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CAPÍTULO 4 DESIGN INSTRUCIONAL E-LEARNING

4. Apresentação do capítulo

4.1. As Concepções de Design Instrucional

Embora pouco divulgado, o domínio de design instrucional abrange diversas áreas, requerendo formação e competências interdisciplinares, o que torna tanto sua nomenclatura quanto prática objetos de discussão. Assim sendo, é fundamental examinar as diferentes concepções de design instrucional, para justificar aquela que guia esta tese.

A conceituação do termo design e a própria historia da área são temas de pesquisas, com origem controversa ou fragmentada, apresentando uma natureza híbrida devido à pluralidade do campo. Conforme Monica Moura, diversas histórias do design podem ser apresentadas, haja vista que “a área é inter e transdiciplinar e envolve relações diretas com a tecnologia, com a estética, com a cultura material, com a funcionalidade, com a produção industrial, com a produção artesanal, com o mercado” (MOURA, 2003, p.13)

Um enfoque sobre a nomenclatura é importante, pois na percepção popular o termo permanece muito associado ao aspecto exterior ou mero desenho das coisas (MOURA, 2003), o que adiciona um problema sobressalente em um campo já transdisciplinar como design instrucional.

No aspecto etimológico, a palavra é derivada do latim “designo” a qual significa desenhar, delinear, designar, marcar, idear, porém enquanto alguns idiomas apresentam verbos distintivos para atividade do desenho e do projeto, o vocábulo “desenho” em língua portuguesa acumula sentidos muito próximos, sem uma diferenciação exata, o que talvez tenha justificado a adoção da palavra em língua inglesa ao final da década de 80 e sua inclusão nos dicionários em 2001. De acordo com Lucy Niemeyer:

Design significa projeto, configuração, se distinguindo da palavra drawing – desenho, representação de formas por meio de linhas e sombras. Estas dinstinções estão presentes no idioma espanhol: diseño para atividade projetual e dibujo para realização manual. A palavra design foi assimilada internacionalmente, sendo de uso corrente em Portugal (NIEMEYER, 1997, 26).

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Tradução nossa: The principles of instructional design remain somewhat dynamic due to many advances in learning theory, multimedia capabilities, learning management systems, and competencies development for instructional designers.

Nas definições do termo, a relação entre forma e função é uma constante histórica marcada pelo lema “Fitness for purpuse” e “Zweckmassigkeit” que foi popularizada no Brasil, na década de 30, sob o mote de “a forma segue a função” (CARDOSO, 2011, p.16).

Um atestado a essa constante é o significado do verbete design, conforme o

Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, o qual define design como “a concepção de um

produto (máquina, utensílio, mobiliário, embalagem, publicação etc.), especificamente no que se refere à sua forma física e funcionalidade” (HOUAISS, 2009, s/p).

No campo específico do design instrucional, essa relação entre forma e funcionalidade é, de certo modo, reforçada por Andrea Filatro, que opta “pelo uso consagrado do vocábulo em outras áreas, que veem o design como o resultado de um processo ou atividade (produto), em termos de forma e funcionalidade, com propósitos e intenções claramente definidos.” (FILATRO, 2003, p.57).

O termo instrucional oferece igual foco de discussão, haja vista que tenha se confundido ou misturado às teorias de aprendizagem ou sido tomado como mera transmissão de informação, ambos os casos inadequados.

Conforme Reigeluth (1983), por vezes, a definição de design instrucional passou por certa confusão devido ao fato de alguns teóricos ligarem o conceito de design instrucional a alguma teoria de aprendizagem, quando há uma diferença entre os dois processos. Essa tendência inexata pode ser observada em Smith e Ragan, que definiram o design instrucional como “um processo sistemático e reflexivo de traduzir princípios de aprendizagem e instrução para os planos de materiais instrucionais, atividades, recursos informativos e avaliação” (SMITH; RAGAN, 1999, p.2. Grifo nosso.)

Segundo Reigeluth (2009), o desenvolvimento instrucional enfoca métodos de instrução, ao passo que uma teoria de aprendizagem enfoca o processo de aprendizagem, embora atrelados, são processos diferentes haja vista que as técnicas de design otimizam a aplicação de uma determinada abordagem de ensino. Durante a análise do caso estudado, torna-se mais visceral distinguir como os dois elementos são distintos e se atrelam, pois precisamos verificar como a teoria de aprendizagem conectivista influenciou elementos de design e métodos de instrução no Connected Courses.

Mais do que salientar a diferença, Charles Reigeluth conceitua detalhadamente o termo instrucional e explica a relação entre instrução e teoria de aprendizagem, de forma bastante didática por meio do construtivismo (à época, a teoria construtivista era fundida ao design instrucional, como se verificou na definição de Smith e Ragan).

Houve uma diferenciação recentemente na literatura entre “instrução” e “construção”, com a implicação de que a instrução é necessariamente feita para os alunos (ou seja, os alunos são passivos), enquanto que a construção é feita pelos alunos (ou seja, os alunos são ativos). Porém, o principal fundamento do construtivismo é que as pessoas só podem aprender através da construção de seu próprio conhecimento – posto que a aprendizagem requer manipulação ativa do material a ser aprendido e não pode ocorrer de forma passiva. Nossa preocupação é sobre como ajudar os alunos a aprenderem, o que significa identificar maneiras de ajudar os alunos construírem o conhecimento. Portanto, se a instrução promove algum aprendizado, deve promover a construção. Instrução não é instrução se não promover a construção. Além disso, se a construção é aquilo que o aluno faz, então precisamos de um termo diferente para aquilo que um professor (ou outro agente) faz para promover a construção, e a palavra "instrução" tem sido geralmente utilizada mais do que qualquer outro termo para transmitir esse significado. Portanto, definimos instrução como qualquer coisa que é feita propositadamente para facilitar a aprendizagem. Ela inclui métodos construtivistas e auto-instrução, bem como pontos de vista mais tradicionais de ensino, tais como palestras e instrução direta.68 (REIGELUTH, 2009, P. 6. Grifos nossos.)

Um dos principais expoentes do design instrucional no Brasil, Andrea Filatro, apresenta uma definição que retoma Reigeluth, haja vista que reforça a função do desenho instrucional para promover e facilitar a aprendizagem/ construção do conhecimento:

Consideramos que o design é o resultado de um processo ou atividade (um produto), em termos de forma e funcionalidade, com propósitos e intenções claramente definidos, enquanto instrução é a atividade de ensino que se utiliza da comunicação para facilitar a aprendizagem.

Assim, definimos design instrucional como a ação intencional e sistemática de ensino que envolve o planejamento, o desenvolvimento e a aplicação de métodos, técnicas, atividades, materiais, eventos e produtos educacionais em situações didáticas específicas, a fim de promover, a partir dos princípios de aprendizagem e instrução conhecidos a aprendizagem humana. Em outras palavras, definimos design instrucional como o processo (conjunto de atividades) de identificar um problema (uma necessidade) de aprendizagem e desenhar, implementar e avaliar soluções educacionais para esse problema. (FILATRO, 2008, p. 3. Grifo nosso.)

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Tradução nossa: There has been a distinction recently in the literature between instruction and construction, with the implication that instruction is necessarily done to learners (i.e., learners are passive), whereas construction is done by learners (i.e., learners are active). However, a principal tenet of constructivism is that people can only learn by constructing their own knowledge – that learning requires active manipulation of the material to be learned and cannot occur passively. Our concern is with how to help learners learn, which means identifying ways to help learners construct knowledge. Therefore, if instruction is to foster any learning at all, it must foster construction. Instruction is not instruction if it does not foster construction. Furthermore, if construction is what the learner does, then we need a different term for what a teacher (or other agent) does to foster construction, and “instruction” has commonly been used more than any other term to convey that meaning. Therefore, we define instruction as anything that is done purposely to facilitate learning. It includes constructivist methods and self-instruction, as well as more traditional views of instruction, such as lecture and direct instruction.

Outros pesquisadores, como Albert Sangra et al optam por uma definição mais concisa e abrangente, ao observar que “o design instrucional é simplesmente o desenvolvimento planejado de materiais didáticos e se baseia em uma teoria de aprendizagem e na prática instrucional” (SANGRA et al, p. 49)69.

Infelizmente a questão semântica absorve grande parte dos trabalhos em design e design instrucional, entretanto torna-se fundamental delimitar conceitos com clareza nesta tese, posto que nosso objeto de análise fundamenta-se na teoria de aprendizagem conectivista e lança mão de estratégias de desenho tecno-pedagógico que podem, aparentemente, ser confundidas tal teoria devido à relação intrínseca entre teoria prescritiva e forma no design instrucional.