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Ao buscar outros campos para a pesquisa, segui a indicação de um colega que havia pesquisado escolas de Porto Alegre com alguma trajetória em educação ambiental. Uma ficava na zona norte, próxima ao Parque Marechal Mascarenhas de Moraes (a escola Erva- baleeira) e a outra na zona sul, a cerca de dezesseis quilômetros da Reserva Biológica do Lami José Lutzenberger (a escola Pincel-de-estudante). As visitas ocorreram em março de 2015.

Nas visitas conversei com as professoras sobre a relação do currículo com a unidade de conservação próxima da escola. Ao contatar as escolas, foi sugerido que eu encontrasse as professoras do “LIAU” para conversar sobre temas relativos às questões ambientais. As escolas pertenciam à rede municipal de Porto Alegre, que conta com um projeto denominado Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano (LIAU) . 40

A escola Erva-baleeira oferecia, no turno inverso, os projetos “Etnias”, “Robótica” e “LIAU/Educação Ambiental”. Nessa escola, o projeto do LIAU ocorria juntamente ao da Educação Ambiental. O grupo do LIAU se reunia com a professora em uma sala de um prédio de madeira, localizado ao lado da quadra de esportes, nos fundos da escola. Na sala havia mesas, cadeiras, quadro-negro, armários, equipamentos para trabalhar na horta e materiais

O LIAU é um projeto desenvolvido nas escolas da Rede Municipal de Educação de Porto Alegre, no turno 40

inverso ao das aulas. O objetivo do projeto é aproximar a Geografia da Educação Ambiental. De acordo com Osorio (2013, p. 40) “o LIAU, enquanto estratégia pedagógica, procura produzir significados e construir nos sujeitos relações com o lugar que são essenciais para que se percebam os desejos e necessidades de transformação da sua realidade pela própria comunidade escolar”.

para as atividades. Na parte da frente da escola estavam localizados os prédios com as demais salas de aula e administração.

A professora responsável pelo LIAU/Educação Ambiental explicou que os projetos ocorriam há dois anos, mas no ano de 2015 ela realizaria a sua primeira experiência nessa função. Ela relatou que ocorreram atividades com os alunos no Parque Marechal Mascarenhas de Moraes em anos anteriores e que havia o esforço para manter ou firmar convênios com as instituições próximas, como o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) e uma cooperativa de recicladores.

Acompanhei duas atividades proposta para os alunos do grupo do LIAU/Educação Ambiental, uma visita ao parque e uma atividade no pátio da escola. Era o primeiro dia do projeto no ano letivo e a professora reuniu o grupo e saímos da escola em direção ao Parque Marechal Mascarenhas de Moraes. Lá fizemos uma trilha para observar os banhados e conversamos com o administrador, que explicou sobre a origem do parque e as atividades de pesquisa que foram desenvolvidas lá. Tratava-se de um parque municipal com banhados preservados junto a quadras esportivas, churrasqueiras, quiosques e trilhas para caminhadas.

Antigamente, o local era utilizado para a plantação de arroz e para a criação de gado. A área recebeu depósito de terra, caliça e lixo por muitos anos, sendo aterrada e consolidada por volta dos anos 1980. Com o advento dos loteamentos para moradia em Porto Alegre, deveriam ser destinadas áreas para escola, posto de saúde e parque. Foi assim que se constituiu o parque, sendo inaugurado em 1982 e tendo sua sede administrativa entregue em 1991.

No segundo encontro, os estudantes se reuniram com a professora na sala de aula, onde ela explicou as tarefas, elencadas a seguir: lavar e preparar o bebedouro para as aves, rastilhar, juntas as folhas caídas e colocá-las na composteira, separar os resíduos encontrados no chão, instalar a mangueira e aguar os canteiros. Foi a primeira atividade do ano, então a proposta era organizar o pátio.

A escola Pincel-de-estudante, apesar de estar há cerca de dezesseis quilômetros da Reserva Biológica do Lami José Lutzenberger, contava com um histórico de visitas à unidade de conservação. Nos últimos dois anos, no entanto, não tinham mais realizado a atividade por não poderem contar com o veículo fornecido pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre para o transporte dos estudantes e professores.

A escola tinha quinze anos em 2015, tendo sido fundada junto com o loteamento residencial do bairro, criado para assentar famílias que foram realocadas. Também nessa escola fui recebida pela professora responsável pelo LIAU, indicada para conversar sobre a temática ambiental no currículo. O LIAU atendia dois grupos de estudantes, desenvolvendo atividades relacionadas às questões ambientais na escola, sendo um deles com o objetivo de formação de monitores que tinham como objetivo multiplicar as aprendizagens para os demais estudantes. Uma de suas tarefas era visitar as turmas da escola para conversar sobre a separação dos resíduos para a coleta seletiva. Cabe observar que naquele ano a Prefeitura Municipal não estava procedendo com a coleta seletiva, o que dificultava o trabalho da escola.

Observei, na biblioteca, alguns objetos fabricados a partir de materiais reaproveitados na escola, tais como porta-revistas feitos a partir de embalagens de produtos de limpeza. Em uma aula do LIAU que acompanhei, o investimento era parecido: a tarefa era pintar as caixas de mantimentos oriundas da merenda escolar para serem utilizadas na biblioteca. A atividade foi realizada na sala de Projetos, que não era exclusiva para o LIAU. A professora relatou que esse era um problema, pois tinham um acervo para guardar e não havia espaço. A escola tinha a previsão de providenciar uma sala para o LIAU reformando o espaço destinado ao viveiro, na parte da frente da escola. A obra seria realizada com recursos recebidos pelo PDDE - Escolas Sustentáveis, mas a administração escolar optou por não fazê-lo naquele momento.

Nas experiências que tive nessas duas escolas, observei que normalmente um(a) professor(a) da rede era incumbido de trabalhar com a proposta do LIAU em cada escola. O fato de ter um profissional destacado para as atividades relacionadas à questão ambiental nas escolas também foi observado por Grohe (2015) em São Leopoldo. De acordo com a autora, o Núcleo Gestor de Políticas da Educação Ambiental, da Prefeitura Municipal de São Leopoldo, tem buscado garantir uma determinada carga horária de professores para atuarem como articuladores ambientais nas escolas. Nesse sentido, cabe aqui refletir sobre três questões. A primeira é a de que, diferente do que se propunha, nem sempre as prefeituras têm conseguido manter um(a) professor(a) para as funções relacionadas à questão ambiental em cada escola, conforme observado por Grohe (2015) em São Leopoldo e de acordo com relatos de professoras de Porto Alegre que tive contato, segundo a justificativa de insuficiência de professores que atuem em sala de aula. Outra questão a ser pensada é a necessidade de um professor para que a ambientalização seja uma proposta viabilizada na escola e, por último, é

importante compreender quem seria esse profissional. Os projetos das prefeituras de Porto Alegre e de São Leopoldo se preocupavam com a formação continuada desses professores, mas a disponibilidade dos mesmos para trabalhar com a temática ambiental pode estar ligada a diferentes fatores. Borges (2014) observou nas escolas que pesquisou que essa articulação era realizada por pessoas que já constituíram uma preocupação relacionada às questões socioambientais, apontando para a formação dos “sujeitos ecológicos” (CARVALHO, 2008a), o que vou abordar com maior profundidade no capítulo 6.

Dessa forma, cabe observar que a implantação de políticas públicas de valorização das questões ambientais no currículo, como aos exemplos acima citados, precisa contar com professores ou articuladores mais ou menos preparados para exercer essa função, seja por suas motivações, seja pela sua história de vida, seja pela sua formação. Assim, o sucesso dessas estratégias das redes de ensino depende, em grande parte, da atuação desses atores, pela capacidade que têm de mobilizar seus colegas e seus estudantes, de captar recursos, de negociar com os gestores, entre outros fatores.