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117 Assim, não será de estranhar que, no campo da articulação e estruturação de uma resposta efetiva à violência

Sara Merlin

117 Assim, não será de estranhar que, no campo da articulação e estruturação de uma resposta efetiva à violência

na escola, apenas uma escola do total da amostra não disponha de um gabinete de apoio que faz a mediação e intervenção em situações de conflito (Escola 1, Território A)16. A constituição ou manutenção de gabinetes de apoio e mediação dos conflitos, estruturas internas que representam espaços fundamentais na resolução e controlo dos problemas comportamentais, é um dos instrumentos de intervenção definidos pelas direções nas restantes seis escolas em estudo. Muito embora as designações variem17, as suas modalidades e objetivos de funcionamento são semelhantes; sendo para esse efeito constituídas equipas e atribuídas funções e responsabilidades de mediação, de aplicação de medidas disciplinares e de monitorização das ocorrências. Contudo, apesar das finalidades definidas para estas estruturas se assemelharem, a natureza e os procedimentos de categorização são diferenciados entre escolas, resultando assim em práticas e modos de apropriação interna com configurações particulares.

Notas Finais: a capacidade de ação das escolas

O conjunto de respostas encontradas nas diversas escolas no que diz respeito ao planeamento e concretização das estratégias de atuação demonstrou que a possibilidade de pacificação dos quotidianos escolares reside principalmente na disposição dos estabelecimentos escolares para se adaptar, organizar e envolver a comunidade no controlo e regulação das situações de violência e conflitualidade. Quer isto dizer que, apesar das condições de partida diferenciadas (mais ou menos favoráveis, consoante as características dos territórios e (re)distribuição dos alunos por escolas), as escolas demonstram ter margem para adequar, planear e implementar estratégias de resposta.

A análise evidenciou que a natureza das orientações, o tipo ou estilo de coordenação e lideranças organizacionais, a priorização (ou não) da problemática e ainda, a definição de instrumentos como a criação de estruturas internas de resposta (sendo exemplo os gabinetes de mediação) constituem ou podem constituir fatores significativos no sucesso destas ações. A diferença reside, portanto, na capacidade e decisão das escolas para travar, reajustar e sensibilizar no sentido de regular e pacificar, adotando modalidades de resolução da conflitualidade ou violência, diversificadas, independentemente desta ter origem, ou não, em condições externas à escola. Acresce dizer, que estas estratégias de resolução da conflitualidade resultam em respostas diferentes dentro de cada um dos territórios. Isto é, as respostas associam-se mais aos objetivos, orientações e interesses estratégicos das escolas do que ao contexto envolvente. Parece assistir-se assim a um processo de reconstrução e artificialização dos territórios escolares.

16 Escola com um número reduzido de ocorrências declaradas e que não encara a violência como eixo prioritário. 17 Na apresentação dos gabinetes nos diferentes documentos analisados encontramos nuns casos denominações específicas/ diretas por terem sido constituídos apenas para esse efeito (Escola C – Gabinete de Intervenção Disciplinar; Escola D – Gabinete de Gestão de Conflitos e Escola F – Gabinete de Mediação) e, noutros, designações mais amplas, por estes fazerem parte integrante de departamentos com linhas de ação mais extensa (Escola B e G – Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família e Escola E – Gabinete de Apoio ao Aluno e ao Professor). Salientamos ainda que, na Escola E, a designação do gabinete de apoio ao aluno e ao professor, e não à família, se explica em parte por esta não abordar a violência como eixo de intervenção prioritária.

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