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O projeto consolidou-se respeitando as seguintes estruturas: 1 – Leitura do livro

Extraordinário de R. J. Palácio, e exibição do filme baseado na obra literária; 2 – Apresentação

audiovisual do conceito de gentileza e de invisibilidade social; 3 – Confecção de flores em papel crepom e bilhetes com frases que demonstrem gentileza; 4 – Intervenção na Praça Costa Pereira; 5 – Introdução ao gênero textual relato de experiência 6 – Produção textual; e 7 – Exposição do projeto na escola. É importante enfatizar que os alunos estiveram cientes a todo momento sobre o andamento do projeto, e que, inclusive, o nome foi idealizado por eles.

Apresentamos ainda para os alunos a trajetória de José Datrino, mais conhecido como Profeta Gentileza, que criou uma espécie de livro aberto, com frases sobre a importância de ser gentil, marcadas pelos muros da cidade do Rio de Janeiro.

A frase mais famosa atribuída ao profeta é “Gentileza gera gentileza”, frase essa que os alunos reconheciam, mas nada sabiam sobre sua autoria. Foi proposto então um debate, evidenciando os conceitos de gentileza e de invisibilidade social. O objetivo da conversa era demonstrar como as duas coisas estão diretamente relacionadas, já que a falta de empatia e respeito com a realidade das pessoas ao nosso redor faz com que, socialmente, elas se tornem invisíveis.

Quando os adolescentes participaram da oficina para confecção de flores em papel crepom, além de serem orientados sobre o trabalho manual a ser realizado, os discentes foram instigados a comentar suas percepções, tanto sobre o material que ali estava sendo produzido, quanto sobre a vida além dos muros da escola.

Figura 1 - Confecção de flores em sala

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ARAÚJO, Fernanda | MELO, Jenaffer

PENNA, Marcela | COITINHO, Maria | LYRIO, Patrícia

Figura 2 - Confecção de flores em sala

Fonte: Arquivo pessoal, 2018

Figura 3 - Confecção de flores em sala

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Figura 4 - Confecção de flores em sala

Fonte: Arquivo pessoal, 2018

Durante a produção das flores em sala de aula, deparamo-nos com alguns comentários depreciativos. Cabe ressaltar que o pessimismo era uma característica presente na turma, o que sempre nos causou, como futuros professores, um sentimento de inconformismo. Alguns adolescentes externaram que “ser gentil não muda o mundo”, que “atitudes pequenas não bastavam”, o que nos remete ao imediatismo cada dia mais forte em nosso tempo. Foi preciso então mudar um pouco o teor da conversa, focando que nenhuma mudança acontece bruscamente, e que toda e qualquer atitude positiva tem o poder de gerar melhorias, já que o ser humano conhece e transforma o mundo e sofre os efeitos de sua própria transformação, estando em constante relação dialética com esse mundo (FREIRE, 1980).

Desse modo, pôde-se mostrar que todos eles, enquanto sujeitos ativos em sociedade, podem atuar com responsabilidade e gerar mudanças. É de suma importância que haja consciência de que o microssocial exerce influência sobre o macrossocial, e que a mudança não é meramente de grandeza ou de ponto de vista, mas de substância ou qualidade, em uma cadeia ininterrupta de relações que ligam indivíduos a diversos grupos sociais, interdependentes ou não (BRANDÃO, 2001). Ao término desse bate papo, foi pedido que os alunos fizessem uma pesquisa em casa, e retornassem para aula seguinte com frases e figuras que representassem, segundo o seu ponto de vista, o que significaria “ser gentil com o outro”. Retornaram à aula seguinte com frases escritas por eles mesmos, assim como muitos trechos retirados da internet.

Posteriormente, os alunos foram direcionados à Praça Costa Pereira, e lá ofereceram as flores, anteriormente confeccionadas, a quem por ali passava. Muitas pessoas foram abordadas, dentre eles comerciantes e moradores de rua. As reações foram diversas: alguns se emocionavam e dividiam com os alunos um pouco de suas histórias; outros recebiam, agradeciam, e seguiam seu caminho.

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ARAÚJO, Fernanda | MELO, Jenaffer

PENNA, Marcela | COITINHO, Maria | LYRIO, Patrícia

Figura 5 - Entrega de flores na praça Costa Pereira

Fonte: Arquivo pessoal, 2018.

Figura 6 - Entrega de flores na praça Costa Pereira

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Figura 7 - Entrega de flores na praça Costa Pereira

Fonte: Arquivo pessoal, 2018.

Figura 8 - Entrega de flores na praça Costa Pereira

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ARAÚJO, Fernanda | MELO, Jenaffer

PENNA, Marcela | COITINHO, Maria | LYRIO, Patrícia

Durante a ação na praça, houve situações de recusa das flores, e isso gerou sentimento de frustração e desânimo nas crianças. De volta à sala de aula, naquele mesmo dia, iniciamos um diálogo com eles, em que o intuito era ouvir o que eles tinham a relatar sobre a intervenção. Cada um destacou algum ponto diferente, e, após esse momento catártico, os alunos foram introduzidos ao gênero textual denominado Relato de Experiência, que se trata de uma sequência narrativa com a descrição de lugares, vivências e sensações, com o objetivo de tornar conhecido algum fato vivido pelo autor.

Foi trabalhado, nessa etapa, o processo de escrita e reescrita, que consiste em possibilitar que o aluno seja o primeiro a corrigir o seu próprio texto. Foram feitas diversas correções e o material escrito era devolvido aos discentes com anotações do que poderia ser melhorado e apontamentos ortográficos.

Ao reescreverem seus relatos, os alunos tiveram a oportunidade de corrigir possíveis desvios de ortografia, além da possibilidade de expor suas ideias com mais clareza, ainda que, de forma geral, tenhamos observado a dificuldade em seguir uma ordem cronológica, característica marcante do gênero textual trabalhado, e a ineficiência na realização das correções ortográficas apontadas pelos pibidianos. Dessa forma, a produção textual final contém alguns erros ortográficos e de concordância, como consta em anexo, apesar de todas as orientações e aulas voltadas para a reescrita. Isso, infelizmente, para uma turma que se despedia do ensino fundamental, é preocupante e acende um alerta em relação ao trabalho com a escrita estabelecido na escola.

Com os relatos em mãos, e a fim de que todo este trabalho não se tornasse apenas mais um instrumento de valoração acadêmica, decidimos encerrar o projeto com uma exposição, realizada no dia 13 de novembro, quando é comemorado, mundialmente, o Dia da Gentileza.

Figura 9 - Exposição do projeto “A arte de ser gentil”

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Figura 10 - Exposição do projeto “A arte de ser gentil”

Fonte: Arquivo pessoal, 2018.

Figura 11 - Exposição do projeto “A arte de ser gentil”

Fonte: Arquivo pessoal, 2018.

A exposição continha os relatos de experiência e fotos, contando como nasceu a ideia e também como tudo foi desenvolvido, deixando um espaço em branco para que os próprios alunos escrevessem suas impressões sobre aquele projeto, que foi construído por todos, mas que se tornou muito mais deles do que nosso. Além disso, produzimos também

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ARAÚJO, Fernanda | MELO, Jenaffer

PENNA, Marcela | COITINHO, Maria | LYRIO, Patrícia

um vídeo com todas as etapas realizadas ao longo do trabalho, para que eles se vissem e se orgulhassem daquilo que produziram.

Procuramos deixar claro para os discentes que o conhecimento adquirido através do projeto “A arte de ser gentil” não foi unilateral; aprendemos com eles na mesma medida em que aprenderam conosco, em um movimento dialético, como destaca Freire (2013), em que o ensinar e o aprender vão se tornando conhecer e reconhecer; o educando vai conhecendo o ainda não conhecido e o educador reconhecendo o antes sabido. Prosseguindo, o autor pontua que “A educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é a transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados” (FREIRE, 1980, p. 69).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo como pano de fundo a perspectiva da educação crítica, podemos perceber que a produção textual no ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa é uma ferramenta muito importante para o desenvolvimento do senso crítico dos educandos.

A partir da comparação entre a produção oral e a produção escrita, observamos melhorias na habilidade de produção textual e ainda que alguns erros ortográficos e de concordância se mantiveram após as orientações de correção, saímos com um saldo positivo. O projeto buscou estimular a leitura e a escrita dos discentes e, ao mesmo tempo, proporcionar uma vivência humanizadora e sociocultural, reconhecendo que a educação precisa ser algo transformador e a prática docente precisa caminhar junto com a realidade, ao compreender que ensinar não é transmitir conhecimento, mas estabelecer uma ponte com objetivo de criar possibilidades para a produção e construção de novos saberes (FREIRE, 2013).

Percebemos também o impacto que esse projeto produziu em alguns alunos, visto que essa turma apresentava muitos problemas de indisciplina e bullying. Durante a construção do projeto, foi visível a mudança de atitude na postura dos educandos que, inicialmente, se mostraram hostis e desmotivados e que, ao final, conseguiram enxergar a importância e relevância dos temas abordados. No momento em que eles se sentiram coprodutores da ação, mostraram mais interesse e comprometimento com as atividades propostas. No dia do encerramento do projeto, muitos se emocionaram e agradeceram muito, e ouvimos por algumas vezes frases do tipo “obrigado por não terem desistido do nono ano”.

Com isso, pudemos verificar a importância de uma prática que estimule a autonomia e a emancipação do indivíduo. Encerramos o projeto com a sensação de que conseguimos estimular nos alunos o senso crítico e o exercício de reflexão, sobre eles próprios e sobre o mundo, e que esses são estabelecidos no dia a dia através de suas vivências enquanto sujeitos atuantes em sociedade. É preciso ressaltar também a importância do Pibid na trajetória do estudante de licenciatura, pois essa experiência contribui de forma positiva para a práxis do futuro professor e, desse modo, ele consegue (re)pensar práticas pedagógicas que auxiliem na formação de indivíduos críticos capazes de realizar a transformação social da realidade em que vivem.

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