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53 sequência da presença de um ou mais fatores ligados ao desenvolvimento da criança, como o baixo peso à nascença,

Universidade do Algarve, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Departamento de Psicologia

53 sequência da presença de um ou mais fatores ligados ao desenvolvimento da criança, como o baixo peso à nascença,

lesões cerebrais, doenças genéticas, ou então associada a fatores sociais como a condição socioeconómica da família, desemprego, desestruturação familiar, consumo de substâncias ilícitas, entre outros (Cyrulnik, 2003; Garmezy, 1991; Rutter, 1995).

Contudo, vários foram os estudiosos que alertaram para o fato de que, se por um lado existem fatores que podem colocar em causa o normal desenvolvimento da criança, existem também um outro conjunto de fatores que pode atenuar os efeitos da exposição àqueles que conduzem a situações de vulnerabilidade e de risco. Estes são de duas naturezas distintas: por um lado os traços de personalidade (contextos intrínsecos ao próprio indivíduo) e, por outro, o meio em que a criança se desenvolve (contextos extrínsecos) (Benard, 1991; Garmezy, 1991; Grotberg, 1995).

Destes fatores, a escola assume um papel importantíssimo pelo tempo que a criança nela permanece e pela qualidade das relações que nela se constroem. Já em 1987, Rutter observava que crianças oriundas de um meio sociocultural mais desfavorecido conseguiam construir um projeto de vida e de futuro quando vivenciavam experiências na escola que promoviam a sua autoestima e incrementavam a sua autoeficácia.

Mais recentemente, Elias, Parker e Rosenblatt (2006) apontavam a importância do desenvolvimento de competências pessoais e sociais como elemento-chave para a promoção da resiliência educacional, afirmando que estas permitiam aos alunos acumularem conhecimentos e capacidades que promoviam uma adequada resposta aos desafios do meio ambiente.

De entre os vários estudos sobre quais as características de uma criança resiliente, parece-nos apropriado referir o apresentado por Duncan, Burden e Bickel (1996) que sintetizam em quatro domínios o seu perfil:

- Competências sociais – responsabilidade, flexibilidade, empatia, capacidade de comunicação, sentido de humor;

- Capacidade de resolução de problemas – consciência crítica, planificação, imaginação, iniciativa;

- Autonomia – sentido do seu próprio valor e de autoeficácia, controlo sobre o meio ambiente, autodisciplina, resistência, capacidade para se distanciar;

- Noção de futuro e de sentido de vida - trabalho por objetivos, expetativas saudáveis, persistência, esperança no futuro…

Estas competências básicas reveladas por alunos considerados resilientes servem de referencial para que se compreenda a importância da intervenção do professor através da relação educativa que estabelece com o aluno. E se é pertinente pensar na sua importância para a população estudantil no seu geral, que dizer daqueles que se veem privados de crescer no seu meio familiar?

As crianças residentes em Instituições de Acolhimento são aquelas que foram retiradas aos seus contextos de origem por se encontrarem em situação de risco, sendo esta a última medida preconizada pela lei de Proteção de Menores em Risco e que significa, na prática, que foram esgotadas todas as tentativas de integrar a criança no seu seio natural.

Todavia, diversos autores apontam a própria institucionalização como um fator de risco que pode contribuir para algumas caraterísticas apontadas como frequentes em crianças a viver nestas condições, como sendo os problemas comportamentais, a delinquência infantil e juvenil, os problemas de aprendizagem, entre outros (Srecht, 2003; Ungar, 2007).

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Partindo deste campo conceptual, afigura-se ser de especial relevância analisar as crianças residentes em instituições, para quem a resiliência pode significar uma adaptação eficaz ao meio ambiente e tentar perceber se a relação educativa desenvolvida com os professores pode ou não ajudar estes alunos a ultrapassarem os riscos e as adversidades com que se deparam no seu dia-a-dia.

METODOLOGIA

O presente estudo pretendeu, como objetivo geral, analisar se a relação educativa, orientada para o desenvolvimento de competências pessoais e sociais está relacionada com a resiliência educacional dos alunos residentes em Instituições de Acolhimento.

Este objetivo geral operacionalizou-se nos seguintes objetivos específicos:

- Identificar quais as práticas pedagógicas aplicadas pelos docentes com o objetivo de desenvolver nos seus alunos residentes em instituições de acolhimento competências pessoais e sociais;

- Analisar se estes alunos apresentam bons níveis de resiliência académica e nas relações interpessoais e se possuem recursos internos e externos;

- Investigar se a aplicação de práticas pedagógicas de promoção de competências pessoais e sociais está associada a uma maior resiliência educacional nos alunos.

Os dados para o estudo foram recolhidos com recurso a três instrumentos distintos. Aos docentes foi distribuído um questionário - elaborado e validado no âmbito desta investigação - com três partes distintas: uma primeira parte com uma breve caracterização do docente, uma segunda parte com a enumeração das estratégias de promoção de competências pessoais e sociais que o docente aplica em contexto de sala de aula e uma última parte com a sua avaliação da capacidade de resiliência de cada aluno institucionalizado presente na turma em que lecionava. Aos alunos foram distribuídos dois questionários: um que pretendia fazer a recolha de alguns dados sociobiográficos e a escala de resiliência Healthy Kids Resilience Assessement Module, criada por Constantine e Bernard (2001) e adaptada por Martins (2005). Este questionário é composto por cinquenta e oito itens e integra dezassete fatores de proteção externos e seis características internas associadas à resiliência.

Optou-se por uma investigação de natureza maioritariamente quantitativa, tendo os questionários aos docentes e aos alunos sido aplicados a uma amostra de conveniência e não probabilística constituída pela totalidade da população de professores do 1º Ciclo que lecionavam, no ano letivo 2008-2009, no Algarve, em turmas com alunos institucionalizados e à globalidade dos alunos de 3º e 4º anos que se encontravam a residir em instituições de acolhimento.

A amostra de docentes respondentes perfez um total de 43 sujeitos (N=43), dispersos por doze agrupamentos e dezasseis escolas, tendo existido representatividade de todos os concelhos desta região. Obteve-se uma taxa de retorno de 83%, sendo a maioria dos respondentes do sexo feminino e com uma média de tempo de serviço de 14 anos.

Os respondentes discentes constituem uma amostra de 27 sujeitos (N=27), tendo-se obtido uma taxa de retorno de 74,35%. A média de idades destes alunos é de 9,6 anos e a moda do tempo de permanência na instituição é de 2 anos.

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