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As escolas abrangidas: breve panorama histórico e cenário da pesquisa

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3. PROGRAMA ENSINO INTEGRAL E O ATENDIMENTO AOS ALUNOS COM

3.4 Os caminhos da investigação

3.4.2 As escolas abrangidas: breve panorama histórico e cenário da pesquisa

A escolha pela escola “J”, foco principal desta pesquisa, deveu-se ao fato de ser uma escola referência no atendimento à demanda de Educação Especial (SR) e ao Ensino Regular Fundamental I e II, até o ano de 2014. A partir do ano de 2015 ao prestar atendimento, segundo a nova modalidade de ensino (Ensino Integral), exclusivamente ao Ensino Regular, com exceção de três alunos, modificou substantivamente seu funcionamento após a implantação do PEI.

A escola “A” constitui-se também alvo desta pesquisa, pois, por determinação da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, tornou-se a escola mais próxima a receber a demanda dos alunos da educação especial, sobretudo os oriundos da escola “J”, assim como, os demais alunos do ensino regular, os professores e os gestores (as) também oriundos da escola “J” e os que não aderiram ao Programa. O envolvimento das duas escolas no processo de transição tornou-se indissociável no estudo aqui realizado.

A escola “J ”

A escola “J” foi a primeira escola do Município a receber o nome de “Primeira Escola Mista Urbana” que funcionou inicialmente em uma das dependências da casa

de uma munícipe, durante os anos de 1934, até junho de 1936. O aumento populacional só veio confirmar a necessidade da construção de um prédio escolar para atender à demanda do Município; assim, pessoas envolvidas com a política local tornaram o desejo da população uma realidade. Desse modo, em 1º de junho de 1936, os alunos passaram a frequentar as aulas em prédio próprio, denominado “Grupo Escolar X”. A escola permaneceu com esse nome até fevereiro de 1947, quando sua denominação passou para “Grupo Escolar J”, atendendo a uma demanda de cento e oitenta e cinco (185) alunos, distribuídos nas classes de 1ª a 4ª séries.

Figura 6. Imagem do prédio escolar, no período em que passou a funcionar em sede própria

Fonte: Imagem do acervo cedido pela Escola. (1947).

Com a expansão da população local ficou patente a necessidade de um maior número de escolas para abrigar essa crescente demanda, pois nesta época, década de 1970, a escola contava com seiscentos e oitenta e seis (686) alunos matriculados, divididos em vinte e três classes, das quais três (03) atendiam alunos de educação especial, sendo duas (02) para Deficientes Auditivos (DA) e uma (01) para Deficiente Mental (DM) (nomenclatura utilizada na época), além de uma (01) Escola Rural e uma

(01) Escola Agrupada. Ao todo, cento e vinte e cinco (125) alunos distribuídos em oito (8) séries, sendo quatro séries por escolas.

Em 1976, pela Resolução SE n. 18, publicada em 23 jan.1976, a escola passou a se nominada por “Escola Estadual de Primeiro Grau” e, de acordo com a reorganização da Secretaria da Educação, pela Resolução n. 37, de 24/04/96 publicada em 25 abr.1996, passou a ser nominada por “Escola Estadual J”, doravante identificada por escola “J”. Tinha como proposta desenvolver uma educação voltada para a realidade norteada por princípios de fraternidade, responsabilidade e cidadania, frente às exigências de transformação; oferecer aos pais condições para completa integração ao processo de educação de seus filhos, por meio da relação escola, comunidade e família.

No ano de 1995, a escola “J” também atendia a modalidade de ensino de educação especial, contando com uma (1) turma de classe especial (DI) com um total de doze (12) alunos; em 1996 uma turma com oito (8) alunos de classe especial (DI). Nota-se que no ano de 1997 houve crescente aumento no atendimento a essa demanda, o que redundou em duas (2) turmas de (DA) com vinte (20) alunos e uma (1) turma de (DI) com onze (11) alunos. Nos anos subsequentes, a demanda foi aumentando gradativamente. Em 2003, tendo em vista as proposições do processo de inclusão, a escola passou a atender o alunado mediante classes especiais e salas de recurso (SR). Para tanto, foram compostas duas (2) turmas com quinze (15) alunos em classes especiais (DA) e, duas (2) turmas com treze (13) alunos em sala de recurso (SR) (DA), mais uma (1) turma com quatorze (14) alunos em classe especial (DI). No ano de 2009, registrou-se aumento significativo no atendimento em salas de recurso (SR), passando a escola a contar com uma (1) turma de classe especial (DA) com quatro (4) alunos e duas (2) turmas de salas de recurso (SR) com vinte e dois (22) alunos e uma (1) turma de sala de recurso (SR) (DI) com sete (7) alunos. Em 2010, o atendimento passou a ser oferecido somente nas salas de recurso (SR) com duas (2) turmas de (DA) com vinte (20) alunos e duas (2) turmas de (DI) com vinte e nove (29) alunos. No ano de 2014 a escola prestou atendimento a cinco (5) turmas de (DA) com vinte e um (21) alunos, e seis (6) turmas de (DI) com vinte e oito (28) alunos.

Nota-se que no decorrer do período de 1995 a 2014 a escola “J” prestou atendimento educacional expressivo ao público-alvo da educação especial, considerando a existência de um crescente número de alunos.

Com a implantação do Programa Ensino Integral durante o ano de 2014 e sua implantação em fevereiro de 2015, conforme já abordado neste estudo, os alunos da educação especial foram transferidos para a escola “A”.

Um adendo

Por conta da solicitação dos pais a um atendimento especializado a seus filhos e em cumprimento a uma liminar judicial, dois (2) alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA)31 permaneceram na escola “J”, da mesma forma que uma aluna (DA).

No início de 2015, o atendimento oferecido a esses alunos que permaneceram na escola “J” foi dado de forma itinerante. Os professores especialistas que, anteriormente atendiam nas salas de recurso desta escola deslocavam-se da escola “A” para prestar o apoio especializado, assim determinado pela liminar. Esse fato causou estranhamento junto à equipe escolar da escola “J”, uma vez que o funcionamento do Programa de oito horas diárias divididas, em turno e contraturno, tornou-se incompatível com as determinações legais exigidas para o atendimento na sala de recurso.

Os três alunos de inclusão que continuaram na escola “J”, sob liminar, (dois autistas e uma aluna surda) ao necessitarem de atendimento de professores especialistas exigiu que a Diretoria de Ensino da Região de Santos criasse um cadastro emergencial com o fim de selecionar e recrutar docentes com os pré- requisitos determinados por lei, incluindo a condição de serem alfabetizadores, com formação em psicologia, em psicopedagogia ou formação específica em educação especial. Ainda em relação aos mencionados alunos, esses permaneceram matriculados em classes regulares recebendo acompanhamento individualizado dos

31 Segundo dados obtidos durante as entrevistas, no que se refere a estes dois alunos pode-se considerar que um deles, ao longo do ano letivo de 2015, apresentou um desenvolvimento relevante no aspecto socialização, entretanto na leitura, na escrita e nos cálculos não foi observado um desempenho satisfatório, embora tenha havido por parte da família do aluno grande envolvimento com as questões ligadas à educação do mesmo; contudo observou-se que demonstrava grande interesse por questões ligadas à informática e apresentava bom desempenho. Já o segundo aluno, como apresentava severo grau de comprometimento, e não havendo por parte da família um envolvimento efetivo, não foram observados resultados significativos em seu processo ensino aprendizagem. È importante ressaltar que dados obtidos durante as entrevistas apontam para a importância do acompanhamento especializado para os alunos com deficiência, demonstrando que “sem o serviço de apoio especializado é muito difícil obter-se um avanço tanto no processo ensino-aprendizagem, como no desenvolvimento global dos alunos”. [entrevista realizada em 26 de abril, 2016].

professores recrutados pela Diretoria de Ensino da Região de Santos, no Programa Ensino Integral. Em virtude do horário de permanência dos alunos no Programa, e pelo fato de já estarem sendo assistidos, não participavam do serviço de apoio especializado na escola “A”, como os demais. Os três alunos em questão, continuaram sendo atendidos na escola “J” e, da forma estipulada, até a data do fechamento da presente pesquisa.

As salas de recurso da escola “J” foram transformadas em laboratórios e salas de leitura, de modo que o trabalho fosse desenvolvido conforme a proposta do Programa Ensino Integral.

Outro fato é que para os alunos que permaneceram na unidade escolar “J” não deixassem de receber atendimento especializado, a Diretoria de Ensino da Região de Santos, por meio da comissão de supervisores responsáveis pelo processo anual de atribuição de classe/aulas, estabeleceu critérios no sentido de identificar e classificar professores com formação adequada para desenvolver ações junto aos alunos público-alvo da educação especial. Constituiu-se assim, um quadro permanente de professores com disponibilidade para atender a essa demanda, na condição de “professor auxiliar”, em sala de Ensino Regular.

A escola “A”

A segunda escola denominada neste estudo por escola “A” foi instalada pelo Decreto n. 7.400/75, conforme publicação no Diário Oficial do Estado de 31 de dezembro de 1975, sob a denominação CENE “A”. Em 1976, transformada pela Resolução SE n. 18 de 22/76, conforme publicação DOE de 23 de janeiro de 1976, para EEPSG “A”, localizada na região urbana, centro do Município, atendendo a uma demanda diversificada, correspondente à atual educação básica.

De acordo com dados coletados junto ao Núcleo de Cadastro Escolar da Diretoria de Ensino da Região de Santos a qual está jurisdicionada a escola “A”, no ano de 1995 atendia a uma demanda de 1.857 alunos, assim distribuídos: no Ensino Fundamental I trezentos e doze (312 alunos) em dez (10 turmas); no Ensino Fundamental II duzentos e noventa e sete (297 alunos) em oito (8 turmas); no Ensino Médio mil duzentos e quarenta e oito (1248 alunos) em trinta e seis (36 turmas); na

modalidade de ensino de Educação Especial – (DA), dezoito (18) alunos em duas (2) turmas. Os dados apontam que o atendimento ocorreu na referida escola apenas no ano 1995.

A escola “A”, no ano de 1995 atendeu a uma demanda de alunos do ensino regular fundamental ciclos I e II, ensino médio e profissionalizante, funcionando em três turnos, de forma que centralizava as turmas do EnsinoMédio e Profissionalizante, nos períodos da manhã e da noite, e as turmas do Ensino Fundamental ciclos I e II, nos períodos da manhã e tarde e duas (2) classes de Educação Especial, perfazendo um total de dezoito (18) alunos com deficiência auditiva (DA), regidas por professor especializado.

Figura 7. Imagem do prédio escolar por ocasião de sua instalação, 1976

Fonte: Imagem extraída da internet. Disponível em:

https://www.facebook.com/eeafonsoschmidt. Acesso em: 12 nov.2016.

Em virtude da reestruturação educacional, mediante a implantação do “Programa Ensino Integral”, no ano de 2015, os alunos da educação especial (SR) da escola “J” foram remanejados para a escola “A”, que passou a atender dezoito (18) alunos (DA) (SR), em seis (6) turmas, e vinte e quatro (24) alunos (DI) (SR) em seis (6) turmas, ainda uma (1) aluna (DV) (SR) em uma turma por força da exigência legal. Registra-se também seiscentos e setenta e dois (672) em dezessete (17) turmas do Ensino Médio, noventa e dois (92) alunos do ensino Fundamental II de nove (9) anos, duzentos e trinta e três (233) alunos da Educação de Jovens e Adultos – Ensino

Médio. Atendendo, ainda, aos projetos curriculares no Ensino Fundamental a trinta e quatro (34) alunos, em duas (2) turmas e no Ensino Médio a cento e dezenove (119) alunos em quatro (4) turmas.

Os professores especialistas, assim como os professores que não aderiram às determinações impostas por Lei para a adesão ao Novo Programa, bem como, a gestora da escola “J” foram transferidos ex-ofício para a escola “A”.

O atendimento especializado aos alunos transferidos só veio a ocorrer no início do mês de abril de 2015, por conta da falta de estrutura da escola “A”, que não dispunha de espaço físico adequado para o funcionamento das salas de recurso e por problemas de adaptação dos alunos e os relacionados aos pais e/ou responsáveis, ainda não totalmente familiarizados com a nova situação.

Para a escola “A” diversos desafios tiveram de ser enfrentados, uma vez que essa unidade não se encontrava devidamente organizada em sua estrutura física, funcional e pedagógica, e não dispunha dos materiais pedagógicos específicos necessários ao atendimento dos alunos público-alvo da educação especial (DA e DI). Esse alunado requeria atenção diferenciada e adaptada às suas necessidades para poder gradativamente integrar-se a esse “novo” universo.

Do início do ano letivo de 2015 até o final do mês de março do mesmo ano, os alunos egressos das salas de recurso da escola “J”, frequentaram apenas o Ensino regular, na escola “A”, ficando desassistidos do serviço de apoio especializado. O material pedagógico destinado aos alunos da classe especial, embora disponível na escola “J”, não foi transferido para a escola “A”, dificultando assim, o trabalho dos especialistas.

Quanto aos demais alunos que frequentavam o Ensino regular na escola “J” e não aderiram ao Programa Ensino Integral foram transferidos para a escola “A”, sendo que uns permaneceram nessa unidade escolar dando prosseguimento aos estudos e outros, através de solicitação por parte de seus responsáveis, foram transferidos para outras unidades escolares do Município.

Por força da reestruturação e do remanejamento das salas de recurso da escola “J” para a unidade escolar (escola “A”), tanto alunos, quanto professores de um momento para outro foram “obrigados” a adaptarem-se a uma nova realidade, o

que gerou novas expectativas e dúvidas para os professores, alunos e comunidade da escola “J”, como também, para toda comunidade escolar da escola “A” que passou a receber uma nova demanda, novo gestor e novos professores.

Sobre os aspectos decorrentes do impacto

Estudos apontam que em diversos segmentos sociais, via de regra as mudanças geram preocupações, medos, incertezas e quando estas envolvem pessoas com deficiências, as dificuldades se acentuam.

Na escola “J”, o impacto ocasionado pela implantação do Programa Ensino Integral (PEI) além de acarretar rupturas com a comunidade constituída por alunos, pais e discentes da educação especial, os quais já tinham vínculos com a escola, somou-se a questão da transição para a escola “A”, que a partir de fevereiro de 2015 passou a receber uma nova demanda de alunos e de profissionais.

Para os integrantes da escola “J” foram elevadas as expectativas a partir da implantação de um Novo Programa, ainda mais, por se tratar de proposta arrojada e inovadora, implicando em esforços, até então, não experienciados. A execução desse projeto estava atrelada aos resultados preconizados por políticas públicas traduzidas, em última instância, pela melhora qualitativa do ensino. Por outro lado, para a escola “A”, o momento da transição foi de expectativas e de apreensão, uma vez que a unidade não contava com a necessária estrutura física e funcional para dar atendimento aos alunos público-alvo da educação especial, segundo determinação dos órgãos superiores.

No decorrer do processo de implantação do “Programa” muitos foram os questionamentos por parte da equipe escolar responsável pela escola na qual foi implantado, pois dúvidas recaiam sobre como assimilar, organizar, direcionar e executar as tarefas, como reorganizar as práticas docentes, além de como transmitir às comunidades envolvidas esclarecimentos sobre a amplitude da proposta do “Novo Programa”. No rol dos questionamentos incluem-se também como se daria o processo de adesão e seleção dos gestores e corpo docente, adequação do calendário escolar, horário de funcionamento da escola, horário de funcionamento das aulas, remanejamento de classes, professores e alunos para outra unidade escolar, a

reestruturação do espaço físico do prédio para atender o desenvolvimento das ações propostas pelo Programa, entre outros pontos.

Considerando aspectos ainda não totalmente esclarecidos para o desenvolvimento do Programa foi necessário que todos os envolvidos assimilassem o novo modelo proposto para, posteriormente, realizar avaliações sistemáticas e verificar com maior clareza os resultados obtidos no processo ensino-aprendizagem dos alunos.

Atualmente, os alunos público-alvo da educação especial são atendidos na escola “A” pelos professores especialistas que foram removidos da escola “J” em uma única sala, dividida em pequenos stands nos quais são abrigados, independentemente da necessidade específica.

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