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1 MODERNIDADE, CONTEMPORANEIDADE E CAMPOS SOCIAIS

3 ANÁLISE DE PRÁTICAS DISCURSIVAS: A AMAZÔNIA NO CENTRO DA CAINDR

3.2 DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE NO ÂMBITO DA CAINDR

3.2.1 ANO 2003 1ª Sessão Legislativa da 52ª Legislatura

Provavelmente por ser a primeira de uma legislatura, a sessão legislativa de 2003 foi a maior em número de membros na CAINDR, com 60% a mais do que o previsto. Anualmente há 40 vagas disponíveis, entre titulares e suplentes, mas em 2003 a CAINDR teve 64 membros. A distribuição dos cargos naquele ano, aparentemente, seguiu o critério da proporcionalidade determinado pelo RICD (que busca assegurar uma representação mais equânime de partidos e blocos parlamentares), como se pode verificar no anexo ‘B’74.

No entanto, também arriscamos dizer que essa grande quantidade de membros na comissão em 2003 deve-se, como já dissemos, por ser um ano que abre a legislatura, quando muitos deputados ainda estão chegando à Câmara dos Deputados e buscam garantir um lugar nas comissões até mesmo para nortear as suas atividades. Esta percepção é reforçada pela redução no número de membros que ocorre nos anos seguintes, conforme já mostramos.

O Relatório de Atividades 2003 da CAINDR apresenta diversas atividades e, em sua apresentação assinada pelo então presidente da comissão, o deputado Átila Lins, destaca que as mesmas foram desenvolvidas com o intuito de ampliar a participação dos membros da desta comissão na discussão dos problemas regionais, promover o diálogo com os demais poderes em todas as esferas e mobilizar os países amazônicos vizinhos, através dos embaixadores em Brasília, para buscar soluções para as dificuldades em comum. Este parlamentar acrescenta que outro objetivo estabelecido naquele ano foi a troca de experiências e opiniões para melhorar as políticas públicas para a Amazônia, a vigilância e a fiscalização dos órgãos públicos “e, sobretudo, alavancar o desenvolvimento econômico e social no Norte

do Brasil”75. Para Átila Lins, este colegiado se empenhou “no apoio e na fiscalização das ações para promover o desenvolvimento econômico e social sustentável da Região Amazônica, objetivando a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes e diminuição das desigualdades sociais”76.

Percebe-se, nessa declaração de Lins, que a sua noção de desenvolvimento, além do fator econômico, inclui o fator social, a sustentabilidade, a qualidade de vida e a justiça social – aproximando-se da nova linguagem do Desenvolvimento Sustentável. No entanto, conforme vimos no capítulo anterior, Banerjee (2003) diz que as desigualdades que cercam os recursos naturais são obscurecidas pela compreensão científica dessa nova linguagem, como também pela compreensão de cidadania, direitos das espécies e a equidade.

Esse autor diz que o discurso do Desenvolvimento Sustentável é uma nova retórica de legitimação do mercado, do capital transnacional, da ciência, da tecnologia e deve ser desmascarado. Aliás, o discurso de vários membros da CAINDR sobre esta temática não condiz com grande parte de suas proposições. Como exemplo, conforme veremos mais detalhadamente adiante, há um parlamentar que apresenta dezenas de projetos criando distritos agropecuários, enquanto o seu discurso é de quem defende os ribeirinhos, as populações mais pobres da região – revelando as contradições entre discursos e práticas de determinados membros desse fórum.

Ainda sobre o levantamento das atividades realizadas em 2003 pela CAINDR, além da reunião de instalação e eleição de sua Mesa-Diretora (presidente e vice-presidentes), no dia 26 de fevereiro de 2003, no Plenário 15, do Anexo II, ocorreram 22 reuniões deliberativas ordinárias e 29 audiências públicas – sendo cinco destas em conjunto com outras comissões da Câmara dos Deputados. Não houve nenhuma reunião extraordinária. O grande número de audiências realizadas nessa sessão legislativa (maior até que o número de reuniões ordinárias) indica o interesse dos membros da comissão em se colocarem a par de determinados assuntos, buscando informações para conduzir suas ações e/ou proposições conforme a pauta em discussão. No entanto, também já revela a ‘natureza’ das ações da CAINDR, muito mais propensas a debates e discussões do que à aprovação de projetos em si.

3.2.1.1 Audiências Públicas em 2003

75 Essas diretrizes são destacadas pelo deputado Átila Lins na apresentação do Relatório de Atividades 2003 da CAINDR, p. 3.

Nas audiências públicas realizadas em 2003, houve a participação dos ministros das seguintes pastas: Integração Nacional, Defesa, Justiça, Transportes, Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Segurança Alimentar e Combate à Fome. Também foram ouvidos governadores da região Norte, secretários estaduais, prefeitos, oficiais das Forças Armadas, além de diversas autoridades e representantes da sociedade civil.

Dessas 29 reuniões, pelo menos onze estão relacionadas – mesmo que indiretamente - às temáticas ‘Desenvolvimento’ e ‘Sustentabilidade’. Dentre as pautas dessas onze reuniões, está a apresentação dos programas do Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Defesa e Ministério da Integração Nacional para a Amazônia. Os debates também abordaram as potencialidades desta região, tanto no que diz respeito ao setor energético, quanto aos setores de turismo e industrial. Debateu-se, ainda, as características ambientais, entraves e perspectivas econômicas da Amazônia, bem como as propostas de universidades federais no que diz respeito à pesquisa e extensão para o desenvolvimento na Amazônia, dentre outros temas, conforme demonstra a quadro a seguir.

Quadro 7 – Audiências Públicas em 2003: Desenvolvimento e Sustentabilidade

Data Pauta Convidados No do Requerimento e Autor

20/03/2003 Os Programas do Ministério da Integração Nacional para a Amazônia.

Sr. Ciro Ferreira Gomes, Ministro da Integração Nacional Req. nº 09/2003 Dep. Átila Lins 30/04/2003 Apresentação dos programas do Ministério da Defesa

para Amazônia.

Sr. José Viegas Filho, Ministro de Estado da Defesa Req. nº 11/2003 Dep.Átila Lins 15/05/2003 Amazônia, suas características ambientais, entraves e

perspectivas econômicas General Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, ex-comandante Militar da Amazônia Req. nº 41/2003 Dep.Alceste Almeida 29/05/2003 O Projeto Energético e de Navegação do Rio Madeira Dr. Antonio de Pádua Benfica Guimarães, Superintendente de

Empreendimentos de Geração da Furnas Centrais Elétricas S.A.; Dr. Acyr Jorge Teixeira Gonçalves, Assessor de Meio Ambiente da Furnas Centrais Elétricas S.A.; e Dr. José Bonifácio Pinto Júnior, Diretor de Contratos da Construtora Norberto Odebrecht

Req. nº 44/2003 Dep.Miguel de Souza

04/06/2003 Reunião de natureza conjunta, com a participação da Comissão de Economia, Indústria, Comércio e Turismo.

Tema: “Turismo e Potencialidades da Amazônia”.

Sra. Mary Allegretti, Secretária de Coordenação da Amazônia – Ministério do Meio Ambiente; Sr. Ércio Muniz Lima, Gerente de Projeto do Ministério do Turismo; Sra. Flávia Grosso, Superintendente da Zona Franca de Manaus; Sra. Oreni Braga, Presidente da Empresa Amazonense de Turismo; Sr. Orlando Câmara, Presidente da Fundação Municipal de Turismo – MANAUSTUR; Sr. José Carlos Reston, Superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE); Sr. Tasso Gadzanis, Presidente da Associação Brasileira de Agentes de Viagens (ABAV); Sr. Luiz Carlos Nunes, Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH); Sr. Antonio Henrique Borges de Paula, da Confederação Nacional do Comércio.

Req. nº 32/2003 Dep.Vanessa Grazziotin

04/06//2003 Polo Industrial de Manaus e Desenvolvimento

Regional Sr. José Carlos de Souza Braga, Secretário de Planejamento e de Desenvolvimento Econômico do Estado do Amazonas; Sra. Flávia Grosso, Superintendente da Zona Franca de Manaus; Sr. Maurício Andrade Marsíglia, Diretor da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas; Sr. João Ronaldo Melo Mota, Diretor Executivo do Centro da Indústria do Estado do Amazonas; Sr. Antonio Carlos Rodrigues Lima, Presidente da Associação das Indústrias e Empresas de Serviços do Polo Industrial do

Req. nº 52/2003 Dep.Átila Lins e Vanessa Grazziotin

Fonte: Elaborada pela autora a partir de informações obtidas junto ao Relatório de Atividades 2003 da CAINDR. Belém (2009).

Amazonas; Sr. Paulo Figueiredo, representante da Fundação Getúlio Vargas – Instituto Superior de Administração e Economia – ISAE

10/06/2003 Reunião da Subcomissão Permanente para Estudar a Situação, Alternativas e Soluções Energéticas para a Região Amazônica.

Tema: Licenciamento Ambiental dos empreendimentos energéticos na Amazônia.

Dr. Mário Lúcio Avelar, Procurador da República no Estado do Tocantins – MPF; Sr. Hélvio Neves Guerra, Superintendente de Estudos e Informações Hidrológicas da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANELL; Sr. Nilvo Luiz Alves da Silva, Presidente Substituto do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA); Sr. Ênio Botelho – Gerente de Licenciamento Ambiental do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas – IPAAM; Sr. Sivaldo da Silva Brito, Diretor da Confederação Nacional da Indústria – CNI.

Req. 106/2003 Dep.Perpétua Almeida

13/08/2003 As questões que norteiam a implantação do Fundo

de Desenvolvimento do Norte. Senador Jefferson Peres Req. nº 80/2003 Dep.Humberto Michiles 20/08/2003 Apresentação do Evento Amazontech 2003 – Novos

rumos para a ciência e tecnologia e negócios sustentáveis

Sr. Clayton Campanhola, Diretor-Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA; Sr. Jorge Cuauhtemoc Fernandez Rincon, Gerente da Unidade de Apoio à comercialização do SEBRAE Nacional; e Sr. José Carlos Reston, Diretor Superintendente do SEBRAE no Estado do Amazonas

Req. nº 62/2003 Dep.Átila Lins

21/08/2003 Apresentação das propostas em pesquisa e ensino feitas pelas universidades federais da região para o desenvolvimento da Amazônia

Secretário de Ensino Superior do Ministério da Educação e os Reitores das Universidades Federais de Rondônia, Roraima, Acre, Amapá, Amazonas.

Req. 58/03

Dep. Henrique Afonso 03/12/2003 Apresentação dos Programas do Ministério do Meio

Um olhar mais cuidadoso sobre esse quadro conduz à percepção de que a temática ‘Sustentabilidade’ tem uma presença muito tímida nas pautas das audiências públicas realizadas pela CAINDR – o seu evento mais frequente. Na verdade, este assunto está apenas relacionado ao título de um evento (Amazontech 2003 – Novos rumos para a ciência e tecnologia e negócios sustentáveis) que através do requerimento no 62/2003, do deputado

Átila Lins, virou pauta de audiência pública na CAINDR a fim de ser apresentado aos seus pares.

Quanto à temática ‘Desenvolvimento’, verifica-se que está inserida tanto nos programas ministeriais apresentados aos membros da comissão através de audiências públicas, como também nas propostas formuladas por universidades públicas e nos debates sobre as potencialidades da região – seja nos setores energético, turístico ou industrial, conforme referido anteriormente. Ou seja, é o desenvolvimento ligado à infraestrutura (energia) e ao setor econômico (turismo e indústria) – praticamente o mesmo conceito de desenvolvimento praticado há décadas na região, como pressupõe nossa hipótese.

Essa constatação torna-se ainda mais evidente no decorrer da análise dos demais documentos e discursos que compõem o corpus desta pesquisa, reforçando a nossa tese de que o desenvolvimento defendido na CAINDR baseia-se no crescimento econômico, sem a preocupação com a sustentabilidade ambiental da região – mesmo que este teor conduza muitos discursos calorosos dos membros da comissão.

3.2.1.2 Eventos, Grupos de Trabalho e Subcomissões em 2003

Dentre os eventos promovidos em 2003, o relatório destaca o Café da Manhã para discutir-se o “Projeto de Recriação da SUDAM” com o então ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, e toda a bancada da Amazônia (o qual resultou no compromisso de recriar esta superintendência, a fim de retomar os projetos paralisados e os investimentos na região). Além disso, quatro seminários foram realizados naquele ano sobre os seguintes temas: a) Adensamento da biopirataria, da apropriação do conhecimento tradicional, dos ilícitos de fronteira e outras ameaças à Amazônia; b) Questão indígena; c) Eixos de integração da América do Sul; d) Setor Elétrico, a fim de viabilizar a implantação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e os gasodutos de Urucu-Porto Velho e Coari-Manaus.

As temáticas abordadas nos seminários também foram debatidas em subcomissões e grupos de trabalho criados naquela sessão legislativa. Sobre energia, a CAINDR instalou a Subcomissão Permanente para Estudar a Situação, Alternativas e Soluções Energéticas para a Amazônia e o Grupo de Trabalho para Tratar de Fontes de Energia Renováveis, sobre os eixos de integração, criou a Subcomissão Permanente para Estudar e Implementar os Eixos de Integração da América do Sul (saída para o Pacífico e Caribe) e sobre a questão indígena, criou a Subcomissão Permanente para Assuntos Indígenas. Em relação às ameaças à região, a CAINDR criou a Subcomissão Especial de Biodiversidade e o Grupo de Trabalho para Estudar as ameaças de internacionalização da Amazônia. O único Grupo de Trabalho que não apresenta relação com as temáticas das subcomissões e dos seminários realizados em 2003 é o GT criado para visitar hospitais conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) na Região Norte.

Como se pode constatar, a energia é um dos temas recorrentes nos debates realizados em 2003. A subcomissão sobre esta temática foi criada em 29 de maio, a partir do requerimento no 04/2003, da deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB/AM), aprovado em 12 de março. Esta subcomissão, segundo texto de apresentação do Relatório de Atividades 2003 da CAINDR, fez um amplo levantamento das necessidades e potencialidades energéticas da região, promovendo “reuniões de trabalho em quatro capitais da região Norte, com a presença de governadores, parlamentares, autoridades e representantes dos principais ministérios que regulam o setor e das empresas prestadoras de serviço e abastecimento da área".

No mesmo dia em que instalou essa subcomissão, a CAINDR realizou a audiência pública intitulada ‘O projeto energético e de navegação do rio Madeira’, envolvendo representantes da Furnas Centrais Elétricas e da construtora Odebrecht. Esta reunião foi fruto do requerimento no 44/2003, do deputado Miguel de Souza, relator da referida subcomissão e representante de Rondônia. Depois, no dia 19 de agosto, foi realizada a audiência “A política energética na Amazônia e os projetos da nova administração da Eletronorte”, com o então diretor-presidente deste órgão, Silas Rondeau Silva. A iniciativa de solicitar esta reunião veio da deputada Ann Pontes – PMDB/PA.

Ressalte-se que em menos de duas semanas após a sua instalação, a subcomissão sobre energia reuniu representantes do Ministério Público Federal (MPF), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI) na audiência pública do dia 10 de junho para discutir o Licenciamento Ambiental dos empreendimentos energéticos na Amazônia. Pouco

depois, mais exatamente no dia 28 de agosto, a subcomissão iniciou um ciclo de reuniões contemplando quatro capitais da Amazônia: Belém (PA), Porto Velho (RO), Manaus (AM) e Rio Branco (AC).

Encerradas no dia 17 de outubro de 2003, essas reuniões contaram com representantes do Ministério de Minas e Energia, do Ministério Público Federal, da Eletrobras, da Eletronorte e da Petrobras. Estes eventos não só enfocaram o setor energético de uma forma geral, como promoveram o debate mais específico sobre hidrelétricas, linhões e gasoduto. O tema da reunião realizada em Belém/PA, no dia 28 de agosto, foi a ‘Construção da hidrelétrica de Belo Monte e da segunda etapa da hidrelétrica de Tucuruí’, o da reunião de Porto Velho/RO, em 11 de setembro, foi a ‘Implantação do Gasoduto Urucu-Porto Velho, as hidrelétricas do rio Madeira e o Linhão Rondônia-Mato Grosso’ e o da reunião de Manaus/AM, no dia 12 de setembro, foi a ‘Implantação do Gasoduto Coari-Manaus e o Linhão Tucuruí-Manaus’ e o tema da reunião de Rio Branco/AC, no dia 17 de outubro, foi o ‘Setor Energético na região’.

A subcomissão sobre energia promoveu, ainda, o seminário ‘Potencialidades e Alternativas Energéticas para a região Amazônica’, no dia 20 de novembro de 2003, com diversos representantes do setor. Segundo declaração do então presidente da CAINDR, Átila Lins, feita na apresentação do Relatório de Atividades da CAINDR 2003, p. 3, o objetivo foi “contornar os obstáculos e viabilizar a implantação futura de grandes e importantes projetos para o Brasil e para a região, como a Usina Hidrelétrica de Belo Monte e os gasodutos de Urucu-Porto Velho e Coari-Manaus”.

Refletindo-se sobre este objetivo, percebe-se a tendência da comissão em priorizar os grandes projetos, mesmo quando estes eram polêmicos quanto aos danos sociais e ambientais, como no caso da usina de Belo Monte. Conforme pressupomos em nossas hipóteses, as ações e discursos dos parlamentares desta comissão priorizam os interesses econômicos, como se pode verificar ao longo desta pesquisa.

Quanto à subcomissão sobre os eixos de integração da América do Sul (saída para o Pacífico e Caribe - IIRSA), foi instalada em 05 de junho de 2003, fruto do requerimento no

30/03, do deputado Miguel Souza - PL/RO, aprovado em 26 de março de 2003. Uma das principais ações desta subcomissão foi a realização de um seminário para discutir questões sobre a IIRSA, ocorrido em 23 de outubro daquele ano após aprovação, em 01 de outubro, do requerimento no 111/2003, do mesmo parlamentar. Pela importância desse assunto e a fim de

espécie de intervalo em nossa abordagem sobre essas subcomissões e grupos de trabalho da CAINDR (a qual retomaremos mais adiante), para explicar o que é a IIRSA.

Lançada na Reunião dos Presidentes da América do Sul nos dias 30 de agosto e 1º de setembro de 2000, na capital brasileira (Brasília, Distrito Federal), a Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) tem a finalidade de interligar os países latino-americanos77 através de dez Eixos de Integração e Desenvolvimento (EID)78. Sua proposta institucional é “a promoção do desenvolvimento da infraestrutura de transportes, de energia e de comunicações sob uma perspectiva regional, visando a integração física dos doze países da América do Sul para alcançar um padrão de desenvolvimento territorial equitativo e sustentável”79. Por mais interessante que seja essa proposta, não se pode perder de vista os arranjos institucionais, políticos, econômicos e empresariais que estão por trás deste mega projeto. Enfático, Garzon (2008) aponta os principais beneficiários dessa integração.

Energia, transportes e comunicações podem servir ao povo, ao desenvolvimento das comunidades, ao intercâmbio cultural. Por outro lado, grandes projetos energéticos e de transportes servem para fortalecer ainda mais os grandes grupos econômicos nacionais e internacionais, baixando seus custos e aumentando sua escala de produção e escoamento. Por isso mesmo, multinacionais, mineradoras, empresas pecuaristas e monocultoras de soja, celulose e cana é que serão as beneficiárias diretas desses projetos. (GARZON, 2008)80

Nessa relação de beneficiários, incluímos, ainda, as instituições financeiras multilaterais que, no âmbito da IIRSA, desenharam a integração do continente sul-americano. Os seus dez Eixos de Integração e Desenvolvimento são definidos no plano de ação para a integração elaborado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com a colaboração da Corporação Andina de Fomento (CAF) e do Fundo Financeiro para Desenvolvimento da Bacia do Prata (FONPLATA). Além destes três agentes financeiros, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o setor privado estão

77 A América do Sul é composta por doze países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. Somam-se, ainda, os territórios: Guiana Francesa (território da França), e as Ilhas Falkland (Malvinas), Sandwich e Geórgia do Sul, que pertencem ao Reino Unido.

78 Em termos espaciais, os projetos da IIRSA se encontram organizados em dez Eixos de Integração e Desenvolvimento (EID): Andino, do Amazonas, Peru-Brasil-Bolívia, Capricórnio, Escudo Guianês, Andino do Sul, Interoceânico Central, Mercosul-Chile, Hidrovia Paraná-Paraguai e do Sul.

79A definição desta proposta é exposta no site oficial da IIRSA: <http://www.iirsa.org//CD_IIRSA/Index.html> 80 Trecho do texto de Luis Novoa Garzon, intitulado: IIRSA: o futuro do continente como mercadoria futura, publicado em 2008 pelo semanário Peripecias, produzido pelas ONGs uruguaias: Desarrollo, Economía, Ecología, Equidad-América Latina (D3E) e Centro Latino Americano de Ecología Social (CLAES). Como iniciativa conjunta, estas entidades mantem a publicação virtual Integración Sur, com informações e análises sobre integração, comércio e desenvolvimento sustentável na América Latina, onde houve republicação desse artigo de Luis Gazon no link <http://www.integracionsur.com/americalatina/NovoaGarzonIIrsaFuturo.htm> O artigo também foi reproduzido pelo Centro de Mídia Independente em 24 mai. 2009, encontrando-se disponível em: <http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/05/447405.shtml>

envolvidos no mega projeto. O plano elaborado por essas instituições elenca os obstáculos para o comércio intra-regional e as alternativas para melhorar o fluxo de mercadorias; a situação da infraestrutura e os principais problemas para a integração física na América do Sul, delineados por sua geografia e barreiras naturais, como a Cordilheira dos Andes, a Selva Amazônica e a Bacia do Orinoco (BID, 2000 apud PAIM, 2003).

Segundo Paim (2003), esse plano de integração apresentado pelas três instituições financeiras foi uma reelaboração de um estudo encomendado pela CAF em 1996. Além de apresentar a ideia de eixos de desenvolvimento, esse estudo analisa as relações entre infraestrutura, comércio internacional e desenvolvimento e ainda descreve a localização das principais riquezas naturais da América do Sul e a forma que podem ser utilizadas, através da