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As categorias conceituais, os autores e as obras de referência

FUNÇÃO SOCIAL (“SOCIOAMBIENTAL”) 316 1 O contexto da ruptura: o antes e o depois da chegada da

8. Aporte metodológico e teórico.

8.1. O introito ao referencial metodológico e teórico.

8.1.1. As categorias conceituais, os autores e as obras de referência

Para o desenvolvimento desta pesquisa, algumas categorias conceituais receberam maior destaque, sendo em função delas selecionados os autores e obras de referência.

No que concerne aos aspectos metodológicos, as mais importantes categorias de interesse foram, por óbvio, a Arqueologia e a Genealogia. Para o trato dessas abordagens, optou-se pelo exame direto da obra de Foucault, sem ignorar, no entanto, os subsídios fornecidos pela vasta produção de seus comentadores.

Do próprio Foucault, em relação à Arqueologia, foram utilizados como fontes da pesquisa A arqueologia do saber (1969), As palavras e as coisas (1966), O nascimento da clínica (1963) e História da Loucura (1961). Em relação à Genealogia, compreendendo nesta “categoria” mais ampla também a analítica do poder e a biopolítica, as fontes de referência foram A ordem do discurso (1970), A verdade e as formas jurídicas (1973), Vigiar e punir (1975) e História da Sexualidade I – a vontade de saber (2017 [1976]), Ditos e Escritos IV (2015), Microfísica do Poder (2015), bem como a alguns dos cursos ministrados no Collège de France, especialmente Em defesa da sociedade (1976), Segurança, território e população (1978) e Nascimento da Biopolítica (1979).

Em relação aos comentadores e estudiosos de Foucault, o que emprestou os recursos mais relevantes para esta pesquisa foi Paul Veyne. As contribuições deste, por si só, já seriam suficientes para a elaboração de qualquer análise histórica. Mas além disso, o exame (e crítica, em alguns temas) da obra de Foucault teve grande utilidade para o fim de viabilizar a

22 compreensão de determinados aspectos, especialmente as noções de discurso e de dispositivo. De Veyne serviram de referência os livros Como se escreve a História (1970), Foucault revoluciona a História (1982) e Foucault: seu pensamento, sua pessoa (2008).

De Gilles Deleuze, o livro Foucault (1988) foi adotado como referência em razão de conter uma visão geral da obra do “Novo Arquivista”44, considerando sobretudo o fato de se

tratar de uma coletânea de textos escritos depois da morte deste último. Dos temas ali tratados, as noções de sujeito, de lei e da gestão de ilegalismos foram significativamente aproveitadas neste trabalho.

De Roberto Machado, amigo próximo e inquilino de Foucault, que teve a invejável oportunidade de frequentar boa parte dos cursos ministrados no Collège de France, foram utilizados como referências os livros Foucault, a ciência e o saber (1982), Foucault, a Filosofia e a Literatura (2000) Impressões de Michel Foucault (2017). O primeiro livro, tem como objeto principal o Arqueologia de Foucault, sendo importante instrumento de compreensão dessa abordagem como método de análise histórica. O segundo, relaciona o pensamento de Foucault com a obra de Nietzsche, tendo instado o autor da presente pesquisa à leitura também de alguns textos do filósofo alemão, a fim de melhor compreender algumas reflexões do francês. O último, que contém uma narrativa apaixonada e apaixonante da longa convivência de Machado com Foucault, mostrou-se essencial para melhor “conhecer” este último como pessoa e pensador, apresentando aspectos peculiares da forma como vivia (o que é importante para a compreensão de sua obra) e, ainda, de como realizava suas pesquisas e construía seus escritos. De Edgardo Castro foi lido integralmente o livro Introdução a Foucault (2013), utilizado para compreensão geral da obra do filósofo francês, sendo, ainda, consultados diversos verbetes de o Vocabulário de Foucault (2004). As contribuições do aludido autor foram essenciais para auxiliar a compreensão da “rede conceitual”45 foucaultiana, bem como dos

elementos e do funcionamento da abordagem que abrange a Arqueologia e a Genealogia. Para subsidiar a compreensão de determinados conceitos de Foucault, fez-se uso, por meio de exame de determinados verbetes, também do livro Foucault: conceitos essenciais (2002), de Judith Revel.

44 É assim que Deleuze, no início de sua obra, refere-se a seu contemporâneo e amigo Foucault.

45 Essa expressão é usada por Fischer (2012, p. 14), denotando a ideia de que determinadas expressões, quando inseridas no quadro teórico de Foucault, têm significados que não se conformam aos do senso comum ou, ainda, quando no contexto de outras correntes de pensamento. Veyne (2014, p. 23) alerta, no entanto, para o fato de que, mesmo no interior da trajetória intelectual de Foucault, seu “vocabulário técnico foi por muito tempo flutuante”, experimentando certa precisão apenas com o passar dos anos.

23 Michel Foucault e o Direito (2002), de Márcio Alves da Fonseca, foi utilizada como obra de referência para exame do pensamento de Foucault, no que se refere às questões relacionadas ao Direito.

Sobre a abordagem arqueológica como instrumento metodológico, fez-se uso do livro Trabalhar com Foucault: Arqueologia de uma paixão (2012), de Rosa Maria Bueno Fischer, e da tese de doutorado de Alfredo José da Veiga-Neto, cujo título foi A ordem das disciplinas (1996), que foram também úteis para o aclaramento do pensamento de Foucault no que se refere à compreensão de conceitos.

No que concerne ao direito de propriedade, foi dedicado tópico especial para aludir ao caráter histórico desse instituto, onde se justificou a opção de não se elaborar uma digressão histórica dissociada das condições de possibilidade especificamente relacionadas com o espaço geográfico que hoje chamamos de Brasil, seja antes ou depois de sua invenção em 1500. Tratou- se, então, de apresentar como o tema era (ou não era) tratado dentre os povos que habitavam o Brasil em 1500, demonstrando-se a ruptura decorrente da chegada pelos portugueses, bem como, em seguimento, como a questão passou a ser regulada do ponto de vista político-jurídico pelos conquistadores europeus.

Alguns aspectos específicos, notadamente os relacionados aos fundamentos de justificação ou rejeição da ideia de propriedade privada, bem como para a noção de condicionamento ao exercício desse direito, ensejaram a revisão de recortes da obra de Aristóteles (1999 [1252a]), Thomas Hobbes (2002 [1651]), John Locke (2002 [1690]), Jean- Jacques Rosseau (2010-B [1755]; 2013 [1762]), Karl Marx (2013 [1867]), Fustel de Coulanges (2006 [1864]), Émile Durkheim (2016 [1893]; 2015 [1924]) e Léon Duguit(2009 [1890-1900]). Estes dois últimos, aliás, foram o referencial mais elementar quanto à temática da função social, em razão de que a eles se atribui a concepção daquela noção, inclusive sua aplicação no que se refere ao direito em geral e, em especial, ao de propriedade.

A noção de (“meio”) ambiente e sustentabilidade foi explorada tendo como referência a obra de Enrique Leff, sendo essa opção em razão da ênfase conferida aos aspectos trans e interdisciplinar do tema em referência.

Em relação ao objeto desta pesquisa, os terrenos de marinha, há de se registrar ser ele bastante específico, o que torna escassa a bibliografia sobre essa temática. Em razão disso, a pesquisa foi realizada privilegiando o contato direto com as fontes normativas primárias, ou seja, os diplomas que disciplinavam em Portugal o instituto das marinhas, bem como, após o

24 descobrimento, também no Brasil. O mesmo foi feito em relação ao instituto dos terrenos de marinha propriamente ditos, após a expressa referência a essa categoria de bens feita pelo Aviso de 7 de julho de 1829.

Importante consignar que o rol de temas acima apresentado não é exaustivo, de modo que outros assuntos (acessórios e instrumentais) foram tratados nesta pesquisa, devendo o mesmo ser dito em relação ao elenco de autores.