Argumentativo – Discursivos: Argumentação
3.6 Tipos de Argumentos
3.6.2 Argumento de Concessão: Coordenativo e Subordinativo
Concessão, no sentido retórico do termo, é a aceitação de um argumento do adversário, que não se refuta, mas que se faz seguir de um argumento em sen- tido inverso, a partir do qual se conclui. É um tipo de manobra argumentativa muito utilizada na argumentação jurídica, por ser um meio persuasivo mui- to importante.
Concordando “aparentemente” com o adversário que sua tese é justa e per- tinente, o advogado, de um lado, concilia-se com ele, de outro, torna-lhe menos penoso admitir os argumentos contrários a ele.
A concessão é uma estratégia argumentativa e como tal ela é parte integran- te e constitutiva da lógica argumentativa. A organização da lógica argumenta- tiva, segundo Charaudeau (1992, pp. 787-794), engloba cinco componentes, dentre eles: os elementos de base da relação argumentativa, que são a asserção inicial (premissa), a asserção final (conclusão) e a asserção de passagem (in- ferência, argumento, prova). Dentro dessa relação argumentativa ainda há os modos de encadeamento, dentre eles a concessão, as relações semânticas, os tipos de ligações lógicas e a posse do valor de verdade.
Pela convivência de perspectivas ou teses opostas, o texto se constrói numa direção e busca a adesão do auditório para a direção oposta à sua própria cons- trução. A concessão surge, assim, como um passo feito em direção ao adversá- rio; ela é constitutiva de um ethos positivo (abertura, atenção para com o ou- tro)”, mas para tirar a força da tese do adversário.
Esclarece-se, portanto, o fato de que o valor de concessão não é veiculado somente por estruturas com conectores que tradicionalmente são chamados de concessivos (embora, apesar de, mesmo que, ainda que).
O processo da concessão teve seu enfoque discursivo em destaque, a prin- cípio, em 1976, por intermédio de Oswald Ducrot e Jean Claude Anscombre (1983, p. 31). Os autores, ao descreverem, em suas pesquisas, enunciados do tipo “P MAS Q”, registraram o valor concessivo dessa construção. Isso significa
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Há, entretanto, algumas diferenças entre as duas construções – MAS e EMBORA. Nesta, é o argumento mais fraco que vem introduzido por conector; naquela, é o mais forte. Isso ocorre, porque embora tenha valor de concessão, e mas, de restrição, o argumento concessivo, por representar o ponto de vista do opositor, é obviamente o mais fraco; o argumento restritivo, por representar o ponto de vista do locutor, é o mais forte, o que prevalece.
É conveniente chamar a atenção, ainda, para as implicações da opção por estruturas com embora ou com mas. O jogo enunciativo composto da oposição entre os enunciadores, da orientação argumentativa e da articulação entre as duas orações cria vários caminhos na organização textual (GUIMARÃES, 1987, p. 121), pois quando o locutor (emissor) opta por uma estrutura do tipo X MAS Y, ele estabelece com o alocutário(receptor) um começo a que se opõe imedia- tamente. Trata-se, nos termos de Guimarães (1987, pp. 120,121), da estratégia do suspense, estratégia que frustra a expectativa criada pelo que se deu no co- meço, o enunciado concessivo/restritivo.
Se a opção for por EMBORA Y, X, o locutor apresenta como começo algo que não é predominante, que não é sustentável na organização argumentativa, e esse caráter não predominante é antecipado em virtude de o recorte vir introdu- zido pelo conector, não criando expectativa nenhuma no receptor.
O processo de concessão – coordenativo e subordinativo – é um dos meca- nismos que podem ser utilizados para se contestar os argumentos do outro. A concessão é um tipo de manobra capaz de persuadir o leitor, uma vez que, con- cordando com o adversário, pode-se tanto se conciliar com ele quanto tornar mais fácil ao adversário assimilar os argumentos que são contrários a ele.
Na coordenação, que é representada simplificadamente pelos enunciados do tipo E MAS S, o locutor apresenta não somente seu ponto de vista, mas tam- bém o ponto de vista do outro.
Na subordinação, por sua vez, o locutor, por meio da estrutura concessiva, anuncia a relevância do argumento do outro, reconhecendo a sua legitimidade. Percebe-se, portanto, que, enquanto a concessão coordenativa estabelece um contraponto à ideia principal, a subordinativa promove uma conciliação “aparente” entre os argumentos contrários. Entretanto, é importante ressaltar que, nesse processo de conciliação, leva-se em conta a argumentação alheia até certo ponto, ocorrendo uma pseudogenerosidade, uma vez que se tem o objeti- vo de valorizar a posição do interlocutor. Observe:
[...]. Embora o desvio da rota do coletivo para a garagem não tenha sido autorizado pela ANTT, não há nenhum indício nos autos de que os passageiros tenham sido previamente informados, antes de contratar o transporte com a ré, de que o percurso para São Paulo incluiria um desvio para a garagem da ré, fora da rota regular dos veículos terrestres que se dirigem para São Paulo, próximo a local perigoso e durante altas horas da noite.
“O pedido do autor não deve ser acolhido, porque o réu, embora abalroando o automó- vel do autor, nenhuma responsabilidade teve pela colisão, à medida que foi projetado contra aquele outro, em razão do impacto produzido exatamente pelo ônibus que lhe seguia atrás.”
ATENÇÃO
Contra-argumentação
Um modo bastante eficiente de organizar um texto argumentativo é antecipar os argu- mentos contrários à posição que se pretende defender. Uma vez expostos os argumentos alheios, o advogado pode buscar contra-argumentos, ou seja, fatos, dados, reflexões que demonstrem por que os argumentos contrários à posição sustentada no texto poderiam ser questionados. Essa estratégia faz com que o advogado pareça uma pessoa ponderada, ca- paz de analisar diferentes pontos de vista, o que reforça a ideia de que a perspectiva por ele defendida é a mais razoável.