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187 contemporâneo, em que as fronteiras entre os fenómenos e o seu contexto não são claramente evidentes (Yin,

Maria Filomena Fragoso de Moura

187 contemporâneo, em que as fronteiras entre os fenómenos e o seu contexto não são claramente evidentes (Yin,

1994).

Por um lado centrou-se em casos singulares, ou seja, em três agrupamentos de escolas pertencentes a Territórios Educativos de Intervenção Prioritária – Programa TEIP II2, e, por outro lado, utilizou uma técnica quantitativa, o questionário, que, enquanto instrumento de recolha de dados, proporciona a obtenção do maior número possível de opiniões e permite um tratamento quantitativo das respostas dos inquiridos.

A razão pela qual foram escolhidos agrupamentos pertencentes a Territórios Educativos de Intervenção Prioritária, teve em linha de conta, por um lado, considerar-se conveniente estudar escolas públicas dependentes do Ministério da Educação uma vez que não escolhem a sua população e têm finalidades mais marcadamente educativas do que sociais. Por outro lado, os agrupamentos de escolas TEIP, apesar de semelhantes aos outros no sentido de integrar os vários níveis de ensino e vários estabelecimentos educativos numa unidade organizacional, em que os profissionais dos diferentes ciclos têm de trabalhar em conjunto, apresentam características próprias devido ao elevado número de alunos em riscos de exclusão social e escolar, procedendo ao desenvolvimento de projetos que visam a melhoria da qualidade educativa e a promoção da inovação.

No reconhecimento da necessidade de introduzir mecanismos de apoio às populações mais carenciadas e de respostas concretas às necessidades e expectativas dos alunos e famílias, insiste-se assim na aposta da diversificação de ofertas educativas e formativas segundo critérios de prioridade e discriminação positiva (Canário, 1999). A investigação desenvolveu-se junto de professores do ensino básico, enquanto escolaridade obrigatória e em contextos exclusivamente criados para permitir melhorar as oportunidades para os seus alunos, em que a educação pré-escolar é tida como parte do percurso para essa melhoria.

Não pretendeu ser um estudo de caso feito em profundidade mas sim um estudo circunscrito a uma situação organizacional específica, em que foi feita uma descrição do contexto organizacional, tanto ao nível dos objetivos e características do contexto em que estas escolas se inserem e que as identifica, como ao nível de cada uma das organizações escolares em estudo. Este estudo permitiu, através do quadro referencial no qual os indivíduos agem e interagem, compreender melhor causas e efeitos do comportamento humano (Wilson, 1977, citado por Benavente em 1993), levando a que uma determinada ação seja válida quando observada no local onde ocorre, sem separar os seus intervenientes do contexto que os envolve.

A investigação decorreu em três fases, tendo-se desenvolvido uma primeira fase exploratória num agrupamento de escolas que, apesar de também ser TEIP foi escolhido apenas para a recolha de dados que permitiu reunir por entrevista a conceção dos professores, com vista à construção do questionário. É partindo do que o indivíduo pensa sobre as coisas e como reage perante elas que se inicia a investigação científica (Silva, 1986). Depois de uma primeira versão do questionário ter sido submetido a um painel de juízes – investigadores com um trabalho em educação pré-escolar, procedeu-se, numa segunda fase, à recolha de dados contextuais, em que a documentação analisada permitiu a familiarização com a história de um grupo, com a sua cultura, a sua organização e com acontecimentos relevantes para a investigação (Fortin, 2009). Aplicou-se depois o questionário a um total de 535 professores do ensino básico em exercício de funções nos três agrupamentos de escolas escolhidos, tendo-se recolhido 372 respostas, 69,5% da amostra. Finalmente, numa terceira fase fez-se o tratamento e análise dos dados

2 Segundo Programa de Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP II), de acordo com o previsto no Despacho

Ministerial, de 26 de setembro de 2006, redefinido à luz do disposto no Despacho Normativo nº 55/2008, de 23 de outubro (TEIP 2).

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recolhidos, a partir do uso do programa de estatística SPSS, versão PASW18.0, que, permitiu proceder a um tratamento global mas também analisar separadamente as respostas dos professores do 1º ciclo e as dos 2º e 3º ciclos, uma vez que os primeiros têm uma responsabilidade mais direta na continuidade do percurso educativo das crianças que transitam da educação pré-escolar.

As opções metodológicas tomadas permitiram concretizar o desenvolvimento do estudo mediando entre os dados provenientes do questionário e os dados resultantes da análise documental de cada um dos agrupamentos de escolas e possibilitaram a sua organização e leitura em cinco grandes blocos: Importância da Educação Pré- Escolar; Conhecimento da Educação Pré-Escolar; Contributo para a Igualdade de Oportunidades; Estatuto Profissional dos Educadores de Infância e Propostas para a Melhoria da Educação Pré-Escolar. Foi importante compreender como é que os professores do ensino básico daqueles agrupamentos de escolas entendem as finalidades e funções da educação pré-escolar, não só como atores de uma realidade específica e responsáveis pela escolaridade obrigatória, mas também no sentido de se poder alargar essa compreensão a outros contextos idênticos (Bogdan e Biklen, 1994).

Para este artigo delimitou-se a informação recolhida a três dos aspetos analisados relativos às opiniões dos docentes inquiridos: Importância da Educação Pré-Escolar, Articulação entre a Educação Pré-Escolar e o Ensino Básico, e, Contributo da Educação Pré-Escolar para a Igualdade de Oportunidades.

Importância da Educação Pré-Escolar

Para compreender quais as representações e expetativas dos professores do ensino básico em relação à educação pré-escolar, foi fundamental saber como é que definem as principais funções deste nível de educação. As tomadas de posição relativas à educação são sempre um produto de um processo ideológico que implica o pensamento e a elaboração de uma certa representação do que é ser criança e ainda sobre a infância e o papel da sociedade sobre essa infância. Estas ideias e conceções englobam a imagem da família e a função dos pais que está intrinsecamente ligada ao papel social dos homens e mulheres, sendo reveladoras de uma determinada conceção educativa (Cardona, 1997).

Da análise das respostas dadas pelos professores constatou-se que, relativamente ao aspeto “dar apoio às

famílias que trabalham”, 59,6% considerou tratar-se de uma função importante e apenas 29,3% a considerou muito

importante. Já em relação ao segundo aspeto “permitir a realização das primeiras aprendizagens”, verifica-se uma inversão na percentagem das respostas obtidas, correspondendo a importante 14,5% e a muito importante 85,2%. Apesar de ser reconhecido um papel de apoio às famílias, a função educativa foi considerada mais relevante, evidenciando a existência de um grande consenso na importância atribuída à educação pré-escolar na realização das primeiras aprendizagens.

Ao compararmos as respostas dos professores do 1º ciclo e dos 2º e 3º ciclos, o aspeto “permitir a

realização das primeiras aprendizagens” é também o que concentra uma mais elevada percentagem de respostas nos

campos importante e muito importante, distribuídos igualmente pelos dois grupos de professores. Esta análise permite inferir que não são apenas os professores do 1º ciclo, enquanto ciclo contíguo à educação pré-escolar, que a consideram importante para as primeiras aprendizagens, alargando-se esta opinião aos outros dois ciclos de ensino.

No desenvolvimento desta questão, procurou perceber-se quais os domínios de aprendizagem que, na opinião dos professores, deveriam ser privilegiados. Relativamente às aprendizagens sociais, realçam-se três consideradas

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