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6.2 Assistência e cidadania

6.2.3 Arapyaú/ Tabôa

O Instituto Arapyaú foi fundado em 2008 com o objetivo de articular organizações e lideranças para ações de transformação social, apoiadas na agenda de sustentabilidade do país110. Seu fundador, Guilherme Leal possui, com sua família, uma grande extensão de terra na Barra do Tijuípe onde muitos moradores antigos da Vila viviam anteriormente. Guilherme Leal e sua família são donos também da rede de cosméticos Natura, por isso suas terras e o Instituto são denominados frequentemente pelos nativos como “terra da Natura”, apesar de não haver vínculos formais nesse sentido.

Conforme foi mencionado anteriormente, o Projeto Floresta Viva inscreveu-se em um edital em que Guilherme Leal era da comissão julgadora. Nesta ocasião, Guilherme conheceu a região de Serra Grande e, em busca de terrenos acabou comprando a referida terra na região e criando o Instituto Arapyaú na Vila. Conforme consta em página virtual de apresentação do Instituto:

A organização é fomentadora e colaboradora de diversas iniciativas educacionais e culturais na região, incluindo o Movimento Vila Aprendiz, que visa fazer de Serra Grande um espaço de educação; a Nova Escola ou Campus Integrado de Serra Grande, que pretende ser a primeira escola municipal/estadual edificada a partir de uma construção coletiva, em que a comunidade elaborou a arquitetura e repensou o projeto político pedagógico de acordo com as necessidades locais; o Mestrado Profissional em Conservação da Biodiversidade e Sustentabilidade, com aulas presenciais em Serra Grande, ministrados pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas – Ipê; o projeto Agenda Cultural entre outros111.

Após sua fundação em 2008, a primeira ação do Instituto foi a realização do DPR com a comunidade, a fim de compreender as questões sociais ali presentes. A necessidade de melhorias na educação foi a questão mais importante, como a agente de saúde Mara já havia observado (apresentado no Capítulo 5). Em segundo lugar, os moradores avaliaram como urgente a solução da precariedade habitacional. Esses resultados nortearam desde o início toda a atuação do Arapyaú na região com o propósito de construir coletivamente uma agenda para o lugar. A revisão do Plano de Referência Urbanístico Ambiental (PRUA) de Serra Grande foi 110Disponível em: <https://www.facebook.com/pages/Instituto-

Arapya%C3%BA/115805905134668?id=115805905134668&sk=info>. Acesso em: 15 Jan. 2014.

estabelecida como forma de tornar o distrito uma comunidade sustentável, valorizando as características do território, bem como seus atributos naturais e socioculturais. Em 2011 o PRUA foi aprovado pela prefeitura de Uruçuca; entretanto, como a fiscalização é precária na região, somadas às complexas questões de divisões de terrenos por ocupação e herança, a sustentabilidade proposta ainda está longe de ser alcançada.

No que se refere à educação, o Instituto Arapyaú deu início a um grande projeto escolar a ser construído em todos os âmbitos (arquitetônico, nutricional, geográfico, pedagógico) com a participação da comunidade. A chamada Nova Escola, que está ainda em fase de elaboração e construção em um grande terreno às margens da BA-001, reunirá Educação Infantil, Ensinos Fundamental e Médio em uma parceria entre Instituto Arapyaú, estado e município.

Outros projetos também aconteceram na região desde o seu estabelecimento, como o Projeto Vila Aprendiz, que ofereceu oficinas de marcenaria no contraturno para os adolescentes. E uma casa para receber crianças, também no contraturno, para que seus pais pudessem trabalhar. Era nessa casa que funcionava também o Projeto Mães Solidárias (apresentado no Capítulo 5).

Outra participação do Instituto Arapyaú se deu na criação de um mestrado profissional, em uma parceria entre a Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (Escas) e o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ). Anualmente são abertas 12 vagas, subsidiadas pelo Arapyaú e pela Fibria, para a formação de lideranças que trabalham na região. Mas, como relatou Rui Rocha, há aproximadamente quatro anos, o Arapyaú se deu conta de que as questões socioambientais do Sul da Bahia não se restringem à Serra Grande e região, sendo mais amplas e complexas. Assim, o Instituto tomou a decisão de não atuar exclusivamente em Serra Grande, mas continuar investindo nas instituições que já atuam na região. Ao mesmo tempo, ampliou sua área de atuação para todo o Sul da Bahia. “O desafio da retomada de uma economia regional e uma mudança do paradigma produtivo virou o carro chefe do Arapyaú no Sul da Bahia como um todo”, ponderou Rui Rocha.

Figura 46 - Tabôa

Fonte: <https://www.facebook.com/pg/taboafortalecimentocomunitario/photos/?ref=page_internal>. Acesso em: 15 mai. 2020.

A Tabôa tornou-se, então, a “representante do Instituto Arapyaú em Serra Grande” desde a elaboração do PRUA em que foi constatada a necessidade de uma agência de desenvolvimento econômico na região que apoiasse microempreendedores e projetos sociais. Como é destacado na sua página virtual:

O Instituto Arapyaú investiu nessa ideia e formou o Comitê Assessor Voluntário, composto por pessoas de áreas multidisciplinares, para criar um plano de implantação de um fundo. No processo de concepção desta iniciativa, o Comitê concluiu que, para alavancar a economia local, seria preciso fortalecer, além dos negócios, as organizações da sociedade civil, responsáveis por atuar no cuidado do território. O crédito, a capacitação e assessorias tornaram-se as ferramentas desta iniciativa112.

A Tabôa - Fortalecimento Comunitário é uma associação sem fins lucrativos liderada por Roberto Vilela, um paulista vindo para Serra Grande para conduzir a agência criada pelo Instituo Arapyau. Busca fomentar a autonomia da comunidade por meio do apoio a

empreendedores, negócios e organizações da sociedade civil, com programas voltados ao fortalecimento econômico e comunitário. Em 2015, a Agência iniciou seu funcionamento no distrito de Serra Grande, Uruçuca/BA, e em comunidades do entorno do Parque Estadual da Serra do Conduru (PESC). A partir de 2017 ampliou sua atuação para outras comunidades localizadas nos municípios de Ilhéus, Uruçuca e Itacaré.

Atualmente a agência funciona oferecendo microcrédito a pequenos empreendedores, além de apoio a projetos sociais e eventos, tanto financeiro como em logística e estrutura. Sua sede funciona em uma pequena casa na praça Pedro Gomes, aberta durante o horário comercial, com oito funcionários que são selecionados prioritariamente entre os nativos, oferecendo atendimento ao público, palestras, cursos, oficinas.

A agência tem se transformado ao longo destes cinco anos, buscando encontrar a melhor maneira de atuar na comunidade, conforme me relatou Robson. A princípio os editais eram abertos a todos, o que gerou revolta na comunidade, já que muitos chegantes e forasteiros ganhavam os editais por estarem mais preparados e, ao final do período de financiamento, se descomprometiam com os projetos sociais e seus envolvidos. Essa política, inclusive, contribuiu para o aumento da rivalidade entre nativos e forasteiros/chegantes. Os nativos sentiam-se usados pelos forasteiros para ganharem os auxílios financeiros, já que propunham coisas de cima para baixo, a partir da perspectiva de mundo deles e não voltados às necessidades dos nativos. Além disso, quando o dinheiro do Projeto acabava, os forasteiros, em sua maioria, simplesmente iam embora e não voltavam mais, demonstrando desprezo pelas pessoas envolvidas nos projetos, conforme me relataram os nativos várias vezes. Atualmente os editais são abertos apenas para nativos. Assim como o microcrédito e os próprios cargos internos da agência.

A agência também promove eventos voltados à valorização e formação da comunidade. No item seguinte relato três eventos desenvolvidos pela Agência Tabôa com o intuito de promover a interação comunitária e a valorização cultural.