nesse caso, a pessoa que recebe o afeto não tem que fazer escolhas entre o relacionamento ou a autonomia, sendo que ela não se sentirá controlada e, de forma geral, isso aumentará seu bem-estar. Um relacionamento de amizade ou um relacionamento íntimo pode ser igual ou maior do que um relacionamento familiar porque, como já sabemos, amigos e parceiros são escolhidos por nós no exercício da autonomia. Pesquisas indicam que dar suporte à autonomia gera mais bem-estar para quem dá o suporte do que para quem recebe o suporte, ou seja, nesse caso dar é melhor que receber. E, por último e talvez o aspecto mais importante para a educação, uma pessoa poderá apresentar motivação para uma ação caso ela seja importante à pessoa com quem ela tem um relacionamento; uma pessoa pode cuidar da louça do jantar imediatamente após a refeição, mesmo que isso entre em conflito com o seu desejo de sentar no sofá em frente à televisão. Para tanto, basta que isso seja entendido como importante ao cônjuge e não frustre sua necessidade de autonomia ou, em um exemplo mais direcionado à educação, um aluno poderá estudar persistentemente um conteúdo que ele ache difícil desde que ele esteja fazendo a pedido do professor com o qual ele tem um relacionamento. (RYAN e DECI, 2017).

Há diversas pesquisas utilizando a RMT. LA GUARDIA et al. apud DECI e RYAN (2014) demonstraram que as necessidades de autonomia e

competência são importantes na satisfação da necessidade de relacionamento e contribuem para aumentar sua qualidade; além disso, eles constataram que os indivíduos que participaram de outra pesquisa experimentaram diferentes níveis de satisfação das necessidades básicas em diferentes relacionamentos, e que o nível de satisfação previa positivamente a segurança sentida no relacionamento. REIS et al. apud DECI e RYAN (2014) e RYAN et al. apud DECI e RYAN (2014) demonstraram que as três necessidades psicológicas básicas apresentam previsão positiva com o bem-estar do indivíduo. Nesses trabalhos, foram apresentados resultados que confirmaram que a satisfação nas necessidades durante a semana apresentava um bem-estar físico e psicológico, incrementado no fim de semana. PATRICK apud DECI e RYAN (2014) constataram que a satisfação das necessidades básicas apresentava uma contribuição importante ao bem-estar, qualidade de relacionamento e o gerenciamento eficaz de conflitos no relacionamento. AINSWORTH apud DECI e RYAN (2014) constataram que um relacionamento de qualidade dos bebês com seus cuidadores previa positivamente a motivação intrínseca dos bebês, mesmo na ausência dos cuidadores. BRETHERTON apud DECI e RYAN (2014) e SHAVER e MIKULINCER apud DECI e RYAN (2014) constataram que o relacionamento do cuidador com o bebê refletia no relacionamento apresentado com o indivíduo, após o crescimento com parceiros íntimos e com seus melhores amigos.

Um número crescente de estudos indicou que quando as pessoas experimentam satisfação das necessidades de autonomia e competência dentro dos relacionamentos, elas experimentam relacionamentos de maior qualidade, incluindo um senso de apego mais seguro, bem como um maior bem- estar psicológico. Esses resultados se mantêm no nível geral, interpessoal e intrapessoal, ao considerar as experiências das pessoas ao longo dos dias e também entre parceiros. Eles também se sustentam em idades variadas e grupos culturais. Tais resultados atestam a interdependência de necessidades psicológicas básicas e a noção de que a satisfação de relacionamento é um produto de apenas certos relaciona- mentos, ou seja, aqueles que além de calorosos e positivos também transmitem respeito e apoio à autonomia (DECI e RYAN, 2014, p. 58, tradução nossa).

Podemos extrapolar a citação anterior e chegar a uma conclusão de que o relacionamento entre professor e aluno deve existir, para que o aluno se sinta

seguro e dessa forma poderá aceitar mais facilmente as orientações e as atividades propostas pelo professor. Para isso, é fundamental que o professor aja de forma a satisfazer as necessidades de autonomia e competência. Se o professor apresentar uma atitude controladora e/ou não fornecer a estrutura necessária para que o aluno satisfaça sua necessidade de competência, o aluno poderá não apresentar relacionamento com o professor, não aceitando as orientações e atividades propostas por ele, dificultando muito a aprendizagem. A citação anterior também deixa claro que podemos nos relacionar com muitas pessoas, mas com poucas mantemos um relacionamento de qualidade, e com essas há uma satisfação mútua das necessidades psicológicas básicas. Resta ainda uma observação no trecho citado anteriormente, onde o autor utiliza o termo bem-estar psicológico. Acreditamos que o bem-estar psicológico melhora o bem-estar de um modo geral nos aspectos físicos e psicológicos, por isso, em todo este trabalho utilizamos apenas o termo bem-estar pois entendemos que esse termo engloba tanto o bem- estar físico quanto o psicológico.