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193 Quando analisadas as respostas dos dois grupos de professores, observou-se que para os professores do

Maria Filomena Fragoso de Moura

193 Quando analisadas as respostas dos dois grupos de professores, observou-se que para os professores do

1º ciclo o aspeto mais importante é ser “especialmente importante para as crianças dos meios sócio-culturalmente

desfavorecidos”(98%). Já para os professores dos 2º e 3º ciclos as opiniões dividem-se entre este aspeto (96,2%) e o

“promove a compreensão e a aceitação das diferenças”(98%). O item “ facilita as aprendizagens escolares” concentrou um maior número de respostas dos professores do 1º ciclo (74,1%) evidenciando, neste caso, a compreensão do papel da educação pré-escolar para a preparação das crianças para o ciclo que se segue.

Foi importante para o desenvolvimento do estudo e para se compreender melhor as relações existentes entre o ensino básico e a educação pré-escolar, inquirir junto dos professores se consideram que a frequência das crianças na educação pré-escolar lhes facilita ou não o seu trabalho.

Verificou-se que a maioria dos professores considerou que “facilita” (49,2%) e “facilita muito” (46,8%), e ainda que a incidência de respostas nestes dois campos foi muito semelhante entre os professores do 1º ciclo e os professores dos 2º e 3º ciclos.

Destacam-se como principais aspetos considerados pelos professores importante e muito importante o “

maior domínio da linguagem” (96,3%), o “maior interiorização de regras” (97,7%) e o “maior facilidade de trabalhar em grupo” (98,8%), traduzindo preocupações e dificuldades sentidas relativamente ao processo de ensino-aprendizagem

dos seus alunos que pertencem a contextos sociais que integram populações carenciadas e em situação de exclusão, e que, em muitos casos, não têm como língua materna a língua portuguesa. Também foi significativa a percentagem obtida relativamente ao aspeto de as crianças que frequentaram a educação pré-escolar terem “mais conhecimentos

prévios” (98,8%), o que mais uma vez aponta para este nível educativo ser visto pelos professores como

contribuindo para a solução de alguns dos problemas com que se defrontam.

Na análise comparada entre as respostas dadas pelos professores dos 1ºciclo e dos 2º e 3º ciclos, não se registam diferenças percentuais indicando que ambos têm, por um lado, as mesmas preocupações relativamente aos seus alunos e por outro lado, expetativas idênticas quanto aos efeitos da intervenção educativa da educação pré- escolar.

Reflexões finais

Ao longo do desenvolvimento do estudo e à medida que se foram abordando os diferentes aspetos, surgiram outros novos que apontam para uma necessária atividade reflexiva. Foi evidente, entre outros, a importância de se compreender qual o papel da liderança de uma escola na construção de uma efetiva articulação entre os vários ciclos de educação e ensino e de um trabalho colaborativo entre docentes, uma vez que lhe compete a definição das intervenções a levar a cabo e a escolha de caminhos e soluções para os problemas identificados.

Os diplomas legais dão visibilidade aos diferentes papéis de cada um dos ciclos de educação e ensino e aos seus diferentes percursos completando a sua missão entre si, mas distancia-os conferindo-lhes horários e momentos de avaliação diferentes. Por outro lado, os órgãos de gestão e de orientação educativa das escolas não respondem a estes problemas de forma a criar alternativas para um trabalho colaborativo, pondo assim em causa o fio condutor entre ciclos tendo em vista o sucesso escolar dos alunos.

O diálogo e a colaboração entre educadores e professores do ensino básico, nomeadamente os do 1º ciclo, facilitam a transição para a escolaridade obrigatória, desenvolvendo na criança uma atitude positiva face à escola e ao ensino (ME, 2002). Criar momentos comuns de trabalho entre os professores dos diferentes ciclos e

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principalmente, tornar a articulação entre ciclos como parte de uma efetiva solução para os problemas de insucesso escolar, são medidas que carecem de uma reflexão por parte de todos os professores envolvidos no processo.

Quando se abordam os aspetos relativos à importância que a educação pré-escolar tem no percurso escolar dos alunos, conclui-se que, de uma forma geral, os professores conferem a este nível de educação um papel e uma responsabilidade no futuro sucesso escolar dos seus alunos e consideram-no garantia de uma maior igualdade de oportunidades. As suas respostas indicam a existência de preocupações relacionadas com os processos de ensino-aprendizagem dos seus alunos, remetendo para a educação pré-escolar a solução de alguns dos problemas sentidos, tanto ao nível das aprendizagens de ordem social como de ordem cognitiva. Este aspeto é também reforçado pelo facto da maioria dos professores entenderem que a educação pré-escolar deveria ser obrigatória e a partir dos três anos de idade, assumindo-a, assim, enquanto parte fundamental do sistema educativo e atribuindo- lhe uma responsabilidade igual à dos restantes ciclos no sucesso do percurso escolar dos alunos.

Apesar de ser notória a identificação e a correspondência que os professores do ensino básico fazem entre a educação pré-escolar e a aprendizagem, atribuindo-lhe uma função educativa e uma intervenção nos resultados escolares nos ciclos que lhe seguem, não deixam de lhe atribuir igualmente uma importante função social de apoio às famílias. Esta dualidade está ligada à conceção de educação relacionada à ideia que se tem sobre as crianças, a infância e a sociedade em geral (Carvalho, 2001). O papel de cuidado de crianças pequenas constitui-se uma realidade e uma necessidade imposta pelas dinâmicas laborais e sociais dos tempos de hoje, sendo atribuído à educação pré-escolar uma responsabilidade direta.

Ao longo do estudo, na comparação das respostas dos professores do 1º ciclo e dos 2º e 3º ciclos, observa-se que ambos reconhecem à educação pré-escolar uma idêntica importância, não se identificando um conhecimento mais profundo por parte dos professores do 1º ciclo, enquanto ciclo contíguo à educação pré- escolar. Se por um lado seria de esperar uma relação/conhecimento mais forte por parte destes docentes, por outro lado, observa-se que, de facto, os agrupamentos de escolas se traduzem numa aproximação dos 2º e 3º ciclos à educação pré-escolar que deveria ser aproveitada e otimizada para a realização de trabalho em conjunto.

Para o cumprimento daquilo a que a educação pré-escolar se propõe é fundamental que esta esteja incluída no sistema educativo sem que perca os seus fundamentos e objetivos principais, devendo a sua inclusão e aceitação no sistema educativo passar pela real compreensão dos professores do ensino básico sobre as principais linhas orientadoras da educação pré-escolar e o seu fundamental papel, e não pela sua simples absorção.

Entende-se a escola enquanto uma organização que aprende, onde os “ indivíduos expandem continuamente

a sua aptidão para criar os resultados que desejam, onde se criam novos e expansivos padrões de pensamento, onde a aspiração coletiva fica em liberdade e onde os indivíduos aprendem continuamente a aprender em conjunto” (Senje, citado

por Bolívar, 1997, pp. 83 e 84). Referências bibliográficas

Benavente, A. (1993). Mudar as Escolas, Mudar as Práticas – Um Estudo de Caso em Educação Ambiente. Lisboa:Escolar Editora.

Bogdan, R. & Biklen,S. (1994). Investigação Qualitativa em Educação. Porto: Porto Editora.

Bolívar, R. (1997). A Escola como organização que aprende. Em R. Canário, Formação e situações de trabalho (pp.77-100). Porto: Porto Editora.

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