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CAPÍTULO 4 DESIGN INSTRUCIONAL E-LEARNING

4. Apresentação do capítulo

4.5. Princípios de design multimídia

Os princípios de Mayer constituem configurações metodológicas de desenho instrucional, isto é, maneiras de produzir a apresentação de um mesmo material didático e o efeito que é provocado no processo cognitivo da memória. Em síntese, os efeitos são diversos, mas os princípios podem ser separados por seus resultados: (a) reduzir a carga cognitiva extrínseca, (b) facilitar operações na memória de trabalho pelo gerenciamento de carga essencial e (c) promover a carga gerativa.

4.5.1. Princípios para reduzir a carga cognitiva extrínseca

▪ Efeito de coerência: O processo de aprendizagem é otimizado quando a informação menos relevante é excluída do projeto, ou seja, o conteúdo se torna mais coeso e coerente para assimilação, pois menos informação, significa menor carga cognitiva.

▪ Efeito de sinalização: O processo sinalização é basicamente sobre indução e orientação do olhar do aluno, ele visa facilitar o processo de organização cerebral na memória de trabalho. O princípio de sinalização envolve trabalhar com técnicas que destaquem determinados elementos (setas, cores, relevos, ênfase vocal, iluminação de plano de fundo) de maneira a atrair o olhar para o que é relevante e reduzir o “processamento externo, a fim de orientar a atenção do aluno para os elementos-chave da lição e orientar o aprendizado de conexões entre eles” (MAYER, 2009, p. 108)79.

▪Efeito de redundância: No caso desse efeito, podemos dizer que aprendizagem é otimizada quando os dois canais processam o mesmo conteúdo em formato diferente. O efeito de redundância é controverso e bastante problemático, pois a redundância mal conduzida se torna carga cognitiva extrínseca.

Para elucidar esse efeito, Richard Mayer aplica o exemplo de uma animação, acompanhada de narração. Durante uma experiência, o teórico constatou que quando a

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Tradução nossa: [...] reduces extraneous processing by guiding the learner’s attention to the key elements in the lesson and guiding the learner’s building of connections

narração era acompanhada de gráficos (canal auditivo-verbal associado a canal pictórico), apesar ocorrer um esforço cognitivo que obrigava o cérebro a comparar os dois fluxos, sobrecarregando os canais, ainda assim o conteúdo multimídia era mais profundamente assimilado.

Entretanto, se o reforço de repetição fosse exagerado (gráfico + narração + legenda), então havia perda de aprendizagem significativa, porque o canal auditivo ficaria encarregado com dois conteúdos entrando: narração vocalizada + palavras em tela (como dissemos anteriormente, as palavras são também processadas no canal B Auditivo – verbal, a despeito de constituírem um elemento gráfico na tela). Richard Mayer sintetiza a dinâmica da redundância dentro da arquitetura cognitiva, explicando que:

A redundância dificulta a aprendizagem quando cria processamento extrínseco (e.g., colocando o texto longe dos gráficos correspondentes) ou quando diminui a necessidade de processamento (e.g. realçando todo o texto em lugar de destacar somente porções-chave do texto). A redundância pode ajudar a aprender quando minimiza processamento externo (colocando o texto próximo aos gráficos correspondentes) e quando promove o processamento essencial (destacando as partes principais do texto). (MAYER, 2009, p.130)80.

▪ Efeito da contiguidade temporal e espacial: A aprendizagem é melhorada quando a composição de palavras e imagens, que possuem correspondência, é apresentada simultaneamente para canais auditivo e visual (temporal), ou são apresentadas conjuntamente / próximas, em lugar de sequencialmente (espacial).

4.5.2. Princípios para gerenciar a carga cognitiva essencial

▪ Efeito de segmentação: O princípio de segmentação interage com as operações mentais da memória de trabalho, visando facilitar o gerenciamento de carga essencial. Nesse sentido, ele procura facilitar a separação e organização da informação nova, para isso, concebe-se que a informação nova será mais bem processada se o input mental for previamente quebrado em segmentos, em lugar impor uma unidade única e contínua de informação. Quanto mais complexa for a informação nova, melhor será a ideia de fragmentá-

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Tradução (e adaptação) nossa: Redundancy hinders learning when it creates extraneous processing (by placing text far from the corresponding graphics) and when it detracts from essential processing (by highlighting the entire text rather than highlighting key portions of the text). Redundancy may help learning when it minimizes extraneous processing (by placing text near corresponding graphics) and fosters essential processing (by highlighting key portions of the text).

la, devido a isso as unidades de ensino são estruturadas internamente, e um curso é também particionado em módulos maiores.

Considerando esses aspectos, nós acreditamos que esse efeito é explorado intensamente na web aberta, que embora imponha muito conteúdo ao interator, procura particionar o conteúdo em fragmentos menores, ou modulares (MANOVICH, 2002); por isso a ultrafragmentação e modularidade se tornaram características de ambientes informacionais supercomplexos.

Portanto, o efeito de segmentação procura fazer uma antecipação das operações mentais, porém é preciso trabalhar com a continuidade dos segmentos, de modo que a visão do todo não seja rompida. Outro aspecto relevante da segmentação é dar controle ao aluno para escolher a velocidade em que os segmentos são avançados, ou até mesmo retrocedidos, posto que em relação ao controle já foi amplamente observado que os interatores retém mais conteúdo quando lhes é dado mais domínio acerca do ambiente de aprendizagem multimídia (MAYER, MORENO, 2003).

 Efeito de pré-treino: O princípio de pré-treino trabalha com a concepção de conhecimento prévio. Caso o processamento essencial constitua uma informação pesada e que possa sobrecarregar o aluno, é possível suavizar esta fase central do processo, com um pré- treino antes do foco principal de aprendizagem. Por exemplo, pode-se fazer uma exposição e retomada de conceitos-chaves, que serão utilizados depois na informação central, promovendo melhor entendimento e retenção.

Para isso, além de ter um mapeamento do conhecimento prévio dos alunos, é preciso identificar e segmentar conceitos-chave da informação principal, de maneira a deixá- los previamente fixados na mente, dessa maneira quando a informação principal for passar pelos duplos canais, a carga cognitiva será suavizada. Um problema do pré-treino é que ainda se mostra complexo delimitar quais conhecimentos prévios podem ser essenciais, ou qual a intensidade adequada (MAYER, 2009).

 Efeito da modalidade: Esse efeito retoma a máxima mais citada de Richard Mayer, observando que as pessoas aprendem melhor com o uso de palavras e imagens combinadas, do que apenas por meio do uso de palavras isoladamente (MAYER, 2009, p.1)81. A combinação de modalidades ajuda a memória de trabalho no processo de seleção e organização. Por exemplo, em um livro infantil, uma ilustração pode combinar

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Tradução nossa: “People learn better from words and pictures than from words alone. This hypothesis is the basis for the promise of multimedia learning.”

diferentes modalidades: modalidade pictórica (o desenho), modalidade das cores (a paleta de cores), e modalidade sensorial (impressão com relevo); essa combinação de modalidades fará com que o processamento cognitivo seja intensificado.

4.5.3. Princípios para promover a carga gerativa

 Princípio da multimídia: Primeiramente, é importante recordar que, nesta seção da tese, estamos aplicando o termo multimídia no contexto prático de desenho instrucional. Isto é, o termo se refere ao conteúdo multimídia como o material didático multimídia, ou seja: animações, clipes, gifs, jogos, ilustrações com e sem relevo, enfim, produtos cuja produção envolverá a equipe especializada de Arte e Tecnologia Informacional – TI. Obviamente, o termo pode abarcar o conceito de mídia como exposto no capítulo 2 (livro, computador, televisão etc.), mas não exclusivamente neste caso.

Assim como o princípio da multimodalidade afirma que associar palavras e imagens têm resultados mais efetivos que palavras isoladas, o princípio da multimídia afirma que combinar diferentes materiais multimídias (e.g. animação computacional e texto) obterá um melhor resultado para a aprendizagem.

 Efeito de personalização: O processo de personalização envolve trabalhar a linguagem de maneira informal, em estilo conversacional, encarando o aluno enquanto interlocutor do conteúdo. Tal técnica transforma o autor em um colega e pode promover uma maior sensação de pertencimento, imersão, engajamento, além de aumentar a construção de sentido.

Em suma, gerar um efeito de personalização requer aplicar um conjunto de técnicas de aproximação que fazem o leitor se sentir inserido e interpelado diretamente pela voz narrativa: e.g. em lugar de usar termos impessoais como “o cérebro humano”, pode-se aplicar pronomes pessoais como “o seu cérebro”, pronomes de tratamento como “você”, dar preferência a vozes humanas em lugar de máquinas, e até mesmo converter o narrador em um agente de aprendizagem sob o formato de figura animada concebida por animação (e.g. o outrora conhecido Clipe do editor Microsoft Office Word).

4.5.4. Considerações sobre o Design Multimídia

Enfim como é possível verificar nesta breve revisão teórica, os princípios para design multimídia necessitam uma constante revisão, haja vista que seu contexto (as tecnologias) permanece em evolução.

Brody (1999), avaliando o progresso feito até o momento no desenvolvimento do design multimídia, sugere que ainda temos que encontrar a pessoa ou pessoas que podem realmente levar esses meios aos seus limites: quem pode fazê-los trabalhar até o limite de seu potencial., criando produtos totalmente novos, atividades ou experiências. Ele ressalta que, nos primórdios da produção cinematográfica, foram necessárias décadas para a chegada do cineasta russo Serge Eisenstein, que inventou maneiras de editar e sequenciar os tipos de narrativas expressivas e dramáticas que vemos hoje no cinema. Brody pergunta: onde está o Serge Eisenstein da multimídia? (COOK, 2006, p.969)82