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CAPÍTULO III. ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

3.1 Metodologia de intervenção/investigação: fundamentação

3.1.2 O inquérito por questionário

Uma das técnicas de recolha de dados utilizada foi o inquérito por questionário39 que serviu para inquirir os formandos que frequentaram os cursos modulares certificados que terminaram entre Março e Maio. Portanto, dentro do tempo de estágio. Foi, então, realizado um inquérito por questionário constituído por quatro partes. Nas duas primeiras partes pretendia-se fazer um enquadramento das características pessoais do inquirido, através de algumas variáveis independentes que depois podiam servir para relacionar com outras variáveis, mais ligadas

especificamente com o objecto de estudo. Neste sentido, foram incluídas nestas primeiras partes algumas questões relacionadas com a idade, a escolaridade e outras relacionadas com a vivência e experiências de formação e de trabalho, tais como: se já se deparou com desemprego, o aspecto mais valorizado no trabalho, se já trabalhou ou se já frequentou outros cursos/acções de formação. As partes posteriores do inquérito pretendiam recolher informação sobre a experiência de frequência das acções de formação frequentadas na Associação. Questionavam, assim, acerca da utilidade dos cursos frequentados tendo em vista diferentes factores, assim como sobre a prestação da entidade organizadora e sobre as perspectivas sobre o próprio desempenho, do formador e sobre o decorrer da formação. Foram abordadas neste ponto do questionário:

- as expectativas em relação à formação;

- a adequação dos temas para o exercício profissional; - a influência das acções na empregabilidade;

- a adequação dos conteúdos ao nível de conhecimentos; - a adequação dos conteúdos às expectativas;

- a adequação das metodologias de formação aos interesses;

-a adequação das metodologias ao favorecimento da interacção entre formadores e formandos;

- a adequação das metodologias na estimulação da aprendizagem.

Nesta última parte, as variáveis foram acompanhadas por uma escala de concordância que ia do “Concordo totalmente (1)” até ao “Discordo Totalmente (4)”, possuindo uma hipótese de “Sem opinião (5)”, de modo que fossem dadas todas as hipóteses de resposta.

De salientar que o questionário foi realizado com perguntas fechadas, de modo a optimizar o tempo de resposta, dando oportunidade de ampliação das variáveis através do ponto “Outro: Qual?” colocado em todas as perguntas em que se justificava. A última questão é aberta e refere-se ao pedido de sugestões para melhoria das acções, na medida em que este seria o espaço no qual os respondentes poderiam se expressar mais livremente sobre o assunto que entendessem com a finalidade de desenvolvimento das formações. Também foram utilizadas respostas-chave, em que, um item com chave pode condicionar as respostas seguintes: “A decisão de responder ou não à questão depende da resposta dada” (Tuckman, 1994: 311) e que serve fundamentalmente para conferir ao inquérito uma estrutura coerente e que para guiar quem responde, optimizando o tempo de resposta.

O questionário foi sujeito a um pré-teste, com o objectivo de, por um lado, identificar dificuldades de compreensão das questões e, por outro, recolher opiniões sobre questões a introduzir ou a retirar do questionário. Na fase de pré-teste os questionários foram testados junto de funcionários da ACMVV que já tinham frequentado o mesmo tipo de cursos em causa. O processo de teste dos questionários originou várias alterações, algumas delas mais profundas, como a exclusão de determinadas perguntas, outras mais superficiais, relacionadas, por exemplo, com a linguagem utilizada. Após o pré-teste do questionário foram efectuadas as seguintes alterações:

- reformulação do texto de enquadramento, tornando-o mais simples e directo em relação à mensagem a transmitir;

- substituição da expressão “abandono da escola” por “deixar de estudar”;

- separação de perguntas duplas, como por exemplo, “com que idade começou a trabalhar?”, o que implica que já tenha trabalhado e que pode não ser verdade, assim primeiro fez-se a pergunta se alguma vez trabalhou e depois perguntou-se com que idade. O inquérito tinha algumas perguntas deste tipo que tiveram de ser reformuladas e que, por se dividirem em duas questões contribuíram para aumentar a extensão do inquérito;

- foram excluídas as questões que, não sendo fulcrais para o objectivo do estudo, contribuíam para o crescimento da dimensão do questionário, por exemplo, “Quantos cursos de formação já frequentou?”;

- foram progressivamente desenvolvidas questões relacionadas com a avaliação, integrando mais elementos de avaliação do que inicialmente se destacou, em relação às metodologias de trabalho, conteúdos e em relação à auto-avaliação;

- substituição da questão de “possibilidade de utilizar os conhecimentos adquiridos nas formações” por outra questão em relação à utilidade do curso frequentado, acompanhada pela escala de “Muito útil”, “Útil”, “Inútil” e “Não se aplica” que classificam a utilidade em relação ao trabalho que desempenha, ao que espera vir a desempenhar e às condições de empregabilidade;

- exclusão de perguntas abertas que inicialmente estavam previstas e transformação destas através da formulação de hipóteses de resposta, sempre com a possibilidade de escolha de outra que não estava presente na lista.

- foi acrescentada uma pergunta final aberta para inquirir sobre as sugestões para melhoria do curso.

- o alinhamento final das perguntas foi também reformulado em função dos blocos de perguntas já descritos e das alterações realizadas, compondo as perguntas de forma mais coerente e lógica para facilitar as respostas;

- também a formatação foi revista para melhor equilibrar o espaço dispendido no papel com a clareza visual na sequência das perguntas.

Quanto à definição da amostra da população de respondentes, esta baseou-se no universo de cursos que decorreram no espaço de tempo dedicado ao levantamento de dados através do inquérito por questionário, ou seja, entre Janeiro e Maio, que perfez um total de sete cursos em áreas distintas, dos quais foram auscultados todos os participantes de cinco cursos, num total de cinquenta inquéritos respondidos40. Os cursos modulares certificados funcionam na Associação no horário pós-laboral, das 20 horas às 23 horas e, regra geral, em dias da semana alternados, para minimizar as desistências e faltas por cansaço ou saturação dos formandos. O inquérito foi administrado na penúltima sessão em todos os cursos de formação, para que os inquiridos possuíssem tempos de experiência de frequência semelhantes e foi precedido de uma introdução e explicação da acção e dos objectivos, sensibilizando o respondente para a importância da sua resposta, com chamadas de atenção para a importância da sinceridade, do anonimato, sendo que também foram disponibilizadas várias formas de consulta dos resultados deste trabalho41 a quem interessasse. Foram, assim, administrados de forma directa: “chama-se administração directa quando é o próprio inquirido que o preenche. O questionário é-lhe então entregue em mão por um inquiridor encarregado de dar todas as explicações úteis” (Quivy e Campenhoudt, 1995: 188). Os inquéritos foram aplicados mediante autorização primordial da responsável pela formação, simultaneamente acompanhante no trabalho de estágio, pela autorização do formador em ceder o tempo na sessão para aquele fim e por último, pela autorização do respondente, que também foi alertado da voluntariedade do acto. Durante todo o tempo da duração de resposta aos inquéritos foi disponibilizada toda a ajuda às dúvidas que, apesar da optimização do inquérito, surgiram, principalmente devidas a dificuldades de escrita e de leitura.

Dos cinco cursos modulares certificados alvo do inquérito, um, de saúde mental infantil e, outro de gestão do tempo e organização do trabalho foram assistidos integralmente e um outro (legislação laboral) parcialmente na qualidade de formanda, ainda que todos tivessem

40Estes inquéritos respondidos correspondem a cerca de 70% do total de respostas possíveis, tendo em conta os vinte formandos que não foram auscultados.

conhecimento do trabalho de estágio que estava a ser desenvolvido e foi, durante essas participações que grande parte das notas foram tiradas, em ambientes mais informais, acerca do desenvolvimento dos conteúdos e das percepções dos formandos e formadores sobre a formação.

Tanto a definição da amostra como o tipo de cursos a estudar foram largamente influenciados pelo contexto e momento conjuntural vivido na entidade: com dois tipos de cursos que potencialmente poderiam vir a ser desenvolvidos, cursos EFA e modulares certificados, no momento em que o estágio decorreu apenas estavam em funcionamento os cursos modulares certificados e no momento adequado para o levantamento dos dados decorreram sete cursos, dos quais dois não foram auscultados devido a incompatibilidades no horário. Para o processamento dos dados foi utilizado o programa informático SPSS e no tratamento optou-se pela inicial análise descritiva42, avançando-se posteriormente para uma análise mais apurada, utilizando cruzamentos de variáveis, quando considerado necessário.

Foram inquiridos os cursos modulares certificados por ordem cronológica43 das áreas de: Saúde mental infantil, com a duração de 25 horas; gestão do tempo e organização do trabalho, de 25 horas; legislação laboral, de 25 horas; Instituições bancárias, de 25 horas e Atendimento, de 50 horas. O factor tempo neste caso é importante porque se verificou que, ao longo do levantamento de dados que alguns formandos frequentavam vários cursos e se tornavam inquiridos repetidos, pelo que não poderiam ser apresentados como pessoas diferentes das que já tinham respondido, se fosse esse o caso. Assim, responderam 35 pessoas ao inquérito, mas avaliaram os seus cursos todos os participantes, independentemente de já terem respondido a outros inquéritos ou não, o que dá um total de 50 respostas. Neste caso, foi também útil a estruturação do inquérito em blocos de questões, pois os formandos que já tivessem respondido, ou seja, já se tinham identificado, apenas respondiam ao bloco de questões sobre a avaliação em relação à formação que frequentavam no momento, ignorando a identificação. Assim, na primeira acção obtiveram-se 13 respostas; na segunda, obtiveram-se 10 mas destes, 6 já tinham sido inquiridos; na terceira acção inquirida conseguiram-se 11 respostas de formandos que nunca tinham sido inquiridos; na quarta, das 9 respostas conseguidas, 6 eram pessoas que já tinham respondido e na quinta acção inquirida, 3 das 7 respostas eram também repetidas.

42Conferir apêndice número 3: gráficos das respostas ao inquérito. 43Conferir anexo número 3: cronograma das acções modulares certificadas.

13 0 11 0 4 6 3 6 4 3 0 2 4 6 8 10 12 14 saúde mental infantil legislação laboral gestão do tempo e organização do trabalho instituições bancárias atendimento

Distribuição do número de formandos pelas acções de formação

inquiridos mais de 1 vez ao longo do tempo Inquiridos 1 só vez na acção 13 11 10 9 7 Total Gráfico 1. Modo de distribuição dos formandos pelas acções de formação

Este facto traz algumas consequências para o trabalho, para além daquelas que já se referiram como a adequação da estrutura do questionário, na medida em que representa uma redução não prevista inicialmente da amostra, que conduz a uma menor variedade de pessoas e que mais dificilmente possibilitará o traçar de um perfil para o formando que frequenta as acções de formação na Associação, isto é, implica complicações ao nível dedutivo. Por outro lado, este facto não inviabiliza a questão central da avaliação, pois se cada formando frequenta a acção de formação pode legitimamente, expor as suas percepções sobre a sua experiência, independentemente da frequência de outras acções de formação. Todavia, a experiência acumulada pode trazer também para o acto de avaliação, juízos produzidos através de exercícios de comparação com outras acções, especialmente se essas acções foram separadas por curtos espaços de tempo umas das outras, o que é o caso, na medida em que, da primeira acção até à última decorreram apenas três meses e este factor não foi incluído no inquérito. Possivelmente, o desconhecimento em relação ao contributo do exercício de comparação entre acções para o resultado final do juízo de avaliação poderá não ser determinante para o entendimento dos acontecimentos de uma forma geral e conclusões finais na medida em que foram utilizados outras formas de recolha de dados, para além do inquérito por questionário, que invariavelmente resultam em riqueza, pois transmitem dados que de outra forma seriam completamente inacessíveis.