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2. AS INTERVENÇÕES SOCIAIS DA UNIÃO EUROPÉIA E OS FUNDOS

2.4 Os Fundos Estruturais sob a ótica da despesa financeira

2.4.3 As competências da Comissão, dos Estados Membros e dos demais entes

Na regulamentação dos fundos estruturais, sobretudo a partir de 2000, tem-se notado um movimento de descentralização das competências da Comissão Européia. Isso significa uma maior autonomia para as autoridades nacionais e locais, mas também uma maior responsabilidade pessoal dos Estados em afrontar, com o uso de instrumentos financeiros comunitários, seus problemas de caráter estrutural.214 Este fato mostra o aprofundamento do princípio da subsidiariedade no âmbito das intervenções dos fundos.215 As atribuições da União Européia limitam-se ao estabelecimento de diretrizes, ao controle e definir a elegibilidade dos projetos contemplados.

212 Existe, anexo ao regulamento atual do quadro de despesa (Anexo IV) um quadro específico de “Categorias de Despesas” do qual é possível ter uma idéia da extensão do conjunto de ações dos fundos estruturais. São exatamente 74 categorias de despesas que especificam minuciosamente o tipo de gasto realizado. Inclusive, esta lista não é taxativa, pois de acordo com o Art. 9º do Regulamento CE 1083/2006 a Comissão e cada Estado-Membro em causa podem decidir complementar de forma a adequada a lista de categorias constante deste anexo.

213Regulamento CE nº 1083/2006: Art. 45º a 47º.

214 FAURI, Francesca. Introduzione. In: FAURI, Francesca. Iniziative per l’occupazione: Il ruolo dei

fondi strutturali nella nuova strategia occupazionale dell’unione europea. Milano: Franco Angeli,

2002, p. 11.

215 É assim que o último regulamento dos Fundos Estruturais menciona nos seus considerandos, que “é conveniente reforçar a subsidiariedade e a proporcionalidade da intervenção dos fundos estruturais”, além de inúmeras outras disposições preliminares que reforçam a tendência descentralizatória dos

A ação dos fundos nos Estados-Membros assume a forma de programas operacionais no âmbito de um quadro de referência estratégica nacional.216 Este quadro de referência nacional constitui um instrumento de referência para efeitos de preparação da programação dos fundos. Na prática é uma espécie de documento guia que o Estado-Membro elabora, demonstrando a situação atual do seu território, as estratégias adotadas e a sua compatibilidade com as estratégias definidas a nível comunitário. Também demonstra uma possível relação causal entre as ações adotadas e o resultado visado e, principalmente, aqueles programas operacionais a serem adotados.217

A criação deste quadro de referência nacional também procura atender ao princípio da subsidiariedade, na medida em que é preparado pelo Estado Membro (e não pela Comissão), mas, ainda, em estreita cooperação com os chamados parceiros nacionais,218 o que implica numa descentralização para além da direção Comissão/Estado Membro, aproximando-se das autoridades locais e dos entes afetados.219

No que se refere aos programas operacionais, que consistem nas ações em si que serão tomadas, eles também são feitos em estreita cooperação com os parceiros nacionais. Incluem uma série de dados da ação escolhida tais como: a situação da zona escolhida; justificação das prioridades escolhidas; informações sobre os eixos prioritários da ação; a participação dos recursos comunitários, nacionais e/ou locais no projeto, bem como a discriminação da participação de recursos privados e públicos; a discriminação dos recursos de cada fundo nos projetos, os recursos totais; o modo de avaliação do projeto, e toda e qualquer informação relevante.220

216 Regulamento CE nº 1083/2006: Art. 32º, inciso 1. 217 Regulamento CE nº 1083/2006: Art. 27º, inciso 4.

218 Regulamento CE nº 1083/2006: Art. 32º, inciso 2. As “parcerias” são regulamentadas no art. 11º do Regulamento e compreendem: a) autoridades regionais, locais, urbanas ou outras autoridades públicas competentes; b) os parceiros econômicos e sociais; c) qualquer outro organismo adequado em representação da sociedade civil, os parceiros ambientais, as organizações não governamentais e os organismos responsáveis pela promoção da igualdade entre homens e mulheres.

219 Regulamento CE nº 1083/2006: Art. 28º 220Regulamento CE nº 1083/2006: Art. 37º.

O papel da Comissão, neste caso, é apresentar os comentários que considera adequados ao quadro de referência nacional e na aprovação direta dos programas operacionais escolhidos, com a dotação orçamentária específica, desde que comprovadamente de acordo com as diretrizes e estratégias adotadas pela Comissão.221

É função do Estado Membro fornecer à Comissão um agrupamento de informações sobre os chamados grandes projetos222, tais como o organismo responsável pela execução, a natureza do investimento, a descrição e o volume financeiro e a localização. Neste caso, é ainda tarefa da Comissão, auxiliada por órgãos técnicos, apreciar este tipo de projeto, explicando aos Estados Membros, em caso de desaprovação, as suas razões para tanto.223

Existe ainda uma flexibilização muito grande no que se refere a quem executa a atividade, podendo ser feito tanto por um ente público do Estado Membro ou de uma autoridade local, quanto pela iniciativa privada, neste último caso com ou sem a participação conjunta de algum outro ente público.224 As regras da Comissão Européia apenas determinam que se delimite claramente o montante de recursos desembolsados, em adição aos recursos comunitários, pelo Estado Membro, autoridade local e pelo ente privado nos projetos contemplados. Neste caso, importa destacar que o nível de participação dos fundos leva em conta diversos fatores, mas que, como observação geral, são usualmente levados em consideração critérios de ordem sócio econômica.225

221 Regulamento CE nº 1083/2006: Art. 32º, inciso 4. O regulamento prevê, por uma questão de flexibilidade, a possibilidade de reexame e modificação dos programas operacionais.

222 Segundo o Art. 39º do Regulamento CE nº 1083/2006 os “grandes projetos” são programas operacionais que podem ser financiados pelo FEDER e o Fundo de Coesão, relacionados à operações que inclua uma série de obras e serviços conjuntos, com custo acima de 25 milhões de euros no domínio do meio ambiente ou 50 milhões de euros noutros domínios.

223Regulamento CE nº 1083/2006: Art. 41º, incisos 1 a 3.

224 Regulamento CE nº 1083/2006: Art. 42º. No caso, o Regulamento faz algumas exigências quanto a pessoa que poderá executar o programa como garantias de solvabilidade, conhecimento técnico e até mesmo estabelecimento na região abrangida pelo programa operacional.

225Os critérios para tanto dependem fundamentalmente do tipo e relevância do projeto, da despesa total, da participação ou não de ente privado e até do nível do PIB médio do Estado Membro que receberá o

A gestão, controle e fiscalização do uso dos recursos também são realizados pelo Estado Membro.226 Neste caso, a função fiscalizatória da Comissão restringe-se a se certificar de que os Estados utilizam os métodos de sistemas de gestão e controle que são estabelecidos, inclusive, no próprio Regulamento.227 Ele também se vale de inúmeras outras regras de controle de caráter financeiro, nos moldes das regras de contabilidade pública que existem no direito interno.