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81 (e.g.,“ Eu não posso jogar como eles porque as minhas pernas parece que não andam”), as actividades extracurriculares

Ana Monteiro Grilo

81 (e.g.,“ Eu não posso jogar como eles porque as minhas pernas parece que não andam”), as actividades extracurriculares

ou as visitas de estudo (Mukherjee, Lignhfoot & Solper, 2000). As crianças temem ainda que os colegas não percebam o que se passa consigo (e.g.,“Agora eu de cadeira de rodas! Eu não sou deficiente e eles vão dizer que eu sou.”) ou que conheçam aspectos da sua doença que elas gostariam de manter privados (Mukherjee, Lignhfoot & Solper, 2000). Por seu lado, os adolescentes parecem especialmente preocupados com a possibilidade de não serem compreendidos ou mesmo serem abandonados pelos seus pares (Lahteenmaki, Huostila, Hinkka & Salmi, 2002; Sammallahti, Lehtosalo, Mäenpää, Elomaa & Aalberg, 1995)

As alterações no aspecto físico (e.g., amputação, queda de cabelo, inchaço) podem contribuir para que a criança mostre relutância em regressar à Escola. O receio de ser alvo de troça, rejeitada ou até vítima de bullying por parte das outras crianças (Mukherjee, Lignhfoot & Solper, 2000), potenciam esta resistência. Neste sentido, Lähteenmäki, Huostila, Hinkka e Salmi (2002) realizaram um estudo, na Finlândia, com crianças com cancro e verificaram que as suas classificações a matemática, língua estrangeira e educação física eram inferiores às dos seus pares. Contudo, a maior preocupação destas crianças dizia respeito ao bullying, três vezes mais frequente no grupo das crianças com doença oncológica.

É comum as crianças manifestarem o desejo de que os seus colegas conheçam a sua situação, contudo enquanto algumas pretendem ser parte integrante do programa de informação, outras preferem manter-se afastadas, deixando esse papel para os profissionais de saúde e/ou para os professores. Torna-se assim evidente, como referido na fase 2 do programa de reintegração, a necessidade da criança ser consultada em todo este processo. Frequentemente, os adolescentes recusam os programas estruturados de intervenção preferindo outro tipo de intervenção para facilitar a aceitação dos seus pares (Prevatt, Heffer & Lowe, 2000).

Dificuldades e preocupação dos Pais

Como tem vindo a ser mencionado a integração escolar da criança com DC constitui um grande desafio para os pais (Prevatt, Heffer & Lowe, 2000). Larcombe e colaboradores (1990) verificaram que os pais identificam mais problemas que os professores no regresso à escola, destacando-se entre outros, as limitações físicas, as preocupações académicas e as dificuldades psicológicas e comportamentais da criança. As preocupações somáticas dos pais (Anderzén-Carlsson; Kihlgren; Svantesson & Sorlie, 2010; Noll, MacLean, Whitt, Kaleita, Stehbens, Waskereitz, Ruymann & Hammond, 1997), particularmente o medo de uma infecção ou de uma emergência médica, a par do receio que a criança seja alvo de troça por parte dos colegas (Anderzén-Carlsson, Kihlgren, Svantesson & Sorlie, 2007b; McCarthy, Williams & Plumer, 1998) conduzem frequentemente os pais a protelar o regresso à Escola. Por vezes, as reacções de sobreprotecção ou de medos irrealistas manifestas pelo adiamento da volta à Escola, traduzem sentimentos de culpa por parte dos pais (Chahal, Clarizia, McCrindle, Boydell, Obadia, Manlhiot, Fillenburg, Yeung, 2009; Chekryn, Deegan & Reid, 1986). O absentismo escolar pode ainda ser involuntariamente prolongado pelos pais na situação em que a criança apresenta um prognóstico reservado ou se encontra mesmo em fase terminal. Nestas circunstâncias, é comum os progenitores avaliarem a participação da criança nas actividades escolares como sendo inútil (Worchel-Prevatt et al., 1998).

O regresso à Escola, após ausência mais ou menos prolongada da criança, despoleta nos pais a necessidade de estabelecer uma comunicação aberta entre a casa, o hospital e a Escola (Rynard, Chambers, Kinck & Gray, 1998). Mais especificamente, Notoras e colaboradores (2002) verificaram que a maioria dos pais teme que os professores não possuam os conhecimentos e competências necessárias para o acompanhamento adequado da criança.

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Dificuldades e preocupação dos Professores

A maioria dos professores parece sentir-se pouco preparada para acolher uma criança com DC na sua sala (Clay, Cortina, Harper & Cocco, 2004; Prevatt, Heffer & Lowe, 2000). Não saber lidar com situações de emergência (Lynch, Lewis, & Murphy, 1992; McCarthy, Williams & Eidaht, 1996) e com administração de medicação (e.g., administração de insulina) (Lynch, Lewis, & Murphy, 1992) encontram-se entre os receios mais comummente referenciados pelos docentes. Para além disto, os professores mostram-se muitas vezes inseguros em relação ao grau de exigência que devem ter com a criança com DC (Lähteenmäki et al., 2002), quer no que respeita à participação nas actividades escolares de índole académica (Chekryn et al., 1987; Kliebenstein & Broome, 2000; Sexson & Madan-Swain, 1995) ou física, quer no que concerne aos aspectos mais disciplinares (Chekryn et al., 1987; Sexson & Madan-Swain, 1995). Os módicos conhecimentos que a maioria dos professores detêm sobre doenças crónicas (Brook & Galili, 2001), acrescido do contacto pouco frequente com profissionais de saúde (Larcombe, 1995; Mukherjee, Lignhfoot & Solper, 2000) dificultam a informação no que respeita ao diagnóstico, prognóstico, efeitos secundários dos medicamentos, e consequentemente, entravam o acompanhamento da criança. Por exemplo, e como anteriormente referido, algumas doenças ou efeitos secundários dos tratamentos incluem alterações cognitivas, como dificuldades de atenção, memória e velocidade de processamento de informação (Lähteenmäki et al., 2002; Shaw & McCabe, 2008), contudo estes sintomas podem ocorrer simplesmente como consequência de um período mais longo de ausência da Escola. Neste sentido, mais do que a informação facultada pelos pais, os professores sentem necessidade de conselhos médicos (Mukherjee, Lignhfoot & Solper, 2000) que potenciem a sua sensação de controlo no acompanhamento da criança com DC.

A reintegração da criança com os colegas constitui igualmente uma das preocupações dos professores (Lynch, Lewis & Murphy, 1992). A este propósito refira-se que as inúmeras tarefas associadas ao dia a dia do professor potenciam o receio deste de não possuir o tempo necessário para lidar com responsabilidades não directamente relacionadas com o ensino, como sejam providenciar suporte emocional à criança e potenciar a comunicação com outros profissionais da Escola (Mukherjee, Lignhfoot & Solper, 2000).

A apreensão dos docentes parece ser maior nas situações em que o regresso à Escola ocorre após uma ausência prolongada. As dificuldades da criança em acompanhar o ritmo académico dos colegas e os efeitos secundários da medicação a que eventualmente a criança está sujeita, potenciam os receios dos professores nestas situações (Madan-Swain; Fredick & Wallander, 1999). Acrescente-se ainda que, nas situações mais graves, de prognóstico reservado, os professores podem evidenciar dificuldades emocionais (Spinetta, Elliot, Hennessey, Knapp, Sheposh, Sparta & Sprigle, 1982) manifestas em comportamentos de sobreprotecção ou de evitamento da criança.

Finalmente, alguns professores temem que a Escola não apresente condições em termos arquitectónicos que sejam adequados para acompanhar uma criança com DC (e.g., falta de locais para armazenar medicação, sala de tratamento, etc) (Mukherjee, Lignhfoot & Solper, 2000).

Conclusões

Pretendeu-se neste artigo, abordar problemas na reintegração escolar de crianças com DC e identificar algumas soluções que possam prevenir a perturbação da criança, da família e das próprias instituições escolares. Partilhando a asserção da maioria dos autores da psicologia pediátrica, de que a doença é uma potencial obstáculo

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