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O processo de implementação do Programa Ensino Integral: alguns aspectos

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4. A IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA ENSINO INTEGRAL, O ATENDIMENTO

4.1 O processo de implementação do Programa Ensino Integral: alguns aspectos

No desenvolvimento da pesquisa observou-se que durante o ano de 2014, quando iniciado o processo de implementação do Programa, gestores (as), professores (as), alunos e comunidades vivenciaram momentos de questionamentos e expectativas referentes à adesão da mencionada proposta. Para esclarecimento de dúvidas aconteceram reuniões que contaram com a presença de profissionais de diversas instâncias, como: Dirigente Regional de Ensino, Supervisores (as), Professor Coordenador do Núcleo Pedagógico (PCNP), Gestores (as), Corpo Docente, Pessoal de Apoio, alunos e membros das comunidades, fundamentalmente com o objetivo de conscientizar a todos os envolvidos sobre a importância da nova proposta, bem como os ganhos educacionais trazidos para os alunos com a implantação do PEI.

A comunidade não demonstrou grande resistência, o que contou com expressiva adesão. Entretanto, por parte da administração (gestores/as) e do corpo docente, o processo causou intranquilidade, a partir do momento do credenciamento para adesão realizada online, diretamente com a Secretaria de Estado da Educação, incluindo a entrevista com supervisores e PCNP da Diretoria Regional de Ensino de Santos, responsáveis por esse processo.

As exigências estabelecidas pela Secretaria de Estado da Educação para o credenciamento ocasionaram desarticulação interna nas escolas nas quais o Programa foi implantado, atingindo não só gestores (as), como o corpo docente. Apenas para o pessoal do Quadro de Apoio Escolar (QAE) não houve a necessidade de credenciamento, uma vez que neste segmento não houve alterações; os funcionários permaneceram os mesmos.

Ressalta-se ainda, a compulsoriedade que atingiu os profissionais da educação envolvidos que não aderiram ao processo de credenciamento ao novo modelo educacional, na medida em que tiveram seus cargos transferidos ex-ofício para outras unidades escolares. O mesmo ocorreu com a demanda escolar, na eventualidade de o responsável não concordar com a permanência do aluno (a) em período integral.

Em cumprimento às exigências do Programa, os prédios escolares nos quais tiveram a referida proposta implantada passaram por adequações estruturais, físicas e organizacionais, considerando a obrigatoriedade de dependências como: laboratórios, salas ou ambientes de leitura, entre outras, como uma das formas de atingir aos objetivos da formação integral.

Gestores, professores e a equipe escolar como um todo, incluindo também alguns alunos da escola “J” vivenciaram no final do ano de 2014 e início do ano letivo de 2015, a transição de uma escola de Ensino Regular para uma escola funcionando em regime de Ensino Integral.

Os profissionais envolvidos nas mudanças impostas, que tinham suas práticas educativas organizadas nos moldes da estrutura de uma escola de ensino regular, viram-se repentinamente imersos em uma nova realidade gerada pela implantação do Novo Programa, nem sempre compatível com as necessidades da educação especial.

A mesma situação repetiu-se com as comunidades escolares, principalmente em relação à demanda dos alunos de educação especial, os quais ficaram destituídos do apoio indispensável na evolução do seu processo ensino-aprendizagem (atendimento nas salas de recurso). Esse apoio tornou-se inviável em função não só do horário disponibilizado – (após oito horas de permanência no PEI), para o

atendimento, como também pelas dificuldades geradas para o transporte dos respectivos alunos de uma escola para a outra.

Como já esclarecido, a escola “J” era considerada uma referência no atendimento aos alunos de educação especial e contava com equipe de professores especialistas, estrutura física, material pedagógico e ambiente adequado para o desenvolvimento do trabalho com a referida demanda. Durante o período de reorganização da escola para a implantação do Novo Programa, foram realizadas reuniões com a comunidade local no sentido de verificar a aceitação e a participação da mesma em relação à implantação do Programa. Ocorre que a concretização do processo já estava definida por determinação dos órgãos centrais, sem a preocupação com o cotidiano escolar dos alunos e de toda equipe escolar.

Dessa forma, indaga-se até que ponto a implantação do Programa Ensino Integral respeitou as necessidades dos alunos com deficiência permitindo que os mesmos compartilhassem de “uma educação universal de qualidade, que considera o acesso a “todos” os alunos aos recursos culturais, às mais diversificadas metodologias do processo de ensino - aprendizagem (...)?” (SÃO PAULO. Programa Ensino Integral, 2014, p.8).

Com base nesse contexto, valeu-se da pesquisa de campo (entrevistas) e observação “in loco”, nas escolas da rede estadual do município, foco da pesquisa. Participaram das entrevistas: a supervisora de ensino da escola “J” da época (2014); a professora “Q”, responsável pela Educação Especial e pelo Programa Ensino Integral na Diretoria de Ensino da Região de Santos; a diretora - professora “V” que respondia pela escola “J” no ano de 2014, por ocasião da implementação do processo de implantação do Programa; a diretora - professora “R” que assumiu a escola “J” a partir do ano de 2015, quando o Programa foi implantado; a professora coordenadora pedagógica geral; professora “C” e quatro professoras especialistas sendo elas as professoras, “W”, “X” “Y” e “Z” respectivamente, todas da escola “J” e que foram removidas compulsoriamente (ex-ofício) para a escola “A”, a partir do ano de 2015.

Alguns impasses ocorreram provocando demora nos contatos entre uma e outra entrevistada, sobretudo justificado pelas dificuldades de horários disponíveis para os encontros.

As entrevistas foram realizadas na seguinte ordem e datas: com a diretora “R”, atual diretora da escola “J” e a professora coordenadora geral em 26 de abril de 2016, na escola e Município focos da pesquisa; com a professora “Z”, a entrevista foi realizada em 11 de agosto de 2016, na residência da entrevistadora no Município de Santos; com as professoras “W” e “X”, as entrevistas foram realizadas em 26 de agosto de 2016, em uma das salas da escola “A”, em que atualmente são atendidos alunos público-alvo da educação especial. A diretora professora “V” que respondia pela escola “J” em 2014, por ocasião da implementação do Programa foi entrevistada em 04 de outubro de 2016, na escola pela qual responde como diretora atualmente, também no Município de Santos; a professora “Y” participou da entrevista em 10 de outubro de 2016, em sua residência no Município de Santos; com a supervisora professora “Q”, a entrevista ocorreu em 10 de novembro de 2016 em uma das dependências de uma das escolas de Ensino Integral do Município de Santos.

Os questionários sobre o perfil dos entrevistados e o roteiro das entrevistas analisados nesse capítulo encontram-se apresentados detalhadamente, nos apêndices E,F,G e H.

A escolha pelas profissionais selecionadas para as entrevistas teve como base o fato de estarem envolvidas diretamente com os momentos de transição e implantação do Programa (PEI) nas duas escolas e por terem vivenciado uma trajetória peculiar junto aos alunos, professores e comunidade, em face de uma nova estruturação educacional – a mudança de uma escola de ensino regular para escola de ensino integral.

Com relação à escola “A”, não foi possível estabelecer um vínculo mais estreito uma vez que a obtenção de maiores informações foi prejudicada, tanto em relação aos acervos, quanto à participação da equipe escolar nas entrevistas. Os dados foram obtidos diretamente no Núcleo de Vida Escolar da Diretoria de Ensino da Região de Santos.

Os dados referentes ao cadastro dos alunos das diferentes escolas obtidos na Diretoria de Ensino da Região de Santos, sob as quais estão jurisdicionadas as escolas pesquisadas foram cedidos, sem maiores dificuldades, pelo Núcleo de Vida Escolar e Núcleo de Gestão da Rede Escolar e Matrícula.

4.2 As mudanças decorrentes da implantação do Programa Ensino Integral no atendimento aos alunos deficientes nas escolas pesquisadas

Considerando o crescente número de programas e projetos desenvolvidos pela Secretaria de Estado da Educação, com o objetivo de alavancar a educação básica no Estado de São Paulo, verificou-se que a partir dos anos de 1990 ocorreram diversas mudanças no sistema de ensino da rede pública estadual, principalmente no que se refere à educação especial.

Durante a década de 1990, o Município em estudo contava com quatro (4) escolas da rede pública estadual, oferecendo a modalidade de ensino - educação especial – com classes especiais e salas de recurso, dando atendimento aos alunos com Deficiência Auditiva (DA) e deficiência Intelectual (DI), além do ensino fundamental I e II, ensino médio, e a educação para jovens e adultos (EJA).

No início do ano de 2000, novas exigências são impostas aos sistemas de ensino em relação à qualidade da educação em todos os níveis, como também em relação ao cidadão que se quer formar. Nesse contexto, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ao propor mudanças significativas na educação básica, considerou como um dos importantes avanços, um novo olhar sobre a formação do aluno, centrado na qualidade do ensino e no sucesso da aprendizagem. Em virtude das novas exigências, as escolas do Município em estudo passaram por reorganizações, sendo uma delas a Escola Estadual “J” que, por estar estrategicamente situada, passou a absorver, de forma mais significativa, os alunos público-alvo da educação especial, atendendo não só os alunos da própria escola como aqueles das escolas mais próximas que necessitavam do apoio especializado, além de incluir a demanda de crianças/jovens ao Ensino Fundamental I e II.

A escola funcionou atendendo o Ensino Fundamental I e II até o ano de 2014 quando, por determinação da Secretaria de Estado da Educação, foi transformada em Escola de Tempo Integral, passando a oferecer o Programa Ensino Integral no Ensino Fundamental II, implantado pela Secretaria de Estado da Educação em 2012, na Capital do Estado, expandindo-se para as demais cidades do Estado nos anos subsequentes.

Com o intuito de ratificar os benefícios advindos da implantação do Novo Programa, as autoridades educacionais, no ano de 2014, procuraram por meio de reuniões, esclarecer de forma mais transparente, os aspectos positivos esperados em face da adesão de um novo modelo educacional a ser implantado - Programa Ensino Integral.

Ressalta-se, no entanto, a importância em considerar as particularidades existentes no universo educacional, uma vez que nem sempre é possível equacionar todas as necessidades para um atendimento globalizado.

Com a implantação do (PEI), à semelhança de qualquer processo de mudança, a escola “J” passaria por adequações estruturais, físicas, pedagógicas e administrativas para dar cumprimento às exigências impostas pelo Novo Programa, o que evidentemente traria aos envolvidos a necessidade de uma nova adaptação, superando as dificuldades ocasionais devido às peculiaridades daqueles inseridos no contexto educacional da escola estudada.

Destaca-se na citação de Souza (2004), em sua tese de doutorado, que:

[...] as dificuldades da implantação dessas reformas no cotidiano do professor ocorrem em razão do surgimento de um novo conjunto de práticas escolares resultantes do choque entre as práticas já consolidadas e a necessidade de adoção de novos processos de avaliação, do estabelecimento de novas relações de ensino e aprendizagem, dos problemas decorrentes da formação docente entre outros aspectos. (SOUZA, 2004, p.56).

Conforme já abordado, a implantação do Programa na escola “J”, embora tendo sido aceita pela comunidade escolar local, para alunos, professores e gestores (as), desencadeou a necessidade de adaptação em suas rotinas cotidianas, considerando a obrigatoriedade da remoção de professores, gestores (as) e alunos (as) para outra unidade escolar que, no momento, não se encontrava em condições funcionais e pedagógicas desejáveis para dar cumprimento à legislação.

Por outro lado, os alunos da (educação especial) tiveram seu processo de ensino-aprendizagem prejudicado, uma vez que após oito horas de permanência na escola “J”, não apresentavam condições para receberem o apoio pedagógico especializado nas salas de recurso, considerando o deslocamento para outra unidade escolar, qual seja, a escola “A”, para a qual foram remanejadas as salas de recurso.

O tratamento conferido a tais alunos permite reflexão a respeito do Programa Ensino Integral e as possíveis considerações deste, quanto às reais necessidades dos discentes com deficiência. Afirma-se:

Uma educação universal de qualidade, que considera o acesso a “todos” os alunos aos recursos culturais, às mais diversificadas metodologias do processo de ensino-aprendizagem. (SÃO PAULO. Secretaria da Educação, 2014, p.8).

O Município em estudo foi contemplado com a implantação do Novo Programa em três (3) escolas, dentre as onze (11) existentes, das quais uma delas, a escola “J” que está localizada no bairro considerado centro do Município. As outras duas sediadas em um mesmo bairro, atendem uma demanda de famílias migrantes do “Programa de Recuperação Socioambiental da Serra do Mar”(PRSSM). 33

Embora as políticas públicas da educação tenham como um dos pontos centrais garantir ensino de qualidade a todos, o Programa, pela sua amplitude, acaba por impedir que crianças e jovens com múltiplas limitações possam compartilhar dos benefícios oferecidos. Da mesma forma, o processo de inclusão, embora estendido a “todos os alunos”, implica entender que pessoas com deficiências são, sem dúvida, pessoas com capacidade de aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser, desde que respeitadas suas limitações.

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