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As pesquisas sobre ambientalização curricular na Educação Básica

No quadro 4 são apresentados três trabalhos classificados na categoria “Material Didático”. O primeiro deles se refere à produção de uma cartilha sobre o uso do GPS como apoio às práticas de educação ambiental na escola. Os demais discorrem sobre os conteúdos relacionados às questões ambientais presentes em livros didáticos de Geografia para as séries iniciais do Ensino Fundamental e nos Cadernos do Professor do Ciclo II da rede estadual de ensino de São Paulo.

Os trabalhos reunidos na subcategoria “Currículo” resultaram de pesquisas que tinham como objetivo compreender como o currículo das escolas se apresentava com relação às questões ambientais: a) em suas práticas pedagógicas (FONSECA, 2011; QUEIROZ, 2012; REBOUÇAS, 2012; SANTANA, 2011; SOUZA, 2012a; GROHE, 2015; CASANOVA, 2014; BORGES, 2014); b) nas percepções e nas representações dos atores da instituição (ARAÚJO, 2011; PIRES, 2011; SILVA, 2012; SULEIMAN, 2011) e c) de acordo com os documentos oficiais e avaliações do Estado (NUNES, 2011; LIMA, 2011; SANTOS, 2011; ZEGLIN, 2016). Todas as pesquisas classificadas nessa subcategoria (quadros 4, 5 e 6) foram realizadas em instituições das redes de ensino público.

Machado (2014) e Mota (2015) estudaram a transição para escolas sustentáveis em diferentes estados brasileiros. Em sua pesquisa, Machado (2014) acompanhou um processo formativo para a promoção de escolas sustentáveis realizado em escolas de Piracicaba, SP. A autora observou que o curso proporcionou resultados mais para as pessoas que participaram da formação do que na escola como um todo. Mota (2015) analisou a transição para espaços educadores sustentáveis de duas escolas de São João Batista, SC, apontando limitações e possibilidades para tal transformação. As limitações consideradas pelo autor foram a falta de conhecimento das políticas públicas para as escolas sustentáveis, a carência de formação continuada em educação ambiental, as dificuldades de diálogo da comunidade escolar e a fragilidade do Projeto Político Pedagógico. Por outro lado, o reconhecimento dos professores e dos gestores sobre a importância da participação de toda a comunidade escolar nas ações sobre a temática ambiental, considerando o diálogo entre os saberes populares e os científicos, e a aposta na educação ambiental foram elencados como possibilidades que corroboram na transição para espaços educadores sustentáveis.

Alguns trabalhos se dedicaram à análise de exames e documentos relacionados à Educação Básica. Como mencionado no início do capítulo, Nunes (2011) verificou as influências do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), concluindo que esse pode induzir a ambientalização no Ensino Médio em geral. O trabalho de Santos (2011) investigou os documentos oficiais para o ensino de Química no Brasil. O autor observou que ocorre uma ambientalização curricular na área de Química, mas que ainda há algumas fragilidades na incorporação das questões ambientais, principalmente em função de uma abordagem mais dedicada à dimensão do conhecimento, dando-se pouca importância para a função política do tema. Zeglin (2016) analisou as políticas curriculares nacionais e municipais de Florianópolis para a Educação Infantil, observando que essas contemplavam indícios e subsídios para a constituição de um currículo ambientalizado nessa fase escolar.

Outra abordagem foi conduzida por Melo (2011), o qual analisou a presença da educação ambiental a partir das vozes dos professores de escolas rurais e dos secretários e diretores de ensino das secretarias municipais de educação do Jalapão. O autor identificou a falta de uma política pública local em apoio à implantação da temática nos currículos e observou, nas falas dos professores, o descontentamento com a falta de infraestrutura e com o currículo multisseriado das escolas, apontando esses fatores como uma dificuldade para a inserção das questões ambientais no currículo. Rebouças (2012) também encontrou resultados desfavoráveis com relação à educação ambiental ao pesquisar em escolas de Mossoró, RN. De acordo com o autor, ao longo do processo pedagógico (desde o Projeto Político Pedagógico, passando pelo currículo e chegando às práticas) os princípios de uma educação ambiental crítica vão diminuindo e perdendo seu potencial transformador e emancipatório.

A pesquisa de Pires (2011), com turmas de 8ª série do Ensino Fundamental do sudoeste do Paraná, mostrou que a educação ambiental na escola pouco tem contribuído nas mudanças sociais, já que não se articula socioculturalmente com o que está fora dela.

Duas pesquisadoras observaram que os projetos são uma forma muito utilizada para trabalhar a temática ambiental nas escolas analisadas, nas redes municipais de Mogi Mirim, São Paulo (SANTANA, 2013) e de Encantado, Rio Grande do Sul (KLIMA, 2013). Em Encantado, Klima (2013) observou que a disciplina de Ciências era a que mais se dedicava às questões socioambientais, mas que todas as demais áreas se envolviam com os projetos. Por outro lado, nas escolas analisadas por Santana (2013), verificou-se que os professores ainda

encontram dificuldades para trabalhar a Educação Ambiental sob uma perspectiva interdisciplinar. Araújo (2011) também acredita na abordagem dos projetos de trabalho, pois esses favorecem o estudo das questões ambientais considerando sua complexidade, envolvendo o estudante como corresponsável por suas aprendizagens e possibilitando que o professor seja medidor desse processo. Para Magri (2012), o trabalho da Educação Ambiental na escola depende da formação dos educadores envolvidos e das transformações dos conceitos e das práticas pedagógicas envolvidas. Dessa forma, a autora entende que seja possível integrar os conhecimentos agroecológicos com os conteúdos curriculares tradicionais nas escolas rurais pesquisadas.

Casanova (2014) estudou a tensão entre o que chamou de “normatividade do discurso pedagógico da educação ambiental” e os aspectos formativos da educação ambiental em escolas de Garopaba, Santa Catrina. A autora observou que as concepções das educadoras são fundadas na ideia de promoção de mudanças de comportamento, o que relacionou com o fato de fazerem parte de um contexto de cidade turística percebida como “paraíso ecológico”. Outro desafio observado foi com relação às práticas interdisciplinares. As maneiras de fazer educação ambiental nas escolas pesquisadas são associadas, principalmente, a atividades práticas realizadas fora da sala de aula.

Alguns autores apontaram para a necessidade de problematizar certos conceitos que compõe as ações de educação ambiental na escola, tais como democracia, autonomia, qualidade de vida, equilíbrio ambiental sustentável, sociedade e natureza (MELO, 2011; REBOUÇAS, 2012), bem como refletir sobre a existência de uma disciplina curricular de educação ambiental (SANTANA, 2011; LIMA, 2011). Muitos contribuíram no sentido de afirmar a transversalidade da educação ambiental e as possibilidades da abordagem interdisciplinar nas escolas (ARAÚJO, 2011; REBOUÇAS, 2012; SILVA, 2012; PIRES, 2011; QUEIROZ, 2012). Santana (2011) avaliou que, mesmo sem a existência de uma disciplina obrigatória de educação ambiental na escola, o Projeto de Recuperação da Mata Ciliar em Petrolina, Pernambuco, favoreceu as ações conjuntas da comunidade escolar. O autor entende que as questões ambientais podem constituir atos políticos e preparar o cidadão para exigir a justiça social e respeitar a natureza.

O protagonismo dos professores no processo de ambientalização da escola foi observado nas pesquisas de Borges (2014) em duas redes locais de educação ambiental do sul do Brasil, e de Grohe (2015), em escolas de São Leopoldo, RS.

Outro enfoque foi o de Pequeno (2012), que analisou o “Programa Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas”, que tem como objetivo promover a institucionalização da educação ambiental nos Sistemas de Ensino da Educação Básica. A autora verificou um processo decrescente de mobilização do programa, refletida na incipiente presença da educação ambiental no Projeto Político Pedagógico das escolas que investigou na Paraíba e nas escassas ações que integram escola-comunidade.

Dando seguimento, detalharei, no próximo tópico, os trabalhos categorizados como pesquisas na Educação Superior.