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O silêncio da educação ambiental no Plano Nacional de Educação e na

Em 2014 foi aprovado o Plano Nacional de Educação , com vigência de dez anos. O 18 PNE 2014-2024 entrou em vigor a partir da Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, e estabeleceu dez diretrizes e vinte metas a serem cumpridas durante sua vigência (BRASIL, 2014e). As metas contam com estratégias para sua execução e foram baseadas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), no censo demográfico e nos censos nacionais da Educação Básica e Educação Superior. No prazo de um ano a partir dessa lei, os estados, o Distrito Federal e os municípios deveriam elaborar seus planos de educação, de acordo com as diretrizes, metas e estratégias do PNE 2014-2024.

Informações disponíveis em: <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smed/default.php?p_secao=557> e em 17

<http://educacaointegral.org.br/experiencias/em-porto-alegre-projeto-de-educacao-ambiental-reconhece-saberes- comunitarios/>. Acesso em: 05 jun. 2017.

O Plano Nacional de Educação (PNE) determina as diretrizes, as metas e as estratégias para a política 18

educacional no período de dez anos a partir de sua publicação. O Ministério da Educação (MEC), as comissões de educação da Câmara dos Deputados, a Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal, o Conselho Nacional de Educação (CNE) e o Fórum Nacional de Educação (FNE) têm como função observar seu cumprimento durante esse período, por meio de monitoramento contínuo e de avaliações periódicas, bem como analisar e propor políticas públicas que assegurem a sua implementação (BRASIL, 2014e). A construção de um plano para a educação no Brasil teve apoio legal já na Constituição de 1934, que atribuiu à União a competência para fixá-lo e fiscalizar sua execução. O Conselho Nacional de Educação, instituído em 1931, teria a tarefa de elaborar o PNE para submeter à aprovação do Poder Legislativo. Ainda que as duas constituições posteriores não previssem sua elaboração, o primeiro PNE foi aprovado pelo Conselho Federal de Educação em 1962. A partir da Constituição de 1988 o PNE necessitaria ser instituído por lei. A Lei e Diretrizes e Bases de 1996 definiu que a União, em colaboração com os estados, o Distrito Federal e os municípios deveriam produzir em conjunto uma proposta a ser encaminhada ao Congresso Nacional. O primeiro PNE instituído por lei foi lançado em 2001 e vigorou pelo período de 2001 a 2010.

A leitura dos documentos que antecedem e deveriam orientar a elaboração do PNE, no caso, o Documento Final da Conferência Nacional de Educação (CONAE) de 2010 e o Documento Final da CONAE 2014 , bem como o texto do PNE, mostra uma opção por 19 determinados conceitos ligados à temática ambiental. O quadro 2 apresenta o número de vezes que os descritores “educação ambiental”, “meio ambiente”, “desenvolvimento sustentável”, “sustentabilidade ambiental” e “sustentabilidade socioambiental” aparecem nos referidos documentos.

Quadro 2 - Levantamento do número de citações para “educação ambiental”, “meio ambiente”, “desenvolvimento sustentável”, “sustentabilidade ambiental” e “sustentabilidade socioambiental” no Documento Final do CONAE 2010, no Documento Final do CONAE 2014 e no Plano Nacional de Educação 2014-2014.

Fonte: A autora (2018).

Nota: Foram excluídas as citações dos descritores quando essas compunham títulos de documentos, programas ou legislação.

Documento/descritor Documento final da CONAE 2010 Documento Final da CONAE 2014 P l a n o N a c i o n a l d e Educação 2014-2014 Educação ambiental 15 10 0 Meio ambiente 8 18 0 Desenvolvimento sustentável 1 10 1 S u s t e n t a b i l i d a d e ambiental 2 1 0 S u s t e n t a b i l i d a d e socioambiental 7 16 1

Com relação às expectativas para a próxima CONAE, prevista para 2018, cabe referir que em abril de 2017, o 19

Governo Federal alterou sua convocação, desconsiderando as deliberações democráticas e colegiadas anteriores do Pleno do FNE. Também foi emitida pelo MEC uma portaria alterando a composição do FNE. Essas medidas foram tidas como unilaterais, sem que houvesse consulta ao FNE. Diversas entidades reuniram-se e elaboraram a “Nota de Repúdio: são inadmissíveis os termos da reconvocação da CONAE/2018 e a arbitrária dissolução do FNE”. Informações disponíveis em: <https://avaliacaoeducacional.com/2017/05/03/nota-das-entidades-sobre- dissolucao-do-fne/>. Acesso em: 01 jun. 2017.

O conceito “meio ambiente” é largamente utilizado nas referências das Ciências Naturais, tendo sido muitas vezes apontado como tema ou conteúdo dessas áreas. Considerando que a preocupação principal dessa pesquisa se refere à ambientalização das escolas e não aos conteúdos específicos da referida área, tenho como foco principal observar a utilização dos conceitos de educação ambiental, desenvolvimento sustentável e sustentabilidade. Dessa forma, tratarei aqui desses conceitos de forma mais específica.

O que se observa é que as duas últimas CONAE utilizaram, em seus documentos finais, um número crescente de referências para desenvolvimento sustentável e para sustentabilidade socioambiental. A educação ambiental é referida com menor frequência no documento da CONAE mais recente e não é referida no PNE, ou seja, houve uma descontinuidade entre as proposições desse fórum e o texto que foi aprovado.

O Documento Final da CONAE 2010 (BRASIL, 2010b) foi organizado em seis eixos, constando em quatro deles referências à educação ambiental e em três à sustentabilidade socioambiental. Dentro desse universo, destaco, no eixo “Democratização do Acesso, Permanência e Sucesso Escolar”, o apontamento de que a educação ambiental é uma das demandas específicas que deveria ser ampliada nas escolas. Além disso, a CONAE 2010 entendeu que o profissional da educação deveria ter acesso à formação sobre as políticas de educação ambiental, entre outras, e que a temática deveria ser contemplada também na Educação de Jovens e Adultos, em consonância com a PNEA e com os documentos internacionais para um futuro sustentável. Há, ainda, um item no eixo “Justiça Social, Educação e Trabalho: Inclusão, Diversidade e Igualdade” destinado a solicitar o cumprimento das políticas públicas de educação ambiental, dentro de todas as possibilidades e alcances que essas possam oportunizar.

No Documento Final da CONAE 2014 (BRASIL, 2014b) são apresentados sete eixos, cada qual com proposições e estratégias para a construção do Plano Nacional e do Sistema Nacional de Educação, indicando as responsabilidades, corresponsabilidades, atribuições concorrentes, complementares e colaborativas entre os entes federados. O desenvolvimento da educação ambiental e da sustentabilidade socioambiental foram apontados como estratégias em três eixos, nos quais se fez referência às políticas e as diretrizes curriculares da educação ambiental e aos documentos e acordos internacionais para a promoção da sustentabilidade na educação. A “promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à

sustentabilidade socioambiental” (BRASIL, 2014b, p. 19) foi uma das diretrizes apontadas pela CONAE 2014 como referência para a construção do PNE e das políticas para a educação no Brasil.

Ainda que houvesse referências reiteradas para a educação ambiental e para a sustentabilidade nos documentos resultantes das CONAE e à despeito de todas as políticas públicas em vigor, conforme apontado anteriormente, o PNE não correspondeu às expectativas. As duas únicas referências estão na diretriz X e na estratégia 7.26. A décima diretriz indicou a “promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental”. Na meta sete, que versa sobre fomentar a qualidade da Educação Básica com vistas ao incremento do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), há referência ao desenvolvimento sustentável na consolidação da educação escolar no campo como estratégia 7. 26. Ao comparar com os documentos das CONAE, no entanto, é possível notar que a educação ambiental não obteve o alcance desejado na elaboração do PNE 2014-2024.

A ausência da educação ambiental no PNE 2014-2024 provocou manifestações de descontentamento no âmbito acadêmico. No Encontro de Pesquisa Educacional em Pernambuco, que ocorreu em maio de 2016, sob o tema “O Plano Nacional de Educação e o Sistema Nacional de Educação: desafios para o fortalecimento de políticas de igualdade e justiça social”, participei de uma mesa-redonda que tratou de discutir sobre o silêncio da educação ambiental no PNE. Os participantes do evento concordaram com a necessidade de referência à educação ambiental no PNE.

Outra manifestação em apoio à inclusão da educação ambiental no PNE gerou o manifesto pela “Sustentabilidade e Educação Ambiental no Plano Nacional de Educação” , 20 assinado por 1059 pessoas e instituições, onde se lê:

Observamos que de modo acertado, os legisladores definiram entre as 10 diretrizes do PNE a ‘promoção ... do respeito ... à sustentabilidade socioambiental’ (Art.2º). Porém, contraditoriamente, no momento de traduzir tal diretriz em ações efetivas, o texto da Câmara e o substitutivo do Senado não apresentam metas ou estratégias contemplando tal diretriz. Não há compromisso concreto com escolas sustentáveis envolvendo currículo, espaço escolar e gestão democrática preocupada coma dimensão ambiental. Não há referências à infraestrutura e recursos necessários; aos atores, instâncias e órgãos responsáveis; à formação de pessoal, à avaliação, à integração com outras diretrizes do Plano, à relação com outras políticas públicas, O manifesto “Sustentabilidade e educação ambiental no Plano Nacional de Educação” está disponível em: 20

aos marcos legais balizadores e tantos outros aspectos envolvendo a educação ambiental. Enfim, podemos dizer que se não houver as devidas adequações, a lei já nasce incompleta e com contradições internas.

Borges; Sánchez (2012) também chamaram atenção para a ausência da educação ambiental no texto do PNE:

Apesar da comemoração, observamos que a educação ambiental e o tema da sustentabilidade, estão ausentes do texto. Apesar da Rio+20, de compromissos internacionais, onde o Brasil é signatário, desde a Conferência de Estocolmo de 1972 até a Rio-92, a educação ambiental ainda não é colocada na centralidade dos debates da educação brasileira. Nunca vivemos um período onde a relação ser humano e meio ambiente fosse debatida de forma tão contundente, principalmente pelas catástrofes ambientais que ocorrem em todo mundo. O substitutivo apresentado pelo relator não consta em nenhum momento, o termo “educação ambiental”. Não há compromisso concreto com escolas sustentáveis envolvendo currículo, espaço escolar e gestão preocupada coma dimensão ambiental. Ou seja, se não está nas metas do PNE, não estará na CENTRALIDADE das políticas EDUCACIONAIS. O que esperar da inserção da temática da educação ambiental e da sustentabilidade nas demais políticas públicas? (BORGES; SÁNCHEZ, 2012, destaque dos autores)

Ainda nesse contexto de crítica a alguns pontos do PNE, principalmente no que se refere à educação ambiental, foi elaborada a partir de 2015 a Base Nacional Comum Curricular . A BNCC tem como objetivo estabelecer os conhecimentos e habilidades 21 essenciais que todos os estudantes brasileiros devem aprender em sua trajetória na Educação Básica.

A produção da BNCC baseou-se nas orientações do PNE explicitadas na meta 02, estratégias 2.1 e 2.2, e na meta 3, estratégias 3.2 e 3.3, que se referem a direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento a serem atingidos nas diferentes etapas de ensino. Os documentos preliminares (primeira e segunda versão da BNCC) foram elaborados por uma equipe de trabalho constituída pela Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC), composta por assessores de área e por especialistas dos diferentes componentes curriculares e etapas de escolarização.

Em outubro de 2015 foi lançada uma versão preliminar do documento para consulta pública, por meio do Portal da Base na internet (www.basenacionalcomum.mec.gov.br), a qual ficou disponível até março de 2016. A partir dos resultados da consulta, foram utilizadas sugestões resultantes de reuniões com as comissões de assessores e especialistas e com

Cabe observar que a BNCC não regula as escolas consideradas para o estudo, visto que estava em processo de

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associações científicas e representativas de grupos profissionais. O MEC encomendou pareceres de leitura crítica a 91 especialistas das áreas de conhecimento e dos componentes curriculares. Essas consultas geraram uma segunda versão, que foi entregue pelo SEB/MEC no dia 03 de maio de 2016 ao Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED), à União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) e ao Conselho Nacional de Educação (CNE). Entre julho e agosto do mesmo ano, foram realizados 27 seminários nos diferentes estados federados e no Distrito Federal, gerando contribuições a serem consideradas na construção da terceira versão da BNCC (BRASIL, 2017). O relatório das contribuições dos seminários estaduais à segunda versão foi entregue ao ministro da Educação, José Mendonça Bezerra Filho, em 14 de setembro de 2016.

O MEC criou o Comitê Gestor da Base Nacional Comum Curricular e Reforma do Ensino Médio, que organizou a discussão, a análise e a redação da terceira versão da BNCC . 22 A terceira versão ou versão final foi entregue ao CNE em abril de 2017, sendo a sua implementação a ser realizada em até dois anos após a sua homologação . 23

Com relação à educação ambiental, assim como no PNE, também na construção inicial da BNCC não houve nenhuma referência. Da mesma forma como procedido em relação ao PNE, aqui apresento o resultado da busca por citações dos conceitos indicados no quadro 3, nas três versões das propostas para a BNCC.

Informações disponíveis em: <http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/39271-entidades- 22

levam-ao-ministerio-contribuicoes-a-segunda-versao-da-base-nacional-comum>. Acesso em 29 mai. 2017. Informações disponíveis em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br>. Acesso em 20 fev. 2018. 23

Quadro 3 - Levantamento do número de citações para “educação ambiental”, “meio ambiente”, “desenvolvimento sustentável”, “sustentabilidade ambiental” e “sustentabilidade socioambiental” nas versões da proposta para a Base Nacional Comum Curricular de 2015, 2016 e 2017.

Fonte: A autora (2018).

Nota: Foram excluídas as citações dos descritores quando essas compunham títulos de documentos, programas ou legislação.

Na primeira versão da BNCC notou-se o investimento nos conceitos de “sustentabilidade ambiental” e “sustentabilidade socioambiental”. Essa opção se manteve, em parte, no lançamento da segunda versão. É importante apontar que a educação ambiental, a qual não era contemplada no primeiro documento, apareceu com muitas citações na segunda versão. No entanto, a versão final eliminou novamente e educação ambiental, bem como “desenvolvimento sustentável”. Permaneceram citações sobre “meio ambiente”, principalmente relacionada a seus aspectos físicos, e à “sustentabilidade socioambiental”. Cabe destacar a citação, por três vezes, de “consciência socioambiental” na versão final da BNCC.

Quando a primeira versão foi apresentada, houve diversas manifestações em prol da inclusão da educação ambiental no texto da BNCC. Entre elas, cito aqui a dos filiados à Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED). Reunidos em assembleia ordinária realizada no âmbito da 37ª Reunião Nacional em Florianópolis, em

Documento/descritor Primeira versão BNCC (2015) S e g u n d a v e r s ã o BNCC (2016) Versão final da BNCC (2017) Educação ambiental 0 19 0 Meio ambiente 12 12 8 Desenvolvimento sustentável 1 2 0 S u s t e n t a b i l i d a d e ambiental 2 0 0 S u s t e n t a b i l i d a d e socioambiental 3 3 3

outubro de 2015, os pesquisadores elaboraram uma “Moção Contrária À Base Nacional Comum Curricular”, no qual apontam que:

(...) o referido texto não contempla as dimensões da Educação tratadas pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECADI), o que coloca em risco de retrocesso toda a política educacional e ambiental no país, expressa hoje pela Resolução Nº 2, de 15 de junho de 2012, do Conselho Nacional de Educação, a qual estabelece as Diretrizes Curriculares para Educação Ambiental. (ANPED, 2015, p. 2)

Ao consultar os pareceres críticos dos especialistas encomendados pelo MEC, que em 01 de abril de 2016 somavam 64, observei que sete deles faziam referência à educação ambiental. Nesses pareceres foi apontada a falta de abordagem da educação ambiental crítica e emancipatória e da reflexão sobre a questão ambiental e suas causas. Couto (2016, p. 12) entendeu que a BNCC apresentada estava esvaziada de crítica sobre uma “sociedade desigual e ambientalmente destruidora” e que “o caráter de desigualdade social e da degradação ambiental, bem como os conflitos que marcam a formação espacial da geografia do Brasil e do mundo, foi secundarizado” (COUTO, 2016, p. 22).

Em seu parecer, Suertegaray (2016, p. 11) criticou a ideia de natureza tida como recurso, na forma como estava explicitada no texto da BNCC:

Os conteúdos relativos à natureza estão presentes, em especial, na perspectiva da exploração dos recursos ou das questões ambientais. A questão levantada é: a natureza assim colocada não contempla a compreensão efetiva da dinâmica ambiental para poder decifrar suas transformações mediante a exploração e a degradação, por exemplo. (SUERTEGARAY, 2016, p. 11)

Também nos pareceres foram referidas a falta de conceituação teórica de sustentabilidade ambiental e socioambiental, no que se refere à posição epistêmica que foi adotada, e a ausência da educação ambiental como uma abordagem transversal no currículo.

De acordo com Sorrentino e Portugal (2016), o termo “educação ambiental” é consolidado no Brasil, sendo mantido na literatura especializada, na legislação, nas escolas e nas comunidades. Os autores mostram, no parecer sobre a primeira versão da BNNC, que o conceito mais coerente com a legislação e com a maior parte da produção científica é o de educação ambiental. O marco legal apresentado nesse capítulo corrobora com essa afirmação, já que vemos um histórico de leis, decretos e portarias que se destinam à educação ambiental.

Em contrapartida, no cenário internacional os eventos da Organização das Nações Unidas (ONU), as políticas educacionais europeias e a produção acadêmica fazem referência ao desenvolvimento sustentável e à educação para a sustentabilidade (LIMA, 2003; LOUREIRO, 2014; SORRENTINO; PORTUGAL, 2016). Um marco foi o a proclamação da Década Internacional da Educação para o Desenvolvimento Sustentável para o período 2005-2014, proposta no Fórum Global para o Desenvolvimento Sustentável de Johanesburgo em 2002 e aprovada na 57ª Assembleia Geral das Nações Unidas, no mesmo ano.

Dez anos depois aconteceu a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, ou Rio +20, no Rio de Janeiro. Nesse encontro foi produzido o documento “O futuro que queremos”, no qual se reafirmaram vários compromissos relacionados ao desenvolvimento sustentável, entre eles, o incentivo à Educação para o Desenvolvimento Sustentável para além da década 2005-2014 . 24

Outros eventos se seguiram e reforçaram a ideia de desenvolvimento sustentável, sem destaque para a educação ambiental. Em 2014, ocorreu a primeira Assembleia Ambiental das Nações Unidas (UNEA, sigla em inglês), em Nairóbi, Quênia. A UNEA foi criada pela ONU para a tomada de decisões sobre o meio ambiente, o que contribuiu para consolidar a questão ambiental como um problema mundial, junto às demais demandas. A segunda UNEA, realizada em 2016, aprovou 25 medidas para mitigar problemas ambientais e incentivar a implantação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris para o clima . No mesmo ano aconteceu o 20º Fórum de Ministros de Meio Ambiente da América 25 Latina e Caribe, em Cartagena, Colômbia. A “Educação Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável” estava entre as onze resoluções elencadas no documento final produzido no fórum (FUNBEA, 2016).

A Declaração de Incheon, Coreia do Sul, em 2015, resultou do Fórum Mundial de Educação e reafirmou a implementação do Programa de Ação Global de Educação para o Desenvolvimento Sustentável, conforme compromisso firmado 2014 na Conferência Mundial sobre Educação para o Desenvolvimento Sustentável em Nagoya, Japão. Nesse documento foram propostas as metas para 2030, com foco na educação de qualidade inclusiva e

Informações disponíveis em: <https://nacoesunidas.org/acao/meio-ambiente/>. Acesso em 27 mar. 2017. 24

Informações disponíveis em: <https://nacoesunidas.org/primeira-assembleia-ambiental-da-onu-comeca-na- 25

proxima-semana/> e <https://nacoesunidas.org/assembleia-ambiental-da-onu-aprova-resolucoes-para- impulsionar-desenvolvimento-sustentavel-e-acordo-do-clima/>. Acesso em 27 mar. 2017.

equitativa e na educação ao longo da vida para todos. Naquele mesmo ano foi firmado o acordo intergovernamental com 17 objetivos e 169 metas, os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (ODS), dentro da proposta de uma agenda pós-2015.

No Brasil, a ONU Meio Ambiente tem um escritório em Brasília desde 2004. Seu objetivo é facilitar o diálogo entre os gestores públicos, a sociedade civil, o setor privado e acadêmico, atuando principalmente nas áreas de mudanças climáticas, da gestão de ecossistemas e biodiversidade, do uso eficiente de recursos e consumo e da produção sustentáveis e governança ambiental . O Brasil participa do Marco de Parceria das Nações 26 Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, em cooperação com o Sistema ONU. Dois planos de ação, de 2012 a 2016 e de 2017 a 2021, sendo esse último relacionado à Agenda 2030, foram elaborados para definir as prioridades e as bases das atividades para o desenvolvimento sustentável do país . 27

Dessa forma, o Brasil integra-se às políticas da ONU, comparecendo aos eventos e ratificando os documentos produzidos. Um dos reflexos dessa concordância são as políticas públicas atuais, mais investidas na proposta de sustentabilidade, de desenvolvimento sustentável e de educação para a sustentabilidade ao invés de educação ambiental. O PDDE- Escolas Sustentáveis, por exemplo, ainda que aponte para as DCNEA, se refere à “transição para a sustentabilidade” (BRASIL, 2014c).

De acordo com Lima (2003), há uma tendência a substituir a concepção de educação ambiental por uma educação “para a sustentabilidade” ou “para um futuro sustentável”. Segundo ele, diferentes autores justificam essa posição criticando a forma reducionista como tem sido abordada educação ambiental, como nas seguintes questões apontadas:

(...) ao tratar a crise ambiental como uma crise meramente ecológica; ao confundir o meio ambiente com a natureza; ao desprezar suas dimensões políticas, éticas e culturais; ao apresentar uma abordagem fragmentada e acrítica da questão socioambiental; ao aplicar metodologias disciplinares, não participativas e de baixa