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1 MODERNIDADE, CONTEMPORANEIDADE E CAMPOS SOCIAIS

2 ANÁLISE DE DISCURSO E DISCURSO DO DESENVOLVIMENTO NA AMAZÔNIA

2.2 DESENVOLVIMENTO: RAÍZES, CONCEPÇÕES E PARADIGMAS

2.2.1 Principais Paradigmas: Modernização e Subdesenvolvimento

Fundamentadas na Teoria da Modernização, as Teorias do Desenvolvimento foram amplamente divulgadas na década de 1950. Como foi dito anteriormente, no pós-guerra, o poderoso sistema colonial do mundo euro-americano começa a se desfazer, especialmente por causa dos movimentos de descolonização. A industrialização avança, resultando na explosão mundial da modernização.

Com isso, especialmente nos anos de 1950, os conceitos de modernização e de desenvolvimento foram relacionados à industrialização que, para alguns estudiosos, como Raúl Prebisch (apud SOUZA, 1999), seria o único caminho para o desenvolvimento. Para Piotr Sztompka (1998), a industrialização pesada, o deslocamento do setor agrícola para o industrial, a vasta proletarização, urbanização caótica, o controle da população pelo aparato burocrático e autocrático do estado marcam a Era da Modernização. Em uma palestra42 proferida na Universidade de São Paulo (USP), o historiador e cientista político Raymundo Faoro diz que a modernidade não pode perder de vista a cidadania, um caminho que, na opinião dele, só os países modernos e não modernizadores, percorreram e explica que:

42 Conferência realizada em 31 de março de 1992, no Instituto de Estudos Avançados da USP, que posteriormente foi publicada como artigo. Ver Referências.

Fundamentalmente, a modernização é um traço de linhas duplas: a linha do paradigma e o risco do país modernizável. Quando ela, a modernização, se instaura, como ação voluntária, quem a dirige é um grupo ou classe dirigente - com muitos nomes e de muitas naturezas - que, na verdade, não reflete passivamente a sociedade sobre a qual atua. Tal grupo, para mudar o que não vai, ao seu juízo, bem, começa por dissentir da classe dirigente tradicional. O desvio, entretanto, não altera a pirâmide social, nem os valores dominantes (FAORO,1992, p.9).

No Brasil, o conceito de modernização surgiu no seio do pensamento da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), criada em 1948 para estudar o desenvolvimento econômico e elaborar alternativas para a América Latina. Sua missão era diagnosticar problemas de cada país latino-americano e identificar os obstáculos ao seu desenvolvimento. Para Mantega (1995, p. 32), “esta (CEPAL) se constitui um marco teórico decisivo para gestação das principais teses sobre o desenvolvimento ou subdesenvolvimento periférico que animaram a discussão teórica latino-americana do pós-guerra”.

Já na década de 1960, a maioria dos países do Caribe, Ásia e África livra-se do controle político europeu e Cuba se liberta dos EUA. Nos anos 1970, o Vietnã e o Afeganistão conquistam sua independência. É a chamada Era da Fragmentação, marcada pela ausência de um centro imperial e pela fragilidade das supostas supremacias políticas e culturais. Nesse cenário político, verifica-se a lenta erosão dos alicerces econômicos do denominado mundo moderno.

O Paradigma da Modernização teria nascido, basicamente, das perspectivas de Weber e Durkhein no sentido de focalizar “o papel dos valores e atitudes que afetam o comportamento das pessoas e, assim, as suas respostas a mudanças sociais preexistentes ou a criação das mesmas (WEBSTER43, 1984, p. 64 apud RAMAGEM, 1998, p. 45). Além disso, estaria intrinsecamente ligado ao enfoque dualístico da tradição versus modernidade.

Muitos teóricos da modernização44 partiram dessa dicotomia (tradição versus modernidade), enfatizando o estudo dos valores e as normas dos dois tipos de sociedade e seus sistemas econômicos, posto que uma mudança nos valores, atitudes e normas das pessoas das sociedades tradicionais, era um passo necessário para a mudança de uma sociedade tradicional a uma sociedade progressiva, inovadora e, por isso, moderna.

Para Eisenstadt45(1966 apud RAMAGEM, 1998, p. 49), a noção de modernização traz consigo um tipo de colonialismo, uma imposição de ideias européias ocidentais sobre o

43 O livro de Andrew Webster consultado por Ramagem chama-se Introduction to the sociology of development, da editora norte-americana Humanities Press International.

44.Sztompka (1998) e Gino Germani (1974) analisam a modernidade e fornecem acepções teóricas; Antonhy Guiddens (1991) reforça as consequências da modernização na vida social e política mundial.

Terceiro Mundo. “Para o paradigma da modernização o desenvolvimento é basicamente uma estrada a ser viajada pelas áreas menos desenvolvidas, as quais devem vencer os obstáculos da modernização, de forma a seguir de forma linear o caminho da prosperidade” (RAMAGEM, 1998, 47). Essas estradas, como bem situou Faoro (1992), devem seguir o rumo da cidadania. No entanto, na avaliação deste historiador, o que houve no Brasil foi uma perversão no processo nacional de implantação do liberalismo econômico, baseado na irracionalidade, levando o país a tentar queimar etapas no processo de desenvolvimento e a viver ímpetos de modernização, mas não a modernidade em si.

Para Faoro (1992), a modernidade estaria vinculada à toda a sociedade, revitalizando e removendo papéis sociais, ampliando o raio de expansão de todas as classes, enquanto que a

modernização, pelo seu toque voluntário, chega à sociedade por meio de um grupo condutor, que privilegia a si e aos setores dominantes.

Na modernização não se segue o trilho da " lei natural", mas se procura moldar, sobre o país, pela ideologia ou pela coação, uma certa política de mudança. Traduz um esquema político para uma ação, fundamentalmente política, mas economicamente orientada, para usar a língua de Weber. (FAORO, 1992. p. 3)

Quanto ao Paradigma do Subdesenvolvimento, também denominado de Paradigma da Economia Política ou Marxista, este vê os homens como seres racionais que agem primordialmente no interesse de suas sociedades. Nesta perspectiva, o desenvolvimento é visto como um meio e não um fim, sendo, então, uma liberação para a humanidade - a qual viria através de uma mudança radical das instituições, abrindo o caminho para uma tecnologia mais racional e com maior interação ambiental (WEAVER; JAMESON46, 1978 apud RAMAGEM, 1998, p. 47).

Os teóricos do subdesenvolvimento têm empregado os trabalhos de Marx no sentido de explicar as desigualdades da economia mundial. Para eles, as três fases históricas do desenvolvimento capitalista (capitalismo mercantil, colonialismo e neocolonialismo) seriam estágios distintos de exploração do Terceiro Mundo pelo capitalismo industrial (modernos

versus tradicionais).

É importante ressaltar que, enquanto os Paradigmas da Modernização e do Subdesenvolvimento veem a industrialização como objeto desejado do desenvolvimento, o Paradigma Antidesenvolvimentista opõe-se a essa possibilidade, concebendo o desenvolvimento como expansão industrial desenfreada e crescimento urbano, uma espécie de ‘capitalismo selvagem’.

46A abordagem de James H. WEAVER e Kenneth P. JAMESON sobre desenvolvimento pode ser vista em

De qualquer forma, pode-se extrair um grande número de modelos de desenvolvimento dos três paradigmas, principalmente dos dois primeiros devido aos seus impactos nos setores econômicos, políticos e sociais. Em alguns modelos, a agricultura será privilegiada, em outros, a industrialização, em outros, a urbanização, etc. Seja qual for o padrão, o debate sobre desenvolvimento está longe de ser esgotado, pois a realidade ainda é muito mais dinâmica do que as teorias.