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1 MODERNIDADE, CONTEMPORANEIDADE E CAMPOS SOCIAIS

2 ANÁLISE DE DISCURSO E DISCURSO DO DESENVOLVIMENTO NA AMAZÔNIA

2.1 ANÁLISE DE DISCURSO COMO INSTRUMENTO DE COMPREENSÃO DE SENTIDOS

2.1.1 Discurso e texto enquanto objetos da Análise de Discurso

Tomar a palavra jamais representa um gesto ingênuo, pois sempre está ligado a relações de poder. Como bem ressalta Foucault (1996, p. 10), “o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, é o poder do qual nos queremos apoderar”.

O discurso pode ser visto como prática política e ideológica. Como prática política, o discurso estabelece, mantém e transforma as relações de poder e as entidades coletivas onde existe relação de poder. É uma arena de luta de poder e também arena delimitadora na luta de poder. Como prática ideológica, o discurso constitui, naturaliza, mantém e também transforma os significados do mundo de diversas posições nas relações de poder. A prática ideológica está submetida à prática política que se encontra em um nível superior. (PEDROSA, 2002)

Para Aristóteles (2005), o filósofo grego considerado o criador do pensamento lógico, o discurso é uma exposição metódica sobre certo assunto, um arrazoado que visa influenciar no raciocínio e nos sentimentos do público. Aristóteles retoma a distinção que o seu mestre e também filósofo grego Platão fez entre a crença e a ciência para opor o verdadeiro, que é próprio do campo da ciência, ao verossímil, que é próprio da retórica. Em suas reflexões, Aristóteles classifica o discurso em Lógico, Dialético, Poético e Retórico39 – sendo este o mais usado no campo político.

Ressalte-se que a retórica é considerada uma das principais estratégias de sedução no jogo político - como se pode observar nos discursos dos atores da CAINDR. Adotando-se este tipo de estratégia, o enunciador visa convencer o seu público de que a sua tese é certa ou verdadeira, utilizando-se do modo de falar, dos gestos e até da maneira de se vestir como fatores de influenciá-lo ou persuadi-lo.

O texto, por sua vez, é o produto da atividade discursiva, o objeto empírico de análise do discurso; é a construção sobre a qual se debruça o analista para buscar, em sua superfície, as marcas que guiam a investigação científica. Como diria Pinto (1999, p. 24), o texto é o

39 Aristóteles faz essa classificação conforme a finalidade e o grau de rigor que o método produz: o Discurso Lógico seria o método pelo qual se atinge a uma certeza absoluta no qual o axioma resultante é tido como verdadeiro e indubitável, pode ser produzido mecânica ou eletronicamente por engenhos e é indispensável, principalmente, na matemática. Já o Dialético, embora não pretenda alcançar a certeza absoluta, tenta obter a máxima probabilidade de certeza e veracidade que se verifica da síntese entre duas afirmações antagônicas (a tese e a sua antítese). No Discurso Poético, não importa o grau de certeza ou veracidade, pois a razão é abandonada em favor da ficção ou da fantasia e a estratégia para impressionar o púbico é tentar influir na sua emoção e não no seu raciocínio. No Retórico não há o menor comprometimento na busca da verdade, nem da sua demonstrável probabilidade: o orador ou escritor visa somente convencer o público de que a sua tese é certa ou verdadeira, utilizando-se do modo de falar, dos gestos e até da maneira de se vestir como fatores de influenciá-lo ou persuadí-lo. Este é o discurso dos politicos.

evento comunicacional, através do qual se “travam as batalhas que, no nosso dia-a-dia, levam os participantes de um processo comunicacional a procurar ‘dar a última palavra’, isto é, a ter reconhecido pelos receptores o aspecto hegemônico do seu discurso”. No campo político, isso acontece, inclusive, nos pareceres emitidos por cada relator de projeto, que costuma resgatar o discurso do autor do projeto e/ou do relator designado em outra comissão para contrapor ao seu discurso - ou reforçar, em caso de parecer da mesma natureza.

A situação histórico-social de um texto, envolvendo não somente as instituições humanas, como ainda outros textos que se relacionem com ele, seria o contexto. Como uma espécie de moldura de um texto, o contexto envolve elementos tanto da realidade do autor quanto do receptor - e a análise destes elementos contribui para determinar os sentidos do texto. Portanto, a interpretação de um texto deve de imediato, saber que há um autor, um sujeito com determinada identidade social e histórica e, a partir disso, situar o discurso como compartilhado desta identidade.

Pode-se considerar o discurso como uma instância, com diria Bourdieu (2006, p. 173) de produção de uma realidade e razão das disputas de poder no campo político para impor a sua visão e fazê-la tornar-se aceita e predominante pelos demais agentes dos fóruns. Ou seja, o discurso não expressa uma ação, mas é a ação em si. (COSTA, 1999, p.159)

O discurso é considerado, ainda, a prática social de produção de textos. Isto significa que todo discurso é uma construção social, não individual, e que só pode ser analisado considerando-se o seu contexto histórico-social, suas condições de produção; significa, ainda, que o discurso reflete uma determinada visão de mundo, necessariamente vinculada à do(s) seu(s) autor (es) e à sociedade em que vive(m).

Para Pinto (1999), definir discurso como prática social implica que a linguagem verbal e as outras semióticas com que se constroem os textos sejam partes integrantes do contexto sócio-histórico e não alguma coisa de caráter puramente instrumental, externa às pressões sociais. Portanto, acrescenta este autor, o papel do discurso é fundamental na reprodução, manutenção ou transformação das representações que as pessoas fazem e das relações e identidades com que se definem em uma sociedade.

O entremeio de disciplinas forma um espaço significativamente favorável para que se proponha tal reflexão. Daí considerar-se, pelos ensinamentos de Pêcheux, a reflexão discursiva uma prática genuinamente interdisciplinar; seria um espaço de confronto das ciências, um espaço de discussão e compreensão cujo objeto estudado é o discurso.

Com essas abordagens distintas, percebe-se que existem diferentes possibilidades de compreensão de um problema posto diferentemente por cada autor. O que significa que não

há uma "teoria" mais aceita atualmente, mas caminhos teóricos que respondem e co- respondem em parte às necessidades de reflexão que se apresentam.