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CAPÍTULO 6 – CONDIÇÃO SEGUNDA: UMA ONTOLOGIA BIOLÓGICA DA

6.3 Antes do início: as condições fundamentais (Arché: o pono zero) – A Inteligência

Como explicar (uma forma de conhecimento) a gênese do próprio conhecimento? Como superar o problema do distanciamento temporal e contextual do conhecimento com sua própria origem? Somente uma teoria que possibilite o conceito de origem em larga escala temporal pode ter significados que se relacionem explicitamente com seus termos genealógicos (evolução formal não é evolução biológica, e já mostrou seu papel interdisciplinar em muitos campos não biológicos do conhecimento).

Assim, vamos tentar achar uma saída para este dualismo cético, tomando como ponto de partida uma análise naturalística e sua gênese histórica e biogênica, mas com ambições de abranger processos culturais e subjetivos. A cultura pode ser entendida como formas de um novo tipo de auto-organização informativa, derivada de uma auto-organização biológica anterior, mas com propriedades particulares (ou seja, estamos falando em um modelo biológico não reducionista). O cognitivo deriva do biológico, como esse deriva do físico. Isto não quer dizer que o cognitivo seja reduzível ao biológico, assim como o biológico também não é completamente reduzível ao material inerte.

Os termos “evolução” e “informação” parecem apresentar propriedades proposicionais que podem apresentar diferentes leituras ontológicas (diferentes ordens de organização de um mesmo fenômeno). Tais propriedades fundamentais (critérios evolutivos e informativos) parecem ter dimensões físicas primárias (princípios de dinâmica quântica capazes de incluir algum fator antrópico, mesmo que moderado); dimensões biológicas com propriedades de replicabilidade informativa e computacionais (auto-organizativas e combinatórias); e também dimensões cognitivas (níveis representacionais capazes de incluir também a própria experiência representada em uma memória autobiográfica através da propriedade de significar o conhecimento: um novo tipo de auto-organização). Mas para integrar essas dimensões (físico-material, biológico vivo, e consciente intencional) temos de posicioná-las no tempo até sua origem atemporal (ou o máximo dessa origem que uma metafísica naturalista plausível poderia permitir).

Mas para fundamentar temporalmente os fatores causais de nossa mente e nosso conhecimento (ou fundamentar além do atual contexto, que inclui tanto descrições objetivas e comportamentais quanto subjetivas e fenomenológicas), nós temos que adotar uma atitude epistêmica que inclua uma relação temporal causal (ancestral) em termos filogenéticos e cosmológicos. Isto vai remeter nossa análise causal do “conhecimento sobre o conhecer” para referenciais ancestrais relacionadas com o surgimento da vida em um universo original e sem vida (e sem conhecimento, pelo menos em sentido explicito e formal como concebemos hoje).

Neste sentido, uma integração interdisciplinar dos eventos mentais passa por sua análise epistêmica e também ontológica. Dessa forma começamos a trilhar um caminho epistêmico que faz fronteira com a metafísica do conhecimento, mas como já dissemos isto é uma conseqüência natural da ambição epistêmica que apresentamos (uma integração de teorias distintas acerca de um possível objeto em comum através de uma equalização ou relativização dos seus conceitos fundamentais). O preço a pagar por uma teoria ampla (pluralista) do mental, portanto, é escolher alguma metafísica plausível para as ontologias investigadas (capaz de integrar em uma só ontologia, as diferentes descrições ontológicas do mental).

Tais estados de condições ancestrais representam o processo gerativo das bases de nosso conhecimento atual e indicam seus referentes de significado no mundo. A vida (um conceito que envolve um desenvolvimento histórico natural de propriedades anti-entrópicas como marca distintiva do físico inerte e não vivo) tornou possível um conhecimento ativo. Mas uma análise da possível origem da vida física nos remete a uma estruturação causal de suporte físico ainda mais antigo, que represente um período de tempo anterior ao surgimento da própria vida (e conseqüentemente anterior à mente e sua capacidade de conhecer).

É possível, ou mesmo plausível que possa haver alguma forma de conhecer que seja anterior a vida e a mente? Ou o conhecimento talvez tenha se tornado possível apenas com a atividade não inerte das criaturas vivas? Como tais fenômenos cognoscíveis seriam possíveis sem um padrão ativo de processamento fornecido pelos sistemas vivos, e posteriormente pelos sistemas intencionais?

Como algo pode conhecer sobre sua própria origem e seu próprio conhecimento? O princípio de causalidade primeira (arché) requer uma explicação histórica como necessidade lógica, isto é, requer uma análise temporal e espacial (uma regressividade essencialmente lógica e racionalista) que contextualize a explicação em um tempo muito mais amplo que o momento atual do fenômeno em si (o modo atual como nos relacionamos com o fenômeno estudado e seu conhecimento imediato).

Essa análise causal histórica não pode ficar perdida num infinito ancestral (este é um critério lógico que poderia ser questionado, uma vez que a terminologia utilizada para descrever essa arché tem mudado muito ao longo dos tempos filosóficos e científicos). Mas o significado de arché está intimamente ligado a uma análise histórica e estágios de retro análise até seus fatores fundamentais originais (e num sentido além da história humana, definido em termos naturalísticos como evolução e antes disso em termos cósmicos, entrópicos e termodinâmicos).

Na sessão anterior, examinamos quais condições predominavam no período anterior ao surgimento da vida (evolução cosmológica e pré-biológica). Esta evolução puramente física seria anterior ao surgimento dos mecanismos genéticos e neurais que possibilitaram a existência de estados inteligentes e um conhecimento legítimo do mundo (bem como da mente, o ato de entender o mundo e a si mesmo, incluindo seu sentido de codificação cerebral e de experiência consciente). Desta forma, os princípios informativos do universo seriam anteriores e organizadores da própria vida e da inteligência. Mas seriam princípios passivos.

6.4 Vida, memória e anti entropia termodinâmica de 1ª. ordem (causalidade analítica da