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Disposição da Narrativa Jurídica: Petição Inicial

Fatos e Construção de Versões

2.5 Disposição da Narrativa Jurídica: Petição Inicial

O Poder Judiciário usualmente não dá início ao processo de forma espontânea: é a parte quem deve provocar o Estado para que o processo comece. A regra do Direito, portanto, é a inércia da jurisdição (artigo 2º NCPC).

Desse modo, o processo começará por iniciativa da parte interessada (au- tor), mediante um ato processual que recebe a denominação de Petição Inicial. A sua estrutura composicional é determinada pelo Novo Código de Processo Civil, especificamente, no artigo 319.

É peça processual necessariamente escrita, que deve ser assinada pelo advo- gado, para que seja preenchido o pressuposto processual: capacidade postula- tória e junto com a Petição Inicial deve ir a procuração outorgada ao advogado. Na Petição Inicial, no elemento intitulado DOS FATOS apresenta-se a narrativa jurídica dos fatos e o motivo que levou o autor a propor a Ação; e o Fundamento Jurídico é posto na parte DO DIREITO com a indicação da lesão sofrida pelo autor, bem como a ofensa ao seu direito.

Na Petição Inicial narram-se os fatos, a lesão sofrida pelo autor, o direito que ampara sua pretensão de compensação pelos danos que lhe foram cau- sados, concluindo com o pedido para que o julgador faça a correta aplicação do Direito.

ATENÇÃO

Pretensão é a expressão utilizada para caracterizar o poder de exigir de outrem coercitiva- mente o cumprimento de um dever jurídico, vale dizer, é o poder de exigir a submissão de um interesse subordinado (do devedor da pretensão) a um interesse subordinante (do credor da prestação) amparado pelo ordenamento jurídico.

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DO RIO DE JANEIRO-RJ.

MARCELO DA PRAIA, nacionalidade, estado civil, profissão, número de inscrição no Cadastro de Pessoa Física, endereço eletrônico, domicílio, residência vem respeito- samente à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 11 da Lei 9656, de 3/6/2014 e artigo 319 e seguintes do NCPC propor pelo RITO COMUM

AÇÃO DE COBRANÇA

em face da SEGURADORA PÉ NA AREIA LTDA, pessoa jurídica, inscrita no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica- CNPJ- nº XXXXXXX, endereço, endereço eletrônico, pelos motivos a seguir:

DOS FATOS (NARRATIVA JURÍDICA)

O autor celebrou um contrato padrão com a ré denominado Seguro Saúde, em 03 de outubro de 2012, pelo qual teria direito à cobertura médico-hospitalar completa em caso de cirurgia de qualquer espécie.

O contrato foi celebrado no Rio de Janeiro, local em que a ré possui filial (doc.1). O autor, dois anos depois de ter assinado o contrato, teve diagnosticada grave en- fermidade renal para a qual o transplante era a única solução (doc. 2).

Tão logo surgiu um órgão compatível, em 16 e outubro de 2014, o autor foi interna- do no hospital Ilha Bela, localizado na Rua do Catavento, nº 13, no bairro de Botafogo, no Rio e Janeiro, e, imediatamente, submeteu-se ao transplante renal, cujo resultado foi positivo. (doc. 3)

As despesas do autor com a cirurgia, incluídos os gastos hospitalares e os honorá- rios médicos, totalizaram em R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais) (doc. 4).

O autor procurou a ré para que esta restituísse a quantia que ele gastou com o seu tratamento. No entanto, a ré negou-se a reembolsar as despesas médico-hospitalares, sustentando que a doença do autor era preexistente à assinatura do contrato e que foi por ele omitida no momento da contratação.

AUDIÊNCIA CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO

O autor não tem interesse na realização de audiência de conciliação ou de mediação. DO DIREITO (ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA)

O autor deve ter direito ao ressarcimento das despesas efetuadas com o seu trata- mento – transplante renal – a que foi submetido, uma vez que os Planos de Saúde es- tão submetidos às disposições do Código de Defesa do Consumidor, enquanto relação de consumo atinente ao mercado de prestação de serviços médicos, logo a restrição da parte ré ofende não só o Código de Defesa do Consumidor, aplicável à relação jurídica discutida, mas também o mencionado art. 11 , da Lei nº 9.656 /98:

É vedada a exclusão de cobertura às doenças e lesões preexistentes à data de con- tratação dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1ºdo art. 1º desta Lei após vinte e quatro meses de vigência do aludido instrumento contratual, cabendo à respectiva operadora o ônus da prova e da demonstração do conhecimento prévio do consumi- dor ou beneficiário.

A Súmula nº 469 do STJ consolida também o entendimento, há tempos pacificado no STJ, de que “a operadora de serviços de assistência à saúde que presta serviços remu- nerados à população tem sua atividade regida pelo Código de Defesa do Consumidor, pouco importando o nome ou a natureza jurídica que adota”. (Resp. 267.530/SP, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJe 12/3/2001).

Como se percebe saber se a doença era preexistente à assinatura do contrato, no caso em tela, é irrelevante, tendo em vista que, 24(vinte e quatro) meses da assinatura do contrato, a cobertura do Plano de Saúde deve ser total, independentemente de a doença ou lesão ser preexistente à sua assinatura ou não, conforme disposto no artigo 11 da Lei nº 9.656, de 3/6/98, acima transcrito.

Além disso, a ré sequer possui elementos que comprovem que o autor omitiu a informação de que a doença que acometeu a parte autora era preexistente à assinatura

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Portanto, as alegações da ré para o não ressarcimento das despesas que o autor teve com o tratamento de transplante renal não procedem e são completamente infun- dadas, pois o autor só teve a doença diagnosticada e tratada depois de terem decorrido 24 (vinte e quatro) meses da relação contratual avençada entre as partes.

DO PEDIDO

Diante do exposto, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, requerer: a) a inversão do ônus da prova a favor do autor, considerando-se a verossimi- lhança das suas alegações e por ele ser parte hipossuficiente, com fundamento no artigo 6º, inciso VIII, da Lei 8078, de 11/9/1990 (Código de Defesa do Consumidor- CDC);

b) a procedência do pedido, condenando a ré ao pagamento da quantia de R$45.000,00 (quarenta e cinco mil reais), acrescida de juros e correção monetária, na forma da lei, bem como dos honorários advocatícios.