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CAPÍTULO 2 Cultura de convergência e práticas de produsagem: novas mídias e

2.1. Práticas letradas associadas às TIC’s: conceitos adotados na tese

Antes de pensar sobre como o design e-learning pode integrar os valores e práticas letradas colaborativas típicas da produsagem e convergência, convém retomar alguns conceitos sobre práticas letradas associadas às TICs, avaliando aqueles que melhor dialogam com os objetivos desta tese. Revendo a literatura pertinente, identificamos três concepções de práticas letradas derivadas das inovações tecnológicas, que merecem destaque neste trabalho: os conceitos de letramento(s), os multiletramentos e o conceito de transliteracias / transletramentos (transliteracies).

Em relação ao letramento, recapitulamos três definições pertinentes elaboradas por Colin Lankshear e Michelle Knobel; Mark Warschauer; e Jay Lemke. A definição proposta por Colin Lankshear e Michelle Knobel (2007), amplamente adotada em meios acadêmicos, apresenta um destaque aos processos de comunicação discursiva, enfocando a produção de sentido e seus processos inerentes em diferentes meios. É uma concepção bastante abrangente:

Na nova edição de Novos letramentos (Lankshear e Knobel 2006), Michele e eu definimos letramento como "maneiras socialmente reconhecidas de geração, comunicação e negociação de conteúdo significativo por meio de textos codificados dentro de contextos de participação nos Discursos (ou, como membros de discursos).”6 (LANKSHEAR; KNOBEL, 2007, p. 2)

A segunda definição de letramento, é a concepção apresentada por Mark Warschauer. Ela é consonante com a de Lankshear e Knobel e se diferencia somente por destacar o conceito de letramento para além de texto codificado, reforçando uma perspectiva de letramento enquanto ações:

Esta perspectiva reconhece a emergência de novos letramentos digitais que focalizam não só as competências fundamentais e práticas de leitura e escrita, mas também as habilidades, conhecimentos e atitudes que permitem formas complexas de conseguir e fazer sentido a partir de múltiplos textos e fontes simbólicas.7 (WARSCHAUER, 2008, p. 215)

6

Tradução nossa: In the new edition of New Literacies (Lankshear and Knobel 2006), Michele and I define literacies as “socially recognized ways of generating, communicating and negotiating meaningful content through the medium of encoded texts within contexts of participation in Discourses (or, as members of Discourses).

7

Tradução nossa: This perspective recognizes the emergence of new digital literacies that focus not only on foundational skills and practices of reading and writing, but also on the skills, knowledge, and attitudes that enable complex ways of getting and making meaning from multiple textual and symbolic sources.7 (WARSCHAUER, 2008, p. 215).

A terceira definição de letramento, proposta por Jay Lemke parece-nos interessante não apenas por sua abrangência, mas também por enfatizar a relação recursiva entre letramento e tecnologia material, por meio da noção de sistema ecossocial. Primeiramente, Lemke reforça o caráter múltiplo dos letramentos ao observar que a palavra deve sempre ser empregada no plural. Em segundo lugar, ele abraça a visão de sistema ecossocial, ao afirmar que os processos materiais (aparatos materiais tecnológicos) estão ligados aos letramentos e à produção de sentidos porque “as acoplagens dos processos materiais e dos processos de práticas sociossemióticas estão rigorosamente integradas” (LEMKE, 2012, P. 145).

Letramentos são legiões. Cada um deles consiste em um conjunto de práticas sociais interdependentes que interligam pessoas, objetos midiáticos e estratégias de construção de significado (LEMKE, 1989a; GEE, 1990; BEACH, LUNDELL, 1998). Cada um deles é parte integral de uma cultura e de suas subculturas. Cada um tem um papel em manter e transformar a sociedade, porque os letramentos produzem ligações essenciais entre significados e fazeres. Os letramentos são, em si mesmos, tecnologias e nos dão as chaves para usar tecnologias mais amplas. Eles também produzem uma chave entre o eu e a sociedade: o meio através do qual agimos, participamos e nos tornamos moldados por sistemas e redes ‘ecossociais’ mais amplos. (LEMKE, 2010, p. 455, grifo nosso)

Os multiletramentos são outro conceito pertinente acerca das práticas letradas associadas às TICs. Esta definição ganhou destaque por meio do manifesto A Pedagogy of

Multiliteracies – Design Social Futures, proposto inicialmente pelo Grupo de Nova Londres,

ainda em 1996. De acordo com o Grupo de Nova Londres:

Decidimos que os resultados de nossas discussões poderiam ser resumidos em uma palavra - multiletramentos - uma palavra que escolhemos para descrever dois importantes argumentos que poderíamos ter com a ordem emergente cultural, institucional e global: a multiplicidade de canais de comunicação e mídia, e o aumento do relevo da diversidade cultural e linguística. A noção de multiletramentos complementa a pedagogia tradicional da alfabetização, abordando esses dois aspectos relacionados à multiplicidade textual. [...] concentra-se em modos de representação muito mais amplos do que a linguagem, a qual é concebida como um sistema estável, baseado em regras tais como a correspondência entre som e letra [...]. Multiletramentos também criam um tipo diferente de pedagogia, na qual a linguagem e outros modos de significado são recursos representacionais dinâmicos, são constantemente refeitos por seus usuários enquanto trabalham para alcançar seus diversos propósitos culturais.8 (THE NEW LONDON GROUP, 1996, p. 63)

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Tradução nossa: We decided that the outcomes of our discussions could be encapsulated in one word - multiliteracies - a word we chose to describe two important arguments we might have with the emerging cultural, institutional, and global order: the multiplicity of communications channels and media, and the

Além da multiplicidade de canais comunicativos e diversidade cultural, o conceito de multiletramentos reconhece que as novas tecnologias geraram novos letramentos multimodais e multissemióticos. O conceito de multiletramentos preocupa-se em reforçar que tais práticas letradas também são variadas porque trazem as marcas de diferentes culturas (valorizadas ou desprestigiadas), as quais perfazem o contexto multicultural de um mundo globalizado. De acordo com Roxane Rojo (2012):

Diferentemente do conceito de letramentos (múltiplos), que não faz senão apontar para a multiplicidade e variedade das práticas letradas, valorizadas ou não nas sociedades em geral, o conceito de multiletramentos - é bom enfatizar – aponta para dois tipos específicos e importantes de multiciplicidade presentes em nossas sociedades, principalmente urbanas, na contemporaneidade: a multiplicidade cultural das populações e a multiplicidade semiótica de constituição dos textos por meio dos quais ela se comunica. (ROJO, 2012, p. 13) (Grifo do autor).

Por fim, convém retomar o terceiro conceito de práticas letradas associadas às TIC’s: transliteracy, ou transletramento / transliteracia. A primeira ocorrência do termo surgiu em 2005, no interior do projeto Transliteracies, orientado por Alan Liu, na Universidade da California. Após interlocução com o grupo de Liu, a pesquisadora Sue Thomas desenvolveu mais a fundo o conceito, junto ao Grupo de Investigação e Produção em Transliteracia

(Production and Research in Transliteracy Group), situado na Universidade de Montfort.

Esta definição introduz uma concepção derivada de letramento: transliteracy, também traduzido como transletramento e transliteracia (BONACHO, 2013).

Transliteracia é a capacidade de ler, escrever e interagir através de uma variedade de plataformas, ferramentas e mídias, desde a assinatura e oralidade, passando por escrita manual, impressão, TV, rádio e cinema, até as redes sociais digitais. [...] A palavra "transliteracy" é derivada do verbo "transliterate", significando escrever ou imprimir uma letra ou uma palavra utilizando as letras correspondentes mais próximas de um alfabeto ou de uma língua diferente. Isto, obviamente, não é nada de novo, mas a transliteração estende o ato de transliterar e é aplicada a uma gama cada vez mais ampla de plataformas de comunicação e ferramentas à nossa disposição [...] o conceito de transliteração exige uma mudança de perspectiva que se distancie do conflito sobre Impressão versus Digital, criando um movimento de ecologia unificadora, não somente de mídias, mas de todos os letramentos relevantes para leitura, escrita, interação e cultura, tanto no passado, quando

increasing saliency of cultural and linguistic diversity. The notion of multiliteracies supplements traditional literacy pedagogy by addressing these two related aspects of textual multiplicity. […] centered on language only, and usually on a singular national form of language at that, which is conceived as a stable system based on rules such as mastering sound-letter correspondence. […] Multiliteracies also creates a different kind of pedagogy, one in which language and other modes of meaning are dynamic representational resources, constantly being remade by their users as they work to achieve their various cultural purposes.

no presente. Isto é, esperamos ter oportunidade de cruzar certas divisões muito obstrutivas. (THOMAS et al, 2007, p.2).9

Desse modo, o conceito de transliteracia inclui as habilidades de leitura, escrita e produção de sentindo, explicitadas pelos demais teóricos, entretanto, o seu desenvolvimento inicial se destacou por insistir na importância de pensar em múltiplas plataformas de mídia. Como salienta Sue Thomas et al:

Nosso pensamento atual (embora ainda não totalmente resolvido) é que, por oferecer uma análise mais ampla de leitura, escrita e interação em uma variedade de plataformas, ferramentas, mídias e culturas, a transliteracia não substitui, mas sim contém "letramentos em mídias" e também "letramento digital". "Convergência" é outro termo que tem se tornado amplamente utilizado, especialmente pela mídia e mundos de jogos, mas é extremamente amplo. Em 2001, o estudioso do MIT Henry Jenkins escreveu: "Parte da confusão sobre a convergência dos meios de comunicação decorre do fato de que, quando as pessoas falam sobre isso, estão descrevendo pelo menos cinco processos" (Jenkins, 2001). Ele enumera esses tipos de convergência como tecnológicos, econômicos, sociais ou orgânicos, culturais e globais, concluindo que "essas múltiplas formas de convergência de mídia estão nos levando a um renascimento digital - um período de transição e transformação que afetará todos os aspectos de nossas vidas "(Jenkins, 2001). A transliteracia é, talvez, a alfabetização desse processo. No entanto, é importante notar que a transliteracia não é apenas sobre materiais baseados em computador, mas sobre todos os tipos de comunicação ao longo do tempo e da cultura. Ela não privilegia um acima do outro, mas trata todos com igual valor e se move entre e através deles. (Thomas et al, 2007, p. 3. Grifo nosso.) 10

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Tradução nossa: Transliteracy is the ability to read, write and interact across a range of platforms, tools and media from signing and orality through handwriting, print, TV, radio and film, to digital social networks. [...] The word ‘transliteracy’ is derived from the verb ‘to transliterate’, meaning to write or print a letter or word using the closest corresponding letters of a different alphabet or language. This of course is nothing new, but transliteracy extends the act of transliteration and applies it to the increasingly wide range of communication platforms and tools at our disposal [...]the concept of transliteracy calls for a change of perspective away from the battles over print versus digital, and a move instead towards a unifying ecology not just of media, but of all literacies relevant to reading, writing, interaction and culture, both past and present. It is, we hope, an opportunity to cross some very obstructive divides.

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Tradução nossa: An ongoing debate within the group focuses on the ways in which transliteracy differentiates itself from “media literacy”, defined by Ofcom as “the ability to access, understand and create communications in a variety of contexts” (Ofcom, 2003). Our current thinking (although still not entirely resolved) is that because it offers a wider analysis of reading, writing and interacting across a range of platforms, tools, media and cultures, transliteracy does not replace, but rather contains, “media literacy” and also “digital literacy.” [6] “Convergence” is another term which has become widely used, especially by the media and gaming worlds, but it is enormously broad. In 2001 MIT scholar Henry Jenkins wrote: “Part of the confusion about media convergence stems from the fact that when people talk about it, they’re actually describing at least five processes” (Jenkins, 2001). He lists these types of convergence as technological, economic, social or organic, cultural, and global, concluding that “these multiple forms of media convergence are leading us toward a digital renaissance — a period of transition and transformation that will affect all aspects of our lives” (Jenkins, 2001). Transliteracy is, perhaps, the literacy of this process. However, it is important to note that transliteracy is not just

Embora haja similaridades entre as concepções apresentadas, esta tese apóia-se na perspectiva de Transliteracia, a qual foi proposta inicialmente por Sue Thomas, em 2007, mas que foi mais bem desenvolvida por outros acadêmicos na última década.

Em nosso entendimento, o conceito de transliteracia é integrativo, ele não apenas abrange as definições anteriores, como desliza para ultrapassá-las (assim como o seu próprio prefixo “trans” indica). Transliteracia engloba dentro de si o conceito de letramentos digitais porque abarca habilidades para lidar com tecnologias e, além disso, preocupa-se com a construção de sentido e o movimento dentro de contextos informacionais complexos. Como explica Suzana Sukovik:

Pensar sobre a transliteracia inclui diferentes habilidades e conjuntos de habilidades, mas a transliteracia é principalmente sobre movimentos em toda uma gama de contextos, tecnologias e modalidades. Isso é algo que as pessoas sempre fizeram, mas as tecnologias modernas trouxeram para mais perto as diferentes áreas de nossa vida e amplificaram a complexidade de nos deslocarmos através delas. Nosso trabalho e vida doméstica são muitas vezes separados por um clique na aba do navegador. Como você está lendo isso, na tela ou no papel, pode haver uma tela de fácil acesso com guias do navegador para o seu e-mail, feed do Twitter, um artigo da revista e a última pesquisa para o melhor preço de um produto que deseja comprar. No seu telefone há uma mensagem do membro da sua família ou de um amigo e, no fundo, você pode ouvir música transmitida e um toque suave de tráfego. Talvez você responda simultaneamente em diferentes idiomas. As investigações sobre a transliteracia estão preocupadas com a fluência do nosso movimento através deste complexo campo de informação que experimentamos diariamente. Como pensamos e o que experimentamos à medida que nos movemos através dele? Quais são as habilidades que precisamos? Isso afeta nossas interações sociais? Antes de considerar a transliteracia ainda mais, ela precisa estar situada entre outros letramentos que usamos para entender nosso mundo de informação em rápida mudança. (SUKOVIC, 2016. P.2) Grifo nosso11

No decorrer desta tese, aprofundamos nossa fundamentação teórica sobre a definição de transliteracia, evitando a tentação de hipersimplificar o conceito (IPRI, 2010). A about computer–based materials, but about all communication types across time and culture. It does not privilege one above the other but treats all as of equal value and moves between and across them.

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Tradução nossa: Thinking about transliteracy includes different abilities and skill sets, but transliteracy is mainly about movement across a whole range of contexts, technologies, and modalities. This is something people have always done, but modern technologies have brought different areas of our lives closer together and amplified the complexities of moving across them. Our work and home lives are often separated by a click on a browser tab. As you are reading this, on screen or paper, there may be a screen within easy reach with browser tabs for your email, Twitter feed, a magazine article, and the latest search for the best price of a product you want to buy. On your phone is a message from your family member or a friend, and in the background you can hear streamed music and a soft hum of traffic. Maybe you respond simultaneously in different languages. Investigations of transliteracy are concerned with the fluency of our movement across this complex information field we experience daily. How do we think and what do we experience as we move across it? What are the skills we need? Does it affect our social interactions? Before considering transliteracy further, it needs to be situated among other literacies that we use to understand our fast-changing information world. (SUKOVIC, 2016. P.2)11

pesquisa nos fez revisar e ampliar nossa concepção sobre transliteracias, examinando a evolução do conceito e os estudos de Tom Ipri (2010), Fernanda R. F. Bonacho (2013) e Suzana Sukovik (2016). Desta feita, nós passamos a compreender as transliteracias como algo mais elaborado do que nosso entendimento inicial (o qual se concentrava no trânsito entre mídias), até alcançar um conceito enfocado na fluidez, complexidade informacional, transferências e movimento entre contextos informacionais diferentes.

Em síntese, pode-se dizer que as transliteracias remetem à noção de contextos super complexos de produção de sentido. Esse aspecto torna tal conceito compatível com a cultura de convergência, porquanto a noção de movimento em ambientes informacionais complexos pode dialogar também com as travessias transmidiáticas, típicas convergência, todavia não pode se limitar a elas ou exclusivamente a movimentos transmidiáticos. Na última década, a noção de contexto informacional supercomplexo tornou-se intrínseca à concepção de transliteracia, pois:

A noção de transliteracia origina-se no contexto de incremento de informação complexa e ambientes comunicativos caracterizados por multimodalidade e novos papéis para criadores e consumidores. Transliteracia preocupa-se com a habilidade para aplicar e transferir uma série de habilidades e percepções para uma variedade de configurações. Em vez de se concentrar em qualquer habilidade ou tecnologia, transliteracia é sobre fluidez de movimento através de uma série de contextos. (SUKOVIC, 2016. s/p.)12

Cabe ainda observar que o conceito de transliteracia mostrou-se mais apropriado para investigação de um curso cMOOC conectivista, pois o conceito tem sido atrelado a um significado social e participativo, como já observou Tom Ipri:

A transliteracia está muito preocupada com o significado social do letramento. Ela explora o caráter participativo dos novos meios de comunicação, que quebra as barreiras entre o meio acadêmico e a comunidade em geral e questiona as noções padrão do que constitui autoridade ao enfatizar os benefícios do compartilhamento de conhecimento por meio das redes sociais. (IPRI, 2010. Disponível em:

https://crln.acrl.org/index.php/crlnews/article/view/8455/8698) 13

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Tradução nossa: The notion of transliteracy arises in the context of increasingly complex information and communication environments characterized by multimodality and new roles for creators and consumers. Transliteracy concerns the ability to apply and transfer a range of skills and contextual insights to a variety of settings. Rather than focusing on any one skillset or technology, transliteracy is about fluidity of movement across a range of contexts. [...]

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Tradução nossa: Transliteracy is very concerned with the social meaning of literacy. It explores the participatory nature of new means of communicating, which breaks down barriers between academia and the wider community and calls into question standard notions of what constitutes authority by emphasizing the benefits of knowledge sharing via social networks.

E igualmente foi afirmado por Suzana Sukovik:

Transliteracia é uma habilidade para usar diversas tecnologias, técnicas, modos e protocolos analógicos e digitais para procurar e trabalhar com uma variedade de recursos; colaborar e participar de redes sociais; e para comunicar significados e novos conhecimentos usando diferentes tons, gêneros, modalidades e mídia. O transliteraciar consiste em habilidades, conhecimento, pensamento e atuação, que permitem o "movimento fluído através" de uma maneira que é definida por contextos situacionais, sociais, culturais e tecnológicos. (SUKOVIC, 2016, p.29)14

Por isso, entendemos que o conceito de transliteracia converge para os pressupostos da aprendizagem conectivista. Em um curso baseado em aprendizagem conectivista, assim como em práticas de construção colaborativa da informação, há a expectativa que a geração de conexões e interações seja capaz de promover a construção de conhecimento. De acordo com Karine Aillerie (2017), a presença do prefixo trans- em transliteracia serve para “destacar natureza coletiva dos usos de informações existentes” (AILLERIE, 2017, p.2). Neste sentido, o conceito de transliteracia também concebe que existe um novo modelo de economia informacional, acontecendo por meio de uma natureza social e coletiva, pois o outro se tornou um elemento fundamental em nosso gerenciamento de informação. Assim sendo, entendemos que nosso gerenciamento de informação em ambientes complexos transita através de outras pessoas para ser acessado, encontrado, caracterizado ou até mesmo validado.

Por fim, se combinarmos a definição de Transliteracia, tal como se fundamentou na última década (Thomas et AL, 2007; IPRI, 2010; BONACHO, 2013; SUKOVIK, 2016; AILLERIE, 2017) com os letramentos de J. Lemke (2010), podemos sintetizar que: a concepção de transliteracia abrange diferentes conjuntos de habilidades (letramentos) que permitem ao indivíduo produzir sentidos comunicativos, interagir socialmente, processar conhecimento, e se mover com desenvoltura dentro e através de ambientes informacionais supercomplexos, por meio de uma metamídia ou diferentes mídias. As transliteracias envolvem o gerenciamento de esquemas mentais, os quais tornam o indivíduo capaz de transferir uma gama de letramentos, protocolos comportamentais, técnicas, procedimentos analógicos para novas configurações de ambientes informacionais complexos. Com transliteracias, os indivíduos transitam e fluem suas habilidades entre esses ambientes, de

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Tradução nossa: Transliteracy is an ability to use diverse analog and digital technologies, techniques, modes, and protocols to search for and work with a variety of resources; to collaborate and participate in social