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A Basic Psychological Needs Theory (BPNT), traduzida por nós como Teoria das Necessidades Psicológicas Básicas, tem como foco a importância do suporte das necessidades básicas ao bem-estar e desenvolvimento pleno das capacidades humanas.

Segundo RYAN e DECI (2017):

Quando há apoio à autonomia, as pessoas também são mais capazes de buscar e encontrar satisfação tanto para competência quanto para relacionamento. (...) as pessoas não podem prosperar significativamente através da satisfação de uma necessidade sozinha ou em um único domínio da vida (RYAN E DECI, 2017, p. 247, tradução nossa).

Uma característica fundamental às necessidades fisiológicas e psicológicas é a sua universalidade, sendo elas fundamentais ao desenvolvimento dos seres humanos em qualquer parte do mundo, cultura e idade. Na citação anterior também é possível observar a interdependência entre as três necessidades psicológicas. Ao escolher quais habilidades você quer desenvolver e com quem e como quer se relacionar, você está satisfazendo sua autonomia. Ao ter conhecimentos e habilidades diversas, você pode fazer melhores escolhas e aproveitar de forma plena os seus relacionamento e, nestes, você poderá receber suporte às necessidades de autonomia e competência, e principalmente dar suporte a essas necessidades. Nesse caso, como veremos em tópicos seguintes, quem dá suporte às necessidades psicológicas sente mais bem-estar quando comparado a quem está recebendo esse suporte; é importante lembrar que usamos o termo relacionamento não apenas para relacionamento íntimo entre duas pessoas, mas também ao relacionamento entre familiares e amigos. Para o desenvolvimento pleno

do ser humano, seu florescimento total, a eudaimonia1 na ideia de Aristóteles, essas necessidades psicológicas devem ser satisfeitas em todos os domínios da vida: no trabalho, na escola, em casa, no círculo familiar mais externo, entre os amigos, etc. (RYAN e DECI, 2017).

Segundo CURREN apud RYAN e DECI (2017):

A palavra florescimento é uma tradução comum para a

eudaimonia, pois captura a ideia de Aristóleles de que a

atualização de nossos melhores potenciais humanos também é passível de ser experimentada como agradável e satisfatória (CURREN apud RYAN e DECI, 2017, p. 240, tradução nossa). Embora as três necessidades psicológicas básicas sejam igualmente importantes ao bem-estar do indivíduo conforme a metáfora do banco discutida anteriormente, ALKIRE apud RYAN e DECI (2017) afirmam que a autonomia é essencial à satisfação das outras necessidades psicológicas. No entanto, como já discutimos anteriormente, elas na verdade são interdependentes.

A autonomia é essencial para a iniciação e regulação do comportamento, através da qual outras necessidades são percebidas de forma melhor. Ela permite que as pessoas busquem o que consideram mais valioso, isso normalmente inclui manter seus relacionamentos importantes e desenvolver suas habilidades (ALKIRE apud RYAN e DECI, 2017, p 250, tradução nossa).

Em alguns momentos essa busca pelo o que é mais valioso faz com que o indivíduo escolha uma das necessidades para assumir a liderança em seus comportamentos e como cerne de seus objetivos. Isso pode levar um indivíduo a escolher a necessidade de competência para liderar seus comportamentos ou ele pode escolher o relacionamento para a liderança e em momento algum isso prejudicará seu bem-estar porque a escolha da liderança partiu dele, não havendo nenhum conflito nessa escolha com a necessidade psicológica de autonomia.

1

Eudaimonia, na concepção dos filósofos gregos, expressa uma relação entre o ser (pessoa) com aquilo que é bom ou, representa um ―estado de ser habitado por um bom daemon, um bom gênio‖. Para Aristóteles a vida humana tem como meta a busca da felicidade (Eudaimonia). (Observação do autor).

Outro ponto importante na BPNT é a relação entre as necessidades psicológicas, bem-estar e atenção plena (mindfulness).

Segundo KABAT-ZINN (2017):

Atenção plena é consciência – cultivada através de um foco de atenção prolongado e específico, que é deliberado, voltado ao momento presente e livre de julgamentos. (...) Em última análise, vejo a atenção plena como um caso de amor: com a vida, com a realidade e a imaginação, com a beleza de seu próprio ser, com seu coração, seu corpo e sua mente. Com o mundo. Parece muita coisa. E é mesmo. Por isso é tão valioso experimentar sistematicamente o cultivo da atenção plena, e tão saudável adotar uma nova forma de se relacionar com o mundo (KABAT-ZINN, 2017, p. 11).

O ponto em comum entre a atenção plena e a BPNT é quando ambas indicam que devemos evitar os comportamentos mecânicos, pois eles nos afastam da nossa percepção e auto-reflexão, e em função deste afastamento podemos agir em desacordo com o que realmente importa para nosso self, podendo dessa forma interferir em nosso bem-estar.

A autonomia é uma função da integração, e para que a integração ocorra, as pessoas precisam processar e encontrar livremente as bases para o endosso de ações específicas. Como a atenção plena se relaciona com a capacidade das pessoas de atender abertamente às experiências internas e externas atuais, isso permite às pessoas uma maior percepção e auto-reflexão necessárias para garantir que suas percepções e valores sejam congruentes com seu comportamento (GOLDSTEIN e KORNFIELD; SIFF apud RYAN e DECI, 2017, p. 267, tradução nossa).

Um exemplo de comportamento mecânico é quando saímos de casa e não lembramos se trancamos a porta da sala, pois é uma ação tão comum que o realizamos sem o pensamento consciente. Quem é treinado na atenção plena consegue evitar esses comportamentos mecânicos porque fica treinado a manter a consciência em todas as suas ações. Dessa forma, o indivíduo pode manter suas ações em sintonia com seus interesses reais e mantém essas ações integradas ao seu self. A BPNT afirma que devemos evitar tanto os comportamentos mecânicos automáticos, ligados às regulações externas e introjetadas, quanto os comportamentos automatizados, ligados às regulações identificadas e integradas.

Evitando as ações automáticas e/ou automatizadas, o indivíduo estará no controle de suas ações, exercendo plenamente sua autonomia e podendo satisfazer as outras duas necessidades psicológicas básicas e dessa forma manter um alto nível de bem-estar.

A prática de meditação, exercícios corporais e práticas de observação objetivam melhorar o estado de atenção plena do indivíduo, facilitando a atenção no momento presente e melhorando seu engajamento em atividades diversas, seu relacionamento interpessoal e reduzindo o estresse e a exaustão emocional. (MARKUS e LISBOA, 2015).