• Nenhum resultado encontrado

55 Apresentação e discussão dos resultados

Universidade do Algarve, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Departamento de Psicologia

55 Apresentação e discussão dos resultados

Os resultados evidenciam que os docentes implementam estratégias que visam promover o desenvolvimento de competências pessoais e sociais, mas, simultaneamente, avaliam negativamente os percursos de resiliência destas crianças.

Gráfico 1- Síntese dos resultados do questionário aos docentes

Um olhar mais detalhado para os resultados, permite constatar que os professores evidenciam preocupação com o desenvolvimento de competências pessoais (M=3,83), desenvolvendo-as de forma bastante significativa. Esta dimensão foi analisada tendo em conta quatro fatores: Comunicação, Assertividade, Autocontrolo e Autoconhecimento. Destes, o fator que obteve mais relevância foram as estratégias que promovem o Autoconhecimento (M=4,03) e o menos trabalhado foi a promoção do Autocontrolo (M=3,46).

Assim, os resultados apontam para uma menor preocupação para o desenvolvimento de estratégias que promovam a espera pela recompensa ou o ensino de técnicas de autorregulação emocional. Contudo, Goleman (1995) apontava já para o fato de que a incapacidade de controlar as emoções perturbadoras poderia ter consequências devastadoras para o bem-estar emocional das crianças, pelo que este resultado pode ter influência na posterior capacidade da criança para resolver situações de conflito de forma controlada e não agressiva (Lopez, 2004).

O fator Comunicação, apesar da média elevada (3,81), possui alguns itens com médias muito baixas, nomeadamente aqueles que integram a liberdade de expressão e de comunicação em sala de aula. Vários docentes não dispõem de um espaço e de um tempo destinados à comunicação de novidades, o que parece indiciar pouca sensibilidade para abarcar a diversidade cultural, assim como as necessidades individuais de cada aluno, aspetos defendidos como essenciais nas escolas promotoras de resiliência (The Consortium on the school-based promotion of

social competence, 2000).

No que diz respeito às estratégias de desenvolvimento de competências sociais, verificamos uma média ainda mais elevada (M = 4,15) sendo o fator Empatia o mais trabalhado pelos docentes (M =4,49), obtendo o fator com menos relevância - Aptidão Social - uma média de 3,81.

Assim, verifica-se uma acentuada preocupação com a promoção de atitudes de solidariedade e de amizade produzidas no decorrer das brincadeiras, impulsionadoras do desenvolvimento da Empatia, assim como com o

56

envolvimento e responsabilização do aluno pelas tarefas relacionadas com a gestão da sala de aula ou com a criação de regras que sejam comummente aceites.

A terceira parte do questionário distribuído aos docentes pretendia perceber de que forma estes avaliavam a capacidade de resiliência dos seus alunos institucionalizados. Ao se analisar estes resultados, verifica-se que lhes atribuem baixos níveis de resiliência académica aos seus alunos, identificando problemas em quatro fatores associados a esta dimensão e obtendo estes uma média abaixo do valor médio (3): Autonomia (M=2,58), Persistência (M=2,45), Uso de Estratégias Metacognitivas (M= 2,80) e Resolução de Problemas (M=2,97). De referir ainda que o único fator a atingir o valor médio (3) foi o Empenho nas Atividades Escolares.

Deste modo, constata-se que os alunos ao serem avaliados pelos seus docentes parecem apresentar valores baixos no âmbito da Resiliência Académica. Ao se examinar um pouco mais em pormenor estes resultados e analisando os itens que fazem parte desta dimensão, constata-se que os docentes consideram que os seus alunos demonstram dificuldades em resistir à frustração, em persistir face às dificuldades, em propor estratégias para a resolução de problemas e ainda em executar essas mesmas estratégias a fim de superar as suas dificuldades. Assim sendo, estes resultados parecem vir ao encontro do referenciado por Strecht (1998, citado por Vilaverde, 2000) que inventariam alguns padrões de comportamentos que as crianças institucionalizadas costumam exibir. De acordo com estes autores, são frequentes as relações interpessoais inadequadas, uma autoimagem desvalorizada, sentimentos depressivos, agressividades destrutiva, índice de ansiedade muito elevado, baixa motivação, problemas ao nível do autoconceito e da autoestima, instabilidade emocional, fraco sentido de responsabilidade e incapacidade de resistência à frustração.

O segundo grupo de competências que se pretendeu analisar prende-se com a forma como cada um destes alunos se relaciona com os outros e como manifesta os seus comportamentos e atitudes. Neste sentido pretendeu- se avaliar a resiliência nas relações interpessoais, tal como é preconizado por Lemos e Meneses (2002) que defendem que a resiliência nas relações interpessoais está associada à competência social que cada indivíduo apresenta, para investigar se estes alunos apresentam comportamentos socialmente aceites ou se são capazes de interagir de forma eficaz com outros que o rodeiam.

Na análise desta dimensão foram tomados em consideração dois fatores: Relações Interpessoais Positivas e Competências Sociais que obtiveram uma média superior à dimensão anterior (M=3,14), o que leva a constatar-se que os professores consideram que os seus alunos apresentam características mais elevadas neste domínio. Neste sentido, os alunos parecem apresentar comportamentos positivamente associados à resiliência, tal como o fato de serem cooperativos e amáveis, assim como são capazes de resolver de forma adaptativa os conflitos com os outros. No entanto, a merecer avaliação menos positiva por parte dos professores está a forma como estas crianças sentem as suas responsabilidade e o modo como as cumprem, assim como conseguem (ou não) controlar a sua agressividade.

Ainda dentro do objetivo de avaliar a capacidade de resiliência dos alunos institucionalizados e de que forma estes se relacionam com os vários contextos em que estão inseridos, nomeadamente a escola, o grupo de pares, a comunidade e a casa, foi aplicada a Escala de Resiliência Helthy Kids Resilience Assessement Module aos alunos residentes em Instituições de Acolhimento e a frequentar o 3º ou 4º ano de escolaridade. A aplicação desta escala serviu ainda para verificar se a perceção que os professores possuíam sobre a capacidade de resiliência dos seus alunos se coadunava (ou não) com os efetivos processos de construção de resiliência demonstradas por essas mesmas crianças.

57

0

5

Escola Casa Comunidade Grupo de

Pares

M

é

d

ia

s

Outline

Documentos relacionados