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3. REDUÇÃO DE ASSIMETRIAS E O FUNDO PARA CONVERGÊNCIA ESTRUTURAL

3.2 Processos de integração e Mercosul

3.2.1 O contexto do Mercosul nos processos de integração

O Tratado de Assunção – instrumento constitutivo do Mercosul – explicita como um de seus objetivos gerais “acelerar os processos de desenvolvimento econômico [de seus membros] com justiça social” 230. Esse objetivo, em tese, seria garantido por meio da consecução dos estágios de aprofundamento previstos naquele tratado.

Já foi dito, e torna-se a repeti-lo, que a literatura sobre o assunto busca estabelecer classificações que levam em conta o grau de profundidade da integração tanto em termos de criação de liberdades econômicas (integração negativa), quanto em termos de coordenação supranacional (integração positiva) de um determinado processo de integração.

No que se refere ao Mercosul, seu processo teve início com o estabelecimento de uma gradual eliminação de tarifas aduaneiras sobre a circulação de bens, vindo a constituir em 31 de dezembro de 1994 uma zona de livre comércio.231 Entretanto, uma

decisão posterior do Conselho Mercado Comum criou o denominado “Regime Geral de

230 Tratado de Assunção, Preâmbulo.

231 A teor desse instrumento, uma lista limitada de produtos apresentada pelos Estados não seguiria o cronograma de desgravação disposto no Artigo 4º do Anexo I do Tratado de Assunção. Esta lista de produtos seria diminuída a cada ano, segundo um cronograma diferenciado, estabelecido no Artigo 7º do

Adequação à União Aduaneira”, mediante o qual se definiu que os Estados poderiam elencar uma lista limitada de produtos considerados “sensíveis” que sofreriam uma gradativa redução das alíquotas intra bloco com duração de quatro anos para Brasil e Argentina e de cinco anos para Paraguai e Uruguai, a contar de 1 de janeiro de 1995.232

Já a liberalização do comércio de serviços teve como marco a Decisão do Conselho Mercado Comum 13/97 que aprovou o Protocolo de Montevidéu sobre o comércio de serviços no Mercosul. Neste caso, os Estados Partes estabeleceram o prazo de 10 (dez) anos para a liberalização, contados a partir da entrada em vigência do Protocolo, mediante o Programa de Liberalização do comércio de serviços do Mercosul.233

As rodadas de negociações são realizadas a cada ano e têm como objetivo principal a incorporação progressiva dos setores, subsetores, atividades e formas de prestação de serviços ao Programa de Liberalização do Protocolo, assim como a redução ou a eliminação dos efeitos desfavoráveis de medidas restritivas sobre o comércio de serviços, como forma de assegurar o acesso efetivo dos prestadores de serviços aos mercados. Assim, a Decisão Conselho Mercado Comum 9/98 aprovou os Anexos com as “Disposições Específicas Setoriais” e as “Listas de Compromissos Específicos Iniciais”, que complementam o Protocolo de Montevidéu. Posteriormente seis novas rodadas de negociação foram finalizadas, modificando as “Listas de Compromissos Específicos” sendo que a última foi aprovada pela Decisão Conselho Mercado Comum 01/06.234

Já o projeto de união aduaneira no bloco teve início por efeito das Decisões 07/94 e 22/94 do Conselho Mercado Comum, que criaram as tarifas externas comuns, a

232MERCOSUL/CMC/DEC. 05/94. 233 MERCOSUL/CMC/DEC. 13/97.

234 MERCOSUL/CMC/DEC.01/06. Em tais listas estão elencados os compromissos assumidos pelos Estados por setores ou subsetores com as respectivas limitações de acessos à mercados, limitações ao tratamento nacional e compromissos adicionais, caso existentes. Ademais, tais limitações são estabelecidas segundo a modalidade de prestação de serviço nas seguintes categorias: 1) Prestação Trans-fronteiriça 2) Consumo no Exterior 3) Presença Comercial 4) Presença de Pessoas Físicas.

forma e as datas para a convergência de tais tarifas.235 Cumpre destacar que por força da denominada “Lista básica de exceções nacionais à Tarifa Externa Comum” foi facultado aos Estados a apresentação de uma lista de produtos que estariam excluídos da aplicação da TEC. Esta lista tem caráter regressivo, isto é, o número de itens constantes como exceções à TEC deve ser reduzido progressivamente. Porém, na prática, observa-se que o Conselho Mercado Comum prorroga seguidamente o prazo final para a extinção da lista de exceções. Neste sentido, a Decisão 38/05 prolongou por mais uma vez a vigência da lista de exceções à TEC, com prazo de extinção previsto para 31 de dezembro de 2008.236 Por tal motivo costuma-se dizer que o Mercosul se encontra hoje no estágio quase que indefinido de uma união aduaneira incompleta.

O Tratado de Assunção exterioriza também a idéia de atingir, como estágio final, a criação de um mercado comum. Nos termos do tratado, o mercado comum não implica tão somente no estabelecimento da livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos, mas também na “coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados Partes”.237 A coordenação de políticas macroeconômicas pode suscitar a necessidade de criação de uma moeda comum e, conseqüentemente, de um banco central único, supranacional. Assim, não se pode negar com absoluta certeza tal possibilidade em virtude de um eventual aprofundamento do Mercosul na direção que dispõe seu tratado constitutivo.

Assim, mesmo que não seja possível afirmar que uma União Monetária seja necessária ao Mercosul, considerando o seu estágio e contexto atual, vale destacar a incompatibilidade de um mercado comum sem alguma unificação neste sentido. A supranacionalidade, ainda que restrita a certa área (a emissão de moeda), parece ser uma necessidade implícita para a finalização deste processo de integração.238 Aliás,

235 MERCOSUL/CMC/DEC. 07/94 e MERCOSUL/CMC/DEC. 22/94.

236 MERCOSUL/CMC/DEC. 38/05. 237 TRATADO DE ASSUNÇÃO, Art.1º.

238Neste sentido, afirma-se que “um mercado único, em última instância, requer uma moeda única. Um mercado único exige uma unidade de referência na qual o valor dos bens, serviços e contratos

vale lembrar, por conveniente ao tema do presente trabalho, que a utilização da moeda como arma de defesa comercial é plenamente possível em um ambiente desregulamentado. É neste sentido que, até mesmo para rever a experiência européia, segundo leciona Dominique Carreau a unificação monetária na União Européia foi, mais do que uma opção política dos Estados Membros, uma necessidade que se afigurou na criação do mercado único europeu.239

Por fim, um último fato relevante acerca da estrutura institucional do bloco é a recente assinatura dos Estados Partes do Protocolo Constitutivo do Parlamento do Mercosul.240 O Parlamento do Mercosul não possuirá competências eminentemente

legislativa, no sentido de criar normas automaticamente válidas para os Estados Partes do bloco, mas funções majoritariamente fiscalizatórias e consultivas. Talvez, a mais relevante competência do Parlamento esteja materializada no Art. 4:12 do mencionado instrumento, que dispõe que o parlamento elaborará pareceres sobre todos os projetos de normas do Mercosul que requeiram aprovação legislativa em um ou mais Estados Partes. Caso a normas sejam aprovadas pelo órgão decisório do Mercosul em conformidade com o parecer do Parlamento, o procedimento para sua votação pelos parlamentos nacionais terá um trato preferencial, contribuindo para agilizar sua incorporação aos ordenamentos nacionais.