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CAPÍTULO 3 – O MUNDO E A MENTE: A QUESTÃO DA DUPLA CAUSALIDADE

3.1 Uma fórmula para a equalização entre teorias psicológicas

O termo cognição, no sentido em que estamos empregando se relaciona tanto com o conhecimento (cognoscível) quanto com o mental (cognitivo como processo que produz ou complementa o conhecimento com seu significado: um “produtor de verdades”). Temos, portanto um sentido cognitivo (processo mental) e um sentido epistêmico (conhecimento) para os termos mentais. Esta superposição de significados para os termos relativos à cognição é bastante antiga na análise filosófica.

Vamos examinar, desta forma, a possibilidade de uma interdisciplinaridade psico epistêmica plausível através de um método de integração teórica entre as diferentes posições conceituais e metodológicas (se tal é possível) e em que termos uma abordagem focada na interdisciplinaridade epistêmica pode contribuir para uma ampliação da nossa compreensão do mental. Uma interdisciplinaridade teórica atual se faz necessária e deve se fundamentar em uma visão “integrativa” entre as diferentes teorias psicológicas da mente, no sentido de um pluralismo epistêmico capaz de relacionar a um mesmo fenômeno, seus diferentes pontos de vista, se (uma condição ontológica e epistêmica simultaneamente) seus respectivos conceitos básicos puderem ser equalizados e referenciados a um mesmo fenômeno de forma lógica e coerente.

Estamos tomando como ponto de partida nesse projeto, uma forma de análise conceitual focada na inter relação entre diferentes abordagens psicológicas (as chamadas teorias cientificas do mental) fundamentada na noção de possível referência ontológica entre elas (diferentes teorias podem ser apenas formas epistemicamente diferentes de descrever os mesmos eventos), que estamos chamando de “equalização entre conceitos psicológicos”. É importante salientar que estamos nos referindo a um tipo de ontologia relacional para instanciar as propriedades mentais e epistêmicas deste fenômeno complexo. Um padrão relacional (uma relação) envolve algo mais do que apenas os termos em si, mas ainda assim é um fenômeno material, pois um padrão emergente das condições interativas entre os objetos não torna a relação algo não material: apenas os relativiza no tempo e no espaço.

É justamente esse o foco inicial deste trabalho: a possibilidade de fundamentar diferentes análises epistêmicas em uma análise ontológica mais ampla, cujos fatores de relativização relacional no tempo e no espaço, utilizados aqui, seriam conceitos evolutivos (tempo) e informativos ou discriminativos (espaço), capazes de superar o abismo epistêmico entre as diversas teorias do mental, se estas teorias forem compatíveis com esses princípios gerais. Portanto, o “fundamento” que estamos supondo, ainda não é um termo testado e formalizado, tratando-se muito mais de uma possibilidade metodológica e analítica (com fins sintéticos ou globais em termos de uma teoria geral da mente), apresentada aqui para fins de experimentação conceitual.

Para tal, assumimos uma postura epistêmica não usual, um materialismo não reducionista, objetivando um discurso inter teórico sobre o mental e o conhecimento. Tal postura analítica não convencional pretende até onde for possível, incorporar as questões céticas em prol de uma teoria abrangente sobre a mente, ao colocar em xeque alguns pressupostos epistêmicos céticos (em especial do eliminacionismo ou do materialismo reducionista). Ou seja, é um esforço para integrar diferentes teorias psicológicas (cognitivismos, comportamentalismos, psicanálises, fenomenologias e neurologias e outras vertentes psicológicas atuais ou futuras) em torno da possibilidade ontológica e epistêmica de que tais teorias possam indicar fenômenos em comum, mas amplamente multifacetado ao longo de seu formato possível (tipo de informação) e tempo de formação (evolução).

Afinal, o que todas essas teorias pretendem, em última instancia, é explicar a mente humana, nem que para isso a noção de mente tenha que ser completamente reconstruída a partir de um determinado enfoque epistêmico. Essa análise filosófica das psicologias tem implicações em termos particularmente epistêmicos, na medida em que este conhecimento (relativo à verdade em si) e processos mentais (como “produtores de verdades”) se misturam na gênese epistêmica: o fenômeno dos estados mentais (em uma ontologia fenomenológica) e dos estados de conhecimento (em uma epistemologia naturalista) podem estar profundamente enraizados entre si.

Podemos tentar equacionar uma fórmula para esse processo de raciocínio comparativo do seguinte modo:

Figura 1 - Condição para análise ontológica de uma teoria psicológica.

O (x+y+z+...)

Tx = X * C (I.E.)

Onde:

Tx = uma teoria psicológica x, onde x é um ponto de vista epistêmico capaz de dar suporte a uma teoria

psicológica.

( ) = uma operação de suspensão epistêmica, capaz de relativizar os termos Ψ em critérios ontológicos

relacionados.

O = uma análise ontológica relacional aplicada as teorias psicológicas, onde (o) é a condição ontológica

(x,y,z...) = como condição relacional do objeto ontológico x (as outras teorias possíveis). C = condição de compatibilidade.

(I.E) = espaço informacional e tempo evolutivo (como critério de compatibilidade básico para a síntese

ontológica).

E dessa forma uma teoria psicológica Tx, deve ser submetida a uma suspensão epistêmica ( ) de modo a enfatizar uma analise ontológica ( )o, onde a condição de análise coloca que a teoria em questão deve permitir um tipo de ontologia relacional com outras teorias: o = ( x,y,z...). Uma ontologia relacional o=(x...) envolve um tipo de instanciação que pode apresentar modificações nas formas dessa instanciação ao longo do tempo evolutivo ou do formato informativo (I.E), sendo essa uma condição C de compatibilidade fundamental: xC (I.E).

Porém, quando diversas teorias diferentes são comparadas, devem ser submetidas [ ] a um critério de maior amplitude conceitual que evita a circularidade explicativa: os termos informativos e evolutivos não podem ter origem em conceitos psicológicos C ñ Ψ. Em caso contrario, os termos psicológicos teriam sua gênese conceitual em outros termos psicológicos, caindo obrigatoriamente em uma circularidade explicativa.

Figura 2 – Teoria geral da mente.

(I.E) C ñ Ψ

Ψ = [ Tx+ Ty + Tz+... ]*

Onde:

[ ] = representa uma operação de integração teórica não circular, onde o critério é:

Ñ Ψ = conceitos originalmente não psicológicos (critério de análise conceitualmente ampliada, necessária para

Com relação à natureza das diversas teorias possíveis (Tx, Ty, Tz) acerca do mental não podemos rejeitar a priori nem as teorias subjetivistas, nem as teorias objetivistas e, portanto, estamos admitindo a princípio, para começo de discussão, certo realismo interativo (entre objetivismo e subjetivismo) onde o mundo contém a mente que por sua vez contém o mundo enquanto representação ou conhecimento. É esta interatividade entre mundo e