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3. REDUÇÃO DE ASSIMETRIAS E O FUNDO PARA CONVERGÊNCIA ESTRUTURAL

3.4 O Fundo para a Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul

3.4.1 Introdução

Mostrou-se até aqui que o Mercosul contempla uma série de tratamentos diferenciados aos Estados Partes de economia mais fraca. E que tais medidas procuram auxiliar no desenvolvimento do Paraguai e do Uruguai. Entretanto, elas não correspondem a uma ação positiva e conjunto do bloco diretamente sobre um Estado Parte, mas apenas uma conformação do bloco quanto à utilização por este Estado de instrumentos jurídicos excepcionais ao conjunto de regras harmonizadas. Neste viés, entende-se que uma política de redução de assimetrias propriamente dita deveria ir além, e abarcar uma ação direta, positiva e conjunta dos Estados Partes sobre a economia relativamente mais débil.

Assim, a decisão 45/04 do Conselho Mercado Comum constitui marco histórico na integração regional do bloco. Por meio dela, o Mercosul, seguindo o exemplo europeu, adotou o sistema de criação de fundos estruturais com a função de suprir tal deficiência e alocar auxílio financeiro sobre as economias menores e regiões menos desenvolvidas. A partir do dito documento pode-se afirmar a existência de uma verdadeira política regional no Mercosul, embora este termo (regional) possa ser objeto de críticas pelas próprias característica do instrumento utilizado.

O delineamento do Fundo para a Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul (FOCEM) ocorreu somente com a decisão 18/05 do Conselho Mercado Comum, quando se detalhou sua características principais tais como a forma de financiamento, os critérios de distribuição de recursos, além de aspectos procedimentais e institucionais, matéria que será analisada na seqüência do presente capítulo. A priori, destaca-se que o fundo terá uma duração inicial de 10 anos, quando os países analisarão a conveniência de sua continuidade.278

3.4.2 O financiamento do FOCEM.

O FOCEM utiliza o sistema de recursos provenientes de contribuições dos Estados Partes, incluídas nos orçamentos nacionais de cada um. O critério utilizado para definir as quotas de contribuição foi a média histórica de participação dos Estados Partes no PIB do Mercosul. Assim, estabeleceu-se uma montante anual de contribuição total dos países no valor de cem milhões de dólares. Levando-se em conta aquele critério, a porcentagem correspondente desta contribuição ao fundo é na seguinte proporção: Argentina 27%; Brasil 70%; Paraguai 1%; Uruguai 2%.279

As contribuições tiveram início 90 dias após a incorporação da decisão ao ordenamento jurídico dos Estados Partes e a correspondente dotação incluída no orçamento nacional de cada um. Em 2006 foi aprovado o primeiro orçamento do FOCEM, válido para o exercício financeiro de 2007, atingindo um montante de receitas na ordem de U$$ 125.000.000 (cento e vinte e cinco milhões de dólares), pouco mais do que o inicialmente previsto.280

A forma de financiamento do fundo estrutural do Mercosul consiste numa das maiores diferenças com relação a União Européia. Nesta última, valeu em um primeiro

278 MERCOSUL/CMC/DEC 18/05. Art. 22º.

279 MERCOSUL/CMC/DEC 18/05. Art. 6º. Cumpre destacar que a participação da Venezuela no fundo está sendo definida e que, a teor do art. 7º da presente decisão, o FOCEM poderá receber também contribuições de terceiros países, instituições e organismos internacionais para realização de seus projetos.

momento o financiamento por recursos próprios. No caso do fundo CECA, a tributação do aço e do carvão como fonte de recursos e, posteriormente, a cobrança dos direitos aduaneiros (TEC) e de uma porcentagem sobre o valor arrecadado por cada Estado Membro com o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) harmonizado por uma Diretiva da Comissão.

Já no Mercosul, a TEC sequer foi harmonizada por completo e muito menos um IVA padronizado a ser cobrado por cada Estado Parte. Como já exposto, mesmo que a União Européia tenha reduzido o montante de seus recursos financiados por meio da cobrança do IVA e dos direitos aduaneiros, substituindo-os gradualmente por uma contribuição de cada Estado Membro, aquela forma de financiamento foi fundamental para a autonomia da Comunidade durante um longo tempo, mantendo-a relativamente independente da vontade política de cada país participante.

Se no caso do Mercosul a idéia de um IVA harmonizado pareça muito distante da sua realidade, sobretudo pela dificuldade brasileira, maior economia do bloco, em realizar uma reforma tributária que unifique os tributos sobre o consumo, substituindo- os por um IVA, para então, posteriormente harmonizá-lo com o IVA dos outros países do bloco281, não tão longe parece estar a idéia de utilizar a TEC do bloco para financiar o orçamento comunitário. As exceções à TEC do bloco têm sido, ao contrário, até os dias atuais, utilizadas com a justificativa de corrigir as assimetrias entre os participantes. Ainda que não seja o caso de simplificar as dificuldades de uma mudança como esta nas regras do bloco, pois sem dúvida essa questão legal deveria dialogar com os problemas que a ciência econômica pode apontar, tal fato seria de fundamental importância para empurrar o processo de integração adiante. O fim das exceções à TEC, realizada conjuntamente com a instituição de um financiamento proveniente de sua cobrança pelos Estados Partes e destinado a projetos estruturais, poderia ser um caminho razoável para ultrapassar o estágio de união aduaneira incompleta, sem descuidar da necessidade fundamental de promover a coesão social do bloco.

281Sobre as diferenças entre o IVA dos demais países do Mercosul e os tributos incidentes sobre o consumo no Brasil veja-se FERNANDES, Edison Carlos. Sistema Tributário do Mercosul: o processo

3.4.3 Critérios para a destinação de recursos do Fundo para a Convergência Estrutural