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cMOOC: Aprendizagem em rede e novas formas de aprender em mundo convergente

CAPÍTULO 3 O conectivismo: aprendizagem em rede

3.5. cMOOC: Aprendizagem em rede e novas formas de aprender em mundo convergente

Assim sendo, os cMOOCs são os representantes da teoria conectivista, e uma de suas características basilares é usar o design para descentralizar o conhecimento da figura do tutor / professor. Tal descentralização é apenas uma das contribuições que esse formato faz para confrontar velhos paradigmas de ensino. Os cMOOCs são considerados um modelo de tecnologia disruptiva baseada em inovação (BATES, 2014); as tecnologias disruptivas possuem configurações que provocam conflito e rompimento das estruturas tradicionalmente estabelecidas. Conforme mencionamos há pouco, o modelo de redes e onipresença da abordagem conectivista depende intensamente das tecnologias ubíquas, as quais possuem como atributo uma “condição de inovação disruptiva radical” (PADILLA,2012, p. 263)60.

O modelo cMOOC constitui e explora uma nova ecologia de aprendizagem na educação e-learning (SAADATMAND, 2017), eles são considerados como um produto de

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Tradução nossa: a MOOC integrates the connectivity of social networking, the facilitation of an acknowledged expert in a field of study, and a collection of freely accessible online resources. Perhaps most importantly, however, a MOOC builds on the active engagement of several hundred to several thousand “students” who self- organize their participation according to learning goals, prior knowledge and skills, and common interests. Although it may share in some of the conventions of an ordinary course, such as a predefined timeline and weekly topics for consideration, a MOOC generally carries no fees, no prerequisites other than Internet access and interest, no predefined expectations for participation, and no formal accreditation.

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“ecossistemas de aprendizagem digital”61 que se fundamenta na variedade de recursos, canais comunicativos e riqueza de design (VELETSIANOS et al, 2016, p. 1).

Dessa maneira, os cMOOCs procuram reforçar a heterogeneidade e a aprendizagem distribuída, por isso incentivam seus alunos a extrapolar os espaços de aprendizagem, disseminando os conteúdos, encontros e discussões através de vários espaços (chat, fórum, comunidades em redes sociais). Suas estratégias de design também estimulam os próprios sujeitos a indicarem novos vídeos, leituras e textos aos colegas.

O cMOOC não exige a memorização de um conteúdo linear e único, mas enfoca as atividades e desempenho dos alunos, para que eles produzam novas conexões e se aprofundem em outros temas conforme seus interesses e objetivos individuais. As capacidades para se conectar, filtrar fluxos e fazer a manutenção do conhecimento fazem parte dos objetivos dos cMOOCs conectivistas.

Segundo Mohsen Saadatmand, uma distinção relevante entre xMOOC e cMOOC reside na preocupação com aprendizagem contextualmente autêntica. Para construir aprendizagem autêntica, o projeto de design instrucional para um cMOOC deve fazer com que as propiciações e usabilidade das interfaces envolvidas integrem o projeto pedagógico subjacente, isso significa que a participação em cMOOC demanda de maneira imperativa “o envolvimento em uma variedade de atividades em mídias sociais e ferramentas on-line para acompanhar os objetivos do curso” (SAADATMAND, 2017, p 85)62.

Considerando as condições em que são desenvolvidos, o mesmo autor conceitua os cMOOCs como uma ecologia de aprendizagem em rede aberta, no original ONLE (Open

Networked Learning Ecology – Ecologia de Aprendizagem em Rede Aberta)

(SAADATMAND, 2017, p. 82). De acordo com a visão do autor, essa conceituação:

[...] reconhece as possibilidades tecnológicas no design de aprendizagem para promover possibilidades sociais e pedagógicas que ajudam os alunos a moldar suas experiências e interações de aprendizado. Nessa ecologia da aprendizagem, os aprendizes estão posicionados na interseção de situações personalizadas e em rede, em que são incentivados a serem autônomos e autodirecionados no gerenciamento de suas atividades de aprendizado na diversidade de recursos, e a desenvolver e manter conexões e interações. Em outras palavras, os aprendizes também são co-designers (Jonassen, 1994) de seus ambientes de aprendizagem para pensar

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Tradução nossa: ecosystems of digital learning environments.

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Tradução nossa: [...]engaging in a variety of activities through social media and online networking tools to keep up with the course objectives.

conscientemente sobre a escolha de tecnologias como ferramentas cognitivas. (SAADATMAND, 2017, p. 82. Grifo nosso)63

Portanto, para o desenvolvimento de uma ONLE, temos quatro elementos-chave: (a) abertura, (b) autonomia, (c) riqueza de ferramentas, (d) interatividade. Uma breve reflexão mostra que esses elementos derivam das premissas da aprendizagem conectivista: conexões, redes, ecologias de aprendizagem, caos, complexidade, auto-organização.

a) Abertura: a abertura se relaciona ao caos, em uma imbricada relação de causa e consequência: quanto mais aberta é a aprendizagem, menos estruturada e mais (aparentemente) caótica se torna. No nível individual, a interação se dá com conteúdo e ferramentas, a abertura fomenta a criação de uma experiência de aprendizagem distinta para cada participante, visto que cada indivíduo está ambientado dentro de ecologias de aprendizagem virtuais e físicas, que são extremamente idiossincráticas; igualmente, cada aluno se auto-organiza de maneira própria, pois carrega uma experiência prévia de letramentos, valores e recursos particulares.

No nível social, a interação acontece com outros alunos ou facilitadores, e a abertura se transforma no potencial coletivo para geração de redes e contribuição, o que remonta aos valores da equidade, participação plena e conexão social, que expusemos no capítulo precedente.

Na prática do design de conteúdo e-learning, essa abertura concorrerá para uma estrutura descentralizada de conteúdo, estimulando o aluno a fazer movimentos de navegação, se quiser realmente cursar aquele estudo. Portanto, à semelhança das estratégias de cultura de convergência, esse formato demanda um participante mais ativo, disposto a transitar entre ambientes informacionais complexos, no intento de encontrar a informação desejada.

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Tradução nossa: This conceptualization acknowledges technological affordances in learning design to promote social and pedagogical affordances that help learners shape their learning experiences and interactions. In this learning ecology, learners are positioned at the intersection of personalized and networked situations where they are encouraged to be autonomous and selfdirected in managing their learning activities in the diversity of resources, and to develop and sustain connections and interactions. In other words, learners are also co-designers (Jonassen, 1994) of their learning environments to mindfully think about the choice of technologies as cognitive tools.

Figura 7: a ecologia de aprendizagem em rede aberta de um cMOOC.

Fonte: Adaptado e traduzido de SAATMAND, M. 2017, p. 82.

b) Autonomia: proporcionalmente, a autonomia deriva da abertura. O modelo de MOOC conectivista é fortemente centrado no aluno, em sua autonomia e habilidades, pois a flexibilidade estrutural faz com que cMOOCs sejam “mais confiantes nas capacidades dos alunos para se auto-organizar e coparticipar, eles confiam na agregação de conteúdo e avaliação dos pares” (GUARDIA; MAINA; SANGRA; 2013, p. 2)64.

Ademais, estudantes com maior grau de autonomia “tiram vantagens da tecnologia para desenvolver soluções de design a fim de apoiar sua aprendizagem” (SAADATMAND, 2017, p. 83) 65, porquanto são capazes curatoriar um rol maior de ferramentas que suavizem e amparem seus processos cognitivos ou intensifiquem suas conexões / interações.

c) Riqueza de ferramentas: A riqueza de ferramentas é essencial num MOOC conectivista, pois elas podem funcionar como a costura ou cola que mantém unidas as ligações de uma rede. Na contramão das conexões, a abertura e a desestruturação do conteúdo podem, inversamente, gerar distanciamento entre indivíduos. Em vista disso, as

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Tradução nossa: [...] and more confident of learners’ capacities for self-organizing and co-participating, they rely on content aggregation and peer evaluation.

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Tradução nossa: [...] autonomous learners take advantage of technology to develop design solutions to support. their learning

ferramentas de interação podem estreitar as distâncias, funcionando como a cola da rede que une alunos, facilitadores e toda comunidade com seus recursos.

Em nossa interpretação, esse elemento remonta diretamente aos princípios de foco na produção e propósito compartilhado (que constam na declaração de Princípios Subjacentes

à Aprendizagem Conectada), pois faz com que o design de ferramentas priorize conexões

sociais e também assume que o design do software (do portal ou AVA) deve enfocar a produção e interação de participantes, ofertando ferramental adequado.

d) Interatividade: A abertura de cursos massivos amplia a variedade de público, incrementando a oferta social e melhorando as chances de fazer conexões e construir interações consistentes. Esse incremento aumenta progressivamente a chance de encontrar outros indivíduos com interesses compartilhados. Tal perspectiva se coaduna perfeitamente ao princípio de pontos de apoio, o qual concebe que a aprendizagem entre pares é capaz de reforçar o fluxo de contribuição, suporte e feedback.

Em decorrência da abertura, quando um curso é distribuído através de múltiplas plataformas (portal, Twitter, Youtube, Fórum Discourse ou um AVA), os alunos incorporam as ferramentas dessas plataformas para interagir entre si, com maior rapidez e intensidade. Essas ferramentas apresentam propiciações para organização, criação, processos curatoriais, conexão com pessoas e determinam fluxo do conhecimento (SAADATMAND, 2017).