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Enoí Dagô Liedke

91Ao nos depararmos com o processo info-comunicacional nas organizações vários são os

2. INFORMAÇÃO ORGÂNICA FORMAL E INFORMAL

A informação formal é considerada, segundo autores como Carvalho (2001) e Gonçalves e Freire (2007), como aquela emitida ou oriunda de fontes oficiais, como as organizações, as chefias ou as publicações. Por outro lado, a informação informal é aquela que surge de fon- tes humanas, tendendo para a comunicação interpessoal. Por ter como fonte os indivíduos, permite uma maior relação com aspetos presentes e futuros, possuindo um «maior valor estratégico», como o ressalta Carvalho (2001), pois a fonte acaba por agir de certa maneira como um filtro aperfeiçoando e adequando as informações.

Davenport (2002) salienta que a disseminação das TDIC’s e a redução de níveis de gerên- cia têm dado origem a uma maior propagação das informações através do «ambiente orga- nizacional», inclusive da informação informal, que está diretamente ligada com o ato de compartilhar, ação distinta do relato, que por sua vez estaria ligada à transmissão da infor- mação formal. Mas o mesmo autor ressalta que «na maioria das empresas ocidentais, nem a informação formal, nem a informal fluem bem entre departamentos diferentes. Existe todo tipo de barreira3impedindo o fluxo (…)» (Davenport, 2002).

Pode concluir-se assim, como enfatizam Gonçalves e Freire (2007) que os canais infor- mais e a informação informal têm como origem os sujeitos integrantes das organizações, mas não representando seu papel organizacional e sim apenas um ator social emitindo uma informação e não como ator de sua função organizacional. Apesar desta distinção poder-se-á ainda indagar: Não seriam todas as informações produzidas por indivíduos?

Acredita-se que sim, tendo em consideração o conceito operatório de Informação sus- tentado por Silva e Ribeiro (2009), representantes da Faculdade de Letras, da Universidade do Porto, e defensores do Paradigma Pós-custodial. Os autores (Silva et al., 2009, p. 291) estabelecem que Informação é um

(…) conjunto estruturado de representações mentais codificadas (símbolos significantes) socialmente contextualizadas e passíveis de serem registadas num qualquer suporte material (papel, filme, banda magnética, disco com- pacto, etc.) e, portanto, comunicadas de forma assíncrona e multidirecionada, (..).

Logo se informação é uma representação mental composta de um conjunto de símbo- los, independente de sua grandeza – dado, informação ou conhecimento4– como esclarece Zins (2011), sempre será gerada por um sujeito, que por sua vez será o primeiro suporte dessa informação.

Constata-se, portanto, que na verdade a questão de formalidade ou informalidade está muito mais relacionada com o contexto onde os sujeitos estão inseridos e com o papel que os mesmos representam no referido contexto. Para clarificar esta posição reporta-se ao conceito de «contexto» emitida pelo Dicionário Eletrônico de Terminologia em Ciência da Informação que especifica que o

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Identificando a informação orgânica digital espontânea tema 1

3Relembra-se que barreira é um tipo de ruído que pode vir acarretar o não entendimento da informação encaminhada

KUNSCH – Planejamento de relações públicas na comunicação integrada.

4Dados são conjuntos de símbolos que representam estímulos empíricos ou perceções; Informação é um conjunto de

símbolos que representa o conhecimento empírico; Conhecimento é um conjunto de símbolos que representa o

significado (ou o conteúdo) de pensamentos que o indivíduo justificadamente acredita ser verdade. ZINS – Redefinindo a

Identificando a informação orgânica digital espontânea tema 1

Contexto orgânico pode ainda ser institucional (em que a unidade agrega- dora é determinada estruturalmente por uma instituição pública ou privada, mas com aparelho político-administrativo) e informal (em que a unidade agregadora é determinada estruturalmente por entidades individuais e colectivas, (sic) sem ou com reduzido aparato burocrático e de génese e extin- ção rápidas) (DeltCi, 2008).

Pode afirmar-se igualmente que ao estar inserido no contexto orgânico institucional, o sujeito torna-se responsável pela geração e produção das informações formais e no contexto orgânico informal responsável pela produção das informações informais. Seria, contudo, interessante saber se esta divisão tão objetiva é suficiente para caracterizar a produção de um ou outro tipo de informação. Responder-se-á a esta reflexão mais adiante neste estudo. Retoma-se agora as colocações de Gonçalves e Freire (2007) no sentido de melhor com- preender e aprimorar a diferença estabelecida por informação formal e informal. Os auto- res (Gonçalves et al., 2007) auxiliam-se do conceito de Araújo5que considera que os canais de fluxo de informação são os responsáveis pela caracterização da formalidade ou informa- lidade da informação e não o conteúdo da informação. Entende-se, portanto, que a autora e seus seguidores estariam na verdade a tentar identificar a forma como poderá ser resga- tada, como efetivamente se recolhe a informação. Isto porque se estaria a relacionar os média, ou seja, os meios, os canais comunicacionais por onde a informação circula, e, con- sequentemente a capacidade das organizações resgatarem esta informação. Acorda-se que, assim, aparentemente não se estaria a qualificar a informação, mas sim, a caracterizar a Comunicação Formal e Comunicação Informal (Baldissera, 2008) e, como consequência, se estaria a gerar duas terminologias para os mesmos acontecimentos.

Contudo, Le Coadic (2004) que segue a mesma linha de raciocínio apresenta subsídios mais específicos sobre os elementos formais e informais do «processo de comunicação», considerando que as suas diferenças se encontram relacionadas com as características de armazenamento, de atualidade e principalmente de autenticidade da informação. Salienta- -se que também este autor (Le Coadic, 2004) não caracteriza o conteúdo, os elementos do discurso contido na informação, mas aponta as características da informação relacionadas com a sua amplitude, o seu armazenamento, a sua disseminação e principalmente a sua capacidade de recuperação para estabelecer sua formalidade ou informalidade, conforme demonstra o quadro comparativo reproduzido a seguir.

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vi encontro ibérico edicic 2013: globalização, ciência, informação atas

Pública (audiência potencialmente importante)

Informação armazenada de forma permanente, recuperável Informação relativamente velha

Informação comprovada Disseminação uniforme Redundância moderada Ausência de interação direta

Privada (audiência restrita)

Informação não armazenada, não recuperável Informação recente

Informação não comprovada

Direção de fluxo escolhida pelo produtor Redundância às vezes muito importante Interação direta

Elemento informal Elemento formal

5ARAÚJO, Vania Maria Rodrigues Hermes de. Estudo dos canais informais de comunicação técnica: seu papel em laboratórios

de pesquisa e desenvolvimento, na transferência de tecnologia e na inovação tecnológica. 1978. Dissertação (Mestrado em

Ciência da Informação) – IBICT – UFRJ, Rio de Janeiro, 1978.

Partindo desta classificação, ao analisar-se o quadro anterior, constata-se, porém, que atualmente com a utilização e a disseminação das TDIC’s vários dos aspetos listados por Le Coadic (2004) possuem configurações conflituosas com a atual realidade, como é exemplo o caso do correio eletrónico. Com efeito, ao utilizarem o serviço de correio eletrónico os inte- grantes do público essencial de sustentação primário de uma organização enviam e-mails com determinadas informações que podem ser facilmente eliminados e seus conteúdos não serem recuperáveis, ocorrendo assim a perda das informações. De facto, podem tam- bém ser emitidos e-mails apenas para uma parte dos integrantes deste segmento de público, ou seja, para uma audiência restrita. Esta situação caracterizaria a informação con- tida nos e-mail com os elementos informais estabelecidos por Le Coadic (2004). Mas, por outro lado, se estes e-mails integrarem as ações estabelecidas através de um Plano de Comunicação e forem utilizados para a transmissão de informações oficiais da Diretoria de uma organização para os mesmos integrantes do segmento do público essencial de susten- tação primário, passariam então a ser caracterizados com os elementos formais ou seja seriam informações orgânicas formais «que oficializam e ratificam» as ações organizacio- nais (Gonçalves et al., 2007).

Mas o mais importante de tudo se o aplicativo de correio eletrónico for oferecido pela organização, controlado, monitorizado e gerido por elementos integrantes da organização, toda a troca que ocorresse via este aplicativo estaria a existir dentro de um contexto de for- malidade, passando posteriormente a ser discutido, em função de seus conteúdos, a neces- sidade de manutenção e inclusão de quais deles no rol de informações a serem preservadas. Neste cenário verifica-se uma certa dificuldade de caracterizar, nos moldes até aqui apresentados, o que são informações orgânicas formais e informais. Vincular a classificação da sua origem às pessoas é incoerente, uma vez que sempre haverá um sujeito emissor. Por outro lado, vinculá-las somente aos meios ou canais de comunicação também torna-se relativamente instável, pois como se viu um mesmo meio, pode ser utilizado de maneira formal ou informal, segundo os critérios anteriormente descritos.

Assim, o mais indicado para sua caracterização poderá ser o contexto onde a mesma é produzida e disseminada, mas ainda assim com ressalvas conforme alerta o conceito esta- belecido pelo Dicionário Eletrônico de Terminologia em Ciência da Informação (DeltCi, 2008). Isto porque, ao explicitar o contexto efémero, é especificado que certo tipo de con- texto efémero pode converter-se em contexto orgânico mas informal. O dicionário (DeltCi, 2008) ressalta que a linha divisória é ténue, mas que existe. Deste modo, a definição chama a atenção para o facto de que os contextos podem se cruzar, se sobrepor ou coexistir, pro- piciando uma relação contextual de complexidade variável.

Além disso, considera-se que a inclusão das TDIC’s acentua ainda mais o caráter de rela- ções contextuais de complexidade variável. Assim, entende-se a necessidade de uma revi- são da classificação para a comunicação da informação orgânica e consequente uma inclu- são de uma tipologia que possibilite, deste modo, identificar e classificar de uma forma mais coerente as partilhas informacionais orgânicas efetuadas através dos meios digitais informais.

Relembra-se, aqui, que um dos objetivos deste trabalho visa apresentar esta nova classi- ficação para as informações partilhadas entre os integrantes do público essencial de sus- tentação primário. Esta nova classificação possibilitou a construção de um Modelo info-

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6Modelo apresentado e defendido em LIEDKE – Informação orgânica digital espontânea – Estudo exploratório para a sua

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comunicacional mais completo6 e consistente que conjugou tanto as questões do Com-

posto Comunicacional (Kunsch, 2003), as TDIC’s (CORR A, 2009), o contexto (DeltCi, 2008) e a partilha de informação orgânica (CArvalho et al., 2002) entre os integrantes do segmento de público aqui estudado. Esta nova classificação também tem como objetivo auxiliar aos gestores da informação como se aclara a seguir.