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Estrutura Formal: Parágrafo Argumentativo

Argumentação Jurídica

3.3 Estrutura Formal: Parágrafo Argumentativo

Descreve-se que o desenvolvimento do parágrafo dependerá, naturalmente, da macroestrutura do texto. Há certos tipos de desenvolvimento mais adequados ao texto argumentativo, outros, ao discurso narrativo.

Quanto à forma, o parágrafo é indicado materialmente na página digitada ou manuscrita por um ligeiro afastamento da margem esquerda da folha (apro- ximadamente dois centímetros). Isso facilita ao produtor de texto a tarefa de isolar e depois juntar convenientemente as ideias principais de sua composi- ção, permitindo ao leitor acompanhar-lhes o desenvolvimento nos seus dife- rentes estágios.

Observe que, à semelhança do texto como um todo e do desenvolvimento das teses, também cada parágrafo é estruturado em introdução, desenvolvimento e conclusão. Lembrar que essas três partes do texto são compostas de um ou de vários parágrafos e que esses são constituídos por períodos que, por sua vez,

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Segue, agora, um exemplo de parágrafo-padrão tecnicamente estruturado, com introdução, desenvolvimento e conclusão:

Os laudos e pareceres constantes dos autos são superficiais e pouco categóricos. O laudo pericial produzido na medida cautelar de produção antecipada de prova, que muito poderia contribuir para formar o convencimento do juiz, é de nenhuma valia para a compo- sição do litígio, uma vez que os quesitos foram respondidos sem qualquer rigor técnico. Os laudos dos assistentes, por outro lado, foram elaborados com base em informações das partes envolvidas na demanda. Logo, esses laudos são de nenhuma utilidade.

INTRODUÇÃO:

CONSTITUI O TÓPICO FRASAL, QUE TRADUZ UMA AFIRMAÇÃO SOBRE OS TRABALHOS DOS PERITOS:

Os laudos e pareceres constantes dos autos são superficiais e pouco categóricos.

DESENVOLVIMENTO:

CORRESPONDE AOS PERÍODOS EM QUE O JUIZ JUS- TIFICA A IDEIA CENTRAL NA AFIRMAÇÃO CONSTANTE

DO TÓPICO FRASAL.

O laudo pericial produzido na medida cautelar de produção antecipada de prova, que muito poderia contribuir para formar o convencimento do juiz, é de nenhuma valia para a composição do litígio, uma vez que os quesitos foram respondidos sem qualquer rigor técnico. Os laudos dos assistentes, por outro lado, foram elaborados com base em informações das partes envolvidas na demanda.

CONCLUSÃO:

É O FECHAMENTO DO PARÁGRAFO. Logo, esses laudos são de nenhuma utilidade.

Como se pode notar, a conclusão confirma a afirmação inicial: “Os laudos, porque são superficiais e pouco categóricos, não têm nenhuma utilidade”.

Observe outro exemplo:

1§ – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano (CC, art. 186). 2§ – O conjunto probatório está a demonstrar que o acidente causador dos prejuízos que a ação visa a recompor ocorreu por culpa exclusiva do réu. Isto porque, ao passar pelo cruzamento, não obedeceu ao sinal de parada obrigatória. Ao contrário, desenvolvia velocidade aproximada de100km/h e nessa velocidade avançou o sinal “Pare”, passou pelo cruzamento e atingiu a parte traseira do veículo do autor, que trafegava na via pre- ferencial. Tal conduta, indubitavelmente, configura culpa na modalidade imprudência.

3§ – Ora, quem age com culpa, a teor do disposto na citada norma, está obrigado a reparar os danos.

O parágrafo 1caracteriza a introdução (introdução, tese ou tópico frasal), na qual o sentenciante apresenta a premissa maior do silogismo, isto é, a norma aplicável à espécie.

O parágrafo 2 pode ser identificado como desenvolvimento ou argumenta- ção. Nele o sentenciante apresenta as provas que demonstram que a conduta do réu se amolda ao dispositivo legal.

O parágrafo 3 constitui a conclusão, qual seja: o réu agiu com culpa, portan- to, deve indenizar.

Perceba, agora, o exemplo em que a tese é desenvolvida em um só parágrafo:

Temos três espécies de preclusão, a saber: temporal, lógica e consumativa. A preclu- são temporal ocorre quando a parte perde a faculdade de praticar um ato processual por não tê-la exercido no prazo legal. A preclusão lógica decorre da incompatibilidade entre a prática do ato efetivamente praticado e o que se pretendia praticar. A preclu- são consumativa opera-se com a prática, pouco importa se de forma satisfatória ou não. Assim, de qualquer ângulo que se enfoque a preclusão, ela leva sempre à perda do direito de praticar um ato processual, seja porque o tempo útil já se esgotou, seja porque a conduta da parte não se harmoniza com o ato de que deveria ser praticado, seja porque a faculdade já foi exercida.

•  Introdução:

Temos três espécies de preclusão: temporal, lógica e consumativa. Introduz e delimita o tema, estabelecendo um roteiro do que vai ser discutido, conceituado.

•  Desenvolvimento:

Corresponde ao conceito de cada espécie de preclusão. •  Conclusão:

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É comum deparar-se com decisões que apresentam um parágrafo único e mais comum ainda é encontrar decisões com uma infinidade de parágrafos, trazendo, inclusive, palavras anacrônicas e excesso de adjetivações. Ambas as situações, com certeza, irão apresentar desordem de raciocínio (incoerência, falta de unidade, falta de objetividade e outros defeitos textuais).

Como ilustração para esses comentários, apresentam-se dois fragmentos de uma dada decisão judicial:

1 – A materialidade do delito está devidamente comprovada pelo laudo do exame de corpo de delito de fl...., apesar desse mesmo laudo de fl....omitir a gravidade das lesões não é ele imprestável, porque como disse o Representante Ministerial, titular da ação penal, se presta ele para o fim que pretendeu prestar.

A autoria, por banda outra, é clara, evidente e cristalina, pois que a vítima, antes de mor- rer, dissera que, em razão da discussão, o réu lhe dera um empurrão e logo em seguida disparou-lhe contra o peito. Interrogado o réu, na mesma linha de raciocínio, disse que disparou três vezes, alegando legítima defesa. As testemunhas não assistiram à discus- são, nem tampouco ao empurrão e não podem confirmar nada porque não viram nada do que foi narrado na petição inicial. Entretanto, como disse o Douto Promotor já men- cionado, há fortes indícios do crime e da antijuridicidade dele. A excludente da legítima defesa em razão do que afirmado foi, não pode ser reconhecida, como pretende a ilustre Defesa, assim, não se pode no presente caso falar em absolvição sumária, devendo o réu ser julgado pelo tribunal do júri, como de fato será julgado.

2 – Não se pode falar em ilegitimidade ativa. Trata-se de empresa administradora de consórcios com existência regular, conforme comprovação nos autos. A autori- zação de funcionamento é presumida, pela menção no contrato, de seu número. Via de consequência, como assinalado pelo ilustre advogado da autora, cumpria ao réu demonstrar o contrário.

No exemplo 1, além da presença de eco, cacofonia, colisão, de expressões desgastadas, arcaísmos, do abuso de advérbios, infrações gramaticais e de ou- tros vícios de linguagem, percebe-se que o sentenciante, em vez de desenvolver ordenadamente cada ideia central, preferiu juntar tudo em um único parágra- fo, por isso a confusão, a absoluta ineficácia do texto decisório como instru- mento da comunicação.

No exemplo 2, não se encontram os mencionados defeitos do texto anterior. Nota-se, entretanto, a fragmentação do parágrafo. A tese que o sentenciante defende é a da legitimidade ativa (rejeição da preliminar). A ideia central, que também deve constituir a introdução do parágrafo, está expressa na frase “Não se pode falar em ilegitimidade ativa”. Assim, as demais ideias a ela deveriam estar agregadas, como forma de justificá-la, mas isso não ocorre.

Observe, agora, como ficariam os mesmos fragmentos se estruturados de for- ma mais técnica e lógica, a partir da análise dos elementos contidos dos autos:

1–A materialidade do crime vem comprovada pelo laudo de exame de corpo de delito de fl...., que revela que a vítima veio a sofrer lesões corporais em razão de disparo da arma de fogo. Apesar de o referido laudo omitir a gravidade das lesões, ante a ausên- cia de exame complementar, ele, por si só, demonstra que ocorreu o disparo de arma de fogo contra a vítima. Assim, o fato de não se mencionar expressamente o número de disparos que a atingiu em nada interfere no deslinde da questão, sendo, portanto, irrelevante.

Interrogado à fl...., o réu alegou ter disparado três vezes contra a vítima, segundo ele, agindo em situação de legítima defesa, visto que esta teria adentrado o interior de sua residência, proferindo palavras injuriosas contra a sua pessoa.

A vítima, por outro lado, narrou ter sido alvejada pelo réu, quando se dirigia para sua residência, em razão da discussão anteriormente havida entre eles, quando ambos se achavam embriagados e trocaram empurrões.

As testemunhas ouvidas nos autos não presenciaram os fatos, não confirmando, pois, algumas das versões apresentadas.

Entretanto, como bem descreveu o Promotor de Justiça, há fortes indícios de que a versão ostentada pelo réu não corresponda à realidade, pois a vítima teria sido encon- trada ferida e caída ao solo, defronte de sua residência.

Assim, não resultando a excludente da legítima defesa extreme de dúvidas, de modo a poder-se reconhecê-la de plano, por isso o mais recomendável é submeter o réu ao julgamento pelo tribunal do júri.

2–Não se pode falar em ilegitimidade ativa. Trata-se de empresa administradora de consórcios com existência regular, conforme a comprovação nos autos. A autoriza- ção de funcionamento é presumida, pela menção no contrato, de seu número. Via

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Por esse motivo, aconselha-se ao aluno que, antes de ele iniciar a sua pro- dução textual, deve estabelecer um planejamento a ser seguido, com as respec- tivas ideias, apresentando o encadeamento delas, para não comprometer o ra- ciocínio lógico, a coesão e a coerência do texto.