• Nenhum resultado encontrado

Fatores de Proteção Internos

Gráfico 3- Resultados da Escala de Resiliência – Fatores de Proteção Internos

Ao se analisar os resultados obtidos nesta escala e alguns fatores sociodemográficos surgem também alguns dados sobre os quais convém refletir. Assim, na presente amostra constata-se que são os rapazes que obtêm melhores resultados em todos os parâmetros da escala, resultado este que parece estar em contradição com alguns trabalhos que apontam ser o sexo feminino mais resiliente, principalmente em idades precoces (Benard, 1991, Garmezy, 1991).

Também o ano de escolaridade parece ter um impacto significativo nos resultados obtidos, tendo os alunos do 3º ano conseguido melhores resultados, fato que poderá estar associado à forma como a criança constrói o seu autoconceito que sofre uma alteração significativa por volta dos oito anos, passando a partir daí a estar intimamente associado às comparações que estabelece com os seus companheiros.

Previsivelmente, os alunos que não sofreram quaisquer retenções obtiveram melhores resultados na escala, visto que as experiências de sucesso acarretam consequências positivas para a sua autoestima.

Outro dado importante prende-se com o fato de que os alunos que não mantêm contato regular com a família de origem obterem melhores resultados em todos os parâmetros, entrando em concordância com o estudo de Rocha e colaboradores (2008) que refere que uma adaptação positiva à instituição onde residem faz com que as crianças apresentem uma maior estabilidade emocional. Contudo, o tempo prolongado de permanência na Instituição parece influir negativamente no desenrolar do processo de construção da resiliência, o que poderá estar intimamente ligado ao fato de que estas instituições se caracterizarem por possuírem um elevado número de adultos cuidadores e estes sofrerem muita rotatividade, o que poderá impedir a criança de estabelecer laços vinculativos a adultos segurizadores.

A última parte do presente estudo pretendeu investigar a existência de correlações entre as práticas pedagógicas dos docentes e a resiliência demonstrada pelos alunos residentes em Instituições de Acolhimento.

Apesar dos dados recolhidos através dos questionários apontarem para a existência de uma preocupação por parte dos docentes inquiridos em desenvolver estratégias que promovam competências pessoais, verifica-se que não são as estratégias mais utilizadas (assertividade e autocontrolo) que possuem uma correlação superior, mas sim as estratégias relacionadas com a comunicação, tendo estas um impacto significativo ao nível do Empenho nas Atividades

59 Ao cruzarmos os dados obtidos entre os dois instrumentos (questionário aos docentes e a Escala de Resiliência), constata-se que os resultados correlacionais entre o desenvolvimento de Competências Pessoais e os diversos fatores que compõem a subescala Envolvimento Escolar estão positivamente correlacionados.

De assinalar que, no domínio das Competências Pessoais, são os fatores da Comunicação e da Assertividade que possuem correlações mais elevadas, principalmente no cruzamento com os fatores Elevadas Expetativas na Escola, Participação na Escola e Envolvimento Escolar, isto no que diz respeito à subescala dos Fatores de Proteção Externos; enquanto apenas a Comunicação aparece positivamente associada aos Fatores de Proteção Internos.

Deste modo, este estudo confirma a importância do uso deste tipo de estratégias para que o aluno se sinta ligado à escola, considerando esse espaço como seu, o que corrobora os já apresentados estudo de Lopez (2004) e Gaspar, Branco e Matos (2005) que apontam a importância deste tipo de estratégias para que o aluno consiga construir uma forma positiva de saber estar consigo próprio e com os outros.

Quando se procedeu à análise correlacional entre os dados obtidos sobre a aplicação de estratégias de promoção de competências sociais e a dimensão resiliência nas relações interpessoais, verificou-se que os valores encontrados, apesar de positivos, são todos bastante baixos, revelando pouca significância estatística.

Repetiu-se o cruzamento de instrumentos, o que levou à descoberta de valores um pouco superiores, parecendo que as estratégias que visam desenvolver aptidões sociais têm impacto nos parâmetros relacionados com o Envolvimento Escolar.

Apesar dos fracos resultados obtidos no estudo correlacional, não se pode esquecer que os efeitos educativos do trabalho sistemático com este tipo de estratégias podem demorar muitos anos. Recorde-se, por exemplo, as conclusões do «Seattle Social Development Project» que teve como objetivo desenvolver competências pessoais e sociais em alunos dos primeiros anos de escolaridade, tendo este tido os seus resultados visíveis quando os alunos frequentavam o Ensino Secundário. Daí que seja de considerar que, não obstante os professores estarem a desenvolver estas estratégias junto destes alunos, não foi possível analisar verdadeiramente o efeito de algumas práticas pedagógicas, pois elas poderão vir a revelar-se num tempo desfasado do presente estudo que apenas avaliou a resiliência atual demonstrada pelas crianças.

Como nota ainda a reter, aponta-se o fato de que os docentes que participaram neste estudo possuírem uma consciência generalizada sobre a importância da aplicação de estratégias que visem promover competências pessoais e sociais, assim como se ter verificado que a Relação Educativa constitui um importante fator protetor, dado comprovado através da informação recolhida sobre o Envolvimento Escolar. Contudo, não foi possível verificar a influência direta do uso deste tipo de estratégias na capacidade de resiliência dos alunos residentes em instituições de acolhimento, mas apenas verificar que estão positivamente associadas.

CONCLUSÕES

A Relação Educativa constitui-se, pelo tempo que perdura e numa lógica interacionista e ecológica, como um fator de importância objetiva no desenvolvimento dos indivíduos. As suas implicações para a construção de um processo de vida resiliente têm sido objeto de diversos estudos, para os quais esta investigação pretendeu contribuir.

O estudo verificou que, não só os professores estão convictos da necessidade de promover competências nos seus alunos, indo muito para além de serem apenas meros transmissores de conteúdos, como também sentem

60

necessidade de pessoalizar os contextos de ensino e aprendizagem. Do conjunto de competências enunciadas, constatou-se que são as do foro social as mais trabalhadas.

Por outro lado, o presente estudo concluiu que as estratégias menos aplicadas são as que têm como objetivo promover o Autocontrolo, apesar de diversos docentes terem manifestado preocupação com o comportamento e com o controlo da agressividade dos seus alunos. Assim, o que este estudo parece concluir é que os docentes estão pouco familiarizados com o uso de determinadas técnicas.

A investigação pretendeu aferir também os níveis de resiliência dos alunos institucionalizados. Neste ponto foram encontrados dados contraditórios. Por um lado conclui-se que os docentes têm subjacente uma visão negativa do percurso destes alunos, como se pode comprovar pelo fato de que os valores obtidos de resiliência académica estarem todos praticamente abaixo do valor médio. Já no que diz respeito à resiliência nas relações interpessoais, os dados obtidos sobem para níveis médios. No entanto, ao se comparar estes dados com os resultantes da aplicação da Escala de Resiliência diretamente aos alunos, verifica-se que a informação recolhida sugere que estão a desenvolver um percurso de vida resiliente, pois demonstram significativos recursos internos e externos que parecem estar a contribuir para ultrapassarem as dificuldades e contrariedades que a vida lhes traz.

Dos recursos externos, de assinalar que o presente estudo demonstra que a Escola é o maior fator de proteção e de promoção da resiliência, ao qual se segue a Instituição onde residem as crianças.

Quanto aos recursos internos, o presente estudo conclui que os fatores Comunicação e Cooperação e Resolução de problemas são os que mais colaboram para o bom resultado destes alunos.

Por último, de ressaltar que, apesar de não ter sido possível comprovar, com níveis de associação fortes, que a Resiliência Educacional se interliga com a aplicação de estratégias de desenvolvimento pessoal e social em contexto escolar, ficou evidente que as estratégias comunicacionais aplicadas pelos docentes, assim como as que promovem a Aptidão Social estão positivamente associadas ao desenvolvimento da Resiliência Académica e nas

Relações Interpessoais.

Tomando em consideração todas as conclusões a que este estudo chegou, pensa-se que seria pertinente realizar um levantamento das necessidades de formação contínua dos docentes no campo do desenvolvimento e aplicação de estratégias que visam promover competências pessoais e sociais, de forma a se adequar as ofertas de formação contínua de professores em áreas que são transdisciplinares, mas que não deixam de ser igualmente importantes para a formação integral do aluno.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMADO, J. ; RIBEIRO, F. ; LIMÃO, I.; PACHECO, V. (2003). A escola e os alunos institucionalizados. Lisboa: Departamento de Educação Básica.

BARREIROS, J. C. (1996). A turma como sistema de interacção – Uma abordagem sistémica da comunicação na

turma. Colecção Escola e Saberes. Porto: Porto Editora.

BENARD, B. (1991). Fostering resilience in Kids: Protective factors in the family, school, and community. Portland, OR: Western Center for Drug-Free Schools and Communities.

BISCAIA, J. (2007). Resiliência na criança e seu futuro. Brotéria, v.164 nº3: 227-237.

CANHA, L & NEVES, S. (2008). Programa de treino de competências pessoais e sociais – desenvolvimento de um

61 COLL, C., MARCHESI, A., PALACIOS, J. (2004). Desenvolvimento psicológico e educação. S. Paulo: Artmed Editora. Vol. 1: Psicologia evolutiva.

CURRAL, L. & CHAMBEL, M. J.(2001). in FERREIRA, J. M. C. Manual de Psicossociologia das Organizações. Amadora: McGrawHill.

CYRULNIK, B. (2003). Resiliência essa inaudita capacidade de construção humana. Colecção Horizontes Pedagógicos: 94. Lisboa: Instituto Piaget.

DUNCAN, A., BURDEN, S., BICKEL, A. (1996). Effective comprehensive prevention programs: a planning guide. Portland: Northwest Regional Educational Laboratory.

DURKHEIM, E. (1984). Sociologia, educação e moral. Porto: Rés Editora.

ELIAS, M., PARKER, S. & ROSENBLATT, J. (2006). Building educational opportunity. in GOLDSTEIN, S. & BROOKS, R. (2006). Handbook of Resilience in children. Springer.

FERNANDES, E. (1990). Psicologia da adolescência e da Relação Educativa. Porto: Ed. Asa.

FORUM EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA. (2008). Objectivos estratégicos e recomendações para um Plano de

Acção de Educação e de Formação para a Cidadania. Lisboa: Ministério da Educação.

GARMEZY, N. (1991). Resiliency and vulnerability to adverse development outcomes associated with proverty. American Behavioral Scientis, 34 (4): 416-430.

GASPAR, T.; BRANCO, J. & MATOS, M. (2005). Aventura Social e Risco: projectos de promoção de competências

sociais em contextos específicos. Educação Especial e Reabilitação: vol.12 – nº2: 97-109.

GOLEMAN, D. (1995). Inteligência emocional. Lisboa: Círculo de Leitores.

GROTBERG, E.(1995). A guide to promoting resilience in children: Strengthening the human spirit. The Hague, Netherlands: The Benard van Leer Foundation.

LEMOS, M. & MENESES, H. (2002). A avaliação de competências sociais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 18(3): 267-274.

LOPEZ, F. (2004). Problemas afectivos e de conduta na sala de aula. in COLL, C., MARCHESI, A., PALACIOS, J.

Desenvolvimento psicológico e educação. S. Paulo: Artmed Editora. Vol. 3: Transtornos do desenvolvimento e

necessidades educativas especiais.

LUTHAR, S.S., CHICCHETTI, D. & BECKER, B. (2000). The construct of resilience: A critical evaluation and

guidelines for future work. Child development, 71: 543-562.

MARTINS, M. H. V. (2005). Contribuições para a análise de crianças e jovens em risco/resiliência e desenvolvimento. Faro: Universidade do Algarve. (Tese de doutoramento não publicada).

ROCHA, G., MEDEIROS, O., DIOGO, F., DIOGO, A. (2008). Socializações alternativas – crianças e jovens em

instituições nos Açores. Ponta Delgada: Centro de Estudos Sociais – Universidade dos Açores.

RUTTER, M. (1995). Stress, risk and resilience in children and adolescents. Cambridge: Cambridge university press: 268-316.

SÁ, E.; ROSINHA, I.; SOTTOMAYOR, M.C; CUNHA, M.C. (2005). Abandono e adopção. Lisboa: Almedina. STRECHT, P. (2003). À margem do amor – notas sobre a delinquência infantil. Lisboa: Assírio & Alvim.

THE CONSORTIUM ON THE SCHOOL-BASED PROMOTION OF SOCIAL COMPETENCE. (2000). in HAGGERTY, R., SHERROD, L., GAMEZY, N. & RUTTER, M. Stress, risk and resilience in children and adolescents. Cambridge: Cambridge university press: 268-316.

62

UNGAR, M. (2007). Contextual and cultural aspects of resilience in child welfare settings. in BROWN, F. et al.

63

Territórios educativos de intervenção prioritária: de

Outline

Documentos relacionados