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Função dos Tempos Verbais: Narrativa Jurídica

COMENTÁRIO

1.2 Aspectos Linguísticos: Narrativa Jurídica

1.2.3 Função dos Tempos Verbais: Narrativa Jurídica

Na narrativa jurídica, a atividade verbal é constante e os fatos se transformam. Os sujeitos que desenvolvem as suas ações no tempo e no espaço caracterizam os elementos principais de um texto narrativo. Ocorre uma progressão tem- poral, o texto se desenvolve no tempo, um fato se sucede a outro fato, como sequências temporais, as quais podem ser realizadas por verbos nos tempos pretéritos do modo indicativo.

Os tempos verbais situam o leitor ou o ouvinte no processo comunicacional da linguagem. O pretérito perfeito, o imperfeito e o mais-que-perfeito indicam o que está sendo narrado.

A estrutura do texto narrativo mantém relação com determinados tempos verbais do modo indicativo, especialmente os pretéritos perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito. A utilização desses tempos verbais é muito importante para a progressão do texto, para que ele se constitua em um encadeamento linear ou cronológico de acontecimentos.

Estudar verbos significa estar diante de uma das classes gramaticais com maior ocorrência de itens lexicais de nossa língua - as outras são os substantivos e os adjetivos. É estar diante de elementos estruturais do verbo, como desinên- cias modo - temporais e desinências número-pessoais, vozes dos verbos, con- jugações, modo e tempos verbais, sobretudo, a semântica dos tempos verbais.

Para melhor compreensão da semântica verbal, há necessidade de se estu- dar as definições do verbo e dos tempos verbais do modo indicativo encontra- das em gramáticas.

Para Bechara (2006, p.209), o verbo é “a unidade de significado categorial que se caracteriza por ser um molde pelo qual se organiza o falar seu signifi- cado lexical”. Destaca-se que o papel do tempo está expresso na primeira defi- nição do verbo, enquanto a segunda não menciona o tempo, mas apresenta o verbo como o organizador do falar.

Em relação aos modos dos verbos, Bechara (2006, p.196) ressalta que os mo- dos ocorrem, conforme a posição do falante entre a ação verbal e seu agente.

Ele acrescenta (2006, p.213) que o falante pensa nessa ação e pode considerá-la de cinco formas, a saber: como algo feito, verossímil (modo indicativo - canto, cantei, cantava e cantarei); como um fato incerto (modo subjuntivo - talvez eu cante, se cantasse); como um fato dependente de uma condição (modo con- dicional – cantaria); como uma ação desejada pelo agente (modo optativo – “E viva eu cá na terra sempre triste”); e, por último, como um ato que se exige do agente (modo imperativo - cantai).

Os tempos verbais são (BECHARA, 2006, p.195) estes: presente – referência a fatos que passam ou estendem ao momento em que se fala (eu canto); pre- térito- referência a fatos anteriores ao momento em que se fala e subdividido em imperfeito (cantava), perfeito (cantei) e mais-que-perfeito (cantara); e futu- ro – referência a fatos ainda não realizados e subdividido em futuro do presente (cantarei) e futuro do pretérito (cantaria).

Bechara (2006, p.212) apresenta a seguinte figura 1.1 para ilustrar o tempo, também chamado por ele de nível temporal:

Presente

Passado Futuro

Figura 1.1 –

Na figura 1.1, nota-se que é destacada a relação temporal do acontecimento comunicado com o momento da fala. O presente encerra esse momento, o pas- sado é anterior e o futuro acontecerá depois desse momento.

No pretérito, “a concomitância do momento do acontecimento em relação a um momento de referência pretérito pode exprimir-se tanto pelo pretérito perfeito quanto pelo pretérito imperfeito” (FIORIN, 2010, p.155) e a diferença entre eles está no fato de que cada um tem um aspecto. Enquanto o perfeito marca algo limitado, acabado, dinâmico e pontual, o imperfeito marca algo não limitado, inacabado, estático e durativo. E o pretérito mais-que-perfeito

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afirmações sobre o pretérito são apresentadas na figura 1.2 – Momento de refe- rência pretérito – MR pretérito – (FIORIN, 2010, p. 154):

MR pretérito concomitância não-concomitância limitado acabado dinâmico pontual pretérito perfeito não-limitado inacabado estático durativo pretérito imperfeito anterioridade posterioridade pretérito mais-que-

perfeito imperfectivo perfectivo futuro do pretérito simples futuro do pretérito composto Figura 1.2 –

Observe um exemplo e atente para as explicações dadas sobre os tem- pos verbais:

Gustavo ajuizou, em face de seu vizinho Leonardo, ação com pedido de indenização por dano material suportado em razão de ter sido atacado pelo cão pastor alemão de propriedade do vizinho. Segundo relato do autor, o animal, que estava desamarrado dentro do quintal de Leonardo, o atacara, provocando-lhe corte profundo na face. Em consequência do ocorrido, Gustavo alegou ter gasto R$ 3 mil em atendimento hos- pitalar e R$ 2 mil em medicamentos. Os gastos hospitalares foram comprovados por meio de notas fiscais emitidas pelo hospital em que Gustavo fora atendido, entretanto este não apresentou os comprovantes fiscais relativos aos gastos com medica- mentos, alegando ter-se esquecido de pegá-los na farmácia. Leonardo, devidamente citado, apresentou contestação, alegando que o ataque ocorrera por provocação de Gustavo, que jogava pedras no cachorro. Alegou, ainda, que, ante a falta de compro- vantes, não poderia ser computado na indenização o valor gasto com medicamentos.

Para exemplificar a relação dessas variáveis, Azeredo (2004, p. 129) propõe a seguinte figura 1.3 em uma formulação esquemática.

Ponto de referência (PR) Intervalo de tempo (IT) Passado

Anterior Contemporâneo Posterior

Presente

Anterior Contemporâneo Posterior

Futuro

Anterior Contemporâneo Posterior Momento da

Enunciação (ME)

Figura 1.3 –

Azeredo (2008, p. 358) apresenta uma descrição dos tempos verbais simples no modo indicativo. O presente representa um fato não concluído situado em um intervalo de tempo do qual faz parte o momento da enunciação (ME). O pretérito perfeito representa um fato concluído e se situa em um intervalo de tempo anterior ao ponto de referência presente, compondo uma ação situada em uma época anterior ao ME.

O pretérito imperfeito indica um fato não concluído que se situa em um in- tervalo de tempo simultâneo a um ponto de referência passado ou ainda ante- rior a um ponto de referência futuro. Esse tempo verbal é muito usado no texto descritivo. O pretérito mais-que-perfeito apresenta um fato concluído que se situa em um intervalo de tempo anterior a um ponto de referência passado.

O futuro do presente representa um fato não concluído em um intervalo de tempo posterior ao presente ou simultâneo ao momento da enunciação. E, por último, o futuro do pretérito representa um fato não concluído em um inter- valo de tempo posterior ao passado, simultâneo ao passado ou relativamente hipotético em um intervalo simultâneo. Dessa forma, descrevem-se questões essenciais para a compreensão semântica dos tempos verbais.

Desse modo, o tempo verbal pretérito imperfeito é um assinalador de fatos contínuos ou ações frequentes, quando há repetição, pode apresentar a causa e a consequência no texto. Usa-se esse tempo quando se quer expressar que a ação está em curso ou que as ações foram interrompidas.

O pretérito perfeito exprime um fato concluso e o mais-que-perfeito é usa- do quando o narrador retoma um acontecimento ainda mais anterior aos fatos que narra, pois trata-se de um passado remoto.

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COMENTÁRIO

Deve-se evitar o pretérito imperfeito não só por indicar um fato intermitente, contínuo, mas também por ser a forma verbal muito usada na ficção, e Direito trabalha com o real. Contudo, em determinadas situações, poderá ser utilizado como recurso estilístico para prolongar a conduta; enaltecer ou denegrir, atenuar ou agravar a conduta da parte processual desejada, como: o autor espancava a criança ou batia na criança; a mãe sempre telefonava ao filho quando viajava a trabalho; reiterando a conduta com intencionalidade positiva ou negativa, trabalhando-os com a semântica verbal.

Evita-se o pretérito mais-que-perfeito, por se tratar de um tempo passado muito remoto, distante. Afinal, o Direito é lento, mas um processo não leva mais de cinquenta anos para ser julgado. Logo, esse tempo verbal deve ser usado em circunstâncias especiais que trazem fatos ao caso concreto de tempo bem distante, como ocorre na regularização de documentos em casos de doação feita em um passado muito distante, direito a usucapir ou regularização de documentos em testamento, dentre outros.

ATENÇÃO

Flexão Verbal: Pessoa, Número, Tempo e Modo

O verbo pode se flexionar de quatro maneiras, a saber: pessoa, número, tempo e modo. É a classe mais rica em variações de forma ou acidentes gramaticais. Por meio de um morfema chamado desinência modo temporal, são marcados o tempo e o modo de um verbo. Observe mais detalhadamente esse tema:

O modo verbal caracteriza as várias maneiras de como se pode utilizar o verbo, depen- dendo da significação que se pretende dar a ele. Rigorosamente, são três os modos verbais: indicativo, subjuntivo e imperativo.

A maioria dos gramáticos denomina particípio, o gerúndio e o Infinitivo como formas nominais do verbo, e não como modos verbais, porque existem algumas particularidades em cada uma dessas formas que podem impedir de serem consideradas modos verbais. Observe:

Infinitivo: tem características de um substantivo, podendo assumir a função de sujeito ou de complemento de um outro verbo, e até ser precedido por um artigo.

Gerúndio: assemelha-se mais a um advérbio, já que exprime condições de tempo, modo, condição e lugar.

Particípio: possui valor e forma de adjetivo, pois além de modificar o substantivo, apre- senta ainda concordância em gênero e número.

Volta-se, agora, para os modos verbais, propriamente ditos:

Modo Indicativo: o verbo expressa uma ação que, provavelmente, acontecerá, uma cer- teza, trabalhando com reais possibilidades de concretização da ação verbal ou com a certeza comprovada da realização daquela ação.

Modo Subjuntivo: ao contrário do indicativo, é o modo que expressa a dúvida, a incerte- za, trabalhando com remotas possibilidades de concretização da ação verbal.

Modo Imperativo: apresenta-se na forma afirmativa e na forma negativa, dirigindo-se diretamente a alguém, em segunda pessoa, expressando o que se quer que esta (s) pessoa (s) faça (m). Pode indicar uma ordem, um pedido, um conselho, dependendo da entonação e do contexto em que é aplicado.

Já o tempo verbal informa, de uma maneira geral, se o verbo expressa algo que já acon- teceu, que acontece no momento da fala ou que ainda irá acontecer. São essencialmente três tempos: presente, passado ou pretérito e futuro.

Os tempos verbais são estes:

Presente (amo) – expressa algo que acontece no momento da fala.

Pretérito Perfeito (amei) – expressa uma ação pontual, ocorrida em um momento an- terior à fala.

Pretérito Imperfeito (amava) – expressa uma ação contínua, ocorrida em um intervalo de tempo anterior à fala.

Pretérito mais-que-perfeito (amara) – contrasta um acontecimento no passado ocor- rido anteriormente a outro fato também anterior ao momento da fala.

Futuro do presente (amarei) – expressa algo que possivelmente acontecerá em um momento posterior ao da fala.

Futuro do pretérito (amaria) – expressa uma ação que era esperada no passado, porém que não aconteceu.

Na narrativa jurídica prioriza-se também o estudo do verbo para melhor compreensão dos fatos narrados e descritos e, consequentemente, do caso concreto.

RESUMO

No texto narrativo, a atividade verbal é constante e os fatos se transformam. As partes que desenvolvem as suas ações no tempo e no espaço caracterizam os elementos principais de

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O tempo verbal pretérito imperfeito é um assinalador de fatos contínuos ou ações fre- quentes, quando há repetição, pode apresentar a causa e a consequência no texto. Usa-se este tempo quando se quer expressar que a ação está em curso ou que as ações foram interrompidas ou, então, como recurso estilístico-semântico.

O pretérito perfeito exprime um fato concluso e o mais-que-perfeito é usado quando o narrador retoma um acontecimento ainda mais anterior aos fatos que narra.

VERBO

Modos Posição do falante

frente à ação Tempos

Indicativo – ação realizada

Subjuntivo – expressa a dúvida, a incerteza, as possibilidades de concretização da ação verbal

Imperativo – expressa ação que se exige do agente. Pode indicar uma ordem, um pedido, um conselho Presente – expressa algo que acontece no momento da fala Pretérito – momento anterior em

que se fala Futuro – fatos ainda não

realizados

Perfeito – expressa uma ação pontual, ocorrida em um momento anterior à fala. Imperfeito – expressa uma ação contínua, ocorrida em um intervalo de tempo à fala.

Mais que perfeito – contrasta um acontecimento no passado ocorrido anteriormente a outro fato também anterior ao momento da fala.

Presente – expressa algo que possivelmente acontecerá em um momento posterior ao da fala. Pretérito – expressa uma ação que era esperada no passado, porém que não aconteceu.

Quadro esquemático 2