• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III. ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

3.1 Metodologia de intervenção/investigação: fundamentação

3.1.3 As entrevistas

Em relação ao instrumento anterior, a entrevista convoca elementos manifestamente diferentes: exige um trabalho intenso antes de ser realizada, na sua preparação, mas representa um trabalho não menos exigente durante o decorrer da própria, na medida em que requer uma sensibilidade apurada na reformulação de novas questões não pensadas anteriormente mas que se impõem no momento, para sentir a direcção em que as respostas seguem, se o ambiente mantém a entrevista sustentável, na medida em que o entrevistado pode reagir de forma adversa às questões que se lhe colocam, é necessário também ter consciência dos tempos de resposta, se o entrevistado realmente respondeu ao que lhe foi perguntado, se a pergunta foi inteligível, entre outros factores. As entrevistas não são simples conversas, têm um objectivo bem orientado que “permite ao investigador desenvolver uma ideia intuitiva sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” (Bogdan e Biklen, 1994: 134). A entrevista afigura-se muito mais exigente ao nível da relação interpessoal, sendo também necessária capacidade de criação de empatia e sentido de comunicação apurado para que seja desenvolvida de forma exemplar, ao mesmo tempo que a sua utilização apresenta vantagens: permite grande envolvimento dos actores, contacto directo entre estes e o investigador e a recolha das informações em primeira-mão.

Procurou-se a elaboração de uma entrevista de tipo semi-estruturada, na medida em que, tendo por base um guião previamente elaborado foi dada aos entrevistados a liberdade para intervirem sempre que achassem necessário e foram introduzidas novas questões sempre que se julgou pertinente, servindo também para explorar informações obtidas anteriormente. Deste modo, “o entrevistador tem assim a possibilidade de adaptar este instrumento de pesquisa ao nível de compreensão e receptabilidade do entrevistado” (Moreira, 1994: 133).

A escolha das figuras a entrevistar procurou ser estratégica e tem como principal finalidade capturar as percepções sobre os diversos temas abordados, as diferenças entre estas em função dos cargos ocupados, que no caso, constituem posições privilegiadas no olhar destes domínios. Assim, as entrevistas foram realizadas, em primeiro lugar à coordenadora do gabinete da formação44 e depois, devido à disponibilidade, ao Presidente45 da ACMVV. A estrutura das duas entrevistas possui pontos comuns, pois concentram-se em questões sobre a identidade do

44Conferir apêndice número 4. 45 Conferir apêndice número 5.

entrevistado, questões sobre a ACMVV e outro bloco de perguntas sobre a formação. Mas nas entrevistas é chamado outro tema específico dentro destes, que está relacionado com o plano de análise: a acreditação. E este é um tema transversal às dimensões em análise: é um instrumento de regulação e gestão, sob o ponto de vista das políticas; é um instrumento de legitimação e financiamento, na perspectiva da entidade e é determinante e dominador nas práticas formativas.

No caso da entrevista realizada à coordenadora da formação, uma segunda parte da entrevista consistiu em questões sobre o funcionamento da formação na ACMVV, procurou-se saber:

- desde quando as actividades formativas são desenvolvidas, porquê e com iniciativa de quem;

- como a formação funciona na organização, com que recursos materiais e humanos; - qual a percepção sobre o papel da ACMVV enquanto entidade promotora da formação; - a existência de um projecto formativo e a sua importância;

- o público-alvo definido pela ACMVV e com que objectivos; - as prioridades do trabalho formativo;

- a perspectiva sobre o rumo das actuais políticas de educação e formação; - a utilidade da acreditação para a ACMVV.

Por outro lado, na entrevista à coordenadora, a tónica foi colocada sobre a formação que é desenvolvida pela associação, os cursos modulares certificados, que foram directamente alvo de avaliação neste trabalho. Também porque esta era a personalidade posicionada de modo privilegiado para poder responder a este tipo de questões, directamente relacionadas com as formações modulares. Deste modo procurou-se tomar conhecimento sobre:

- quem/o que planifica os cursos modulares, os seus objectivos, conteúdos e metodologias;

- qual o papel desempenhado pelos formadores na formação;

- como é o contacto com os formadores e que tipo de informação lhes é transmitida; - os aspectos organizacionais em relação à formação que poderiam ser melhorados; - o contacto que a ACMVV tem com a formação enquanto esta decorre;

- os pontos fortes e fracos da relação entre as duas entidades promotoras dos cursos; - o modo como a partilha de informação acontece entre as duas organizações, associação e empresa de formação;

- as implicações nas diferenças das missões de ambas as organizações para a formação;

- as mudanças organizacionais impulsionadas pela acreditação; - a utilidade da existência do referencial de formação;

- a função das acções modulares;

- a existência de algum processo de avaliação na associação e/ou na formação; - a importância da avaliação e seus principais usos e funções.

A entrevista realizada ao presidente da associação teve alguns contornos semelhantes, nomeadamente, no bloco de questões direccionadas à associação, a perspectiva de análise aqui já não era a do funcionamento da formação, mas antes o funcionamento da associação em si, tema também relacionado com a posição do entrevistado. Este tema nesta entrevista veio a confirmar-se muito importante para o entendimento das origens da associação, das variadas motivações que levaram a organização a surgir e do funcionamento dos seus órgãos. Procurou- se conhecer:

- os órgãos presentes na associação e as suas funções;

- as implicações das características tão peculiares da associação no seu funcionamento; - as principais funções do presidente da associação;

- a estruturação e funcionamento do trabalho na associação: - em que aspectos se traduz o trabalho associativo;

- como se distribui o poder na associação;

- como se caracteriza a participação democrática e os processos eleitorais;

- como são representadas as situações de conflito político-partidário na concorrência eleitoral;

- as formas de financiamento da associação;

Assim como na entrevista à coordenadora, também esta entrevista possui uma fracção dedicada mais em exclusivo à formação, na qual muitas questões são coincidentes com a outra. No entanto, nas questões não coincidentes procurou-se essencialmente saber:

- o significado do desenvolvimento dos cursos de formação na associação; - o grau de autonomia da associação em relação ao financiamento.

Ambas as entrevistas decorreram nas instalações da ACMVV, numa sala vazia e em horários previamente definidos de modo a que não houvesse interrupções. Os entrevistados

responderam a todas as questões prontamente. As entrevistas foram gravadas, com o consentimento dos entrevistados, através de equipamento digital e posteriormente transcritas e enviadas aos entrevistados para que fossem alvo da sua análise, pelo que não houve qualquer elemento apontado por estes como alvo de alteração ou revisão.