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2. AS INTERVENÇÕES SOCIAIS DA UNIÃO EUROPÉIA E OS FUNDOS

2.2. Política Social e a Intervenção Comunitária

2.2.5. Os fundos estruturais à luz do Princípio da Subsidiariedade

De tudo o que já foi dito sobre o princípio da subsidiariedade, um de seus traços mais marcantes é que ele impõe à Comunidade o dever de agir quando constatada a inaptidão de uma ação isolada do Estado Membro para a consecução de um objetivo. Ainda, não obstante a incapacidade do Estado em agir sozinho, é necessário também que a ação comunitária seja eficaz. Estas duas assertivas seriam como condições gerais inferidas do princípio da subsidiariedade.

140Diretiva é uma fonte de norma jurídica comunitária. Consiste em uma ordem dirigida aos Estados- Membros, com força vinculante no tocante ao resultado pretendido, mas deixando livre a cada Estado a escolha da forma e dos meios pelos quais atingirá o resultado ordenado. Se o Estado destinatário deixar de cumprí-la, a jurisprudência européia já firmou entendimento de que os seus efeitos são diretos, podendo ser aplicada pelos tribunais nacionais, a pedido de qualquer interessado, como norma de direito comunitário. A vantagem da diretiva perante o regulamento é que aquela permite ao Estado Membro mais flexibilidade na execução da medida legislativa. BALLARINO, 2001, p. 104-109.

141 Ao lado das diretivas, os regulamentos são considerados a principal fonte de direito “derivado” (as fontes primárias são os tratados) do ordenamento comunitário. Ele se encontra no mesmo plano hierárquico das diretivas, mas possui algumas características diversas como: a) tem efeito geral, vinculando Estados-Membros, pessoas físicas e jurídicas; b) possui caráter obrigatório em todos os seus elementos, o que significa que o Estado Membro deve aplicá-lo de modo não seletivo e integralmente; c) é diretamente aplicável em cada Estado Membro não necessitando de qualquer ato ulterior para que seja

Esclarecendo um pouco mais esse raciocínio, o Protocolo 30 do Tratado da Comunidade Européia trouxe à tona, em seu parágrafo 5, dois critérios integradores que, uma vez presente, considerar-se-iam como preenchidas aquelas duas condições acima. Não é demais afirmar que estes critérios se adequam perfeitamente ao tipo de intervenção realizada mediante a utilização dos fundos estruturais.

O primeiro dos critérios é quando o mencionado Protocolo relata que “uma acção empreendida apenas ao nível nacional ou a ausência de ação por parte da Comunidade são contrárias às exigências do Tratado (tais como a necessidade de corrigir as distorções de concorrência, [...] ou de reforçar a coesão econômica e social) (grifo nosso)”. O segundo critério é que “uma acção empreendida ao nível comunitário apresente vantagens evidentes, devido à sua dimensão ou aos seus efeitos, relativamente a uma acção ao nível dos Estados-membros”.

A exigência de corrigir as distorções de concorrência está prevista numa série de dispositivos legais constantes do Título VI (regras comuns relativas à concorrência, à fiscalidade e à aproximação das legislações). Há ainda, dentro deste corpo de normas, um conjunto de regras especificamente destinadas a limitar os “auxílios concedidos pelos Estados”, justamente para restringir as possibilidades de que, mediante aportes financeiros estatais, certas empresas ou segmentos de produção sejam favorecidos, falseando a concorrência no território do mercado comum.142

Assim, é de se destacar que a criação de uma instância supranacional para realizar os auxílios financeiros, regulamentado pela Comunidade e favorecido por sua imparcialidade, contribui para racionalizar o sistema de concorrência no território do mercado comum. Ademais, quando os Estados adotam sua própria política de incentivos, há constantemente uma desarmonia de critérios entre eles. Sem falar que,

142 Sobre o assunto veja-se: BALLARINO, Tito; BELLODI, Leonardo. Gli Aiuti di Stato Nel Diritto

Comunitario. Napoli: Scientifica, 1997. Para um análise detalhada da jurisprudência européia sobre a

compatibilidade de ajudas públicas estatais e o ordenamento comunitário veja-se JUNIOR, Augusto Jaeger. Ajudas Públicas Comunitárias e Promoção do Desenvolvimento. In: BARRAL, Welber; BACELLAR FILHO, Romeu Felipe. Integração Regional e Desenvolvimento. Florianópolis: Boitexu, 2007, p. 57-63.

em algumas situações, os Estados não possuem recursos para realizar esse tipo de política, o que os leva a adotar medidas protecionistas para alguns de seus setores.143 Por estas razões, em face da necessidade de defender um ambiente de livre concorrências, as intervenções comunitárias, por meio dos fundos estruturais, mais do que justificáveis, tornaram-se indispensáveis.

Além disso, a exigência de coesão econômica e social consta expressamente no Título XVII (Coesão econômica e social), Art.158º, do TCE.144 Neste caso, o importância dos fundos estruturais é uma constatação óbvia. Ante o imperativo legal de diminuir as desigualdades entre as diversas regiões e de possibilitar o acesso a um nível de bem estar social mais elevado, a questão exige, invariavelmente, auxílio financeiro, que geralmente não pode ser suprido pelo Estado Membro. É por esta razão que este mesmo Título, que trata desta exigência, prevê também as disposições introdutórias do Fundo de Desenvolvimento Regional e do Fundo de Coesão, instrumentos necessários para tanto.

Finalmente, importa esclarecer, a ação dos fundos estruturais não esgota completamente aquilo que se denomina política social no ambiente europeu, tampouco termina a discussão sobre o princípio da subsidiariedade nesta matéria. No caso da utilização destes fundos, a Comunidade intervém com recursos financeiros e é muito provável que nenhum Estado Membro sujeito à este tipo de intervenção reclame o princípio da subsidiariedade para afastá-la.145 Contudo, a política social não se faz somente por este meio; a Comunidade pode impor ainda, em maior ou menor medida, a harmonização de regras com reflexos sociais (trabalhista, previdenciária, etc.) a serem observadas ou adequadas pelos ordenamentos nacionais de cada Estado-Membro.146 Nestes casos, a política social não se dá por intervenção direta da comunidade, mas

143GALLIZIOLI, Giorgio. I Fondi Strutturali Delle Comunità Europee. Pádova: CEDAM, 1992, p. 109. 144 TCE. Art. 158º: “A fim de promover um desenvolvimento harmonioso do conjunto da Comunidade, esta desenvolverá e prosseguirá a sua acão no sentido de reforçar a sua coesão econômica e social”. 145Daí o fato de não se encontrar jurisprudência que envolva a atuação dos fundos estruturais e o princípio da subsidiariedade.

146 HERVEY, 1998, p 15-16. Assim, por exemplo, o artigo 42º do Tratado de Roma, estabeleceu bases para a legislação dos Estados-Membros, de modo a garantir a livre circulação de trabalhadores. Igualmente, o artigo 40º daquele tratado previu a impossibilidade da discriminação de trabalhadores

geralmente com o uso de recomendações ou diretivas aos Estados-Membros, para que eles assegurem em suas legislações um determinado padrão social.147