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3 O PROJETO “CONSCIÊNCIA NÃO TEM COR”

No mês de outubro, fomos desafiadas pelo Supervisor do Pibid para atuar na elaboração e execução de um projeto referente ao Dia Nacional da Consciência Negra, que

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seria trabalhado com todos alunos da EMEF “São Marcos” e finalizado com apresentações no dia 20 de novembro de 2018.

O Dia da Consciência Negra é uma data importante para o Movimento Social Negro. Foi criado para homenagear o herói negro Zumbi dos Palmares, que simboliza a resistência e a luta dos povos negros por igualdade de direitos na sociedade brasileira (LOPES; SANTOS, 2011). O negro já foi considerado um ser da escuridão, amaldiçoado pela cor de sua pele, exposto como “um objeto de trabalho, um verdadeiro prisioneiro dos senhores de engenho, absolutamente desvalorizado pela sociedade” (SILVA, 2011, p. 12).

E ainda hoje, em pleno século XIX, vivenciamos situações de preconceito para com o povo negro, além de inúmeras outras formas de discriminação ligadas às pessoas que, de certa forma, se apresentam “diferentes” dos padrões considerados “normais” pela sociedade.

Diante desse cenário, percebemos a necessidade de trabalhar a temática “respeito” como foco central do nosso Evento, visando discutir com os alunos acerca do racismo e dos processos de discriminação das pessoas negras, incentivando-os a reconhecer as diferenças, respeitando o próximo de maneira que este seja considerado por suas atitudes e potencialidades, independentemente de cor, raça ou religião, dentre outros aspectos. A partir dessa perspectiva surgiu o título do nosso projeto: “Consciência não tem cor”.

Assim, para a elaboração do projeto, nos reunimos diversas vezes para o planejamento das atividades e a criação do cronograma das apresentações. Num primeiro momento, duas acadêmicas trabalharam com diversas turmas a história da origem do Dia da Consciência Negra e, diante disso, os próprios alunos desenvolveram desenhos com base no conhecimento compartilhado com as bolsistas e os demais colegas de classe. Num segundo momento, começamos a desenvolver com os alunos das turmas do 1º ao 5º ano outras discussões voltadas para a temática central do projeto, bem como a escolha do que seria apresentado e os ensaios dessas apresentações que fariam parte da “culminância” do projeto. Durante os ensaios das atividades, tais como coreografias para músicas, dramatização, leitura de textos, roda de capoeira, etc., foi possível perceber o comprometimento por parte dos alunos. As atividades feitas fora da sala de aula despertaram o interesse dos estudantes, dessa maneira ocorreu uma aproximação ainda maior e mais prazerosa, de forma lúdica, em que as crianças se mostravam muito receptivas e atentas ao que estava sendo produzido.

Como já mencionado, a conclusão do projeto “Consciência não tem cor”, ocorreu no dia 20 de novembro. Esteve presente no evento o grupo “Nação para Cristo” que, juntamente com alguns alunos da escola, realizaram uma apresentação de “roda de capoeira”, mostrando técnicas de defesa que os africanos manifestavam na época da escravidão. Essas técnicas se enraizaram na cultura afro-brasileira e estão presentes na cultura de diversas regiões do nosso país, o que nos faz lembrar os ensinamentos do mestre: “a partir das relações do homem com a realidade, resultantes de estar com ela e de estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, vai dinamizando o seu mundo. Vai dominando a realidade. [...] Vai acrescentando a ela algo de que ele mesmo é o fazedor. [...] Faz cultura” (FREIRE, 2011, p. 60).

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Durante a realização do projeto também procuramos destacar a importância das comunidades quilombolas presentes em nosso estado. Atualmente, segundo a Fundação Cultural Palmares, fundada pelo Governo Federal em 1988, existem 29 comunidades quilombolas no Espírito Santo, dentre elas a Comunidade de São Jorge, em São Mateus; de Linharinho, em Conceição da Barra e a Comunidade Quilombola de Vargem Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, que foram estabelecidas desde o século XIX. Os quilombos surgiram como uma forma de organização social para fugir das mãos de pessoas que escravizavam os negros como se fossem meras mercadorias (OLIVEIRA, 2011).

Nesse contexto, escolhemos a afirmação de Thiago Saraiva: “Não precisamos de um dia da consciência negra, branca, parda, amarela, albina... Precisamos de 365 dias de consciência humana”, enfatizando que todos os seres humanos são iguais e precisam ser tratados com dignidade e justiça social. Buscando reforçar essa ideia, dentre as apresentações, ocorreu a declamação de um poema criado por uma das bolsistas, salientando o respeito e a aceitação que todos as pessoas merecem perante a sociedade. Segue um trecho do poema de Poema de autoria da graduanda em Pedagogia do Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Itapina, Luciana de Souza Carvalho:

Somos todos seres humanos Não esqueça, por favor Somos apenas diferentes No jeito de ser e na cor O mundo está precisando de mais respeito e amor Queremos um mundo melhor sem preconceito e rancor.

No quadro 2, a seguir, pode ser observado o cronograma do evento, contendo a sequência de atividades apresentadas no dia 20 de novembro, na EMEF “São Marcos”.

Figuras 3 e 4

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Quadro 2

Sequência

do Evento Apresentações Participantes responsáveis 1º momento Abertura e apresentação do Evento Larissa Simonassi / Monise Martinelli 2º momento Entrada e discussão da frase de Saraiva Turmas 1º A e 1º B - Larissa Simonassi 3º momento Declamação do poema criado pela pibidiana Luciana de Souza Carvalho 4º momento Teatro Abayomi - de autoria do Prof. José Paulo de Araújo Turma 5º B - Thays A.Ventura / Monise

Martinelli

5º momento Apresentação coreografada da música: Negro lindo – Parangolé Turmas 2º B e 3º B- Luciana de Souza Carvalho / Thays A.Ventura

6º momento Apresentação coreografada da música: Pérola Negra - Daniela Mercury

Turmas 3º B, 4º A e 5º B - Luciana de Souza Carvalho 7º momento Grupo de capoeira: “Nação de Cristo” Integrantes do grupo e alunos da escola.

Fonte: elaborado pelas autoras

Figuras 5 e 6

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A maior dificuldade encontrada por nós, bolsistas iniciantes no cotidiano escolar, foi a elaboração de atividades que fossem de interesse dos alunos, que pudessem despertar a vontade de aprender e participar. Com o passar dos dias, os anseios e os medos que nos inibiam, no início do planejamento do projeto, foram dando lugar para novas ideias, diante da possibilidade de criação junto às crianças.

Assim, a finalização do projeto “Consciência não tem cor” ocorreu numa tarde muito gratificante para as acadêmicas bolsistas, supervisor do Pibid, coordenadora, alunos e demais funcionários da escola. A experiência com o projeto foi marcante para todos os envolvidos no Programa, ampliando a segurança para outras atividades e projetos pedagógicos a serem desenvolvidos, uma vez que conseguimos com êxito alcançar nossos objetivos e proporcionar uma tarde prazerosa e de aprendizagens para os alunos e demais presentes no dia do Evento. Ao passar por essa experiência, a bolsista Luciana expressou seus sentimentos diante da realização do projeto:

Foi um momento ímpar para mim. Fiquei extremamente feliz em perceber que venci barreiras impostas pelo meu medo de falar em público. No dia do Evento, quando estava declamando o poema “Consciência não tem cor”, de minha autoria, e vi as crianças e demais presentes me aplaudindo, eu tive orgulho de mim. Assistir aos alunos que acompa- nhei durante os ensaios brilharem na apresentação... simplesmente não tenho palavras que expressem tal sentimento (Bolsista Luciana de Souza Carvalho).

O processo de ensinar-aprender se torna muito mais significativo quando conseguimos envolver os estudantes, de modo que se sintam comprometidos com tal processo, demonstrando interesse a cada nova atividade que lhes é apresentada (TANAKA; RAMOS; ANIC, 2013). Assim, foi possível observar que os alunos envolvidos nas atividades do projeto demonstraram total comprometimento e responsabilidade com as tarefas a serem realizadas, sendo possível a criação de um trabalho potente, com apresentações alegres e significativas. Desse modo, podemos considerar que os resultados alcançados com esse trabalho contribuíram para o crescimento intelectual e social dos discentes, além de proporcionar aos docentes envolvidos, como eles mesmos afirmaram, a satisfação de vivenciar um evento todo desenvolvido por nós, pibidianas, e executado pelos alunos, oportunizando o compartilhamento de saberes entre o mundo acadêmico e o cotidiano escolar. Enquanto bolsistas do Programa, foi possível compartilhar com os professores da escola muitos conhecimentos adquiridos ao longo da nossa jornada acadêmica e, agora, aqueles produzidos nas relações do dia a dia da escola, proporcionando assim um enriquecimento de nossa formação, dando-nos melhores condições para a atuação como futuras profissionais da educação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a participação no Pibid e ao escrever este relato, percebemos o quanto o Programa contribui para a formação de professores por meio da aproximação entre o

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campo teórico e as práticas pedagógicas vivenciadas pelos profissionais da educação nas escolas de redes públicas.

Nesse contexto, consideramos a importância desse movimento de participação para nós, acadêmicas bolsistas, destacando a inquietante contribuição para a nossa formação docente e para o nosso crescimento profissional. O Pibid nos possibilitou construir e obter mais conhecimentos sobre o que é ser um educador, sobre os desafios, enfrentamentos, mazelas e belezas presentes no cotidiano escolar. Trabalhar ao lado dos “professores regentes” nos fez compreender a amplitude dos espaços e tempos pedagógicos, assim como o compromisso permanente com as aprendizagens. Uma das bolsistas apresenta o significado atribuído por ela à experiência vivida enquanto bolsista do Pibid:

[...] Colocar em prática o que aprendemos na faculdade, foi e está sendo de grande valia para mim. Essa experiência me ajudou a enxergar a grande responsabilidade do ato de ensinar, do amor pela profissão, afinal “não se pode falar em educação sem falar de amor”, como ensinou Paulo Freire. Ensinar é mais que trabalhar com conhecimento, é ajudar o aluno a respeitar e a amar o outro independente de raça, cor, sexo ou religião. O Pibid foi uma porta que se abriu para eu perceber que ali na sala de aula é o meu lugar (Bolsista Larissa Simonassi).

Vale destacar também que o Pibid traz benefícios importantes para a escola que aceita participar do Programa, a partir da realização de projetos e atividades que visam proporcionar aos alunos a melhor experiência possível no processo de ensino- aprendizagem. São movimentos que tendem a revigorar as ações acadêmicas, ampliando as possibilidades de atuação e democratizando os espaços da escola. Trata-se, ainda, de uma tentativa de ampliação das aprendizagens e das vidas presentes nos cotidianos, como nos ensinou a professora Célia Linhares, afinal,

[...] não podemos perder de vista que o funcionamento de nossas instituições educacionais dependem também de nossa capacidade de experimentar caminhos, que possam se encontrar com desejos, criando outros, atender às necessidades, sem se prender a elas e, por isso mesmo, se conjugarem com as forças sociais potencializando siner- gias com que possamos ir movendo a escola e a nós mesmos e mesmas, de modo a nos orgulharmos de nossos movimentos compartilhados (LINHARES, p. 817, 2010).

Sigamos experimentando caminhos, é o que aprendemos com o Pibid!

TERMO DE RESPONSABILIDADE DE AUTORIA

As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de suas autoras. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, a missão e os documentos orientadores do Instituto Federal do Espírito Santo e do Pibid/CAPES.

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AGRADECIMENTOS E CRÉDITOS

Agradecemos todo o apoio que nos foi concedido para que a nossa participação no Pibid se realizasse. Primeiramente, deixamos nosso agradecimento à EMEF “São Marcos”, por aceitar fazer parte do Programa e acolher as acadêmicas do Curso de Pedagogia. Nossa gratidão também à Coordenadora de Área, professora Danielle Piontkovsky, e ao Supervisor, professor José Paulo de Araújo Silva, pelo acompanhamento atencioso nessa trajetória. Agradecemos ainda ao Instituto Federal do Espírito Santo e, em especial, ao campus Itapina, por todas as oportunidades formativas, assim como à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por nos permitir vivenciar experiências tão enriquecedoras para nossa carreira docente.

REFERÊNCIAS

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LOPES, Ivonete da Silva; SANTOS, Sales Augusto dos. Rede Globo e TV Brasil: diferentes discursos sobre o dia nacional da consciência negra. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), [S.l.], v. 2, n. 4, p. 43-63, jun. 2011. Disponível em: <http://www.abpnrevista.org.br/revista/index.php/revistaabpn1/article/view/320>. OLIVEIRA, Osvaldo Martins de. Comunidades quilombolas no estado do Espírito Santo: conflitos sociais, consciência étnica e patrimônio cultural. Ruris, Campinas-SP, v. 5, n. 2, p.141-171, set. 2011. Disponível em: <https://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/ruris/ article/view/1469/986>.

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