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Tradicionalmente quando se considera o percurso histórico da Ciência da Informação (doravante denominada CI), são lembrados uma série de artigo pré a efetiva enunciação da disciplina, são eles Vannevar Bush e seu artigo As We May Think, Cybernetics or control and

communication in the animal and machine de Norbert Wiener (1948) e The mathematical theory of comunication de Claude Shannon e Warren Wiener (1949), são os artigos sempre

citados pela literatura.

Em 1968 é publicado o clássico artigo de H. Borko Information Science: What is it? cuja a definição de ciência da informação torna-se um dos simulacros fundamentais da disciplina. São artigos interessantes para a o ponto de partida sobre a área, à medida que são con- siderados artigos que fundamentam a Ciência da Informação e de certo modo a mudanças de paradigmas ocorridas na biblioteconomia após segunda guerra mundial.

Estes autores de maneira resumida demarcam alguns dos preceitos tradicionais da Ciên- cia da Informação e suas relações basilares, como é possível encontrar na referida definição de Borko de Ciência da Informação como «a disciplina que investiga as propriedades e com- portamentos da informação, as forças que governam o fluxo de informação, os meios para o processamento da informação para aperfeiçoar seu acesso e o uso» (Borko, 1968, p.3, tra- dução nossa)

A definição de Borko evidencia um preceito fundamental de como a informação era com- preendida nos estágios iniciais da CI, informação é entendida como parte de um processo neutro e sistêmico, possível de ser estudado em suas propriedades e em seu comportamento.

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Assim a CI busca desde seu inicio uma perspectiva integradora dos processos de seleção, institucionalização e uso da informação e durante a década de 1970 o aprofundamento do estudos das relações entre a CI e a biblioteconomia e sua natureza interdisciplinar.

Na atualidade, algumas críticas são feitas na atualidade a esse tipo de definição, levando a uma resignificação a um nãoconceito de informação baseando-se em uma relei- tura dos autores relacionados com a documentação, destacando-se autores como W. Boyd Rayward, Michael Buckland, dentre outros.

Esses autores instauram novas maneiras de conhecer e perceber os documentos em busca de sua organização, representação e sua relação com o desenvolvimento tecnológico, desencadeando uma série de ações de desconstrução conceitos e produção de teorias.

Os arquivos enquanto instituições desde tempos remotos estiveram atrelados a biblio- tecas, como destaca Silva et all. (1998) e Silva (2002) em seu estudo extensivo a respeito dos arquivos e da arquivística.

Contudo, a arquivística moderna, desenvolvida ao longo do século XIX, desenvolveu-se relacionada a história por questões dos usos que serão feitos destes documentos, o surgi- mento, não sem embates da ciência moderna, provoca uma mudança na relação entre as pessoas e os documentos de modo geral, as bibliotecas inseridas em uma dinâmica livre e individual e os arquivos no projeto europeu das identidades nacionais.

A ampliação de princípios e métodos de seleção, descrição/indexação, classificação e acesso irão ao longo dos últimos dois séculos distanciá-las, a arquivística irá ater-se na construção contextual e na compreensão dos documentos enquanto parte de um conjunto. Já a biblioteconomia irá ater-se no entendimento dos documentos em seu conteúdo, múl- tiplo e em sua utilidade.

Essa diferença básica está relacionada com a dicotomia fundamental da CI, a relação entre informação-documento. « Pode-se afirmar que as duas áreas vivem uma constante tensão entre o documento e a informação, ora priorizando um, ora outro» (Smith, 2003, p. 4). Devido as características fundamentais das instituições arquivísticas e do uso que se faz destes documentos, a relação na arquivística ocorre muito mais com a esfera do docu- mento, o contexto, partícula fundamental da organização arquivística dita essa prática, o registro da informação, comprova funções e processos organizacionais.

Existem diferenças claras entre essas áreas na maneira pela qual interpretam e produ- zem suas funções, contudo, segundo a CI, existe uma ligação fundamental que o trata- mento de acervos, o objetivo de dar acesso e a relação com o biônimo informação- docu- mento. Outro ponto, é que estas instituições, no nível acadêmico e no nível prático, dividem recursos físicos, financeiros e pessoal.

A expansão dos últimos 10 anos da arquivística no Brasil, apresenta um novo desafio não só para os arquivistas, mas para os cientistas da informação que vêem, uma relação urgente e benéfica para ambas as áreas. Assim, a aproximação entre essas áreas no campo teórico faz-se primordial, a medida em que, no âmbito institucional estas intersecções ocor- rem desde do início da escrita.

A ligação ocorre no âmbito geral dando a CI a possibilidade de reconhecer padrões e estabelecer relações entre elas, buscando agregar estas áreas a sua prática científica, ela busca fundamentar-se e estabelecer-se enquanto campo «científico» possuindo a arquivo- logia e a biblioteconomia como braços «pragmáticos» deste universo.

A entrada da arquivística no universo da CI, tem se intensificado, não de maneira tran- quila, em uma série de países, incluindo no universo europeu, como é o caso de Portugal e de maneira massiva nos países latino americanos, especialmente, no caso brasileiro. Tam- bém é possivel rever essa aproximação ainda que institucional no América do Norte. 176

Alguns autores, especialmentes aqueles da corrente neodocumentalista, apresentam conceitos e princípios interessantes para serem analisados sob o prisma arquivístico.

A medida em que, para esses autores, buscam assim como Cook com a perpectiva pós- moderna, descrever e definir do fenômeno para a instituição e não da instituição para o fênomeno, Assim, o conceito de informação é uma interpretação e a definição da CI em si mesma, representa um papel secundário no entendimento, por exemplo, da imprensa na ciência e na cultura, quando a atenção volta-se para análise das práticas documentais, ou seja, nos gêneros de texto, dos enunciados, ou seja, das relações entre os documetos e as práticas sociais, movendo-se além das mensagens – a informação – que os documentos são criados para transmitir.

A rejeição do modelo clássico de CI envolve a rejeição do conceito de informação como princípio norteador, pode parecer que irá comprometer a possibilidade de estudos de infor- mação, contudo, se a informação for substituída por concepções de práticas com objetivos sociais – enunciados ocasionais, inscrições, representações gráficas, documentos.

Portanto que os documentos passam por uma institucionalização e por constantes reen- tierpretações e reesinigificações, mudando a maneiral como se entende e o que pode ser –informação– em um determinado documento.

Neste sentido, a CI inicia um processo de revisitação dos teóricos da documentação, bus- cando incluir como o documento era compreendido no projeto teórico da documentação, entre os quais se destaca Suzanne Briet e sua busca pela compreensão das instituições cole- toras e organizadoras de documentos e da importância dada para a materialidade do docu- mento.

Este movimento o chamado por alguns autores como neodocumentalist ou neodocu-

mentalism conta na atualidade com uma série de universidades que o institucionalizam,

com o aparecimento, por exemplo, da document academy fundada por Michel Buckland e Niels Windfeld Lund.2

No texto de Briet Qu’est-ce que la documentation? é possível perceber sua preocupação com as instituições coletam e o profissional responsável por organizar documentos.

Em seu texto fica claro que os arquivos, bibliotecas e museus são diferentes no diz res- peito à organização e representação dos documentos, ou seja, na sua esfera institucional particular, mas devido a suas características constitutivas – o documento – enquanto objeto científico e a coleta de memória e cultura enquanto objetivo profissional, elas aca- bam por se complementar.

Briet exemplifica esta acepção da seguinte maneira:

[...], por exemplo, um novo tipo de antílope foi encontrado na Africa por um explorador, que obteve sucesso em capturar um exemplar e o tramportá-lo para a Europa, para ser exposto em nosso jardim botânico. Um impresso faz com o que o fato seja conhecido no jornal, radio e radio novela. A descoberta torna-se tópico de um anuncio da Academia de Ciências. [...] Os trabalhos são catalogados em uma biblioteca, depois de terem sido anunciados em uma publicação. O documento é re-copiado (desenhos, pinturas, estátuas, fotos, filmes, microfilmes) (1951, p.10, tradução nossa).

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Arquivística, História e Ciência da Informação: diálogos e duelos tema 1

2Ver em BUCKLAND, M. & LUND, N. W. 2008 Document, documentation, and the document academy: introduction,

Com base nesta citação é possível perceber que quem define o que é ou não de um determinado universo é a instituição e o papel que a mesma ocupa na sociedade, o que ocorre com os documentos na medida em que um documento recebe validações de dife- rentes instituições, adquirindo sentidos múltiplos produzindo diferentes respostas em torno de um mesmo fato.

Portanto a aproximação da arquivística a ciência da informação, ocorre devido as mudanças corridas da disciplina durante os anos 1980 a medida em que a produção eletrô- nica de documentos e as mudanças provocadas no dinamismo administrativo institucional criam uma série de dificuldades para a organização e acesso aos documentos, a perspec- tiva, pós-moderna pode ser uma das respostas, porém, não é a única e a mesma pode ser considerada complementar a aquela apresentada pelos neodocumentalistas, a medida em que, as instituições culturais são vistas como parte de uma narrativa.

Considera-se que não só a arquivística tem muito a ganhar com a relação que tem cres- cido com a CI, mas ela mesma tem a possibilidade de tornar-se mais rica e completa, levando a estudos comparativos entre as práticas e teorias e complementando visões e métodos entre elas.