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Enoí Dagô Liedke

91Ao nos depararmos com o processo info-comunicacional nas organizações vários são os

4. POR UMA TIPOLOGIA DIFERENCIADA

Parte-se do pressuposto que vários são os temas de informações que o utilizador-média7 (TERRA, 2011) integrante do público essencial de sustentação primário pode registar e tro- car através dos novos canais de comunicação informal por eles estabelecidos gerando con- teúdos diversos como demonstraram os estudos de White (2011), de Zhao e Rosson (2009), de Dimicco e et al. (2008) ou de Roman (2005), entre outros.

Porém considera-se que antes de serem exploradas as possibilidades de produção e de troca de informações informais, torna-se imprescindível verificar se estes média servem também como suporte e se propiciam a circulação da informação orgânica. Caso isso ocorra esta informação orgânica estará a ser registada e trocada/partilhada de forma distinta da estabelecida pela organização, exercendo o público essencial de sustentação primário o papel de utilizador-média, sem o controlo da mesma. O interesse por conhecer estes novos meios de comunicação utilizados pelos colaboradores não possui o intuito de vigilância do comportamento info-comunicacional destes, mas sim, propiciar subsídios para que os pla- neadores tanto da Comunicação Organizacional/Relações Públicas, como os responsáveis pela Gestão da Informação das organizações, conheçam de maneira mais abrangente sua conduta em relação a troca/partilhas de informação orgânica.

Com o intuito de compreender e embasar este posicionamento passa-se a explorar os aspetos da comunicação interna e os fluxos de informação neste contexto organizacional. Segundo Wilden (1984) o tipo da informação está diretamente relacionado com o con- texto onde a mesma está inserida, logo, ao se estabelecer que o contexto aqui estudado é o das organizações, tem-se como objeto de estudo a informação orgânica (Carvalho et al., 2002). Neste sentido Carvalho e Longo (2002, p. 115) enfatizam que as informações orgâni- cas são aquelas que «foram produzidas no cumprimento das atividades e funções da orga- nização» e que «mantêm relações orgânicas entre si». Por sua vez Canário (2010, p. 122) res- salta que «pensar que a informação da organização é apenas aquela que se encontra nas Bases de Dados geridas pelo Departamento de Tecnologias da Informação é uma ideia generalizada, mas completamente incorreta», existe, complementa a autora, a necessidade

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7Destaca-se que o termo original apresentado e defendido pela autora é o de usuário-midia, contudo em função da grafia

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8Ressalta-se que independente de ocorrer ou não um Plano de Comunicação que abranja a Comunicação Interna Formal

ela existirá através das rotinas operacionais e administrativas existentes entre setores e colaboradores, a saber emissão de comunicados, memorandos, ordens de serviço, ofícios entre outros.

de se conhecer os fluxos da informação, os formatos em que se encontra disponível, a sua localização e os processos em que a informação é input ou output para assim, consequen- temente, poder-se localizá-la, capturá-la e recolhê-la para uso posterior.

Assim, ao pensar na comunicação interna das organizações é necessário, paralelamente, pensar por onde e como circulam e onde se encontram os tipos de informações comparti- lhadas e, consequentemente, as informações orgânicas. Com o intuito de entender estas possibilidades de circulação e de fluxo da informação, recorre-se a um conjunto de repre- sentações gráficas que demonstram estes possíveis caminhos e propiciam uma visão dos fluxos info-comunicacionais internos focada na informação orgânica.

A primeira representação – Figura 1 – detém-se a apresentar, o contexto organizacional e nele a comunicação interna formal e os fluxos informacionais orgânicos.

Assim a Figura 2 descreve, de forma utópica, um contexto organizacional em que decor- reria somente ações e meios de comunicação interna formal e consequentemente só circu- laria neste contexto informação orgânica. Nesta representação, onde são unicamente utili- zados os meios de comunicação estabelecidos quer pelo planeamento da comunicação interna formal (Baldissera, 2008), quer pelas atividades administrativas e operacionais8, as informações que circulam tem exclusivamente caráter formal. Logo, elas possuem os ele- mentos estabelecidos por Le Coadic (2004), a saber: ser uma informação cuja validade é comprovada, não existir uma interação direta entre emissor e recetor, ser direcionada a uma audiência relevante, ser disseminada entre esta audiência de maneira uniforme, pos- suir uma redundância moderada e, principalmente, ser uma informação armazenada de forma permanente, com capacidade de ser recuperável, uma vez que o suporte utilizado encontra-se totalmente sob a tutela e o controlo da organização.

Entretanto, consta-se que as organizações, por serem sistemas abertos, interagem, cons- tantemente, recebem e geram influências da e na sociedade onde estão inseridas. Além disto as organizações são constituídas por indivíduos que criam laços e estabelecem rela- ções, independentemente dos formalismos hierárquicos e setoriais que venham a existir, e que assim efetuam trocas/partilhas informacionais autónomas das estabelecidas pelas organizações (Baldissera, 2008). Logo, torna-se necessária a inclusão na representação da comunicação interna dos fluxos da comunicação interna informal e consequentemente dos caminhos que podem ser percorridos por ela (DeltCi, 2008).

Ao serem incluídos, neste mesmo contexto organizacional, os fluxos da comunicação informal (Marín et al., 1999) passa-se a ter a Figura 3, apresentada a seguir, e onde verifica- se uma sobreposição de direções do próprio fluxo da informação que se for partilhada por estes meios de comunicação, inseridos quase que de forma aleatória pelos integrantes da organização, passa a ter novas características além de ter a capacidade de em algumas situações gerar ruídos à comunicação formal.

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FIGURA 3 – A Comunicação Interna Formal e Informal e os fluxos da Informação Orgânica Formal e Informal

Salienta-se que esta representação gráfica da Figura 3, assim como a anterior, Figura 2, é idealizada e apresentada ainda sem considerar a inclusão das TDIC’s, ou seja, ambas as figuras representam o contexto organizacional onde os suportes disponíveis para o registo das informações geradas e transmitidas através da comunicação interna informal não são propícios a captura e recolha da informação. Acresce-se que a informação, ao seguir os novos fluxos info-comunicacionais informais, assume os elementos estabelecidos por Le Coadic (2004), a saber, ter sua direção de fluxo escolhida pelo produtor da informação, ser direcionada a uma audiência restrita, não ser passível de comprovação, possuir redundân- cia para vir a ter credibilidade, e principalmente não ser armazenada, o que impede muitas vezes sua recuperação.

Além destes elementos uma outra particularidade acompanha esta informação con- forme esclarece-se a seguir. Entende-se que enquanto a informação orgânica formal é

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gerada na e pela organização, ou seja, os colaboradores que a produzem, a registam e a dis- tribuem, o fazem como integrantes do contexto organizacional representando o papel à eles estabelecidos para o exercício profissional ao qual foram contratados. Entretanto ao produzirem, registarem e distribuírem a até aqui chamada de informação orgânica infor- mal passam na verdade a fazê-lo em outro contexto. Isto porque o contexto destas trocas, apesar de aparentemente pertencer ao contexto organizacional, de estar inserido no mesmo, na verdade ele decorre das relações interpessoais que vão sendo construídas, inde- pendente de função, cargo ou atividade exercida na organização. Ou seja, a informação que circula nestes caso não possui organicidade, ela pode até fazer alguma referência à organização mas será uma informação sobre a organização, e não da organização. Logo, a nosso ver, não deverá possuir na sua nomenclatura a identificação de orgânica. Deve sim ser identificada apenas com a denominação de informação informal ou informação não orgânica. Por sua vez considera-se que a informação orgânica formal, uma vez que sempre terá em seu cerne a formalidade organizacional, deva ser denominada apenas de informa- ção orgânica.

Contudo o desenvolvimento das TDIC’s incluiu novos fluxos à Comunicação. Usados, num primeiro momento, apenas como «artefactos» para o exercício profissional, as TDIC’s após sua disseminação e devido a sua versatilidade e popularidade permitem que hoje

uma grande percentagem de indivíduos os possua para uso pessoal9. Assim, neste novo

contexto organizacional, onde as TDIC’s estão também à disposição do uso e da aplicação pelo público essencial de sustentação primário, para a produção e o registo da informação orgânica, esta passa a ter um novo comportamento, não mais vem a ocorrer somente nos canais de comunicação e média formais que a organização estabelece, mas também nos escolhidos espontaneamente pelo colaborador que agora desempenha o seu papel de uti- lizador-média. Com esta nova oportunidade, criam-se novos fluxos informacionais sem a tutela e o controlo da organização onde os integrantes do público essencial de sustentação primário se encontram inseridos, mesmo que, nestes «novos» média, os colaboradores estejam registando informações orgânicas, quais sejam, informações da e na organização. Com a finalidade de demonstrar estas possibilidades apresenta-se a Figura 4, com uma representação da comunicação interna formal e informal num contexto organizacional após a inclusão das TDIC’s. Nesta nova conceção do contexto organizacional, que agora ocorre tanto offline como online, os integrantes do público essencial de sustentação primá- rio das organizações passam a ter ao seu dispor uma gama de dispositivos eletrónicos e digitais onde são oferecidos os mais diversos tipos de serviços e aplicações digitais, para serem usados tanto no ambiente organizacional, como externamente, configura-se desta forma um contexto organizacional expandido.

9Conforme dados de 2010 cerca de 44,6% dos portugueses já faziam uso da Internet naquele ano e destes, a quase

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Considera-se que em função das suas características diferenciadas de registo e da sua circulação, ocorre a necessidade não só de estabelecer uma nova nomenclatura para este tipo de informação orgânica que circula em TDIC’s distintas das estabelecidas pela organi- zação, mas também ocorre a necessidade de se repensar as nomenclaturas das informa- ções que circulam em fluxos info-comunicacionais internos conforme já citado anterior- mente. Isto porque nesta nova situação os elementos identificadores da comunicação da informação determinados por Le Coadic (2004), não mais se aplicam as características desta nova realidade de comunicação de informação orgânica, conforme explicitamos na Secção seguinte.