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O pacto da formação: trabalho e contextos

CAPÍTULO IV. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.3 O pacto da formação: trabalho e contextos

O tipo de formação estudada, a formação modular certificada é, como já foi dito, uma das modalidades de operacionalização dos referenciais dos cursos EFA mas que, ao contrário destes cursos, apresenta uma carga horária muito menor, tal como a forma modular prediz e, para além disso, não prevê a existência de outras formas de formação que não sejam aquelas de cariz mais tecnológico, excluindo a formação de tipo mais reflexivo presente nos cursos EFA, como sejam os módulos Aprender com Autonomia ou a construção do PRA, que têm como principais objectivos a promoção da auto-análise e auto-estima e a cativação para o processo formativo. A formação modular certificada é, assim, tendo em conta estes factores, uma forma de formação muito limitada, se tivermos em consideração uma forma de educação e formação mais ampla, abrangendo campos de reflexão mais diversificados como a cidadania, a educação básica, a justiça social ou a solidariedade. Este tipo de formação constitui a maior parte das acções promovidas pela ACMVV50. Constituem objectivos declarados desta tipologia: “elevação dos níveis de qualificação dos activos, garantindo-lhes o acesso a módulos de formação de curta duração, capitalizáveis, realizados no quadro de um determinado percurso formativo, com vista à obtenção de uma qualificação correspondente a uma saída profissional” (Despacho nº 18223/2008 de 8 de Julho).

Por outro lado, se analisarmos os referenciais deste tipo de formação verificamos que se inscrevem num tipo de formação largamente relacionada com o mundo do trabalho, focando certos aspectos de um trabalho específico, pelas referências constantes realizadas nos conteúdos e pela realidade vivida na sala de formação: pois os exemplos preferenciais, mais

comuns, são os do mundo do trabalho, estabelecendo o trabalho como modelo, ainda que a maioria dos formandos sejam desempregados de longa duração ou que já tenham vivido situações de desemprego. A coordenadora da formação sublinha também outras desvantagens dos referenciais:

“para certos públicos, os referenciais não se adequam, (…). Penso que o CNQ deveria ter em conta o tipo de público a que são destinados. Agora já começaram a melhorar um pouco pois já fizeram referenciais para pessoas com deficiência, mas ainda há muito caminho para andar”.

Gráfico 2. Situação Profissional Actual

Situação Profissional

11

2 2 20

trabalhador por conta de outrem a tempo inteiro

trabalhador por conta de outrem a tempo parcial

profissional liberal

desempregado

Gráfico 3. Situações de desemprego

Já se deparou com situações de desemprego?

29

5 1

sim não não responde

De uma forma geral, os conteúdos de formação a abordar presentes nos referenciais de formação, representam uma escolha, de dentro de um vasto campo de conhecimentos, que vão preferir certos aspectos em detrimento de outros, que simultaneamente são observados,

invariavelmente do ponto de vista do trabalho e do trabalhador, fazendo referências às necessidades de um trabalho que implique esse aspecto. Como exemplo, no curso de Gestão do Tempo e Organização do Trabalho, o referencial de formação integra como um dos primeiros pontos a abordar no conteúdo, a

análise de desperdiçadores de tempo

do ponto de vista do realizador da tarefa, mas não integra, por exemplo, a análise do tempo enquanto construção social complexa, em que a preocupação com a sua divisão tem origem num determinado período da história da humanidade, ignorando elementos de reflexão sobre a origem e clarificação das próprias elaborações que apresentam. Apresentados desta forma, estas afirmações parecem ser apenas comunicações, que servem para aplicar ou fornecer noções de aspectos relacionados com o trabalho. Assim, os conteúdos são apresentados de uma forma neutra, inquestionáveis, não como uma das perspectivas existentes. Pelo que também o que não é incluído no conteúdo modela o conteúdo eleito e reforça as suas funções, que neste caso parecem estar intimamente ligadas à operacionalização básica de um trabalho enquanto executor.

Também a coordenadora da formação toca neste ponto quando refere que, enquanto formadora, sente algumas dificuldades neste tipo de trabalho formativo, pois é difícil focar aspectos do trabalho quando nenhum formando ou a maioria do grupo não está inserido no mundo do trabalho:

“Estão ligadas ao trabalho [as formações modulares], fazendo uma aproximação às tarefas e conteúdos do mundo do trabalho. Mas cumprem essa função menos do que se esperava. Também não podem pedir a pessoas afastadas do mundo profissional que consigam fazer essa ponte. Quando são pessoas a trabalhar na área, quando chegam ao trabalho ainda podem conseguir em diversas situações do dia-a-dia aplicar o que aprenderam. Quem está desempregado não pode fazer isso.”

Na verdade, alguns autores (Estêvão, 2001) afirmam que esta preocupação demonstrada pelo trabalho, nomeadamente através da formação, se destina, ao contrário do que imediatamente se possa pensar, a afectar directamente não os trabalhadores, mas desempregados, na medida em que, na naturalização do mercado de trabalho competitivo, o desemprego é encarado enquanto consequência espontânea ou como uma solução. A formação surge como uma aliada na aceitação pacífica, como instrumento de disciplinação, parecendo parte da

organização da exclusão

(Estêvão, 2001).

Também no que diz respeito à avaliação da formação que é sujeito este tipo de formação, parece importar-se mais com os domínios da acreditação da empresa que está a ser financiada com as verbas dos programas com o intuito de justificar orçamentos e despesas e que, assim importa mais aos administrativos e gestores da formação do que aos formandos e formadores que em conjunto desenvolvem o processo pedagógico. A avaliação dos formandos é realizada através da qualidade da sua participação nos temas abordados, na maior parte dos casos é esse o factor que contribui para o juízo de valor. No entanto, os formadores também administram pequenas fichas de trabalho que contribuem para a avaliação. Apesar de estar em questão poucas horas de formação, a dimensão dos grupos também contribui para que o formador esteja atento a cada um dos formandos, pelo que a avaliação que acontece apresenta características híbridas e incipientes, referindo-se ora ao domínio formativo, ora ao sumativo ou criterial, em função das práticas do formador, ao qual é deixada liberdade na forma de avaliação das pessoas em formação. A avaliação mencionada parece não ter consequências ao nível de classificação dos formandos, servindo essencialmente para constituir um instrumento de justificação na emissão dos certificados de frequência. A prestação de contas, neste caso, é responsabilidade da entidade que promove e é nesse nível que a avaliação adquire subitamente poder e importância. O que neste caso, a pouca importância concedida à avaliação das aprendizagens no contexto de sala de formação parece dar força ao argumento da função da formação enquanto instrumento de disciplinação e de naturalização das situações de emprego/desemprego, em detrimento da perspectiva de preparação para o trabalho.

Sob outra perspectiva, a questão do Estado-Providência não está ultrapassada: “Alguns sociólogos como Jürgen Habermas têm feito notar que, apesar dos muitos problemas e contradições que lhe são inerentes, não é possível substituir o Estado-Providência” (Afonso, 2005:102), tanto pela falta de substitutos, como pela irreversibilidade de algumas estruturas de compromisso pelas quais foi necessário lutar, tal como, o direito ao trabalho, à igualdade de oportunidades, à protecção social e aos serviços de saúde. O que está em causa parece ser a ideologia do êxito, segundo a qual a distribuição das recompensas deveria ser o reflexo das realizações individuais, com a desacreditação do mercado, enquanto mecanismo justo de distribuição das oportunidades, o sucesso ocupacional passa a ser mediado pela escola e pela formação, quando precisamente, também este sector parece padecer de uma crise. O que leva, para além da crise económica ou da crise política referidas por Habermas (Afonso, 2005), à

“Relativamente aos jovens, a crise de motivação acentuar-se-ia quando estes se dão conta, por exemplo, que perante a crise económica e na sequência do desaparecimento da ideia de vocação, conseguir um emprego significa apenas a oportunidade de obter um salário, ou pior ainda, que o crescente esforço exigido pela escola garante cada vez menos a inserção no mercado de trabalho e a concretização dos projectos pessoais” (Afonso, 2005: 105).

Esta ideia é amplamente confirmada pelas respostas dos formandos que, quando questionados sobre a importância do trabalho se dividem em relação ao acesso ao salário e à possibilidade de realização pessoal, embora a primeira leve uma ligeira vantagem nas respostas.

Gráfico 4. A justificação da importância atribuída ao trabalho

A grande maioria dos formandos é frequentadora esporádica de cursos de formação promovidos na sua região. Quanto à ligação da formação com o trabalho, também a maioria dos respondentes os relacionam, nomeadamente ao atribuir à frequência da formação vantagens competitivas no acesso ao trabalho, com referência às competências e à utilidade da formação que frequenta no momento para a melhoria da sua empregabilidade. Numa pergunta com resposta aberta, a referência às competências pode ser explicada em parte, pela familiaridade do termo no léxico do meio dos cursos EFA, onde a palavra é utilizada de forma recorrente.

4 16 1 14 0 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Não re

spondeordena do ocupaç ão realiza ção pe ssoal estatu to soci al conhec er pes soas n ovas A importância do trabalho

Gráfico 5. Frequência de outros cursos de formação 30 5 0 5 10 15 20 25 30 sim não

Já frequentou outros cursos de formação?

Gráfico 6 e 7. Porque pensa que é possível conseguir trabalho ou não com as formações que frequenta ou frequentou?

Gráfico 8. Utilidade dos temas abordados na formação para o futuro É possível porque... (12 respostas)

9 1 1 1 18 Recheio de carteira de competências

pelo carácter informativo do curso

tenho capacidades para isso

a formação é uma base para iniciar uma actividade

não responde

Não é possível porque... (5 respostas)

1 1 1

1

1

18

idade não tolerada pelo mercado de trabalho

pouca credibilidade destas formações no mercado de trabalho

a formação não implica emprego

ainda não foram suficientes

porque já as frequentei há muito tempo não responde 13 12 2 3 5 0 2 4 6 8 10 12 14

muito útil útil inútil não se aplica Não responde

Utilidade dos temas para a actividade que espera desempenhar no futuro

Gráfico 9. Utilidade da formação para a melhoria da empregabilidade 16 11 3 5 0 2 4 6 8 10 12 14 16

muito útil útil inútil Não responde

Contribuição da formação para a melhoria da empregabilidade

As respostas voltam a dividir-se mais acentuadamente quando são questionadas directamente sobre a possibilidade de inserção no mercado de trabalho em relação à formação que frequentaram, embora a maioria responda afirmativamente. Efectivamente, entre o sim o não, nomeadamente no gráfico seguinte, a diferença não é muita e o valor de não responde é elevado o que conduz a uma exteriorização de incerteza. Retira-se a ideia que, de entre um clima de incerteza, a frequência das formações será a melhor opção. Pode-se retirar dos valores explicitados que se propaga, entre os formandos, uma ideia de que a formação é válida principalmente quando numa lógica de acumulação, funcionando assim enquanto “mito”, capaz de resolver todos os problemas, nomeadamente os do mercado de trabalho, o que vai ao encontro das respostas obtidas à questão sobre a possibilidade de conseguir trabalho através da formação, onde a maior parte das pessoas que responderam, apontaram o recheio da carteira de competências. Do mesmo modo que os formandos se apercebem que uma só formação não será suficiente, a acumulação de várias formações existe com o intuito de dar resposta à flexibilização existente no mundo do trabalho.

Gráfico 10. Pensa que é possível conseguir trabalho devido às formações que frequentou?

Pensa que é possível conseguir trabalho com essas formações? 9 11 15 0 2 4 6 8 10 12 14 16

No entanto, os formandos assumem que a principal razão para a sua inscrição está mais relacionada com a sua realização pessoal do que com a sua reintegração no mercado de trabalho, com especial chamada de atenção para a negação total da frequência enquanto produto de uma qualquer obrigação ou imposição. Regista-se assim que a frequência da acção de formação é um acto de liberdade individual de cada um, motivada principalmente pela procura de valorização pessoal através da formação.

Gráfico 11 e 12. Razões da inscrição

O que o levou a inscrever-se?

21 10 4 5 5 5 5 2 4 0 0 12 1 12 12 1 12 13 12 8 0 31 0 0 0 0 5 10 15 20 25 30 35 concordo totalmente

concordo discordo discordo totalmente

sem opinião

valorização pessoal

aprender uma nova profissão razões económicas

curiosidade obrigatoriedade

O que o levou a inscrever-se? (continuação)

13 9 4 9 0 0 0 0 0 0 1 00 00 00 00 2 33 34 2 33 0 5 10 15 20 25 30 35 40 concordo totalmente

concordo discordo discordo totalmente sem opinião não responde reintegração no mercado de trabalho

melhorar no exercício da minha profissão

enriquecimento do currículo

As perspectivas sobre a formação parecem adquirir contornos individuais, com a formação a exercer domínio em aspectos de índole mais individual como a aprendizagem, aproveitar as potencialidades pessoais e aquela considerada a segunda resposta mais verdadeira como forma de arranjar trabalho mais facilmente.

Gráfico 13. A Formação é uma forma de…

Com o que se tem vindo a afirmar até então parece importante fazer algumas referências ao contexto de empregabilidade que é apontado em várias questões como factor importante na formação. É um conceito que, surgido no século XX marcado pelo cultura anglo- saxónica, serve inicialmente para distinguir a população empregável da não empregável. No entanto este conceito foi-se disseminando, o que de certa forma contribuiu para que este se tornasse cada vez mais impreciso, impulsionado pela abertura dos mercados mundiais, bem como pela globalização, pelas inovações tecnológicas e pelo reajustamento das empresas e organizações a esses mercados globais (Almeida, 2007). Assim, várias concepções de empregabilidade têm vindo a ser identificadas, sendo que segundo Almeida (2007) se destacam a empregabilidade de iniciativa e a empregabilidade interactiva. Enquanto que a empregabilidade de iniciativa engloba sobretudo os factores individuais escolares e académicos, ou seja

2 2 6 0 6 2 8 4 6 0 0 2 2 10 2 3 5 17 1 1 1 5 1 1 1 7 1 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

a mais verdadeira a segunda mais verdadeira

a terceira mais verdadeira

suprir uma necessidade pessoal ter acesso a uma remuneração arranjar trabalho mais facilmente aprender mais

completar a escolaridade conhecer pessoas novas afastar a solidão

aproveitar as potencialidades pessoais

“pressupõe por parte dos trabalhadores uma acção amplamente flexível num mercado de trabalho desregulado” (Almeida citando Gazier, 2007: 53), a empregabilidade interactiva acrescenta ao individual os factores externos por exemplo: a tendência do mercado, as formas contratuais, as condições que o trabalho oferece, as políticas de recrutamento e, em geral, a política de gestão de recursos humanos da empresa, factores estes determinantes no enriquecimento das potencialidades do indivíduo. Tal como refere o autor, o conceito de empregabilidade vem colocar em causa o sistema educativo, em particular a escola, na medida em que esta é uma instituição privilegiada no que diz respeito à aprendizagem, mais concretamente pelas competências e saberes que transmite aos seus alunos.

Esta é uma perspectiva que está na linha de pensamento da empregabilidade de iniciativa, que contribui em muito para a responsabilização da escola, em relação às competências e à empregabilidade dos seus alunos, sendo fortemente criticada pela sociedade quando se evidenciam elevados índices de desemprego entre os seus alunos. Por outro lado, esta visão não contempla a importância dos contextos de trabalho na promoção e manutenção da empregabilidade. Seguindo esta linha de pensamento, podemos dizer que a empregabilidade interactiva traduz uma mudança significativa no modo de olhar estes assuntos, dado que para esta, a empregabilidade deixa de ser um problema exclusivo da escola ou do indivíduo para passar a ser igualmente uma responsabilidade das organizações. Por outro lado, Almeida (2007) também defende que as organizações dispõem de dois principais instrumentos para promover os processos de aprendizagem nos indivíduos integrados em organizações e assim desenvolver o seu estado de empregabilidade e melhor atingir os objectivos organizacionais. São esses instrumentos a formação profissional e as formas de organização do trabalho. No que à formação profissional diz respeito, esta é encarada sobretudo como um investimento, reflectindo assim uma maior valorização dos trabalhadores para a organização. Deste modo, ao se facultar ao indivíduo a formação, este assume um comprometimento com a organização beneficiando da valorização das competências pessoais, por outro lado, estando em melhores condições de oferecer à empresa uma maior capacidade competitiva e um aumento de produtividade, não esquecendo todavia as limitações decorrentes do investimento na formação, ou seja, as diferenças no investimento, e as desigualdades no acesso e nas modalidades de formação profissional.

Porém, vemo-nos confrontados com outro nível de crítica para o qual o discurso da empregabilidade tem um significado comprometedor. Este outro nível crítico faz a sua

abordagem através do que refere ser a “linguagem pós-moderna da gestão de recursos humanos e da formação” (Estêvão, 1998) e que pende para lógicas neo-tayloristas. Na verdade, ao invocar a formação e a valorização da gestão dos recursos humanos ou até a própria formação das organizações, definidas como organizações que aprendem (em paralelo com as organizações aprendentes de Almeida), existe uma tentativa de alterar as organizações estruturadas pelo controlo, para organizações estruturadas pela aprendizagem. Por consequente, o humanismo que subjaz a esta concepção de gestão de recursos humanos, não torna, só por si, a formação na solução rápida para aumentar a motivação, o envolvimento e a participação,

mas procura acima de tudo um “

empowerment

pelo compromisso” (Estêvão: 1998) em vez do

conflito. Assim, a cooperação, a participação, a lealdade e a preponderância da aprendizagem polivalente surgem com um sentido: o fazer mais com menos.

Gráfico 14. Conseguiu trabalho com a frequência dessas formações?

0 27 8 0 5 10 15 20 25 30

sim não Não responde

Conseguiu trabalho com essas formações?

Os dados parecem rumar em direcções ambíguas: por um lado, os formandos acreditam que a formação que frequentam lhes pode abrir oportunidades no mercado de trabalho e acreditam que a formação, de uma forma geral, os prepara individualmente para o exercício de uma profissão porque lhes permite aprender mais e aproveitar as suas potencialidades pessoais; por outro lado, nunca nenhum dos respondentes conseguiu trabalho com algum curso de formação que frequentou apesar de a grande maioria ter já frequentado vários cursos, o que os levou à inscrição foram essencialmente motivos relacionados com a sua valorização pessoal (com 31 respostas do grupo concordo face às 22 respostas da reintegração profissional), para além de que também parecem valorizar a reflexão em torno da construção da cidadania como objectivo da formação (com 7 respostas no grupo da terceira mais verdadeira). Assim, a

formação parece estar incumbida de tornar possível o melhor de dois mundos, o profissional ligado à ânsia por um trabalho; e ao mundo da vivência pessoal, que confere um sentido para a vida, que reverte o ostracismo e a anulação social a que, não só o desemprego pode votar mas também a falta de laços sociais, de amizade, de partilha e de solidariedade. Não será por acaso

que uma das funções da formação mais valorizadas terá sido também a de

conhecer pessoas

novas,

no grupo da

terceira mais verdadeira

e que, em relação a outras respostas como uma forma de

completar a escolaridade

poderá ser um resultado surpreendente, conseguindo o dobro das preferências no total. Se numa perspectiva pessoal dos formandos, a promessa do pacto com a formação em relação à integração profissional está longe de se afirmar cumprida, permanece a crença de que esta ainda se pode cumprir, enquanto que a promessa de uma vivência mais completa parece estar a desenvolver-se plenamente, a julgar pelos momentos de festa, comemoração, partilha e agradecimento que aconteceram em quase todas as acções desenvolvidas, com troca de prendas, experiências e ofertórios entre todos os participantes. Também a coordenadora partilha de uma visão própria sobre a sua experiência na formação deste tipo em relação aos impactos da formação na vivência dos formandos:

“Impactos têm a vários níveis. Não vou dizer que numa formação de vinte e cinco horas as pessoas saem daqui com uma bagagem enorme sobre o tema. Mas alguma coisa fica e isso é importante. O que eu tenho visto é que estas formações fazem com que exista uma mudança social, principalmente entre as mulheres porque nem sequer pensavam em sair de casa, principalmente à noite, com os filhos e o marido, que não deixavam. (…). Há mudança social, no sentido de abrir o olhar da mulher e também da mais idosa a um mundo novo, que lhe permite sair e estar num contexto diferente que não o da família e da casa. Por outro lado, também ajuda pessoas que já há muito tempo deixaram a escola (e não falo só de pessoas mais velhas, temos aqui pessoas jovens que já deixaram a escola há imenso tempo) e ensina-lhes outra vez as regras de estar em conjunto com outros, o de aprender em conjunto, o de respeitar os outros e tentar compreender o mundo, que muitos já deixaram de fazer. (…) Quanto menor for a