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Na publicação que intencionava difundir ações na função de relator da Comissão que propôs redação sobre o Código do Trabalho, em 1925, Carvalho Neto destacara que o papel que desempenhara naquele desiderato se revestia de dupla feição, a de protestar e colaborar, discorrer sobre os princípios e ideias universais que balizavam o contexto histórico da época, participar, efetivamente, como político, de ações que alçassem propostas de se pensar o Brasil contemporâneo. Além disso, o autor pretendera vislumbrar com a publicação, registro contra o esquecimento dos feitos políticos, amortecidos que ficam pelo esquecimento/sepultamento dos anais do Congresso Nacional.

[...] Dupla feição reveste este livro: é um protesto, e é uma colaboração. Protesto que revida a quantos se destinam, desatentos às realidades contemporâneas, em negar a existência da questão social no Brasil, pela confundir, lamentavelmente, com os graves aspectos que ella assume nos paizes de grande indústria e densa população. Colaboração, ainda que modesta, pelo escote de esforço que representa, no sentido de acudir, atempo, com as providencias legislativas, necessárias do desatar de certas questões, que mais tarde, acaso descuradas, hoje, serão resolvidas, imperiosamente, sob a pressão irreprimível das reivindicações operárias. Mercê do mandato político que, no Congresso Nacional me confere o direito de interferir, assentindo com o voto, ou com a palavra rumos traçando, na solução dos problemas, que ali se discutem, coube-me a defesa, em plenário, de algumas idéas e princípios referentes á LEGISLAÇÃO DO TRABALHO. São estes princípios e idéas, repositório da sabedoria universal, que se enfeixam nos discursos pronunciados. Não há respigar-lhes originalidade, lavrando, como lavrei, em seara já de muito cultivada.35 (CARVALHO NETO, 1926, p. 9).

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35 Esclareço ao leitor que em transcrições das fontes antigas, em meus trabalhos, procuro privilegiar pela conservação da ortografia da época. Penso que, desta forma, difundimos a normas ortográficas de cada época, dando a ver ao leitor a possibilidade de conhecer aspectos importantes da cultura no período investigado, traduzindo, assim, o estilo utilizado no cenário histórico.

As referências feitas às lutas operárias, aos valores e “princípios universais” demarcadores dos modos de pensar e agir daquele período destacaram, em grande medida, na preleção de Carvalho Neto, o interesse pela confluência, aproximação do Brasil com ideias vindas de modelos de civilização, como países europeus, na convergência de apontamentos de soluções para os problemas enfrentados pelo país, no que se refere, no interesse desta tese, à legislação trabalhista, com ênfase para os franceses, citados com recorrência na obra intelectual de Carvalho Neto.

[...] Ademais, bem á justa lhes cabem os conceitos de PAULHAM: "ll n’est

rien en nous qui ne soit, à quelque degré, social, qui, qui n’ait été influencé, produit, transformé par l’ensenble auquel nous appartenons, psr la société qui nous a précedé qui nous entoure, et qui nous survira, sur laquelle nous avons pousseé comme une feuille caduque sur um chêne centenaire. Rien, pas une de nos idées, pas une de nos impressions, pas um de nos désirs, et pas um de nos actes" ( La Morale de L’Ironie. p. 7). “Não é nada em nós que

é, em algum grau, social, que esta não foi influenciada, produzido, processado por assembleia a que nós pertencemos, por sociedades que nos precederam em torno de nós, e que nos servira, em que nos empurre como descida em carvalho velho. Nada, nem uma das nossas ideias, não os nossos pensamentos, nossos desejos, não, por nossas ações”. (O Moral de ironia. p. 7). (PAULHAM apud CARVALHO NETO, 1926, p. 10, tradução nossa).

Para Carvalho Neto, as referências históricas eram vistas como condição sine qua non no processo de fortalecimento social e consolidação de uma República capaz de se transformar em Nação civilizada. As ideias sob as quais Carvalho Neto fundamentara seu pensamento e proposições constituíam as bases para o crescimento do Brasil, prováveis soluções para os problemas do país, pensadas por aquele jurista/político/intelectual. Estariam aquelas noções aliadas ao processo de modernização, largamente difundido e pretendido, pelo Brasil, na nossa historiografia? Foi emblemática, pois, a citação que inicia a relatoria do Código de Trabalho, uma vez que o debate circunscrito nos anais do Congresso Nacional teve a ironia como estratégia de defesa aos oponentes – Afrânio Peixoto e Carvalho Neto – e o tom da conversa teve como uma das tônicas o que Afrânio Peixoto denominara de imitação. Para Afrânio Peixoto, a realidade brasileira é que deveria estar no centro das ações.

Na defesa da relatoria, as concepções políticas de Carvalho sobre o problema do trabalho no Brasil dão a ver as inclinações daquele intelectual para as formas de se organizar e ordenar os problemas sociais. Vê-se, nas assertivas e difusão do debate, o que pensava Carvalho Neto, naquela época, sobre a política nacional e medidas governamentais cabíveis para refreamento dos ânimos advindos dos conflitos sociais brasileiros. Destaco aqui esta referência como um dos fatores mais importantes que esclarece o leitor sobre o pensamento

político, social e cultural de Carvalho, um amante do liberalismo, mas que viveu, como outros, as questões históricas entre a fé e a razão. Contudo, as posições de Carvalho Neto eram declaradas em público. Talvez a necessidade de transparência em suas posições o deixasse em embaraço em alguns debates. Ao reconhecer que, se nas razões dos temas trabalhistas, o livro publicado não se revestia de “originalidade”, pois que eram debates de há muito na história, afirmara que “uma outra qualidade, a meu vêr preciosa, não prescinde: – sinceridade”. (CARVALHO NETO, 1926, p. 10).

[...] Na carência de partidos políticos norteados por princípios, em torno aos quaes se arregimentem, com prévio conhecimento de causa, os partidários, não se pode erigir em programma no Brasil, esta ou aquella doutrina; liberal ou conservadora, livre cambista ou protecionista, solidarista, socialista, comunista, anarchista etuti quanti... E se-lo-a por muito tempo ainda, tanto que se não haja educado o povo á altura do regime, ironicamente chamado de democrático. De onde em onde, porem, qunto se me ensejava feir o assumpto, entremostrei, a correr, a tendência accentada que me inclina para o intervencionismo, systema de freios e contrapesos que equilibra a acção do Estado com as doutrinas socialistas. Esta acção, tutelar e fiscalizadora, harmonizando os interesses de classes, para que estes se não desmandem em excessos condemnaveis, eis o que cumpre fortalecer no Brasil, de vez que é illusorio acreditar-se, por enquanto, na associação de outras forças capazes de transformar, para melhor, o nosso meio social. Com este intervencionismo conjuguei, como elemento psychologico indispensável, notadamente num paiz de tão deficiente educação, a acção soberana da religião, fatcor de convicções Moraes que escudem e proteja o nosso povo contra o avanço avassalador de doutrinas subversivas e fataes. Em certo sentido a política social brasileira, nos dias que correm, há-de ser a dos possibilistas, com um mínimo a obter, dentro no razoável e possível para as condições actuaes de cultura e civilização. (CARVALHO NETO, 1926, p. 12).

Ao invocar o dever e obrigação do Estado para com a educação do cidadão, Carvalho Neto sinaliza para problematização do tema, ao tornar compreensível que os conflitos e enfrentamentos ocorridos naquele período, foram causados, em grande medida, pela ineficiência do Estado brasileiro que não desenvolveu políticas públicas com vistas à preparação do povo para vida. As concepções políticas norteadoras das conclusões a que Carvalho Neto (1926) chegara, ao que concerne à educação, demonstraram, na análise em foco, aproximações daquele intelectual com o pensamento de Dewey (2007) quando afirmou em seus estudos que os objetivos da educação deveriam fazer nexo social com o esforço conjunto das instituições neste desiderato, havendo assim um processo favorável para um desenvolvimento social; o que, desta maneira, tornaria possível a concepção de uma sociedade democrática.

[...] O objetivo da educação é habilitar os indivíduos a continuar sua educação – ou que o objeto da recompensa da aprendizagem é a capacidade de desenvolvimento constante. Entretanto, essa ideia não pode ser aplicada a

todos os membros de uma sociedade, mas apenas quando a relação de um

homem com outro é mútua e existem condições adequadas para a reconstrução dos hábitos e instituições sociais por meio de amplos estímulos originados da distribuição equitativa de interesses. Isso significa sociedade democrática. Assim, em nossa busca dos objetivos da educação, não estamos preocupados em encontrar um fim externo ao processo educativo, ao qual a educação esteja subordinada. Toda a nossa concepção nos impede isso. O que nos interessa, antes, é a diferença entre os objetivos intrínsecos ao processo em que operam e aqueles estabelecidos externamente. E esse último estado de coisas se constitui quando as relações sociais não são equilibradas. Nesse caso, os objetivos de alguns grupos da sociedade serão determinados por uma autoridade exterior, não surgirão do livre desenvolvimento das próprias experiências, e os supostos objetivos desses grupos serão meios para fins alheios muito distantes, em vez de verdadeiramente seus. (DEWEY, 2007, p. 12).

O aspecto no qual o pensamento de Carvalho Neto se aproxima da New School, remetida em seus escritos, como foi analisado nas demais seções, está ligado à utilidade do processo educativo, em nível de aprendizagem para o trabalho e também para vida. Desta forma, é possível entrever as enunciações de certa afeição que Carvalho Neto nutria pelas ideias norte-americanas, quando se tratava das representações filosóficas, políticas e sociais, elencadas pelo pensamento e ações daquele intelectual.

A força das representações, entretanto, está relacionada a vários fatores na produção cultura escrita. Os textos passam por diversas formas de recepção, incluindo neste aspecto o que foi escrita, a oralidade extraída pela circulação do texto, que pode demonstrar indícios das apropriações, ou seja, as formas como cada leitor toma o texto para si. Esta é uma prerrogativa que torna qualquer leitura e interpretação submersa nas representações encontradas nos sentidos de cada apropriação.36 Bourdieu (2004) amplia esta reflexão quando conjuga as forças das representações aos capitais culturais, científicos e sociais, responsáveis pelo quantum de capital adquirido e mobilizado pelos agentes sociais ou seus grupos. A este conjunto de elementos inseridos nas relações de força e poder entre os grupos sociais, o sociólogo francês afirmou que “o campo científico é um mundo social” (BOURDIEU, 2004, p. 21).

Os acontecimentos narrados por Carvalho Neto e debatidos na polêmica do Parlamento Nacional nos remetem ao processo de crescimento do Brasil Moderno, pois foi na ______________

36 Cf. Chartier, 1999; 2003; 2011. Sobre as formas de apropriação em relação aos discursos, bem com seu poder simbólico, pode-se consultar Bourdieu (1994, 2004a, 2004b e 2008).

década de 1920, configurada pela efervescência do novo daquele momento histórico, que o problema do trabalho se enraizou como uma das urgências a se resolver, para que o Brasil enfrentasse as tempestades e experimentasse, culturalmente, as bonanças do seu processo de modernização/urbanização. Tal urgência fora embalada por notória difusão de capitais culturais, políticos, sociais e econômicos, que designava conforme a mobilização que cada grupo social ou agente fazia para a utilização desses capitais. Na época, houve uma disputa que envolvera, em grande medida, os interesses dos trabalhadores, de um lado, e dos patrões, do outro. Com as distintas proporções, estavam neste campo de luta os homens, mulheres e os menores.

Invoco, neste sentido, os estudos de Herschmann e Pereira (1994), de Lorenzo e Costa (1997), Pilagallo (2009), Del Priore e Venancio (2010) e, Schwarcz e Starling (2015), autores brasileiros de reflexões aprofundadas que mobilizam os problemas envoltos no processo de modernização do Brasil, nos tempos da década de 1920, e os significados amplos trazidos por estas análises.

Por um lado, aparecem no cenário da sociedade brasileira os horizontes desmembradores de tempos áureos e gloriosos, em que a urbanização, a higienização37, o embelezamento das cidades, a abertura de vias de acesso nos grandes centros, como aconteceu na antiga Capital da República, encheram os olhos das autoridades de perspectivas em relação a mudanças na cultura do país.

Por outro, nos bastidores do processo de modernização surgiram dos “porões” da cidade, as reações da população, manifestadas em reivindicações operárias, em estratégias de resistência às ações estatais, como a Revolta da Vacina38; emergiram os conflitos entre os que estavam no poder e aqueles que se insurgiram à política do “Bota abaixo” do prefeito Pereira Passos, que extirpou dos caminhos das autoridades, os casarios antigos e as moradias da população, para, no seu lugar, erguer a arquitetura sinalizadora dos tempos modernos.

[...] Pereira Passos (1836-1913) era um entusiasta da reurbanização de Paris arquitetada pelo barão Haussmann em meados do século 19, quando a capital francesa ganhou fisionomia que ostenta até hoje, com seus espaços bulevares. O engenheiro paulista, que acompanhara os trabalhos in loco,

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37 Importante referência para os estudos daquele período, a obra basilar do médico Afrânio Peixoto, cuja interpretação recai nos significados científicos demandados ao processo de higienismo, largamente, utilizado no Brasil, no trabalho de saneamento social, na conformação da educação da população brasileira. A higiene foi utilizada com ênfase no processo de urbanização brasileira e no período de glamourização da Educação primária, como se tem difundido, em grande medida, pelos estudos em História da Educação que abordam as investigações sobre os Grupos Escolares. Cf. Souza, 1998; Souza e Valdemarin, 2005; Gondra, 2005; e outros estudos de referência sobre o tema.

queria fazer o mesmo com o Rio. Para tanto, teria que demolir quarteirões inteiros no centro da cidade. A resistência seria grande, e, para aceitar a tarefa, Pereira Passos exigiu e obteve carta branca do presidente. Sem enfrentar uma oposição efetiva, em decorrência da “política dos governadores”, Rodrigues Alves aprovou, um mês após ter tomado posse, uma lei que eliminava obstáculos legais, orçamentários e materiais à ambiciosa reforma. (PILAGALLO, 2009, p. 30).

Os conflitos não tardaram, porém, a acontecer, porque a política de varredura daquilo que embaçava ou turvava a imagem da cidade moderna, acabaria por envolver, diretamente, os trabalhadores, cujas vidas foram modificadas de forma radical, a fim de que se atendessem às demandas do processo de modernização. Foram trechos extensos derrubados, porque as pequenas vielas haveriam de dar lugar às avenidas centrais da cidade, como Pilagallo (2009) problematizou, ao narrar os acontecimentos das duas primeiras décadas do século XX, protagonistas do processo de industrialização, modernização e urbanização do Brasil, tendo a Capital da República sido um dos símbolos do projeto de desenvolvimento eleito à época.

[...] Com as mãos livres, Pereira Passos começou a trabalhar, imprimindo um ritmo frenético às obras. Para rasgar a avenida central (hoje avenida Rio Branco) e abrir ruas mais largas, mandou demolir nada menos do que cerca de 600 casarões no centro da cidade, ganhando o apelido de Bota-Abaixo. Eram, em sua maioria, casa de cômodos, alugadas a trabalhadores de baixa renda. A elite e a grande imprensa saudaram a “regeneração” do Rio, mas a aprovação estava longe de ser unânime. Centenas de proprietários perderam renda, milhares de inquilinos foram desalojados. Em meio ao canteiro de obras em que a cidade se transformara, muitos cariocas não escondiam o descontentamento. A divisão de opiniões sobre a reurbanização estava refletida no carnaval. As grandes sociedades carnavalescas, que reproduziam os costumes dos carnavais de Veneza, apoiavam a administração, promovendo desfiles de carros alegóricos em que se cantava versos laudatórios com alusões ao nome de Pereira Passos. Na mira da polícia e da Inspetoria de Higiene, os foliões do entrudo39 não poupavam a reurbanização de Pereira Passos. (PILAGALLO, 2009, p. 31).

Os perrengues entre as autoridades e a população deflagraram diversas situações de embaraço para a pretendida modernização. Embora as mudanças nas cidades tenham sido concretizadas à revelia dos moradores, que dos locais eram despejados, isso gerou, por sua vez, fatos que refletiram nas condições dos trabalhadores e que reverberaram na vida cotidiana do brasileiro, nos pequenos comércios localizados nos lugares da política do “Bota- abaixo”, concretizada, não apenas na capital da República – Rio de Janeiro – na época, mas ______________

39 O entrudo se refere às brincadeiras de rua da população, que soavam como ameaça à saúde pública. Eram brincadeiras feitas com o uso da bisnaga d’ água. Cf. Pilagallo, 2009.

em outras regiões do país. Esta situação, segundo Del Priore e Venancio (2010), desencadeou acontecimentos que marcaram o processo transitório do Império para a República, que durara até os anos 1920, no que se que refere às manifestações dos trabalhadores.

[...] Não por acaso, o Rio de Janeiro registrou as primeiras manifestações do movimento operário brasileiro. De fins do século XIX até os anos 1920, a capital republicana liderou o processo de industrialização, sendo posteriormente superada por São Paulo. A existência de trabalhadores em numerosas fábricas de tecidos, calçados, chapéus, cerâmica e vidros, aliada ao próspero artesanato autônomo, como o de alfaiates e sapateiros, e a milhares de pequenos funcionários públicos abriu caminho no meio urbano carioca, para a aceitação de novas ideias políticas. O Centro do Partido Operário, criado para disputar a eleição para a Constituinte de 1891, foi exemplo dessa mudança. A plataforma por ele defendida, através do jornal

Echo Popular, apresentava um conjunto de reivindicações modestas,

havendo até condenação às greves. Além de aumentos salariais, defendiam- se direitos que hoje consideramos básicos – embora só tenham sido alcançados à custa de muita luta e perseguições –, tais como: proibição do trabalho infantil, jornada de trabalho de oito horas, direito a um dia de descanso semanal, aposentadoria para os idosos e inválidos, e também a criação de tribunais para arbitrar conflitos entre patrões e empregados. (DEL PRIORE; VENANCIO, 2010, p. 228-229).

O processo de urbanização gerou, desta forma, inúmeros enfrentamentos, que envolviam as formas de pensar da população, as relações de poder entre os grupos sociais e a recepção que tinham dos projetos considerados inovadores. Pode-se compreender, por meio dos desentendimentos, que no projeto idealizador de uma sociedade civilizada aos moldes europeus, em termos científicos, econômicos e estéticos, havia a urgência de resolver problemas já gerados socialmente, como as questões de moradia e de trabalho e, por conseguinte, aqueles fatos reverberavam, de maneira significativa, na condução do processo civilizatório da nação brasileira, nos primeiros decênios do século XX. Este contexto provocou demandas nos interesses políticos do Congresso Nacional e mobilizou forças contra e favor dos grupos de trabalhadores e empregadores. Foi nesta perspectiva que se conflagrou a polêmica entre Carvalho Neto e Afrânio Peixoto, no ano de 1925.

A despeito dos acontecimentos, o projeto maior seria, pois, elevar a República nacional ao grau de paridade social e de progresso projetados pela França, país referência, como explica a historiografia sobre esse assunto e como foi possível compreender na análise desta seção da tese.

A relação do processo de urbanização e remodelação da cidade brasileira estava envolta às concepções que aqui pairavam sob diversos aspectos. Eram os capitais cultural e científico recebidos da Europa o motor acelerador das mudanças com vistas a exercer um

poder simbólico sobre a cultura brasileira. Assim, o pensamento científico, filosófico, político e também o pensamento cultural da Europa se integravam à vida e ao progresso nacional e mobilizavam sua trajetória.

Nesta perspectiva, as discussões acerca das questões trabalhistas no Brasil começaram a ter razoável repercussão no Parlamento Nacional. Carvalho Neto fora um dos deputados federais, ao lado de Afrânio Peixoto, que, a despeito da polêmica travada em meio à troca de farpas sob a capa de uma fina ironia, souberam mobilizar, com competência, a Casa legislativa no assunto das demandas do trabalho, cujo teor se tornava urgente, insuflava entusiasmo nas relações sociais e de força entre a economia e política brasileiras. Para Carvalho Neto, a regulamentação sobre as relações entre patrões e empregados deveria estar acima das contendas políticas. Neste caso, notamos em seu discurso interesse com o dever e a obrigação, máximas do direito kantiano, possivelmente incorporadas aos seus textos, no